Mulher, 32 anos, saudável, sem alergias alimentares ou medicamentosas conhecidas; sob anticoncetivo oral.
Recorreu à consulta do Médico de Família por erupção pruriginosa no antebraço esquerdo. Primeiro episódio em janeiro/2020, com recorrência em maio/2020 e novembro/2020. A erupção surgiu sempre no mesmo local, cada vez mais exuberante, com resolução espontânea em alguns dias e hiperpigmentação na fase resolutiva.
Ao exame objetivo apresentava placa eritemato-violácea, pruriginosa no antebraço esquerdo (Fig. 1), sem vestígios de picada ou outras alterações.
Questionada sobre o consumo de medicamentos nos dias prévios, a história foi positiva para fluconazol horas antes do aparecimento da lesão, em contexto de candidíase vaginal. Retrospetivamente teve exposição ao fármaco nos períodos coincidentes com as erupções prévias, o que levou à suspeição de erupção medicamentosa fixa (EMF). Foi medicada com anti-histamínico e corticoide tópico, com resolução da erupção e prurido. Manteve, contudo, a hiperpigmentação (Fig. 2).
Foi referenciada para consulta de Dermatologia onde realizou testes epicutâneos que confirmaram o diagnóstico de EMF ao fluconazol, sendo aconselhada à evicção do fármaco e de outros estruturalmente idênticos, para evitar reatividade cruzada.
A EMF trata-se de uma toxidermia causada por fármacos, sendo os antibióticos, anti-inflamatórios não esteroides, paracetamol, carbamazepina e os barbitúricos os mais implicados na literatura.1,2 Neste relato foi despoletada pelo fluconazol, constituindo uma forma menos comum desta toxidermia.3,4
A EMF manifesta-se como uma placa eritemato-violácea, geralmente unitária, pruriginosa, com predileção pelas mãos e pés, região oral e genito-anal, embora possa surgir em qualquer parte do corpo, incluindo locais de trauma anterior (picada, queimadura, punção venosa).2,3
Na fase resolutiva dá lugar a uma mancha castanha-acinzentada (hiperpigmentação pós-inflamatória).2 A reexposição ao fármaco causa recidiva da lesão no mesmo local, sendo um elemento fulcral ao diagnóstico.4 Geralmente trata-se de um quadro benigno e autolimitado, mas a exposição repetida ao fármaco pode condicionar uma toxidermia grave e generalizada.2