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Gazeta Médica

Print version ISSN 2183-8135On-line version ISSN 2184-0628

Gaz Med vol.10 no.1 Queluz Mar. 2023  Epub Mar 31, 2023

https://doi.org/10.29315/gm.v1i1.703 

Carta ao Editor

Antidepressivos e Adolescência: Uma Relação Conturbada?

Antidepressants and Adolescence: A Troubled Relationship?

1. Hospital Garcia de Orta, EPE, Av. Torrado da Silva, 2805-267 Almada, Portugal.


Palavras-chave: Adolescente; Antidepressivos/uso terapêutico; Perturbação Depressiva

Keywords: Adolescent; Antidepressive Agents/therapeutic use; Depressive Disorder

O isolamento social que se impôs nos últimos anos de pandemia por COVID-19 tem sido apontado como um dos possíveis fatores que contribuem para o crescimento da incidência de psicopatologia a que temos assistido de forma transversal na criança, no adolescente, no adulto e no idoso.1) Várias foram as referências ao estudo coordenado pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), no ano letivo 2021/22, que concluiu que 42,2% dos adolescentes portugueses apresentam “sintomatologia depressiva”. Estes dados foram alvo de especial preocupação, na medida em que, se estima que a prevalência global da perturbação depressiva na adolescência se encontre entre os 4% e os 6%, representando números bastante inferiores aos obtidos neste estudo. A associação entre a depressão e o suicídio, em adolescentes e jovens adultos, encontra-se documentada, estimando-se que 30% das vítimas de suicídio nestas faixas etárias preenchessem totalmente os critérios clínicos para perturbação depressiva, pela altura da sua morte. Por outro lado, o suicídio encontra-se globalmente identificado como a terceira causa de morte, em jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos, e a quarta causa de morte, entre os 10 e os 14 anos de idade.

Ora, enquanto na idade adulta os ensaios clínicos com terapêutica antidepressiva se iniciaram há vários anos, documentando a sua eficácia e segurança, só mais recentemente começaram a ser conduzidos estudos semelhantes em idade pediátrica, dificultando a decisão clínica e, não raras vezes, protelando o início do tratamento farmacológico e condicionando o prognóstico do doente a curto, médio e longo prazo (sendo que a taxa de continuidade das perturbações depressivas para a idade adulta ronda os 50%).

Tanto a Suécia (2001)2) como os Estados Unidos da América - EUA (2006)3) conduziram estudos epidemiológicos focados na possível associação entre o aumento da prescrição de fármacos antidepressivos e a diminuição da taxa de suicídio. No estudo sueco a associação foi estatisticamente relevante, não variando com o género ou idade dos indivíduos. Também o estudo realizado nos EUA concluiu que um aumento de apenas 1% na prescrição de antidepressivos na adolescência, está associada a uma diminuição de 0,23 suicídios /100 000 adolescentes/ ano.

Em 2022 foi realizada uma meta-análise observacional, tendo-se encontrada uma fraca correlação entre a exposição a antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (SSRIs) e o risco suicidário em crianças, adolescentes e jovens adultos. Neste mesmo estudo, apenas o tratamento com um inibidor da recaptação da serotonina e noradrenalina (SNRIs), a venlafaxina, demonstrou estar significativamente associada a um aumento da ideação suicida e comportamentos suicidários em idade pediátrica.4 Estes dados são coincidentes com os apresentados num artigo publicado na Australian Prescriber, também no decorrer do ano de 2022, onde a ideação suicida e os comportamentos suicidários foram encontrados em 4% dos adolescentes (dobro da frequência do grupo controlo) tratados com antidepressivos, sendo menos comuns nos indivíduos sob terapêutica com SSRIs comparativamente aos tratados com SNRIs.5

Em suma, os dados mais recentes consideram os antidepressivos como uma abordagem terapêutica segura, quer nas perturbações de ansiedade, como nas perturbações obsessivo-compulsivas e perturbações depressivas, na adolescência.

A abordagem terapêutica mais vantajosa parece ser a combinação combinada, incluindo psicoterapia e psicofármaco, mantida por um período mínimo de 12 meses, em adolescentes com diagnóstico de episódio depressivo major.5

Referências

1. Afonso P. O Impacto da Pandemia COVID-19 na Saúde Mental. Acta Med Port. 2020;33:356-7. doi: 10.20344/amp.13877. [ Links ]

2. Carlsten A, Waern M, Ekedahl A, Ranstam J. Antidepressant medication and suicide in Sweden. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2001;10:525-30. doi: 10.1002/pds.618. [ Links ]

3. Hammad TA, Laughren T, Racoosin J. Suicidality in pediatric patients treated with antidepressant drugs. Arch Gen Psychiatry. 2006;63:332-9. doi: 10.1001/archpsyc.63.3.332. [ Links ]

4. Li K, Zhou G, Xiao Y, Gu J, Chen Q, Xie S and Wu J. Risk of Suicidal Behaviors and Antidepressant Exposure Among Children and Adolescents: A Meta-Analysis of Observational Studies. Front Psychiatry. 2022;13:880496. doi: 10.3389/fpsyt.2022.880496 [ Links ]

5. Hazell P. Antidepressants in adolescence. Aust Prescr. 2022;45:49-52. doi: 10.18773/austprescr.2022.011. [ Links ]

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.

Suporte Financeiro O presente trabalho não foi suportado por nenhum subsídio ou bolsa.

Proveniência e Revisão por Pares Não comissionado; revisão externa por pares.

Ethical Disclosures

Conflicts of Interest The authors have no conflicts of interest to declare.

Financial Support This work has not received any contribution grant or scholarship.

Provenance and Peer Review Not commissioned; externally peer reviewed.

Recebido: 25 de Novembro de 2022; Aceito: 07 de Março de 2023; : 10 de Março de 2023; Publicado: 31 de Março de 2023

Autor Correspondente/Corresponding Author: Raquel Campos [raquel.campos@hgo.min-saude.pt] Hospital Garcia de Orta, EPE, Av. Torrado da Silva, 2805-267 Almada, Portugal ORCID iD: 0000-0001-6454-3053

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