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Political Observer - Revista Portuguesa de Ciência Política

versão impressa ISSN 1647-4090versão On-line ISSN 2184-2078

PO-RPCP vol.16  Lisboa dez. 2021  Epub 02-Mar-2022

https://doi.org/10.33167/2184-2078.rpcp2021.16/pp.33-48 

Artigo Original

O Século do Triângulo Estratégico

The Century of the Strategic Triangle

1Universidade Lusíada de Lisboa, Portugal; fagclaudio@gmail.com.


Resumo

Vivemos tempos de mudança, a pandemia da COVID-19 veio acelerar as alterações que se encontravam em curso nos arranjos estruturais do sistema internacional dominado nas últimas décadas pelos EUA. Com o fim da Guerra Fria acreditou-se que seria possível a globalização da democracia, relações de cordialidade mútua entre as grandes potências e a cooperação internacional sem restrições através das instituições. Esse suposto fim da competição estratégica levou à perda de protagonismo da teoria realista como lente para as relações internacionais. Hoje, sabemos que o fim da história foi anunciado cedo demais. Segundo isto, o artigo debruça-se sobre a relação estratégica das três grandes potências geopolíticas - EUA, China e Rússia - aplicando a análise teórica de Lowell Dittmer. O triângulo estratégico não é novo, tendo fundações precisamente durante a Guerra Fria, no entanto, os arranjos estruturais do mesmo distanciam-se dos verificados anteriormente. A China é um ator mais forte globalmente, os EUA, embora tenham perdido fulgor, continuam a maior superpotência mundial e, a Rússia nunca poderá ser posta de lado pela relevância geopolítica em várias frentes. Com base neste enquadramento, o artigo procurará destrinçar a dinâmica que existe atualmente entre os três atores e que consequências traz para a futura ordem mundial.

Palavras-chave: balança de poderes; China; competição estratégica; EUA; Rússia; triângulo estratégico

Abstract

We live in times of change, the COVID-19 pandemic accelerated the changes that were underway in the structural arrangements of the international system dominated in recent decades by the US. With the end of the Cold War, it was believed that the globalization of democracy, relations of mutual cordiality between the great powers and international cooperation without restrictions through the institutions would be possible. This supposed end of strategic competition led to the loss of protagonism of realistic theory as a lens for international relations. Today, we know that the end of the story was announced too soon. According to this, the article focuses on the strategic relationship of the three great geopolitical powers - the US, China, and Russia - applying the theoretical analysis of Lowell Dittmer. The strategic triangle is not new, having foundations precisely during the Cold War, however, its structural arrangements differ from those previously verified. China is a stronger player globally, the US, although it has lost momentum, remains the world's largest superpower, and Russia can never be sidelined by geopolitical relevance on several fronts. Based on this framework, the article will seek to unravel the dynamics that currently exist between the three actors and what consequences it brings to the future world order.

Keywords: balance of power; China; strategic competition; USA; Russia; strategic triangle

1. Introdução

Na revisão do seu artigo sobre o momento unipolar norte-americano de 1990, Charles Krauthammer (2002, pp. 8-9), advogou que as únicas ameaças para a hegemonia dos EUA seriam a posse de armas nucleares por um cada vez maior número de Estados ou a disseminação pela população de doenças infeciosas, dando os exemplos da varíola ou do antraz. Atualmente, o mundo encontra-se num combate que vai para dois anos contra o vírus da SARS-CoV2 que provoca a doença da COVID-19. No entanto, concorda-se no seio das Relações Internacionais que do ponto de vista dos arranjos que impelem a estrutura da ordem mundial, a pandemia não foi o acontecimento que veio alterar as dinâmicas entre os atores internacionais, mas sim ter um efeito catalisador nessas dinâmicas que se vinham a notar há cerca de uma década. Quer isto dizer, ao contrário do alvitrado por Krauthammer em 2002, que não foi um vírus infecioso o elemento causal da decadência dos EUA enquanto principal potência na ordem mundial.

A perceção de decadência da predominância norte-americana na esfera internacional nasce com a crise financeira de 2008, de tal modo que Pequim e Moscovo interpretam o acontecimento como a possibilidade de exercer pressão para uma “transição pós-unipolar e recentrar a dinâmica internacional na luta pelo poder” entre a potência vigente e as potências revisionistas (Carlos Gaspar, 2020, p. 40).

É com base neste momento de decadência norte-americana no sistema internacional que teses realistas, como a da transição de poder ou da balança de poderes, voltaram a ser entoadas um pouco por todo o mundo (Wyne, 2019; Ikenberry, 2020). Ambas centram-se na competição que os Estados mantêm entre si dentro da ordem internacional para alcançarem os seus objetivos, pese embora tenham em si premissas diferentes quanto à forma mais estável para a estrutura da ordem.

Depois de umas décadas inebriados com a possibilidade de uma ordem internacional de paz e prosperidade mundial, temos estado paulatinamente a caminhar outra vez para a competição estratégica entre Estados dos quais EUA, China e Rússia serão objeto de análise neste artigo. O realismo permanece a teoria geral mais apropriada para compreender as relações internacionais, pois o poder continua a ser a variável mais importante e os Estados os atores com maior capacidade de a manobrarem (Walt, 1998, p. 43), sem embargo de outras teorias trazerem contributos significativos para o debate.

Apesar da hegemonia norte-americana, o mundo desde o início do novo milénio tem sido tudo menos estável. A bem dizer a luta pelo poder, influência e status internacional nunca deixaram de existir. A emergência do radicalismo islâmico, a chegada de Putin ao poder ou o caminho diferenciador chinês, fizeram da cena internacional um lugar de intensa competição com EUA, China, Rússia, UE, Japão, Índia, Irão, entre outros, a lutarem pelas respetivas predominâncias regionais (Kagan, 2007). Contudo, a hegemonia nunca esteve em causa e ninguém se atreveria se quer a falar da existência de um equilíbrio de poderes entre potências quanto mais numa transição de poder em curso.

Na verdade, hoje em dia, podemos agora ver que o processo de desenvolvimento interno num dado Estado tem influência nas dinâmicas da estrutura internacional, podendo mesmo alterar a estrutura de poder internacional. No mundo globalizado de hoje o ambiente interno de um Estado está cada vez mais interligado com o seu ambiente externo, por isso, o desenvolvimento de um Estado que mantém altas taxas de crescimento quando comparadas com os Estados denominados desenvolvidos, foi o processo motriz que tornou capaz o desafiar da China à potência dominante na ordem mundial (Kluger & Organski, 1989, p. 178). Por outro lado, a satisfação da China enquanto potência (re)emergente caracteriza-se de suma importância para compreender a alteração em curso na ordem internacional, segundo Kluger e Organski uma tentativa de revisão da ordem apenas poderá ocorrer se uma outra grande potência insatisfeita com o seu status e com capacidades efetivas, tiver intenções de alterá-lo (Kluger & Organski, 1989, p. 174). Os ingredientes necessários para uma revisão parecem estar garantidos.

A conjuntura internacional encontra-se crispada, podemos caracterizá-la como cada vez mais multipolar se olharmos para a polaridade enquanto caracterização do poder e influência. Obviamente, podemos hierarquizar os atores segundo as suas efetivas capacidades. Temos as superpotências, as grandes potências, as potências médias e as pequenas potências que são reconhecidas como tal e agem de acordo com a sua influência e distribuição de poder (Kluger & Organski, p. 172). A assunção parece contraditória, mas aquilo que podemos ver não é mais do que vários focos de poder regional, não existindo já nenhuma força globalmente capaz de se evidenciar sobremaneira em todas as dimensões de poder relevantes. Os EUA conseguiram-no durante algum tempo, mas o seu retraimento juntamente com a crescente preponderância de outros atores, dos quais a China é o mais evidente, voltou a mostrar que John Mearsheimer (2014) tinha razão quando disse que uma potência apenas conseguirá ser hegemónica regionalmente, tendo que se contentar em manter as outras regiões sem um hegemon. Os norte-americanos continuam com a pretensão de se manterem como a única potência regionalmente hegemónica, mas parece ser uma tarefa hercúlea se não quase impossível. Impossível por várias razões.

Primeiro, o poder encontra-se cada vez mais difuso e a competição é cada vez maior em todos os domínios relevantes (económico, militar, tecnológico, soft power, etc). Por exemplo, em contexto pandémico vimos China e Rússia a desenvolverem esforços para alcançarem ganhos geopolíticos através do fornecimento de bens relacionados com a COVID-19 (vacinas, ventiladores ou máscaras), a Índia é o maior produtor mundial de vacinas e, o Reino Unido e os EUA têm elevadas capacidades de administração devido à sua autossuficiência em todo o processo de vacinação, entre outros exemplos.

Segundo, como já foi dito, a China tem ganho a sua preponderância na ordem internacional aproveitando o sistema edificado pelo ocidente, mais propriamente pelos norte-americanos, estando a provocar aquilo a que Graham Allison (2018) chamou de stress estrutural ao provocar perturbações no status quo da potência hegemónica.

Terceiro, apesar de não ser a União Soviética, a Rússia continua a ser uma potência geopolítica por excelência e Vladimir Putin não cederá na sua estratégia de política externa.

Por último, temos de ter em conta outros atores regionais como o Irão, a Índia, a Turquia, o Japão e, obviamente a UE, pois desempenham um papel influente na conduta de cada uma das três potências que serão analisadas e, consequentemente, nessa relação triangular.

É nesse sentido que a competição entre Estados tem-se vindo a acicatar e a futura ordem mundial passará muito pela relação triangular entre EUA, China e Rússia que determinará a balança central do sistema internacional (Sá, 2019). Desta relação advirá uma transição ou “para um regime bipolar dominado pelos EUA e a China, ou para um sistema multipolar, onde a Índia e o Japão podem ter um lugar próprio, assim como a UE” (Gaspar, 2020, p. 69).

O objetivo do artigo não será aprofundar conceitos da teoria realista, mas entenda-se que o triângulo estratégico - EUA, China e Rússia - é um caso de estudo profícuo para a aplicação das várias teorias existentes. Tal como Robert Kagan (2007) disse no seu artigo The Return of History, o futuro da ordem internacional será moldado por aqueles que têm o poder para fazê-lo e esse poder encontrar-se-á em mais lado nenhum senão em Washington, Pequim e Moscovo.

2. Triângulo Estratégico de Lowell Dittmer

Paradoxalmente, o triângulo estratégico tem a sua génese num período de bipolaridade da ordem internacional que ocorreu na segunda metade do século XX, a Guerra Fria. A sua verificação à luz da análise teórica de Lowell Dittmer (1981), produz-se de acordo com duas condições. Todos os participantes devem reconhecer a relevância estratégica dos demais e cada um tem que ser aceite pelo outro como um ator autónomo, não sendo necessária a equivalência no peso estratégico entre os participantes (Dittmer, 1981, p. 491). Deste modo, a relação que dois atores mantêm entre si, é influenciada pela relação de cada um destes com a terceira parte desse triângulo.

Para uma maior compreensão desta relação triangular, Dittmer (1981) procedeu à caracterização deste jogo avaliando primeiro as interações entre os seus participantes. Consequentemente, caracterizou-o como um tipo de jogo transacional, na medida em que os seus participantes fazem trocas entre si, sejam elas de bens e serviços em contexto comercial, científico, diplomático, de informação, cultural, etc. Estas trocas podem ser de índole positiva ou negativa e simétricas ou assimétricas.

Assim e de um modo geral, através das dinâmicas entre os vários atores podemos ter quatro tipos de relacionamento, como é visível na Tabela 1. A relação de tipo 1 constata-se que é a mais estável e profícua de todas, tendo em conta que a reciprocidade na relação juntamente com a sua positividade não promove o típico resultado de vencedores e vencidos (Dittmer, 1981, p. 487), augurando bons indicadores no relacionamento. Este é um tipo de relação recorrente entre aliados ou parceiros económicos. A relação de tipo 2 apesar de negativa pode ser sustentada se for passiva, como aconteceu na Guerra Fria com a dissuasão nuclear, do mesmo modo a de tipo 3 só perdurará se o maior beneficiário conseguir iludir ou coagir o lado mais fraco a não se insurgir (Dittmer, 1981, p. 487). Por último, a de tipo 4 é a menos estável e durável de todas as situações pela diferença no valor e no equilíbrio entre as duas partes. De realçar que o rácio de poder entre os Estados é o fator mais provável de afetar a simetria da relação, pelo que será de esperar que em relações assimétricas haja um Estado mais forte e outro mais fraco, no entanto, podem existir também relações simétricas entre Estados de poder desigual (Dittmer, 1981, p. 488).

Tabela 1 Tipos de relação transacional. 

    Equilíbrio
Valor   Simétrica Assimétrica
Positiva 1 3
Negativa 2 4

Deste modo, o triângulo estratégico pode assumir vários tipos de relação consoante as dinâmicas que os seus participantes adotem entre si. Para Dittmer (1981, p. 489), são três os tipos de relação que o triângulo estratégico pode assumir, desde a positividade simétrica entre todos os elementos até à relatividade assimétrica negativa. A mais positiva e, também, improvável tendo em conta os três atores em causa, é a relação de amizade entre os três atores denominada de ménage à trois. Depois temos dois tipos de relação que conjugam o valor positivo e negativo com a simetria e assimetria. O triângulo romântico, consiste na relação amistosa entre o ator pivô e cada um dos outros dois atores, ao mesmo tempo que existe uma competição entre estes últimos. Por outro lado, o tipo de relação denominado por casamento estável caracteriza-se pela amizade entre dois atores que mantêm uma rivalidade com o terceiro ator.

Como foi dito, o triângulo estratégico nasce precisamente num momento bipolar da ordem mundial, no entanto, Dittmer (1981, p. 500) conclui que a sua génese assenta na paulatina morte da polaridade entre os dois campos opostos na Guerra Fria. Esta morte começa a verificar-se mais acentuadamente aquando da chegada de Richard Nixon a presidente dos EUA, tendo tido Henry Kissinger como conselheiro nacional e secretário de estado, onde encetaram a estratégia de diplomacia triangular. Pela primeira vez existiu efetiva noção deste “jogo” triangular por parte dos três atores.

Posto isto, o triângulo estratégico enunciado por Dittmer (1981) torna-se de grande utilidade para avaliar as dinâmicas atuais das relações EUA-China-Rússia, na medida em que tratam-se de três players importantíssimos na cena internacional com influência e poder além fronteiras. Na relação entre grandes potências existe grande imprevisibilidade, pelo que cada um dos atores age de acordo com aquilo que é mais vantajoso para si sabendo que existem várias contingências concebíveis, trazendo isto escolhas políticas estrategicamente calculadas e, de modo mais alargado, trazendo implicações para o sistema internacional, pois as dinâmicas e posição dos seus participantes influenciará o resto do mundo.

No geral, numa relação triangular a direção da mudança de uma dinâmica de modelo para outra, depende dos benefícios, riscos e custos cumulativos ideais para todos os atores em jogo (Dittmer, 1981, p. 513), sendo que a dinâmica de relação triangular advém da necessidade de algum dos Estados, ou mais que um, contrabalançar a preponderância de outro. À velha maneira da balança de poderes quanto mais uma potência se empodera maiores são os incentivos para a(s) potência(s) que se sentir(em) prejudicada(s) tentar(em) retificar esse desequilíbrio (Brooks & Wolforth, 2008, p. 7), neste caso poderemos ver que China e Rússia estão cada vez mais próximos na oposição à influência global norte-americana, ou se quisermos temos a reemergência das autocracias contra as democracias (Kagan, 2007).

3. Equilíbrio de Poder

Desde o fim da Guerra Fria que a competição estratégica entre grandes potências nunca esteve tão elevada como agora, muito por culpa do retraimento norte-americano e pela ascensão chinesa no sistema internacional. Mas, como foi dito, as dinâmicas não se podem cingir a esta luta entre os dois gigantes, pois nos dias de hoje a interdependência entre Estados implica que muitos mais atores tenham uma palavra a dizer. A Rússia é exemplo disso, mesmo não tendo a força da sua antecessora (URSS) apresenta-se constantemente como um desafio para o ocidente, quer seja pela sua política externa agressiva no seu estrangeiro próximo ou pela sua estratégia para o Médio Oriente. Os teatros regionais serão o foco da aplicação das estratégias de balanceamento e a sua delimitação em esferas de influência não exclui guerras regionais entre os parceiros estratégicos de cada barricada, como por exemplo no Médio Oriente ou na Ásia Oriental e do Sul (Gaspar, 2020, p. 100).

A viragem histórica de que Carlos Gaspar (2020, p. 36) fala, marca também o ponto de inflexão das estratégias das grandes potências relativamente aos seus pares.

3.1 Estados Unidos

Desde a administração de Donald Trump que a China passou a constar como o principal rival estratégico de Washington, escalando a competição praticamente em todos os setores da sociedade. Joe Biden não revogou essa retórica estando, inclusive, a tomar esforços para reformar a cadeia de produção global a favor dos EUA. Com a chegada de Joe Biden a presidente dos EUA, a postura da política externa norte-americana mudou, ou se quisermos voltou à sua normalidade depois de quatro anos atípicos. Em Washington o reconhecimento do declínio relativo dos EUA é consensual (The Economic Times, 2018), mas as opiniões divergem quanto às estratégias a tomar (Mathews, 2021). Os internacionalistas defendem a continuidade das alianças democráticas, das intervenções militares e da ordem liberal, ao passo que os realistas querem devolver responsabilidades, reduzir intervenções externas e redefinir as normas internacionais (Gaspar, 2020, p. 41). Com a nova administração temos um misto nessa abordagem. O comprometimento dos EUA para com os seus aliados tem sido reforçado, como provam as visitas da administração através do Secretário de Estado e da Defesa a Tóquio, Seul ou Bruxelas. A presença norte-americana no estrangeiro também tem sido uma questão enfatizada por Biden, anunciando e cumprindo com a retirada de tropas norte-americanas do Afeganistão até 11 de Setembro depois do prazo de 1 de Maio não ser exequível. Por outro lado, a dureza para com os seus maiores rivais manteve-se com grande enfoque na violação dos direitos humanos e na ameaça militar sobre outros territórios, como é o caso da Ucrânia (Rússia) e Taiwan (China). No entanto, existem diferenças na sua relação com China e Rússia.

Os chineses são vistos como os grandes rivais do século XXI, pois são os únicos capazes de rivalizar com os EUA no militar, económico e tecnológico. O plano de infraestruturas vem no sentido de colmatar as lacunas que os EUA têm relativamente à China, promulgando milhares de milhões de investimento na produção de semicondutores avançados, mais investimento em pesquisa básica, inteligência artificial e robótica avançada, etc (Sanger, 2021). Existe também a vontade, juntamente com os aliados europeus, de combater os campeões tecnológicos chineses no que comporta ao 5G (Sanger, 2021). Apesar disso, Washington acredita que Pequim irá tentar criar condições para reduzir as tensões sempre que isso for benéfico para os seus interesses, nomeadamente para os interesses do Partido Comunista Chinês (PCC) (Office of the Director of National Intelligence, 2021, p. 6).

Já os russos são vistos como uma potência em declínio com pouco mais do que uma grande capacidade militar e fornecimento energético, assentando a sua atuação na base da disrupção dos Estados democráticos, não obstante tudo isto é uma força que não deve ser subvalorizada (Office of the Director of National Intelligence, 2021, p. 8). Joe Biden num dos seus discursos apontou o dedo à interferência russa nas eleições norte-americanas e aos ataques cibernéticos, dizendo que embora não tenha intenções de escalar as ações responderá sempre de maneira proporcional às mesmas (Biden, 2021).

3.2 China

Falando da China, esta assenta a sua política externa na assertividade quer seja através de métodos convencionais, como a presença militar nos mares do Sul e Oriental da China, quer seja através de ganhos geopolíticos dissimulados e técnicas de soft power ou, ainda, através do seu projeto de amplitude mundial com laivos de centralidade histórica - a Iniciativa da Faixa e Rota (Cláudio, 2021). De modo bem conhecido para os que advogam a teoria realista, este processo começou de forma encapotada, aproveitando a China para aceder ao que a ordem liberal tinha para dar, estando atualmente a colher os frutos. Para isso, desenvolveu a sua capacidade militar de forma lenta mas eficaz enquanto a economia crescia astronomicamente, sempre sem hostilizar a potência dominante (Snyder, 2009). Hoje em dia, esconde cada vez menos a sua intenção de repor os EUA, primeiro como potência hegemónica regional e, quem sabe, depois como potência hegemónica mundial. Aquando da chegada de Xi Jinping ao poder os planos estabelecidos para 2021, ano do centenário da fundação do PCC, foi o estabelecimento da China como uma sociedade moderadamente próspera em todos os domínios1 (Lu, 2016, p. 80) e para 2049, ano do centenário da fundação da República Popular, a China passar a ser um “país socialista moderno, próspero, forte, democrático, culturalmente avançado e harmonioso” (Gaspar, 2020, p. 44; Lu, 2016, p. 80).

Não obstante a integração na atual ordem mundial liberal a China é, naturalmente, discordante do modelo ocidental pois não partilha dos mesmos valores, princípios e costumes, assumindo a intenção de contruir esse novo modelo (State Council, 2019, p. 33) que progressivamente está a ser composto. Os instrumentos para uma alternativa à ordem norte-americana são a providência de bens internacionais, tal como os EUA o faz há décadas. Esses bens internacionais vêm na forma de ajuda económica, acesso a um mercado comercial gigante e providência de segurança militar, quer seja através da transferência de material ou de forças no terreno. A China é, indubitavelmente, uma grande força económica, sendo o maior parceiro comercial dos EUA, UE e da maioria dos países asiáticos, autointitulando-se de principal força estabilizadora e fonte de poder para a economia mundial (State Council, 2019, p. 14), estando a originar o que muitos apelidam de transição de poder em curso. A par disto tem construído uma série de instituições multilaterais paralelas, onde exclui os EUA das mesmas, para alavancar os seus esforços e retórica (State Council, 2019, p. 25; Cláudio, 2021, p. 152).

Para ser a potência número um, não basta investir na capacidade militar e obter dois dígitos de crescimento anual, a China sabe-o bem e tem promovido uma “estratégia de conectividade política, económica, cultural, e tecnológica, como o 5G, e infraestruturas portuárias ou ferroviárias (Gaspar, 2020, pp. 46-47), onde a Iniciativa Faixa e Rota tem um grande papel. Através disto, a China tem hoje a capacidade de prover uma alternativa ao modelo ocidental, tendo as suas próprias instituições de financiamento para projetos e desenvolvimento de outros países, influenciando estes países a envolverem-se económica e politicamente com Pequim (Maçães, 2018, p. 63). Muitos desses países são hoje tributários da teia imperialista chinesa.

Pequim vê-se com cada vez mais poder a nível internacional, desse modo tem acumulado litígios que há umas décadas não acumularia. O seu comportamento interna e externamente é sintomático disso: rompeu com o princípio de “Um país, dois sistemas”, depois de fazer um aditamento à Lei Básica de Hong Kong com uma lei de segurança nacional; não desarma no comportamento repressivo contra as minorias em Xinjiang; não abdica da linha vermelha de Taiwan; nos mares circundantes do Sul e do Oriente intimida e coage os Estados adjacentes, com os quais mantém disputas acesas por ilhas territoriais, muitas delas já ocupadas ilegalmente pela China; ou, através da Iniciativa Faixa e Rota tem adicionado ativos estratégicos ao seu portfólio, como portos marítimos e outras infraestruturas vitais de outros países. A agenda mais ativa e assertiva chinesa com Xi Jinping reflete-se, também, nas visitas oficiais dos quatro principais representantes da política externa chinesa - Xi Jinping, Li Keqiang, Yang Jiechi e Wang Yi - que ao todo, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, fizeram 426 visitas a 144 países de 2014 a 2020 (China Power Team, 2021). Das 98 visitas realizadas por Xi Jinping durante este período, 27 (32,1%) foram feitas a 20 países que se situam na zona periférica chinesa, indicando isto a prioridade chinesa em consolidar a sua presença e força regionalmente. Rússia (8), Índia (3), Indonésia (3), Cazaquistão (3) foram os países da periferia com mais visitas por parte do presidente chinês, sendo que fora da região o país mais visitado foi os EUA (4) (China Power Team, 2021).

De forma geral, consegue-se perceber a estratégia holística da China para o aumento do seu poder relativo e absoluto na esfera internacional, recentrando o centro do mundo como no tempo do Império do Meio.

3.3 Rússia

A Rússia, potência por excelência aposta naquilo que sabe fazer melhor, ganhos geopolíticos através do seu poder militar e energético. Fica-se com a ideia de que os momentos de aproximação do Kremlin ao ocidente foram sempre fachada, Vladimir Putin é convictamente antiocidental e apenas precisou de um pretexto2 para o demonstrar através de atos. A ofensiva na Crimeia e a intervenção na Síria demonstram bem a autonomia estratégica russa (Gaspar, 2020, p. 55).

A aproximação à China pode ser vista como um interesse estratégico a longo-prazo, pois as relações sino-russas estão longe de ser vistas como uma aliança (Freire, 2017, p. 45). As inimizades históricas não desaparecem, seja por possíveis litígios nas suas fronteiras territoriais ou, mais recentemente, pela crescente influência chinesa em alguns dos países da Comunidade de Estados Independentes da Ásia Central (Denisov, 2022). Não obstante, Putin vê no projeto eurasiático a sua salvação económica.

Existem projetos interessantes aqui [na União Económica Eurasiática], como o desenvolvimento de corredores de transporte e logística. Eu tenho a certeza de que se tornarão infraestruturas fulcrais para uma parceria eurasiática a larga escala. As ideias russas desta associação ampla e aberta já estão a ser postas em prática, em parte, através do alinhamento com outros processos de integração (Putin, 2021).

A expressão internacional russa tem passado muito pelo seu envolvimento militar em zonas de conflito e competição estratégica: Leste da Europa, Médio Oriente ou Ártico são exemplos disso. A sua posição neste triângulo passará, primeiro, pela tentativa de evitar uma bipolaridade do sistema de forma a não acentuar a irrelevância russa e, segundo, as suas opções políticas tenderão a privilegiar e reforçar essa autonomia estratégica nos vários teatros em que está inserida.

Tal como a China, a Rússia também fez da pandemia uma oportunidade estratégica para benefícios geopolíticos. A diplomacia da vacina reforçou a imagem global russa, melhorando as relações bilaterais com vários países europeus, sul americanos e asiáticos (The Economist, 2021).

Um dos grandes medos de Putin é o impacto e repercussões que uma revolução interna num país limítrofe da Rússia possa ter no seu próprio território, opondo-se rapidamente às “revoluções coloridas” em vários países ex-soviéticos. O presidente russo apela mais vigorosamente na defesa dos regimes amigos do Kremlin do que em defesa dos direitos dos seus próprios cidadãos.

Vocês podem pensar o que quiserem do, digamos, presidente da Ucrânia [Viktor] Yanukovych ou do [Nicolas] Maduro na Venezuela. Repito, podem gostar ou não gostar deles…podem ter a vossa própria opinião sobre a política do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko. Mas a prática de encenar golpes de estado e planear assassinatos políticos, incluindo os de altos funcionários - bem, isso é ir longe demais (Putin, 2021).

Para Susan Glasser (2019, p. 13) esse é o fator que ajuda a perceber o comportamento interno e externo das suas políticas - sobrevivência pura, do regime e dele próprio.

Internamente, Putin é avesso ao multipartidarismo e à oposição interna, controlando também os meios de comunicação, o parlamento, os tribunais e os serviços de segurança (Glasser, 2019, p. 12). Consequentemente, a sua política externa tem menos constrangimentos a nível interno que, por exemplo, cada presidente dos EUA tem, colocando-o numa posição de maior poder de decisão e liberdade comparativamente ao de um líder de uma democracia. Devido a isto, Putin é apelidado de novo czar (Myers, 2015) e os destinos da Rússia tão cedo não passarão pelas mãos de outra pessoa, portanto podemos perspetivar que as toadas revisionistas e antiocidentais continuarão presentes na política externa russa.

4. Triângulo Romântico ou Casamento Estável, Eis a Questão?

Depois de abordado de forma geral as posições de cada um dos três atores em questão neste artigo, passemos à observação do triângulo estratégico na atualidade. Como vimos, de acordo com as dinâmicas existentes entre os três, temos: uns EUA a assumir a relevância internacional chinesa como principal rival; a China com uma retórica de cooperação e multilateralismo, mas agindo de forma assertiva confiante das suas valências; e, uma Rússia igual a si própria, mas apenas com expressão regional.

Depois do encontro no Alaska entre as delegações norte-americanas e chinesas, os ministros dos negócios estrangeiros russo e chinês encontraram-se na cidade de Guilin a sul da China. O encontro não foi inocente, numa altura em que os seus homólogos norte-americanos faziam um périplo pelos seus aliados também pela Ásia. O rejuvenescimento que Biden quer dar às relações com os seus parceiros e aliados provocou na China3 a necessidade de ter apoios estratégicos de peso. A Rússia tem o bom dos dois mundos, tem peso estratégico (assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, capacidade militar e nuclear) e motivação não lhe falta. Os interesses comuns são óbvios. A nível comercial, a China é o maior importador de petróleo e gás e a Rússia o segundo maior exportador de petróleo e o maior de gás natural, havendo ainda acordos relativamente ao fornecimento de carvão (Ishikawa & Tabeta, 2021; Sparks, 2021). Geopoliticamente, existe um inimigo comum que ameaça as suas periferias - o Ocidente, em sentido lato. Os dois lados apostam no reforço das relações bilaterais, apoiando-se mutuamente na manutenção da segurança dos seus próprios sistemas, direitos legítimos e interesses comuns, bem como na manutenção da estabilidade nas áreas em torno dos dois países (Xinhua, 2021).

Posto isto, atualmente, por via da relação Pequim-Moscovo o triângulo estratégico encontra-se na fase de “casamento estável” como mostra a Figura 1. Este momento torna-se claro, por dois fatores - estrategicamente e ideologicamente - “abrindo caminho para a formação de três ordens regionais separadas (Gaspar, 2020, p. 100).

Figura 1 Casamento Estável entre China e Rússia. 

Por seu lado, os EUA têm mais para debater com a China do que com a Rússia. As questões em cima da mesa são várias e vão desde questões litigantes como a balança comercial desfavorável aos EUA, a competição tecnológica e de produção mundial, os direitos humanos, a linha vermelha Taiwan (onde se insere quem detém a hegemonia regional asiática), até questões de maior cooperação e diálogo como o caso do programa de armas nucleares na Coreia do Norte, as alterações climáticas ou, até mesmo, o acordo para manter inspeções internacionais ao programa nuclear iraniano.

No entanto, Biden terá dificuldade em controlar o comportamento chinês se não se debruçar perante o papel que Moscovo poderá ter na relação triangular. Washington deve calcular bem como a sua resposta a um dos lados moldará as ações do outro (Kendall-Taylor & Shullman, 2021). Na verdade, a Rússia apesar de ser o ator menos forte, pode ser uma peça chave na mudança das dinâmicas deste triângulo.

O equilíbrio conjuntural que prevalece no triângulo estratégico entre os EUA e a parceria sino-russa pode durar enquanto Putin e Xi Jinping conseguirem manter a sua linha comum de defesa dos regimes autoritários, mas essa disciplina política pode ser posta em causa, quer pela vulnerabilidade crescente da Rússia perante a ressurgência do seu parceiro asiático, quer pelo regresso à concertação entre as potências para fazer face aos problemas críticos da segurança internacional (Gaspar, 2020, pp. 69-70).

É aproveitando as limitações da relação sino-russa que Joe Biden conseguirá alterar a dinâmica triangular e quem sabe promover uma situação de “triângulo romântico” a seu favor. Os EUA têm as características ideais para controlar esta situação, tendo uma grande autossuficiência económica, um grande investimento em armamento e defesa, e, uma rede de alianças para contrabalançar o peso conjunto dos outros dois atores (Dittmer, 1981, p. 508). A margem é pouca, mas a extensão do acordo sobre a redução de armas nucleares abre espaço para o diálogo noutras dimensões, nomeadamente no planeamento de uma estratégia para uma maior estabilidade no Afeganistão ou no Ártico, onde a Rússia tem procurado afastar das conversações os Estados que não são da região (Kendall-Taylor & Shullman, 2021). O caso iraniano também poderá constar na lista para um melhor entendimento entre as duas partes, mas a inserção da China no assunto poderá incitar à cooperação sino-russa e trazer poucos ganhos efetivos na relação triangular para os EUA.

Por outro lado, a China com o estatuto superior na relação com a Rússia, tentará aumentar a tensão sobre o oponente mútuo dando à união uma razão comum, ao mesmo tempo que não cria uma assimetria tal que se torne insustentável para o lado russo. É nesse sentido que as divergências serão tanto quanto possível esquecidas. Até que ponto? A estabilidade chinesa depende da estabilidade económica e essa está mais dependente das relações com o ocidente do que com a Rússia. Por isso, é com o ocidente, EUA e Europa leia-se, que Xi Jinping precisa manter uma relação construtiva, contrário à ótica russa de querer redesenhar o sistema internacional (Sparks, 2021).

5. Conclusão

O centro da competição internacional está agora na região do Indo-Pacífico e muito se deve à China, prova disso tem sido a realocação das estratégias de vários países para essa região. Os EUA desde Obama que viraram atenções para o pacífico, Joe Biden continuará na mesma toada querendo preservar um livre e aberto Indo-Pacífico. A Rússia em 2013 declarou a pretensão de ter um pivô a leste, criando esforços numa cooperação eurasiática com a China. O próprio Reino Unido anunciou há meses que iria ter na região do Indo-Pacífico grande parte do seu foco, zona onde França também mantém uma presença ativa. Obviamente, temos de contar com Estados como a Índia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan ou Austrália, pois fazem parte da própria região e têm promovido dinâmicas interessantes na relação com as maiores potências.

Como foi dito, a competição entre as três potências é de duplo fator (estratégico e ideológico), sendo ao mesmo tempo uma luta pelo poder e uma forma de diferenciação dos modelos específicos de cada ordenamento. De um lado, uma ordem com base nos princípios e valores democráticos; de outro, uma ordem que promulga um sistema internacional multipolar assente na balança de poderes; e, ainda de outro, uma ordem autoritária, com revivalismos históricos de uma centralidade hierárquica que pede tributo aos Estados mais fracos.

Em síntese, aquilo a que temos assistido são os EUA a quererem relegar a Rússia para o papel secundário das potências, concentrando-se na bipolaridade que tem com a China. A China, por sua vez, quer opor-se à hegemonia norte-americana, mas sob o ponto de vista de uma ordem mundial onde a hierarquia é o princípio organizador, querendo isto dizer que a Rússia apenas estará próxima enquanto os interesses chineses o impuserem. A Rússia precisa de manter a relevância internacional para alimentar o regime de Putin, vendo na relação com a China e na região Eurasiática a sua salvação. Nunca esquecendo a multiplicidade de atores menores que têm influência nas dinâmicas destas três potências, como elencado neste artigo.

O confronto da ordem liberal contra o revisionismo autocrático fará parte da política internacional durante grande parte deste século. O cimento agregador que mantém o “casamento estável” entre China e Rússia de pé pode ruir a qualquer momento, pois não existe qualquer aliança formal. A realpolitik terá, como sempre teve, um grande peso nas dinâmicas mundiais e, mais precisamente, na dinâmica triangular aqui abordada.

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1. Objetivo atingido segundo Pequim.

2. Que segundo o próprio se deve ao alargamento da NATO e da UE para a zona de influência histórica russa (Reuters, 2014).

3. Que apenas mantém efetivamente uma aliança com a Coreia do Norte.

4.FÁBIO ANDRÉ AGOSTINHO CLÁUDIO Coordenador de Esports no Sporting Clube de Portugal. Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa. Principais áreas de investigação: Geopolítica e Teoria das Relações Internacionais. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-6333-6618

5.FÁBIO ANDRÉ AGOSTINHO CLÁUDIO Esports Coordinator at Sporting Clube de Portugal. Master in International Relations at Lusiada University of Lisbon. Main research areas: Geopolitics and Theory of International Relations. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-6333-6618

Recebido: 15 de Maio de 2021; Aceito: 18 de Novembro de 2021

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