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PsychTech & Health Journal

On-line version ISSN 2184-1004

PsychTech vol.6 no.2 Vila Real June 2023  Epub Mar 31, 2023

https://doi.org/10.26580/pthj.art50-2023 

Artigo original

Orientação cognitiva dos futebolistas moçambicanos

Cognitive orientation of Mozambican footballers

Paulo Tibério Armando Saveca1 

Vicente Alfredo Tembe2 

Carla M. Teixeira3 

1 Escola Superior de Ciências do Desporto, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique.

2 Faculdade de Educação Física e Desporto, Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique.

3 Escola de Ciências Humanas e Sociais, Dept. Educação e Psicologia. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal. e-mail: cteixeir@utad.pt


Resumo

O presente estudo teve como objetivo comparar por grupo etário, sexo, nível competitivo, posição de jogo e anos de prática de futebol dos futebolistas moçambicanos em função das orientações cognitivas para o ego e tarefa. A amostra foi constituída por 443 praticantes de futebol pertencentes a 32 clubes, sendo 196 (44.2%) femininos e 247 (55.8%) masculinos, com idades compreendidas entre os 16 e os 37 anos. Para a realização do estudo foi aplicada a versão traduzida e validada para a língua portuguesa do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire - TEOSQ. Os resultados evidenciam que os futebolistas obtiveram valores altos quanto à orientação cognitiva para a tarefa (4.01 ± 1.07) e moderadamente baixos quanto à orientação para o ego (2.72 ± 1.17). Face aos resultados, conclui-se que o tipo da orientação cognitiva da prática desportiva é um factor importante que distingue os futebolistas moçambicanos. Há predominância de uma orientação cognitiva voltada para a tarefa nestes futebolistas, favorecendo a uma maior manifestação de atitudes desportivas indo de acordo com as evidências literárias em outros contextos de futebol.

Palavras-chave: orientação cognitiva; futebolistas moçambicanos; ego; tarefa

Abstract

The present study aimed to compare by age group, sex, competitive level, game position, and years of soccer practice of Mozambican soccer players as a function of cognitive orientations for the ego and task. The sample consisted of 443 soccer players from 32 clubs, 196 (44.2%) female and 247 (55.8%) male, aged between 16 and 37 years. To carry out the study, the version translated and validated into Portuguese of the Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire - TEOSQ was applied. The results show that soccer players obtained high values for cognitive task orientation (4.01 ± 1.07) and moderately low values for ego orientation (2.72 ± 1.17). Given the results, it is concluded that the type of cognitive orientation of sports practice is an important factor that distinguishes Mozambican footballers. There is a predominance of a task-oriented cognitive orientation in these footballers, favoring a greater manifestation of sporting attitudes following the literary evidence in other football contexts.

Keywords: cognitive orientation; Mozambican soccer players; ego; task

Introdução

Uma das principais preocupações dos investigadores da temática da motivação no contexto desportivo actual, é a identificação dos objectivos de realização que os atletas estabelecem como prioritários no âmbito da sua prática desportiva. Especificamente, a definição dos objectivos é vista como uma estratégia motivacional positiva designada para melhorar a prestação através do focar da atenção promovendo, também, o aumento da intensidade e da persistência (Vasconcelos-Raposo, 1993). Por sua vez, a motivação para a realização de uma determinada acção manifesta-se na participação e no desempenho de uma determinada prática e associam-se aos esforços no domínio da tarefa, atingir os seus extremos máximos de acção, vencer obstáculos, atingir melhor performance de execução em relação aos outros e auto realização. Por estas razões, a influência da motivação no rendimento desportivo, tem sido uma área de estudo que despertou interesse pelo seu potencial de aplicação na psicologia do desporto (Roberts, 2001).

Segundo Roberts (2001), a Teoria dos Objectivos de Realização tem surgido como a mais popular desde 1992, no contexto do Desporto e Educação Física, desenvolvendo-se com base nos trabalhos realizados por Ames, Maehr, na sala de aula e, emergiu em contexto escolar (Fonseca & Brito, 2005; Roberts, 2001), assumindo que o indivíduo é um organismo intencional, direccionado por objectivos, que actua de forma racional, gerando e guiando crenças, decisões e comportamentos em contextos de sucesso. Além disso, esta teoria tem sido primariamente testada no domínio académico, onde investigações recentes e discussões teóricas indicam que também pode ser aplicada ao contexto desportivo

Os psicólogos do desporto e do exercício, estudam a obtenção de objectivos para tentarem perceber as diferenças existentes ao nível de desempenho (Weinberg & Gould, 2017). Estas diferenças estão relacionadas com o sucesso e o fracasso no desempenho desportivo. Por sua vez, para se compreender a motivação dos indivíduos deve ter-se em conta a função e significado do comportamento de sucesso para o indivíduo e o objectivo da sua acção pois, variações no comportamento podem não ser manifestação de alta ou baixa motivação, mas uma percepção de diferentes percepções de objectivos (Roberts, 2001). É importante referenciar que, os objectivos influenciam a interpretação e a resposta em situações de realização, concretamente como afectam as autoavaliações da habilidade demonstrada, o esforço despendido e as atribuições para o sucesso e fracasso (Duda, 1992). São admitidos como teorias pessoais de realização que direccionam não só a forma como os indivíduos configuram os contextos de realização, mas também o modo como interpretam, avaliam e reagem a feedbacks de realização.

Roberts (2001), refere-se que a Teoria dos Objectivos de Realização assume que um indivíduo é um organismo intencional, direcionado por objectivos, que actua de uma forma racional e que os objectivos geram as suas crenças, guiam as suas decisões e o comportamento em contextos de sucesso. Baseando-se nesta ideia de Roberts (2001), podemos afirmar que os objectivos são os principais determinantes que motivam uma dada acção de um indivíduo. Um princípio importante, na teorização da motivação para a realização, é que os objectivos influenciam em eventos de realização, mais especificamente, como afectam as autoavaliações da habilidade demonstrada, o esforço despendido, e as atribuições para o sucesso e fracasso (Duda, 1992).

Estudos realizados nos últimos anos no contexto do desporto e da actividade física têm evidenciado que, geralmente, os indivíduos definem competência de duas formas diferentes, orientando-se, por esse motivo, de um ponto de vista cognitivo, para alcançarem dois tipos principais de objectivos de realização ou orientações cognitivas (Almeida, 2013). Por sua vez, Duda (1992), referem-se que os dois tipos de orientações às metas devem ser entendidos dentro do paradigma da psicologia sociocognitiva, ou seja, eles não descrevem perfil de indivíduos e não podem ser utilizados como rótulos, pois podem estar presentes ou ausentes ao mesmo tempo, em diferentes situações e com diferentes intensidades, num mesmo indivíduo. Estes objectivos, são geralmente, utilizadas com as designações de tarefa e ego. Alguns autores têm por vezes proposto designações relativamente distintas: aprendizagem e performance, mestria e habilidade ou mestria e competitividade (Fonseca & Brito, 2005). Na verdade, a pesar desta adversidade das nomenclaturas usadas por diversos autores a estes dois objectivos, os pensamentos são os mesmos. Desta feita, iremos apresentar a seguir, a descrição das duas orientações cognitivas, ego e tarefa, assim como algumas das suas concepções:

A Orientação para o ego refere-se aos objectivos de realização orientados para a performance, habilidade ou competitividade (orientação para o ego ou resultado). Considera-se a existência de uma orientação ou objectivo de realização referente ao ego quando as pessoas definem sucesso de um modo normativo ou socialmente comparativo (por exemplo “ganhar”, “fazer melhor que os outros”); há uma preocupação em demostrar habilidade quando em comparação com outros; existe uma procura de demonstração da própria competência relativamente às outras pessoas, maximizando as probabilidades de atribuição de uma elevada competência e minimizando as possibilidades de atribuição de uma reduzida competência aos próprios; privilegia a superioridade sobre outros, em que o sucesso do indivíduo reside na comparação favorável da sua capacidade ou resultados com outros, ou seja “ter sucesso é ser melhor que os outros” (Almeida, 2013).

A orientação para o ego realça, ainda, a comparação social, as percepções de habilidades são mencionadas com a habilidade dos outros e o sucesso e fracasso dependem da comparação da própria habilidade com a dos outros (Roberts, 2001). A preocupação dos atletas é a comparação com os adversários e derrotá-los (Weinberg & Gould, 2017). Para este objectivo, quanto às concepções terminológicas, Nicholls considera-o de envolvimento com o ego, Dewck de objectivo de performance e Ames de objectivo focado na habilidade (Coelho & Vasconcelos-Raposo, 2007). Para o presente estudo, tendo em consideração estas concepções terminológicas apresentadas, iremos usar o termo objectivo de realização orientada para ego ou simplesmente, orientação para o ego.

À orientação para a tarefa referem-se aos objectivos de realização orientados para a aprendizagem ou mestria (orientação para a tarefa ou sucesso). Considera-se a existência de uma orientação ou de um objectivo de realização referente à tarefa quando as pessoas definem sucesso de um modo autorreferenciado (por exemplo “melhorar o rendimento pessoal”, “realizar com sucesso um gesto técnico”, “completar uma tarefa”); existe uma preocupação em demostrar mestria na realização da tarefa; há uma procura da demonstração de competência relativamente aos próprios indivíduos, quer aumentando os seus conhecimentos, quer resolvendo determinadas tarefas com sucesso; enfatiza a aprendizagem, a melhoria contínua, a tentativa de alcançar objectivos próprios da modalidade, ou seja “ter sucesso é ser melhor que antes” (Almeida, 2013).

De acordo com Roberts (2001), na orientação para tarefa, as percepções de habilidade são autorreferenciadas e o sucesso ou fracasso dependem do indivíduo atingir ou não mestria na tarefa sendo, segundo Weinberg e Gould (2017), a principal preocupação a melhoria pessoal. De acordo com Coelho e Vasconcelos-Raposo (2007), esta orientação é chamada por Nicholls de envolvimento com a tarefa, de objectivo de aprendizagem por Dweck e de objectivo de mestria por Ames. Para o nosso trabalho iremos usar a designação tarefa ou orientação para a tarefa.

Segundo Cruz (1996), os indivíduos com melhores resultados na orientação para a tarefa percepcionam o seu nível de sucesso desportivo em termos de quantidade de esforço que despendem em termos de melhoria das suas competências, capacidades e rendimento. Por outro lado, os indivíduos com melhores resultados na orientação para o ego avaliam o seu sucesso recorrendo a padrões normativos, ou seja, sentem-se bem-sucedidos apenas quando são capazes de demostrar a sua superioridade técnica ou física, jogando melhor que os seus colegas ou tendo melhores rendimentos que os outros, sem se esforçarem tanto como eles. Para estes, o que define o sucesso é o resultado e a vitória, independentemente da forma como jogaram.

Em breves palavras, podemos aferir que estas duas orientações espelham-se, subjetivamente, como promotoras de sucesso e fracasso, visto que na orientação para tarefa, a preocupação é a perfeição e desenvolvimento pessoal (e da equipa) contrariamente ao ego, onde a superioridade em relação aos outros é a principal preocupação. Ames (1992) sugere que um padrão motivacional adaptado tem mais tendência a desenvolver-se quando os indivíduos adoptam uma orientação de objectivos para a tarefa. De acordo com o mesmo autor, quando os indivíduos estão orientados para a mestria, estão mais preocupados em desenvolver e melhorar novas competências ou atingir um sentido de mestria baseado na crença que o esforço conduzirá ao progresso pessoal.

Quanto à relação entre a orientação para tarefa e ego, vários estudos evidenciam haver tanto a ortogonalidade como a bipolaridade da associação entre as orientações cognitivas (Duda, 1992; Fonseca & Biddle, 2001; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005) As pessoas podem ser fortemente orientadas para a tarefa e para o ego, apresentar baixos índices em ambas as orientações ou então altos numa e baixos noutra. Defendendo assim, este último, haver uma independência entre ambos. Numa outra perspectiva, Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) encontram uma corelação baixa e negativa.

Torna-se ainda importante referenciar que, de acordo com Lázaro et al., (2005), os tipos de motivação estão interligados com a orientação cognitiva (a motivação intrínseca com a orientação cognitiva para a prestação ou tarefa e a motivação extrínseca com a orientação cognitiva para o resultado ou ego).

Evidentemente, podemos perceber que, de acordo com os estudos realizados (Vasconcelos-Raposo, 1993; Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002; Almeida, 2013; Hirota et al., 2012; Vasconcelos & Gomes, 2015; Vaz & Fernandes, 2013) existe uma noção clara sobre a importância de uma orientação para tarefa em detrimento do ego.

Motivação: disposições, variáveis sociais e cognitivas que intervêm quando um individuo se envolve numa tarefa na qual é avaliado, entra em competição com outros ou tenta atingir um patamar de excelência, sendo tomado como hipótese que as determinantes dos comportamentos de realização são atitudes de aproximação ou afastamento, as expectativas, os valores que conduzem ao sucesso ou fracasso, o entendimento desse mesmo sucesso ou fracasso e a própria possibilidade de ser bem-sucedido ou fracassar (Simões, 2008).

Orientação cognitiva para a tarefa: critério associado à análise autorreferenciada do desempenho e na procura da demonstração de mestria na realização de uma determinada tarefa. Orientação cognitiva para o ego: critério associado a uma comparação normativa do desempenho, por parte do próprio indivíduo e à procura de demonstração de habilidade quando em comparação com outros.

A apropriação de conhecimentos específicos da psicologia do desporto, bem como acerca das reais características psicológicas dos atletas, tais como a orientação cognitiva para a tarefa e para o ego, entre outras variáveis psicológicas de interesse, constituem pressupostos relevantes e atributos profissionais extremamente decisivos para um cabal e exitoso desempenho do psicólogo desportivo. Esta constatação orienta-nos para esta temática a seguinte pergunta de partida: Que características predominantes traçam a orientação cognitiva do futebolista moçambicano nos domínios do ego e tarefa? Com esta questão, pretendemos no presente estudo comparar os futebolistas moçambicanos por grupo etário, sexo, níveis competitivos, posição de jogo e anos de prática na orientação cognitiva para a tarefa e para o ego.

Métodos

O presente estudo é do tipo descritivo, por descrever detalhadamente as informações inerentes aos futebolistas em estudo, exploratório por permitir maior ligação com o problema, possibilitando maior exploração das informações e características dos futebolistas, e com delineamento transversal pois, os dados foram recolhidos num único momento e enquadra-se no âmbito das metodologias quantitativas.

Amostra

A amostra foi composta por um total de 443 futebolistas moçambicanos participantes nas competições provinciais e nacionais referentes à época de 2016/2017, representando trinta e dois (32) clubes provenientes de oito (8) províncias de Moçambique, nomeadamente Cidade de Maputo, Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Tete, Nampula e Niassa. Dentre eles 196 (44.2%) são do sexo feminino e 247 (55.8%) masculino.

A constituição dos grupos foi preconizada de acordo com os estudos realizados por Almeida (2013). Por outro lado, quanto a posição tática no jogo, foi usado como referência o estudo de Guadalupe (2010). Quanto às idades, os participantes foram distribuídos em três grupos, nomeadamente, 154 (34.8%) com menor ou igual a 20 anos denominados GEI (Grupo Etário I), 153 (34.5%) com idades entre os 21 e os 25 anos considerado GEII (Grupo Etário II) e 136 (30.7%) com maior ou igual a 26 anos considerado GEIII (Grupo Etário III). Este agrupamento foi adaptado do modelo de Almeida (2013). No que se refere ao nível competitivo, os participantes foram distribuídos em dois grupos: nacional 163 (36.8%) e provincial 280 (63.2%). Relativamente às posições principais no jogo, 50 (11.3%) dos participantes são guarda-redes, 96 (21.7%) centrais, 103 (23.3%) laterais, 110 (24.8%) meio campistas e 84 (19.0%) atacantes. Quanto aos anos de prática de futebol, os participantes foram distribuídos em três grupos: os que possuem menos ou igual a 5 anos de prática 119 (26.9%), os que se encontram entre os 6 e os 10 anos 202 (45.6%) e os que possuem igual ou maior a 11 anos 122 (27.5%). Este critério foi adaptado do modelo preconizado por Moreira (2012). O critério adotado para a inclusão no estudo foi de ter idade igual ou superior a 18 anos.

Instrumentos

O questionário de orientação para a tarefa e ego no desporto (Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire - TEOSQ) foi aplicado para avaliar as orientações dos objectivos dos atletas. O TEOSQ é uma versão alterada, especifica para o contexto desportivo, do inventário original desenvolvido no contexto académico, para avaliar a orientação e o envolvimento cognitivo para a tarefa e para o ego. Por sua vez, a sua versão foi traduzida e validada por Vasconcelos-Raposo (1995). O TEOSQ tem como objectivo aceder às diferenças individuais nas perspectivas de metas no desporto acedendo a proeminência de um indivíduo ser orientado pela tarefa ou pelo ego em contextos desportivos. Isto se relaciona também até o ponto em que um indivíduo define o sucesso como maestria/domínio (tarefa) ou desempenho melhor sobre outros (ego).

Assim, o TEOSQ está constituído por 13 itens agrupados em 2 dimensões de orientação cognitiva, nomeadamente, a orientação para o ego e a orientação para a tarefa, dos quais, 7 itens são relacionados ao factor de orientação para a tarefa e 6 itens ao factor de orientação para o ego, segundo o quadro abaixo. Para este instrumento, as respostas são dadas numa escala tipo Likert de 5 pontos (1 = “discordo totalmente” até ao 5 = “concordo totalmente”), e a avaliação das mesmas obtém-se através do cálculo da média dos itens correspondentes a cada orientação cognitiva.

Procedimentos

O processamento estatístico dos dados foi baseado no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.0, com um nível de significância de 5% (p ≤ .05). Além da estatística descritiva utilizou-se a análise de variância multivariada (ONE-WAY MANOVA) para a análise do efeito das variáveis independentes nas dimensões da Orientação Cognitiva e de seguida, os testes Post Hoc para a comparação dos grupos e identificação de diferenças estatisticamente significativas entre os futebolistas em relação ao sexo, grupos etários, nível competitivo, anos de prática e posição do jogo.

O teste Pillai é considerado a estatística mais poderosa e robusta para uso geral, especialmente para desvios de suposições. Por exemplo, se a suposição de MANOVA de homogeneidade de variância-covariância for violada, o teste de Pillai é sua melhor opção. Também é uma boa escolha quando se possui tamanhos de células desiguais ou tamanhos de amostra pequenos (ou seja, quando N é pequeno < 8).

Resultados

Nesta secção, apresentam-se os dados da consistência interna do instrumento, os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas do presente estudo nas variáveis dependentes (ego e tarefa) em função das variáveis independentes (grupos etários, sexo, nível competitivo, posição de jogo e anos de prática de futebol).

Consistência interna do instrumento

Foi realizada através do cálculo do Alpha de Cronbacha análise de consistência interna do instrumento TEOSQ (Quadro 1) num total de 13 itens.

Quadro 1: Alpha de Cronbach do teste do TEOSQ. 

O valor de .675 revela-se como sendo muito próximo ao valor de referência (.70) permitindo considerar que a consistência interna da escala é aceitável.

Normalidade dos dados

No quadro 2 apresentamos a análise descritiva referente a média, desvio padrão, os valores mínimo e máximo das orientações cognitivas da globalidade da amostra. De acordo com os resultados e tendo em consideração a escala utilizada (tipo Likert: 1 a 5), podemos verificar que, de uma forma geral, os futebolistas moçambicanos participantes deste estudo têm uma orientação cognitiva voltada para a tarefa.

Quadro 2: Análise descritiva da orientação cognitiva da globalidade da amostra. 

Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação ao grupo etário

No quadro 3, são apresentados os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos grupos etários.

Os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos grupos etários demonstram uma diferenciação entre ambas. A análise de variância multivariada (ONE-WAY MANOVA) demonstra que existe um efeito diferenciador significativo por parte da variável grupo etário [Wilks’ Lambda = .975, F (4,878) = 2.827, p = .024 e ηp²= .013]. Os testes Post Hoc, possibilitaram identificar diferenças significativas entre as idades na orientação para a tarefa (Quadro 3).

A MANOVA ONE-WAY demostrou existirem diferenças entre os grupos etários [Pillai’s Trace = .025, F (4,880) = 2.818, p = .024, ηp²= .013].

Quadro 3: Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos grupos etários. 

De uma forma geral, podemos aferir que, os índices das duas orientações aumentam com a idade dos futebolistas. Todavia, é evidente afirmar que os futebolistas de todos os grupos etários têm uma orientação cognitiva para a tarefa com os futebolistas mais crescidos (> ou = 26 anos) a apresentarem os índices mais elevados.

Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação ao sexo

No Quadro a seguir, apresentamos os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação ao sexo.

Visando a comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação ao sexo, a análise de variância multivariada (ONE-WAY MANOVA) demonstra que existe um efeito diferenciador significativo por parte da variável sexo [Wilks’ Lambda = .976, F (2,440) = 5.506, p = .004 e ηp² = .024]. As diferenças significativas entre os sexos foram encontradas com os testes Post Hoc, em ambas as orientações cognitivas em análise (Quadro 4).

Quadro 4: Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação ao sexo. 

Podemos observar que os futebolistas de ambos os sexos possuem índices mais elevados na orientação para a tarefa, com mais expressão nos masculinos. Os femininos apresentam os índices mais baixos nas duas orientações. Quanto aos efeitos estatísticos verificamos um efeito pequeno na variável ego, onde os masculinos são os que apresentam a maior pontuação.

Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos níveis competitivos

No quadro 5, apresentamos os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos níveis competitivos.

Para a comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos níveis competitivos, a análise de variância multivariada (ONE-WAY MANOVA) demonstra não existir um efeito diferenciador significativo por parte da variável nível competitivo [Wilks’ Lambda = .996, F (2,440) = .911, p = .403 e ηp² = .004]. As diferenças significativas entre os níveis competitivos das equipas, não foram encontradas com os testes Post Hoc nas duas orientações cognitivas (Quadro 5).

Quadro 5: Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos níveis competitivos. 

Podemos observar que o nível competitivo mais elevado (nacional), é o que apresenta índices mais altos na orientação cognitiva para a tarefa em relação ao nível competitivo mais baixo (provincial). Os índices das duas orientações diminuem com a descida do nível competitivo.

Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação as posições tácticas no jogo

No quadro a seguir, apresentamos os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação as posições tácticas no jogo.

Para comparar e diferenciar as orientações cognitivas em relação as posições tácticas no jogo, a análise de variância multivariada (ONE-WAY MANOVA) demonstra que não existe um efeito diferenciador significativo por parte da variável posição táctica no jogo [Wilks’ Lambda = .994, F (8,874) = .339, p = .951 e ηp² = .003]. As diferenças significativas entre as posições tácticas no jogo foram encontradas com os testes Post Hoc, em todas as orientações cognitivas (Quadro 6).

A MANOVA ONE-WAY demostrou não existirem diferenças entre as posições tácticas no jogo [Pillai’s Trace = .006, F (8,876) = .340, p = .950, ηp² = .003].

De uma forma geral, podemos evidenciar que os meio campistas e os atacantes são os jogadores que possuem índices mais altos da orientação para a tarefa e os guarda-redes a evidenciarem-se com a orientação para o ego. Os futebolistas centrais e os laterais são os que possuem índices mais baixos tanto da orientação para a tarefa assim como para o ego.

Quadro 6: Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação as posições tácticas no jogo. 

Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos anos de prática de futebol

No quadro 7, apresentamos os resultados da comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos anos de prática de futebol.

Para a comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos anos de prática de futebol, a análise de variância multivariada (ONE-WAY MANOVA) demonstra que existe um efeito diferenciador significativo por parte da variável anos de experiência de prática de futebol [Wilks’ Lambda = .969, F (4,878)= 3.455, p = .008 e ηp² = .015]. As diferenças significativas entre os anos de prática de futebol foram encontradas com os testes Post Hoc, na orientação cognitiva para o ego (Quadro 7).

A MANOVA ONE-WAY demostrou existirem diferenças entre os anos de prática de futebol [Pillai’s Trace = .031, F (4,880)= 3.436, p = .008, ηp² = .015].

Quadro 7: Comparação e diferenciação das orientações cognitivas em relação aos anos de prática de futebol. 

De acordo com a Quadro 7, podemos aferir que, os índices de ambas as orientações cognitivas aumentam com os anos de prática de futebol. Os futebolistas mais experientes apresentam índices mais altos em ambas as orientações contra os menos experientes com índices mais baixos.

Discussão

Relativamente aos grupos etários, aferimos que todos os grupos têm uma orientação cognitiva voltada para a tarefa. Estes resultados vão ao encontro dos estudos de Vasconcelos-Raposo (2003), Almeida (2013), Guadalupe (2010), Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), Hirota et al. (2012) dos quais, todos os inqueridos são unanimemente orientados para a tarefa, descordando com os achados de Vaz e Fernandes (2013), em que a idade se associou positivamente com a orientação para o ego. Os indivíduos com orientação para a tarefa, a percepção das habilidades e das capacidades são de autorreferência, persistentes e estabelecem metas apropriadas as suas capacidades, sendo caracterizados pela maior necessidade de realização, por acreditarem no seu esforço e demonstrarem mais segurança em seu comportamento. Os resultados do presente estudo levam-nos a reflexão de que os futebolistas estão preocupados com a melhoria do rendimento pessoal assim como na demostração de competências da modalidade com vista a alcançarem o sucesso profissional e patamares superiores ao nível dos clubes nacionais e internacionais em particular. Podemos ainda associar a esta evidência, o facto de existirem em Moçambique clubes com um baixo puder económico e que os seus atletas desejam serem referenciados e solicitados para os clubes economicamente estáveis.

Por outro lado, constatou-se que os índices do ego e da tarefa aumentam com a idade. Estas conclusões vão ao encontro dos estudos de Vaz e Fernandes (2013) e Hirota et al. (2012) na dimensão Ego, contrariando os achados de Almeida (2013), Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e Guadalupe (2010) nas dimensões ego e tarefa. O aumento dos índices do ego e da tarefa com a idade dos futebolistas, poderá sustentar-se pela excessiva valorização da competição em futebol, ou seja, à medida que os jovens atletas envelhecem, há uma maior tendência para demonstrar atitudes antidesportivas, bem como uma maior orientação para a tarefa e para o ego (Vas & Fernandes, 2013). Portanto, os futebolistas estão preocupados tanto no sucesso desportivo assim como em demostrar as suas habilidades técnicas desenvolvidas ao longo dos anos que pratica a modalidade.

No presente estudo averiguamos, por um lado, que ambos os sexos possuem índices mais elevados na orientação para a tarefa em relação a orientação para o ego, mostrando resultados compatíveis aos estudos de Vasconcelos e Gomes (2015). Por outro lado, verificamos que os futebolistas masculinos apresentam índices mais altos nas duas orientações cognitivas em relação aos seus pares indo ao encontro das conclusões de Vasconcelos e Gomes (2015) na orientação para o ego e em desacordo na orientação para a tarefa onde os femininos mostram-se mais fortes. Neste estudo, a incidência desta particularidade dos futebolistas masculinos em relação aos femininos nas orientações para o ego e para a tarefa pode estar associado pelo facto de os rapazes quererem mostrar a sua hegemonia desportiva e no futebol em particular, evidenciando uma preocupação em demostrar mestria e competências na realização das tarefas. Uma outra possibilidade pode relacionar-se com a preocupação em quererem aumentar os seus conhecimentos no futebol com vista a aplicarem correctamente as técnicas e regras do jogo na tentativa de alcançaremos objectivos próprios da modalidade, terem sucesso e serem melhores, prevalecendo questões relacionadas com o género no desporto.

Todavia, é importante mencionar que a maturação biológica favorece o desempenho desportivo masculino, principalmente porque está associada ao amadurecimento e ganho de massa muscular, proporcionando uma importante evolução das capacidades de força, velocidade e resistência em relação às raparigas, razão pela qual verificamos índices baixos das orientações cognitivas para o ego e para a tarefa nas raparigas em relação aos rapazes. A participação feminina no desporto de uma maneira geral sempre foi difícil para a maioria das mulheres e se deu em modalidades desportivas bastante especificas e dependendo de poucos espaços que lhes eram propiciados, contudo, a mulher tem conquistado o seu espaço no futebol profissional e amador, além de apresentar uma prática dentro do ambiente escolar, mas ainda com restrições e sem o apoio necessário.

Nesta comparação podemos observar que, o nível competitivo mais elevado (nacional), é o que apresenta índices mais altos tanto na orientação cognitiva para a tarefa como para o ego em relação ao nível competitivo mais baixo (provincial) que revela valores ligeiramente inferiores em ambas as orientações. Estes resultados combinam com as conclusões de Vasconcelos-Raposo (2003), Almeida (2013) e Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) dos quais os níveis competitivos superiores estão orientados para a tarefa, entrando em contradição com o estudo de Vaz e Fernandes (2013).Todavia, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os dois níveis competitivos nas duas orientações cognitivas (tarefa: p = .248 e ego: p = .385), coadunando com os resultados de Silva e Vasconcelos-Raposo (2002).

Ainda nesta vertente, os futebolistas do nível nacional apresentam igualmente índices ligeiramente mais altos da orientação cognitiva para o ego em relação aos seus pares do nível provincial, indo ao encontro dos resultados encontrados nos estudos de Vaz e Fernandes (2013) e descordando com os resultados de Almeida (2013) e Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), dos quais, os níveis competitivos inferiores apresentam índices mais altos. Uma vez estes futebolistas do nível competitivo nacional possuírem índices elevados na orientação para a tarefa, no domínio do ego presume-se neles o desejo em querer alcançar os resultados da sua mestria demostrando a performance, habilidade ou competitividade durante a prática.

No presente estudo podemos aferir ainda que os índices das duas orientações cognitivas aumentam com a subida do nível competitivo. Analisada a literatura encontrada sobre este aspecto aferimos semelhanças nos estudos de Vaz e Fernandes (2013) na orientação para o ego, Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e Almeida (2013) na orientação para a tarefa, evidenciando uma contradição nestes estudos na orientação para o ego para Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e Almeida (2013) e na orientação para tarefa para Vaz e Fernandes (2013).

A predominância da orientação cognitiva para a tarefa nos futebolistas moçambicanos apoia-se nas teorias de vários autores (Ntoumanis & Biddle, 1999; Vasconcelos-Raposo, 1993; Almeida, 2013; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005; Serpa, 2007) as quais os factores intrínsecos são os mais importantes do que os extrínsecos e que a adopção de uma orientação para a tarefa pressupõe melhores níveis de rendimento em relação aos orientados para o ego. Neste sentido, podemos afirmar que os futebolistas moçambicanos dos dois níveis competitivos estão mais preocupados em desenvolver e melhorar novas competências ou atingir um sentido de mestria baseado na crença que o esforço conduzirá ao progresso pessoal.

De uma forma geral, podemos constatar que os futebolistas de todas as posições táticas no jogo dão maior importância à orientação cognitiva para a tarefa em detrimento da orientação para o ego, indo ao encontro das evidências literárias revistas (Almeida, 2013; Guadalupe, 2010; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005; Vasconcelos-Raposo et al., 2013).

Por seu turno, os futebolistas meio campistas e os atacantes são os que possuem índices mais altos da orientação para a tarefa, indo ao encontro dos estudos de e Vasconcelos-Raposo et al. (2013), contrariando por sua vez os estudos de Almeida (2013), Guadalupe (2010), Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) dos quais, os meio campistas e os atacantes apresentam valores baixos. Este aspecto pode ser justificado pelo facto de a orientação cognitiva voltada para a prestação (tarefa) congregar uma motivação intrínseca o que sugere a necessidade de autoafirmação por parte dos meio campistas e atacantes que tem um papel fundamental na determinação dos resultados do jogo. Os meio campistas e os atacantes são elementos preponderantes para a determinação dos resultados de uma equipa havendo nestes uma grande necessidade em realizarem com sucesso o gesto técnico e automaticamente completar a tarefa.

É importante referir ainda que, os guarda-redes evidenciam-se na orientação cognitiva para o ego em relação aos seus pares, conclusões similares aos estudos de Almeida (2013) e Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) contrariando os achados de Guadalupe (2010), e Vasconcelos-Raposo et al. (2013). Os guarda-redes são os únicos a alinharem em partidas de futebol ganhando titularidade e referência em suas equipas o que pode contribuir para que estes, efectivamente, procurem demostrar as suas próprias competências, habilidades técnicas e superioridade em relação aos seus adjuntos (guarda-redes suplentes). No mundo do futebol é consensual que os atletas têm necessidade de demostrar as suas habilidades e, pois fica evidente que a decisão dos convocados e não convocados esta dependente do desempenho de cada um.

Os futebolistas centrais e os laterais são os que possuem índices mais baixos tanto da orientação para a tarefa assim como para o ego, indo ao encontro dos resultados de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) na orientação para o ego por parte dos centrais e de Guadalupe (2010) na orientação para o ego por parte dos laterais e na orientação para tarefa por conta dos médios e laterais. Estas referências opõem-se aos estudos de Moreira e Vasconcelos-Raposo (2012) e Vasconcelos-Raposo et al. (2013) dos quais tanto os centrais como os laterais apresentam índices ligeiramente altos em relação aos seus pares. Habitualmente, os jogadores que acreditam ter um estilo de jogo muito agressivo estão mais orientados para a tarefa em relação aos seus pares com estilo de jogo menos agressivo que estão mais voltados para o ego (Guadalupe, 2010). Esta citação leva-nos a aferir que as posições centrais e laterais, com índices mais baixos nas duas orientações cognitivas, são as menos pressionados durante o jogo contrariamente aos guarda-redes, defesas e atacantes cuja forma agressiva de jogo é essencial para o sucesso desportivo.

Relativamente aos anos de prática de futebol podemos aferir que os índices das orientações cognitivas para o ego e para a tarefa aumentam quanto mais experiência competitiva os futebolistas tiverem, indo ao encontro dos estudos de Vaz e Fernandes (2013) na orientação para o ego e na orientação para a tarefa. Os mesmos resultados vão em contradição com os estudos de Almeida (2013), Vasconcelos-Raposo et al. (2013) em ambas as orientações cognitivas, onde as conclusões mostram não existir homogeneidade no comportamento dos valores relativos aos índices das orientações cognitivas com os anos de prática de futebol. Esta relação entre os anos de prática e os índices das orientações cognitivas para o ego e para a tarefa sugerem-nos que na medida que os futebolistas ganham mais experiências competitiva surge a necessidade de valorizarem as habilidades técnicas e táticas que possuem, pois, estes pretendem mostrar o quão importantes e habilidosos são.

Geralmente, os atletas mais habilidosos técnica e taticamente são os que possuem uma carreira e experiência competitiva mais longa, apresentando por isso índices elevados tanto na orientação para a tarefa assim como para o ego. Considerando a orientação para a tarefa, os futebolistas mais experientes procuram realizar com sucesso o gesto técnico e completar ou consolidar uma determinada tarefa com mestria e na orientação para o ego, estes procuram sempre demonstrar as suas competências e superioridade em relação aos seus pares com menos experiência competitiva. Todavia, torna-se útil referir que os atletas orientados para a tarefa são os mais persistentes no treino, competem com mais intensidade e sentem uma maior satisfação do que os atletas orientados para o ego.

Conclusão

Quanto às dimensões das Orientações Cognitivas para o ego e para a tarefa os dados do estudo mostraram que os futebolistas foram unânimes à tarefa. Este registo evidenciou-se em todas as posições do jogo com destaque aos guarda-redes, assim como na idade onde os índices aumentaram quanto mais crescidos fossem os futebolistas e com destaque aos do sexo masculino. Estas evidências levam-nos a concluir que o tipo da orientação cognitiva da prática desportiva é um factor importante que distingue os futebolistas moçambicanos.

Os futebolistas do nível competitivo nacional apresentaram índices mais altos tanto na orientação cognitiva para a tarefa como para o ego com a particularidade das duas dimensões aumentarem com a subida do nível competitivo, evidenciando que os factores de ordem psicológica são indicadores de diferença entre os níveis competitivos (Vasconcelos-Raposo, 1993). Os índices das orientações cognitivas para o ego e para a tarefa aumentaram com os anos de prática de futebol. Estes resultados foram ao encontro das evidências literárias quanto à preferência dos futebolistas na orientação para a tarefa em detrimento ao ego, tornando assim um dado útil para os futebolistas moçambicanos pois a orientação para a tarefa associa-se a uma maior persistência e satisfação nas tarefas em relação à orientação para o ego.

Portanto, podemos concluir que os dados referentes às orientações cognitivas para a tarefa favoreceram a uma maior manifestação de atitudes desportivas dos futebolistas indo de acordo com as evidências literárias em outros contextos de futebol.

Agradecimentos:

Nada declarado.

Conflito de Interesses:

Nada declarado.

Financiamento:

Nada declarado.

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Recebido: 03 de Novembro de 2021; Aceito: 12 de Maio de 2022

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