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New Trends in Qualitative Research

On-line version ISSN 2184-7770

NTQR vol.14  Oliveira de Azeméis Sept. 2022  Epub Aug 01, 2022

https://doi.org/10.36367/ntqr.14.2022.e594 

Artigo original

Déficit de leitura em universitários: Uma revisão integrativa da literatura

Reading deficit in university students: An integrative literature review

Juliana Corrêa da Silva1 
http://orcid.org/0000-0001-9548-7728

Luciana Maria Maia1 
http://orcid.org/0000-0003-1491-5685

Carolina Rocha Peixoto1 
http://orcid.org/0000-0003-4583-9697

Ana Claudia Coelho Brito1 
http://orcid.org/0000-0002-9839-775X

Julia Leitão Fontenele1 
http://orcid.org/0000-0001-8451-687X

Léa Araújo Montenegro1 
http://orcid.org/0000-0002-5015-568X

1Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Brasil


Resumo:

A título de pesquisa literária, integração de resultados e levando em consideração que existem poucas investigações que contemplem o estudo das dificuldades voltadas ao déficit de leitura no ensino superior, torna-se necessário investigar o tema, de modo a favorecer a compreensão das dificuldades que pessoas com déficit de leitura vivenciam no contexto universitário. Busca-se também entender como o preconceito se apresenta em relação a esses estudantes, além de refletir sobre o papel da universidade na manutenção e/ou transformação de práticas sociais que predispõem esses sujeitos ao preconceito, sob forma da discriminação, marginalização e segregação. Como método de pesquisa, realizou-se uma pesquisa qualitativa, em que foi desenvolvida uma revisão integrativa da literatura, nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO), utilizando-se os descritores preconceito e déficit de leitura em sujeitos universitários. Foram localizados 33 artigos e após a avaliação crítica dos respectivos e verificação dos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, foram selecionados e analisados 28 artigos científicos como base de desenvolvimento dessa pesquisa. Assim, as conclusões desses achados corroboram que, dentre as diversas dificuldades que podem ser reverberadas na vida do sujeito com dificuldades de aprendizagem no campo da leitura, o processo de exclusão social e o devido impacto do preconceito podem potencializar negativamente ainda mais as condutas do processo de aprendizagem com respectivos atrasos no campo, assumindo assim, que a condição corporal e/ou intelectual desses sujeitos é algo que supõe e/ou os definem como menos capazes do restante da população geral, trazendo diversos prejuízos emocionais, sendo esses prejuízos tanto no campo acadêmico, como o campo social.

Palavras-chave: Universitários; Déficit de leitura; Preconceito; Revisão integrativa da literatura; Pesquisa qualitativa.

Abstract:

As a literary research and considering that there are few investigations that contemplate the study of the difficulties related to the reading deficit in higher education, it is necessary to investigate the subject, in order to favor the understanding of the difficulties that people with reading deficits experience in the university context. As a research method, qualitative research was carried out, in which an integrative review of the literature was developed, in the Scientific Electronic Library Online (SciELO) databases, using the descriptors prejudice and reading deficit in university students. Thirty-three articles were located and after critical evaluation and verification of the previously established inclusion and exclusion criteria, 28 articles were selected and analyzed. Thus, the conclusions corroborate that, among the several difficulties that can be reverberated in the life of the subject with learning difficulties in the field of reading, the process of social exclusion and the due impact of the one aimed at prejudice can further enhance the conduct of the learning process with respective delays, thereby, assuming that the body and/or intellectual condition of these subjects is something that assumes and/or defines them as less capable than the rest of the general population.

Keywords: University students; Reading deficit; Prejudice; Integrative literature review; Qualitative research.

1.Introdução

A título de pesquisa literária e levando em consideração que existem poucas investigações que contemplem o estudo das dificuldades voltadas ao déficit de leitura no ensino superior, torna-se necessário investigar o tema, de modo a favorecer a compreensão das dificuldades que pessoas com déficit de leitura vivenciam no contexto universitário. O déficit de leitura é discutido neste trabalho como uma deficiência no funcionamento intelectual, que se apresenta por déficit na generalidade da capacidade de leitura. O foco aqui é contemplar as dificuldades desses sujeitos no campo do preconceito, considerando que esse fenômeno não se limita restritivamente a deficiências na esfera física e sensorial, incluindo experiências na esfera intelectual (Brasil, 2015; Castanho, 2017). A fundamentação e conceptualização de Vygotsky (1989) preconiza que todas as atividades cognitivas básicas desenvolvidas pelo indivíduo ao longo de sua vida ocorrem de acordo com sua história social, e acabam se constituindo e moldando-se no produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade e culturas vivenciadas. As reverberações dos resultados das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se insere e se desenvolve também são marcadores fundamentais para a estruturação das habilidades cognitivas adquiridas. O conceito traz demarcações de que o defict de leitura é um transtorno de ordem hereditária, ou adquirida ao longo da vida, por alguma situação de perda adversa, acarretando dificuldades na aprendizagem da leitura (Nogueira & Beserra, 2017). Para o Diagnóstico de Saúde Mental 5 (DSM-5), as repercussões do déficit de leitura caracterizam-se por ser uma perturbação no neurodesenvolvimento que possui origem biológica, sendo este o pilar das dificuldades de caráter cognitivo, associadas assim as manifestações de dificuldades e comprometimentos nas esferas comportamentais e educacionais (American Psychological Association, 2013). Luria (1976) postula que as habilidades cognitivas emersas pelo sujeito e as formas de estruturar e/ou organizar o pensamento não são determinadas por fatores exclusivamente congênitos, levando-se em consideração também fatores ambientais e a subjetividade da história de vida. Thomas (1993) constrói que no percurso do desenvolvimento cognitivo, os fatores que estão relacionados ao processo da linguagem são importantes na determinação de como a criança vai aprender a pensar ao longo da vida. Para Krug (2015) a leitura não pode apenas ser representada como um processo de simples codificação contínua, por envolver muito mais do que apenas aspectos de decodificação da escrita e sim interação com o outro e com o meio. Nos estudos apresentados por Capellini et al. (2007), o déficit de leitura se faz presente em aproximadamente 15% da população mundial, repercutindo assim em grandes comprometimentos cognitivos, fazendo com que o sujeito permaneça em um nível inferior ao esperado em relação à idade cronológica. Embora o fenômeno e suas consequências para os sujeitos, no que se refere às relações intergrupais, sejam amplamente reconhecidos, ainda existem poucas investigações no campo que investiga o preconceito voltado aos universitários com déficit de leitura (Castanho, 2017). Define-se a déficit de leitura essencialmente pela incapacidade específica do contexto de desenvolvimento da aprendizagem, que possui um caráter de ordem neurobiológica. Sendo assim, o respectivo é caracterizado pelas dificuldades relacionadas à correção e a fluência na leitura de palavras e por baixa competência na esfera da leitura (Lyon et al., 2003). O déficit de leitura catacteriza-se por ser um transtorno que é de ordem cerebral e genética, tornando comum o aparecimento de manifestações de ordem multifatorial, visto que, a condição apresenta-se por meio de uma variedade de sintomas (Massi & Santana, 2011). Assim, é considerado um transtorno inesperado do campo da linguagem, de origem marcadamente neurobiológica e é caracterizado como uma condição crônica que persiste e se desenvolve até a vida adulta (Moojen et al., 2016). Assim, no intuito de resguardar a inserção e dignidade de pessoas com deficiência no contexto educacional, existem leis que regulam a adequabilidade democrática desses ambientes assegurando acessibilidade. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), nº 13.146 de 06 de Julho de 2015, preconiza que a educação é um direito da pessoa com deficiência e que o sistema educacional deve ser inclusivo em todos os níveis. A acessibilidade deve ser parte das universidades em todas as esferas, seja nos ambientes físicos, na comunicação, nos materiais ou na didática dos professores (Brasil, 2015). Dentre as diversas dificuldades e evitamentos que podem ser reverberados na vida do sujeito com dificuldades de aprendizagem no campo da leitura, compreende-se que o processo de exclusão social e o devido impacto voltado ao preconceito podem potencializar ainda mais as condutas do processo de aprendizagem com atraso desses indivíduos. Kastrup (2018) aponta que a presença de estudantes com deficiência intelectual nas universidades brasileiras tem ganhado um espaço e uma importância contemporânea memorável. Esse processo tem possibilitado uma institucionalização democrática, em que as universidades e seus gestores vão sendo levados, com mais frequência, a discutir e abordar temas voltados aos processos de acessibilidade. Shaywitz (2006) evidencia grandes evitamentos e esquivas de pessoas com déficit da aprendizagem no que diz respeito a atividades que envolvam a leitura, ou que necessitem da leitura para elaboração e realização de determinada atividade. O autor reporta que algumas pessoas evitam quaisquer situações que envolvem prazer e convívio social por conta do transtorno e das dificuldades que estão associadas às deficiências intelectuais. Neste sentido, torna-se essencial identificar as nuances dos preconceitos nos ambientes universitários com sujeitos com déficit de leitura, tendo em vista demandas que atravessam a inserção desses sujeitos no ciclo social e as respectivas dificuldades no processo da aprendizagem.

2.Metodologia

A pesquisa desenvolvida é de natureza qualitativa, que se propõe compreender como os fenômenos acontecem, e não só quantificar números e ocorrências. A pesquisa qualitativa é atravessada a alguns desafios em sua aplicabilidade, sendo alguma delas, a investigação inerente aos processos de desenvolvimento do sujeito e a representação dos fenômenos em processo de alteração/mudança, abordando de forma dinâmica os eventos que estão em análise (Araújo et al., 2017). A pesquisa se caracteriza como descritiva e bibliográfica, delineada como revisão integrativa de literatura. Dentre as formas possíveis, elegeu-se a revisão integrativa por ela ser inclusiva e possibilitar articular dados da literatura teórica e empírica, como também incluir estudos experimentais e não experimentais para se ampliar a compreensão do fenômeno analisado. Desse modo, essa metodologia oportuniza a síntese de conhecimento, a integração da aplicabilidade de resultados de estudos relevantes na prática, e permite a produção de uma perspectiva coerente (Souza et al., 2010). A revisão integrativa da literatura contempla o desenvolvimento, a organização e a sumarização de pesquisas sobre um tema específico, realizando apontamentos acerca do conjunto da produção científica. Assim, a revisão integrativa busca o conhecimento sobre uma temática específica, com o objetivo de analisar e sintetizar resultados de estudos independentes sobre o mesmo assunto (Beyea & Nicoll, 1998). A revisão integrativa contribui na ampliação da discussão sobre o assunto de interesse, possibilitando que o pesquisador reúna e analise, de forma sistemática, a partir de critérios que são pré-estabelecidos, os resultados obtidos com investigações em certos temas e/ou áreas afins, e, a partir disso, oferecer sugestões para a realização de futuras pesquisas no campo científico. Então, compreende-se a revisão integrativa como uma sistematização de informações, integrando assim achados específicos, tendo por base a pesquisa científica (Mendes et al., 2008). Assim, a revisão integrativa consiste em uma busca de pesquisas relevantes sobre um determinado tema, possibilitando identificar lacunas que podem ser preenchidas com a realização de outros estudos contínuos. Destaca-se a importância de alguns pontos, tais quais: a) a identificação do tema e formulação da questão da pesquisa; b) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão dos estudos para amostragem; c) coleta dos dados que serão extraídos dos estudos; d) análise crítica dos estudos selecionados; e) interpretação dos resultados; f) apresentação da síntese estabelecida e revisão dos conteúdos (Mendes et al., 2008). Obedecendo à primeira etapa, elaboraram-se as seguintes questões norteadoras: Quais os impactos do preconceito em sujeitos com déficit de leitura? Quais demandas esses sujeitos apresentam diante de suas dificuldades? Como a universidade tem enfrentado essa situação? Para responder a essas questões, este trabalho apresenta os resultados identificados a partir da busca de artigos, nacionais e internacionais, que tenham sido publicados preferencialmente na última década. Optou-se por privilegiar o uso dos descritores ¨deficit de leitura" e "preconceito", bem como de incluir artigos que apresentassem os referidos termos no título ou palavras-chave, afim de melhor delimitar a busca. O levantamento foi realizado em setembro de 2021, prioritariamente na base de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Além dos artigos buscados nessa base de dados, considerou-se como estratégia complementar, incluir na revisão autores com relevância acentuada no tema de investigação, citados em referências analisadas. Excluiu-se outras bases de dados, como IndexPsi, Pepsic e BVS-Psi, para serem revisitadas e investigadas em outro momento de pesquisa. Os critérios de inclusão utilizados nesta revisão foram: (a) exclusivamente artigos que apresentassem resultados de investigação científica; (b) publicações que estivessem disponíveis eletronicamente e (c) artigos científicos que apresentassem os descritores associados ao preconceito e ao déficit de leitura. As palavras-chave ultilizadas para contemplação da pesquisa foram: defict de leitura em adultos, preconceito e universitários. Quanto ao processo de codificação, seis pesquisadoras estiveram envolvidas, das quais, três responsabilizaram-se pelo levantamento, leitura e seleção de artigos, enquanto a segunda metade do grupo contemplou a produção metodológica. Todas as autoras participaram da redação do presente trabalho. A partir dos resultados obtidos no levantamento, o procedimento para seleção dos artigos que compõe o desenvolvimento de análise deste trabalho, consistiu, primeiramente, na leitura das palavras-chave e dos resumos, de modo a priorizar as produções que atendiam aos objetivos definidos inicialmente pela pesquisa. Depois das buscas, foi contabilizado um número total de 29 artigos, após a análise excluíram- se cinco trabalhos, por não se enquadrarem nos objetivos iniciais da pesquisa. A interpretação dos dados foi fundamentada nos resultados da avaliação dos 24 artigos selecionados. Foi realizada a comparação com o conhecimento teórico, identificação de conclusões e implicações resultantes da revisão integrativa da literatura. Dentre os 24 artigos analisados, 14 artigos estão voltados ao déficit de leitura em adultos, 10 artigos associados a temas que se vinculam ao preconceito dirigido a dificuldade de aprendizado. Segue a tabela 1 dos artigos utilizados para a contempação dos conteúdos de investigação:

Tabela 1: Artigos selecionados para revisão integrativa 

Após a organização e conteplação dos artigos em análise, realizou-se uma sumarização dos dados que estariam relacionados às possíveis dificuldades que adultos com défict de leitura vivenciavam nos ambientes universitários.

3.Resultados

A avalição dos impactos do preconceito nos sujeitos universitários com déficit de leitura pode ser analisada pelo viés de alguns estudiosos que abordam o tema. Onde, Segundo Dias (2013), os elementos que estruturam a conjectura associada ao preconceito estão associados a uma compreensão normatizada e autoritária sobre o padrão de desejo do corpo humano idealizado socialmente. Assim, os corpos mundanos que são compreendidos como desviantes ou faltosos são percebidos como insuficientes e/ou corpos não saudáveis frente à sociedade. Essa dificuldade de atribuição de insuficiência subjetiva estrutura marcadamente diminui simbolicamente o direito à vida do sujeito em si, seja ela de maneira conceitualmente estética ou mesmo em alguma tarefa específica que se acredita que o sujeito não atingiria de forma satisfatória, ocorrendo isso também na habilidade da leitura de adultos universitários. Vendramin (2019) afirma que por vezes o preconceito está presente em situações sociais que são muito sutis, caracterizando-se por atitudes intencionais ou não, subliminares e/ou intrínsecas, que estão embutidas no inconsciente coletivo e que são pouco observadas pelos sujeitos, associadas a uma repetição que é caracterizada pelo senso comum e que direciona a imagem da pessoa com deficiência a alguma das variações dos estigmas desenvolvidos pelo repertório do cenário social. Assim sendo, sujeitos com dificuldades de aprendizagem na leitura, compreende-se que os processos de exclusão social e o devido impacto voltado ao preconceito e o capacitismo podem potencializar ainda mais as condutas do processo de aprendizagem com atraso desses indivíduos. A estrutura do capacitismo segundo as concepções de Mello (2016) reúne e organiza um conjunto de atitudes preconceituosas, camufladas ou não, que trazem o propósito de categorização de pessoas em função da adequação de seus corpos a de um padrão de capacidade funcional. Para o autor, o neologismo capacitismo busca dar visibilidade de uma forma subliminar de opressão junto a sujeitos que possuem deficiência física e intelectual, incluindo assim os sujeitos com déficit no campo da leitura. Kuppers (2004) discorreu sobre aspectos associados às concepções de visibilidade-invisibilidade e hipervisibilidade das pessoas que possuem deficiência no campo físico/intelectual, frente ao enquadramento dos olhares voltados aos estigmas de ordens sociais. A visibilidade-invisibilidade operando e centralizando como um desvio do olhar humano frente ao sujeito com limitação, em uma esfera de diminuição ou mesmo de negligenciamento da presença do outro que se mostra como simbolicamente desviante, ao qual, por vezes, não se sabe lidar. A hipervisibilidade centrada em outro polo, onde existe um olhar sobre a deficiência que atravessa todos os outros itens que definem a identidade do sujeito com alguma deficiência. Assim, ambos os campos, hipervisibilidade e visibilidade-invisibilidade organizam-se como opositores complementares que possuem a característica de redução e/ou inferiorização de sujeitos com deficiência a estigmas historicamente e socialmente construídos. Trazendo a incidência de que sujeitos que se desviam desse olhar de caráter normativo, sejam atravessados a preconceitos e sucessivas exclusões sociais no campo universitário (Luca, 2009). A presença de estudantes com deficiência nas universidades tem ganhado um espaço destinado e uma importância memorável na última década. Sugerindo assim, que as instituições e seus gestores sejam atravessados com mais frequência a discutir e abordar temas voltados às demandas apresentadas por essa população em estudo, que seja: os processos de inclusão. Contudo, embora não seja nova a imersão de estudantes com deficiência física e intelectual nos contextos universitários, o aumento exponencial deste número e a institucionalização democrática do acesso aos cursos de ensino superior deu uma importante visibilidade à temática (Kuppers, 2004). Assim, os constantes diálogos e a busca por compreensão sobre as peculiaridades que atravessam esse tema possuem o objetivo de trazer cada vez mais à tona a formação e a produção de conhecimento crítico de estudantes, gestores e professores universitários. Além disso, a literatura pouco apresenta incentivos de habilidades em estratégias de atuação e acolhimento para com universitários com déficit de leitura que integram o campo universitário, o que se considera uma limitação nesse estudo. Faz-se necessário um trabalho contínuo futuro em pesquisas, o emprego de métodos mistos, combinando estudos quantitativos e qualitativos, por exemplo. Novas pesquisas podem avançar na compreensão das variáveis do capacitismo e das nuances dos preconceitos nos ambientes universitários com foco nos sujeitos adutos com déficit de leitura, haja vista as demandas que atravessam a inclusão desses sujeitos nos ambientes sociais e as respectivas dificuldades no processo da aprendizagem. Para Pozzana e Kastrup (2015), o problema conceitual da implementação acerca da acessibilidade no campo universitário não está associado apenas aos alunos que possuem alguma deficiência e/ou limitação, mas sim a todo o envolvimento técnico desse ambiente, assim, para o enfrentamento dessa situação exige-se da universidade o envolvimento dos professores, dos gestores da instituição, dos funcionários técnico-administrativos e da universidade em sua esfera global. O problema da acessibilidade para sujeitos que são atravessados a alguma deficiência possuem diversas dimensões e nuances que vão além das questões pedagógicas e didáticas da sala de aula. Embora as dificuldades e os preconceitos não iniciem necessariamente no campo acadêmico, a prática preconceituosa está bastante presente nesses ambientes, muitas vezes marcando de maneira camuflada e silenciosa as práticas cotidianas de professores e estudantes voltados a esse grupo minoritário.

4.Discussão

A presença de estudantes com deficiência nas universidades tem ganhado um espaço destinado e uma importância memorável na última década, sugerindo assim, que as instituições e seus gestores precisam com mais frequência discutir e abordar temas voltados aos processos de inclusão, de acessibilidade e de limitação dos sujeitos. Contudo, embora não seja nova a imersão de estudantes com deficiência física e intelectual nos contextos universitários, o aumento exponencial deste número e a institucionalização democrática do acesso aos cursos de ensino superior deu uma importante visibilidade a esta temática. Assim, os constantes diálogos e a busca por compreensão sobre as peculiaridades que atravessam esse tema possuem o objetivo de trazer cada vez mais à tona a formação e a produção de conhecimento crítico de estudantes, gestores e professores universitários (Kastrup, 2018). Compreende-se que o problema conceitual da implementação acerca da acessibilidade na universidade não está associado apenas aos alunos que possuem alguma deficiência, mas sim a todo o envolvimento técnico desse ambiente, assim, requer o envolvimento dos professores, dos gestores da instituição, dos funcionários técnico-administrativos e da universidade em sua esfera global (Pozzana & Kastrupm 2015). Os problemas da acessibilidade e do preconceito para sujeitos que são atravessados pelo déficit de leitura, possuem diversas dimensões e nuances que vão além das questões pedagógicas e didáticas da sala de aula. Embora as dificuldades do preconceito não iniciem necessariamente no campo universitário, a prática preconceituosa está bastante presente nesses ambientes, muitas vezes marcando de maneira camuflada e silenciosa as práticas cotidianas de professores e estudantes voltados ao grupo que possui esse tipo de dificuldade (Kuppers, 2004).

5.Conclusão

Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura sobre o preconceito dirigido a universitários com déficit de leitura com vistas a identificar o estado da arte acerca do tema, especificamente no que diz respeito das diferentes definições, além de observar as concordâncias e as divergências dos autores sobre o conceito das dificuldades de aprendizagem e do preconceito ao longo das décadas de exploração e pesquisa. De acordo com o observado na análise qualitativa, apesar de novo o tema do preconceito associado a sujeitos com déficit de leitura, apresenta grande potencial de contribuição para se pensar a superação de adversidades e de discriminação no âmbito universitário, o que confirma a necessidade de publicações acerca desse tema em revistas de maior impacto e visibilidade. Levando em consideração a grande relevancia da pesquisa qualitativa e da revisão integrativa de literatura nesse tema, visto que o respectivo tem baixa investigação científica. A assim, essa revisão integrativa de literatura permite mergulhar no tema, visto que ainda existe pouca interlecução entre o défict de leitura em adultos versos o perconceito existente nos ambitos acadêmicos. Ademais, entende-se que o baixo número de publicações identificadas, sobretudo de estudos nacionais, pode estar relacionado ao uso exclusivo dos descritores preconceito e déficit de leitura em adultos no título ou palavras-chave, à limitação de base de dados incluída na busca, bem como a restrição da busca a artigos, ao invés de livros e capítulos de livros. Da mesma forma, a inclusão de outras bases na busca, tais como IndexPsi, Pepsic e BVS-Psi, somada à consideração de livros e capítulos de livros, poderia ampliar ainda mais os resultados. Assim sendo, sugere-se que estudos futuros possam caminhar no sentido de uma perspectiva integradora acerca do déficit de leitura e o preconceito nas universidades, principalemnte nas pesquisas qualitativas. Além disso, acredita-se ser importante o maior desenvolvimento de estudos empíricos sobre esse assunto, no contexto universitário brasileiro, somado ao desenvolvimento e avaliação de intervenções psicossociais, promotoras de inclusão social, de acessibilidade e diversidade dos sujeitos. Conclui-se com o artigo que sujeitos adultos que são atravesados ao diagnóstico de défict de leitura são atravessados a inúmeras dificuldades, preconceitos e capacitismo nos ambientes universitarios, visto que, a literatura demostra que existe um processo de exclusão social por parte dos sujeitos que vivenciam essa limitação na vida adulta. Assim, faz-se necessária investigação científica no campo, tento em vista os prejuizos emocionais associados à exclusão social desses sujeitos.

REFERÊNCIAS

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Recebido: 01 de Fevereiro de 2022; Aceito: 01 de Abril de 2022

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