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New Trends in Qualitative Research

On-line version ISSN 2184-7770

NTQR vol.9  Oliveira de Azeméis June 2021  Epub Dec 20, 2021

https://doi.org/10.36367/ntqr.9.2021.336-343 

Artigos Originais

Investigação Qualitativa em período de distanciamento social: O desafio da realização de entrevistas remotas

Qualitative Research in a Period of Social Detachment: The Challenge of Conducting Remote Interviews

Gabriel de Pinna Mendez1 
http://orcid.org/0000-0002-9692-830X

Claudio Fernando Mahler2 
http://orcid.org/0000-0002-3982-0001

Stella Regina Taquette3 
http://orcid.org/0000-0001-7388-3025

1 Centro Federal de Educação Tecnológica, Celso Suckow da Fonseca, Brasil

2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, Brasil

3 Departamento de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil


Resumo:

O presente trabalho buscou avaliar a realização de entrevistas na modalidade remota como ferramenta de coleta de dados em pesquisa qualitativa. No período de distanciamento social exigido pela pandemia de COVID-19 foram realizadas 18 entrevistas remotas no âmbito de estudo para avaliar a coleta seletiva de resíduos sólidos em uma capital no Brasil, que se encontra em fase de análise de dados, sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi apenas avaliar as entrevistas remotas como técnica de coleta de dados e não avaliar os resultados das entrevistas. As entrevistas foram realizadas com o emprego de softwares diversos: Microsoft Teams, Google Meet, Zoom e chamada de vídeo por aplicativo de telefone celular (telemóvel). A média de duração das entrevistas foi de 40min e apesar das dificuldades encontradas, como a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e a oscilação de sinal de internet, verificou-se que a realização das entrevistas remotas é viável, permite boa interação entre o investigador e o entrevistado com o cumprimento dos requisitos éticos em pesquisa. Conclusão: a entrevista remota se mostrou uma alternativa confiável e eficaz para coleta de dados de pesquisa qualitativa e ainda se destaca como ponto positivo a maior facilidade na gravação e transcrição das entrevistas.

Palavras-chave: Distanciamento Social; Pesquisa Qualitativa; Entrevistas.

Abstract:

The present work sought to evaluate the performance of interviews in remote mode as a way of using this tool in qualitative research, in the period of social distance. 18 remote interviews were carried out as part of a study to assess the difficulties faced in the selective collection of solid waste in the city. from an important Brazil city , a study that is in the phase of data analysis. The interviews were conducted with the use of several tools, depending on the availability of means of the interviewees such as Microsoft Teams software, Google Meet, Zoom and even via video call via cell phone application (mobile phone). The average duration of the interviews was 40 minutes and despite the difficulties encountered, such as the signing of the Free and Informed Consent Term - IC and the oscillation of the internet signal, it was found that remote interviews are feasible, allowing interaction between the researcher and the interviewee and the fulfillment of ethical requirements in research, but they should only be carried out in cases of need, such as the COVID-19 Pandemic or another need for social isolation on the part of the researcher or the interviewee. As a positive point in the remote interview, the easiness in the recording and transcription of the interviews stands out.

Keywords: Social Distancing; Qualitative Research; Interview.

1. Introdução

O ano de 2020 ficará para a história devido à pandemia global causada pelo vírus SARS-CoV-2, causador da doença. Doença COVID-19. Milhões de pessoas estão confinadas em suas casas, vivendo em uma situação sem precedentes; muitos países vivenciaram alguma forma de restrição, como é o caso da Espanha que Decretou estado de alarme no país em 14 de março, com medidas de contenção que foram reforçadas em 29 de março, medidas que paralisaram a atividade não essencial e, conseqüentemente, grande parte da economia do país (Governo da Espanha, 2020a e 2020b; García-Peñalvo et al. 2020).

Uma das primeiras medidas de amplo espectro foi o fechamento de escolas em todas as escolas (Zubillaga e Gortazar, 2020), que afetou 91,3% do total de alunos matriculados no mundo: mais de 1,5 bilhão de pessoas não puderam assistir às aulas presenciais, de acordo com o UNESCO (2020).

Se a pesquisa em ambientes digitais se restringia a um grupo de estudos específicos no âmbito da pesquisa social, neste momento, compreendê-la melhor se torna uma necessidade epistemológica e metodológica para todos os pesquisadores. Certamente, não se trata de uma solução indistinta a todas as pesquisas, pois tais decisões envolvem uma leitura de coerência aos objetivos do estudo, podendo indicar a necessidade de dinâmicas investigativas que articulem os espaçosonlineeoffline, buscando captar as diferentes performances e interações nestes espaços e o modo como as tecnologias interatuam nas práticas sociais (Deslandes & Coutinho, 2020).

Ainda segundo Deslandes & Coutinho (2020), a mudança de paradigma em relação ao papel da tecnologia nas pesquisas sociais tem como principal desdobramento prático a tomada de consciência por parte do pesquisador que a tecnologia tem esse duplo caráter: se por um lado ela é o lócus privilegiado onde os interlocutores desenvolvem suas interações, por outro ela auxilia na extração, mensuração e análise dos dados. Assim, todas as etapas da pesquisa serão mediadas pelo mundo digital, desde sua análise exploratória de reconhecimento do campo até a escrita do texto final, e neste percurso haverá pouca distinção entre oofflinee oonline. O contexto da pandemia da COVID-19 nos convoca a adaptar nossos estudos, migrando para as ambiências da pesquisa digital. Todavia, à medida em que as interações humanas são cada vez mais mediadas pela Internet, a pesquisa em ambiênciaonlineconstitui uma exigência heurística que ultrapassa as soluções estratégicas emergenciais geradas pelas contingências sanitárias de distanciamento social. Isso convoca e desafia todos os pesquisadores a compreender melhor “o mundo digital”, ampliando horizontes para além do entendimento reduzido de um “lugar” onde será fácil recolher muitos dados e fazer entrevistasonline (Deslandes & Coutinho, 2020).

No Brasil, apesar de não ter havido uma ação coordenada por parte do Governo Central, diversos estados e municípios adotaram medidas de distanciamento social, causando impacto em diversas atividades, dentre elas, o ensino e a pesquisa.

A entrevista individual é procedimento de coleta de dados que faz uso da palavra e constitui a técnica mais usual na pesquisa qualitativa. Através das entrevistas individuais podem-se coletar dados primários, que são concretos e objetivos, como também, dados secundários, que são subjetivos e resultam das observações/reflexões do entrevistador/investigador tem sobre o tema em estudo. (Taquette & Borges, 2020).

A Pandemia de COVID 19 levou a óbito quase trezentas mil pessoas no Brasil e todos os municípios do país, há pouco mais de um ano, sofrem com restrições de contato social e deslocamento como forma de reduzir a disseminação do vírus na população. A entrevista individual em pesquisa qualitativa, usualmente, se realiza de forma presencial, em local acordado entre entrevistador e entrevistado. No entanto, no período da Pandemia de COVID 19, a realização das entrevistas nessa modalidade constitui um risco para a saúde dos participantes da pesquisa.

1.1 O Método Qualitativo e as Entrevistas

O Método Qualitativo possui mais de um século de existência tendo sido proposto inicialmente por pesquisadores das ciências sociais/humanas. Contudo, ao longo do tempo foi sendo empregado em outras áreas, principalmente nas Ciências da Saúde (Taquette & Borges, 2020).

No final do século XIX, em Heidelberg, Alemanha e no início do século XX, em Chicago, Estados Unidos, nascia uma escola de sociologia que se rebelava radicalmente contra o positivismo, o qual, assumia como verdade apenas o que cabia no método ao invés de privilegiar a captação da realidade humana (Minayo & Sanches, 1983).

Nas últimas décadas, outras áreas de conhecimento têm utilizado o método qualitativo em pesquisas, como por exemplo, na medicina, educação, administração e engenharia. A crescente popularidade dos métodos qualitativos foi acompanhada de uma diversificação das práticas de pesquisa. Segundo Poupart et al. (2018), a pesquisa qualitativa é hoje realizada em diferentes contextos institucionais e nos meios mais imediatamente associados à intervenção, sendo surpreendente a complexidade das áreas englobadas.

Não há um consenso acerca da definição da Pesquisa Qualitativa. Minayo e Costa (2019) afirmam que as pesquisa qualitativas têm como matéria prima um conjunto de substantivos cujos sentidos se complementam: “experiência, vivência, senso comum e ação. E o movimento que informa qualquer abordagem, se baseia em quatro verbos: escutar, compreender, interpretar e dialetizar”. Os referidos autores dividem a pesquisa qualitativa em três etapas de trabalho: a primeira fase, exploratória, a segunda, o trabalho de campo e a terceira a análise do material coletado de forma empírica e documental. A pesquisa qualitativa trabalha num universo de valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões, específicos de indivíduos ou grupos, sendo portando humanista.

O investigador percebe o cenário e as pessoas com uma visão holística, separando as suas próprias crenças, perspectivas ou predisposições. Portanto, ela é utilizada para a compreensão de fenômenos que podem ser caracterizados por elevada complexidade, como é o caso dos problemas relacionados ao trato com resíduos sólidos.

A entrevista é um instrumento privilegiado para que o investigador conheça, na perspectiva dos atores envolvidos, o sentido que eles mesmos conferem a suas ações (Poupart, 2012; Taquette & Borges, 2020). Segundo Taquette e Borges (2020), a entrevista é um encontro entre duas pessoas que em geral, não se conhecem e ocupam posições diferentes na sociedade. As diferenças existentes fora do ambiente da entrevista permanecem e no contato pessoal o pesquisador deve conduzir o diálogo de forma que o entrevistado se sinta à vontade e seguro para expor aquilo que pensa de forma que os dados coletados retratem a realidade vivida. Por isso, é importante para o entrevistador buscar aproximar-se do entrevistado de forma bastante amistosa, criando um vínculo de confiança que os aproximem e garantam a fidedignidade do estudo. Certamente, essa aproximação pode tornar-se mais difícil nas entrevistas remotas.

A pesquisa digital permite muito além de “fazer entrevistas” online. Sujeitos da pesquisa podem ser (e muitos já são) produtores e editores de conteúdos em formatos diversos (fotos, textos, vídeos, imagens). O pesquisador pode pedir que os sujeitos produzam conteúdos, falando de suas experiências, pontos de vista, ideias e discutir os sentidos que lhes são atribuídos. (Rogers, 2013)

2. Metodologia

Entre os meses de maio de 2020 e janeiro de 2021 foram realizadas 18 entrevistas com atores envolvidos na atividade de coleta seletiva de resíduos sólidos em uma capital no Brasil, como ferramenta de uma pesquisa que se encontra em andamento, na fase de análise de dados. Optou-se pela entrevista do tipo semiestruturada que combina um roteiro de questões previamente formuladas com questões abertas, dando a oportunidade para uma participação mais ampla dos entrevistados. O roteiro de entrevista foi formulado conforme a Tabela 1.

Tabela 1: Roteiro de entrevista semiestruturada 

Antes da realização das entrevistas foi feito um “estudo-piloto” com a realização de duas entrevistas para testar o roteiro, os equipamentos de gravação utilizados, as plataformas para realização das entrevistas remotas e principalmente, para treinar a habilidade e desenvoltura do entrevistador/investigador. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética na Pesquisa - CEP da instituição cujo investigador responsável é vinculado.

Os entrevistados foram escolhidos de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos para a pesquisa principal acerca da calota seletiva de resíduos domiciliares em uma capital do Brasil, que se encontra em fase de análise de dados, conforme Tabela 2.

Tabela 2: Recrutamento dos Grupos de interesse 

Para a realização das 18 entrevistas, foram convidados 39 participantes dos quatro grupos de interesse que atendiam os critérios de inclusão. Apesar da opção entrevista ser na modalidade remota, muitos alegaram dificuldades ligadas à Pandemia de COVID 19 como o acesso à internet e declinaram do convite. No caso dos catadores de materiais recicláveis, a maioria se encontrava em situação bastante complexa no período de isolamento, uma vez que no município foco do estudo, o recebimento e a coleta de material reciclável foi prejudicada. A Empresa de limpeza pública alterou as rotas de coleta, para contenção de despesas e muitos estabelecimentos comerciais, onde havia a coleta de material reciclável, ficaram fechados ou com o funcionamento reduzido, causando alterações na cadeia logística de recebimento e coleta de resíduos.

Todos que aceitaram participar optaram por realizar a entrevista na modalidade remota, sendo que seis escolheram usar a plataforma MS Teams, nove a Plataforma Zoom e três entrevistas foram realizadas por meio de chamada de vídeo pelo aplicativo “whatsapp”. Em apenas três entrevistas houve a necessidade de interrupção por problemas com a conexão de internet. A média de duração das entrevistas foi de 40min e não houve nenhuma recusa quanto à gravação.

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE foi enviado em formato “PDF” aos entrevistados, para que os mesmos assinassem e remetessem uma via assinada e digitalizada ao investigador responsável. As entrevistas foram agendadas previamente com os entrevistados através de um contato inicial onde além do convite, foi realizada uma explicação sucinta dos objetivos da pesquisa e da importância da participação de cada entrevistado.

Nesse contato inicial, foi dada a oportunidade ao entrevistado de escolher a melhor forma de realizar a entrevista, presencialmente, com todas as medidas de segurança sanitária ou na modalidade remota, além disso, os entrevistados foram consultados sobre a melhor ferramenta a ser utilizada na entrevista, caso fosse realizada na modalidade remota (Microsoft Teams, Zoom, Google Meet ou chamada via telemóvel).

Todas as entrevistas foram gravadas por, no mínimo, dois equipamentos diferentes, para futura transcrição e análise de dados. A autorização para gravação foi solicitada antes do início das entrevistas, sendo os possíveis participantes consultados e informados sobre a garantia do sigilo das informações, bem como da não identificação de dados pessoais. Os entrevistados foram identificados como “Entrevistado 1”, “Entrevistado 2”, Entrevistado 3” e assim, sucessivamente. Antes de iniciar as perguntas constantes do roteiro semiestruturado (tabela 1), foram realizados alguns comentários gerais sobre temas da atualidade para quebra do desconforto inicial comum ao início das entrevistas. As impressões sobre cada entrevista, sobre a personalidade de cada entrevistado e observações adicionais percebidas nas “entrelinhas” foram registradas em uma síntese, imediatamente após o término de cada entrevista. Além das perguntas que constam no roteiro de entrevistas (tabela 1), optou-se por realizar perguntas adicionais, sempre que o entrevistador julgasse necessário ou oportuno, como por exemplo, ao perceber que o entrevistado poderia prosseguir com uma resposta e o mesmo a interrompeu sem finalizá-la, o entrevistador instigava o entrevistado a prosseguir, com intervenções do tipo, “fale mais sobre isso”, “voltando ao que estávamos falando”. Após a realização de 18 entrevistas, já havia informações suficientemente para atingir a saturação dos conteúdos. Todas as entrevistas foram realizadas pelo investigador responsável pela pesquisa e ao final de cada uma, foi oferecido ao entrevistado um momento para perguntas e para agradecimento pela participação no estudo, reiterando sua importância para a pesquisa. O entrevistador se comprometeu ainda a divulgar, assim que finalizado, todos os resultados do trabalho aos entrevistados. Com o objetivo de atrair novos participantes para o estudo, foi solicitado a cada um dos entrevistados a indicação de possíveis atores que se enquadrados no perfil de interesse do estudo, pudessem participar da pesquisa.

3. Resultados e Discussões

Para a realização das 18 entrevistas, foram consultadas e convidadas 39 pessoas que cumpriam os critérios de inclusão. Apesar da opção da entrevista ser na modalidade remota, muitos alegaram dificuldades ligadas a Pandemia de COVID 19 como o acesso à internet. No caso dos catadores de materiais recicláveis, a maioria se encontrava em situação bastante complexa nesse período de isolamento, uma vez que na cidade foco do estudo, o recebimento e a coleta de material reciclável foi prejudicada. A empresa pública de limpeza do município alterou as rotas de coleta, para contenção de despesas e muitos estabelecimentos comerciais, onde havia a coleta de material reciclável, ficaram fechados ou com o funcionamento reduzido, causando alterações na cadeia logística de recebimento e coleta de resíduos.

Todos que aceitaram participar optaram por realizar a entrevista na modalidade remota, sendo que seis escolheram usar a plataforma MS Teams, nove a Plataforma Zoom e três foram feitas por meio de chamada de vídeo pelo aplicativo “whatsapp”. Em apenas 3 entrevistas houve a necessidade de interrupção por problemas com a conexão de internet. A média de duração dos encontros remotos foi de 40min e não houve nenhuma recusa quanto à gravação.

O emprego das plataformas como MS Teams e Zoom facilitou a gravação, uma vez que há na própria plataforma um recurso para a gravação do vídeo da entrevista no qual, além das vozes dos participantes há o registro em vídeo das expressões e comportamentos durante as entrevistas, o que facilita a transcrição das mesmas. Apesar do recurso disponível, em todas as entrevistas foi utilizado um gravador portátil como medida de segurança.

Apesar de não haver a mesma interação que uma entrevista realizada presencialmente, foi possível estabelecer um bom vínculo entre entrevistador e entrevistado, tão necessário para o método qualitativo, garantindo a recolha de dados prevista. O principal aspecto negativo das entrevistas remotas foi a dificuldade para a assinatura do TCLE. Nas entrevistas presenciais isso é realizado antes do início da entrevista de forma rápida. No entanto, no caso das entrevistas remotas, muitos entrevistados não enviavam o material, tiveram dificuldades em entender como digitalizar a assinatura e outros só enviavam depois de diversos e insistentes pedidos.

Em uma das entrevistas, de forma inusitada, um dos convidados trouxe uma segunda pessoa para ser entrevistada concomitantemente. Por se tratar de uma situação até então inédita para o entrevistador, optou-se por realizar a entrevista com os dois participantes e transcrever as respostas em separado para futura análise, ciente de que um pode ter influenciado o outro em suas respostas. Apesar de muitos entrevistados disporem de renda mensal abaixo de 3 salários mínimos, todos tinham acesso a aparelho de telefone celular (telemóvel) e/ou acesso à computador dotado de pacote de dados de internet compatível com a realização de entrevistas e troca de mensagens. A totalidade dos entrevistados indicou, ao final de cada entrevista, ao menos um outro possível participante, no entanto, muitos declinaram do convite após o contato do pesquisador responsável, sendo que ao final da fase de entrevistas, 39 participantes foram convidados, porém apenas 18 aceitaram participar. Foi possível perceber que apesar da complexidade na assinatura do TCLE, a opção pela entrevista remota foi proveitosa, não apenas pela garantia da integridade física dos participantes que puderam manter o isolamento social, mas também pela otimização dos deslocamentos. Outro fator a ser destacado é a maior facilidade na gravação, pela própria ferramenta tecnológica utilizada na entrevista permitir tal ação. Ainda que não haja na entrevista remota a mesma interação e possibilidade de observação que na entrevista presencial, foi possível verificar, principalmente nas entrevistas cujo vídeo foi disponibilizado pela própria plataforma, aspectos importantes do comportamento dos entrevistados que têm auxiliado na análise dos dados.

4. Conclusões

A necessidade de isolamento social como forma de evitar a proliferação do vírus causador da COVID 19 e consequentemente o aumento do número de casos, fez com que várias atividades precisassem ser modificadas para adaptar-se às condições atuais. No caso da pesquisa, não foi diferente. A realização de entrevistas como ferramenta de pesquisa qualitativa precisou ser realizada de forma remota, situação que antes da referida pandemia não tinha sido cogitada. Após essa adequação metodológica, foi possível verificar que apesar de algumas dificuldades, as entrevistas remotas são possíveis de serem executadas atendendo a um espectro muito maior de prováveis interessados, uma vez que pessoas com dificuldade de locomoção, que residem em áreas de difícil acesso, que estão acamadas ou que vivem em outros estados ou até países, podem sim, participar de entrevistas na modalidade remota.

Agradecimentos

O segundo autor agradece o constante apoio do CNPq em suas pesquisas. O segundo e o terceiro autores agradecem o apoio da FAPERJ a seus projetos de pesquisa através da bolsa Cientista do Nosso Estado.

5. Referências

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Recebido: 18 de Março de 2021; Aceito: 28 de Abril de 2021

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