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Revista Lusófona de Estudos Culturais (RLEC)/Lusophone Journal of Cultural Studies (LJCS)

versão impressa ISSN 2184-0458versão On-line ISSN 2183-0886

RLEC/LJCS vol.9 no.1 Braga jun. 2022  Epub 01-Maio-2023

https://doi.org/10.21814/rlec.3671 

Artigos Temáticos

Turismo de Risco na Sociedade Viral: Um Estudo Usando a Análise Híbrida do Discurso

1Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Braga, Portugal


Resumo

Nas últimas décadas, o sociólogo Ulrich Beck (1992) tem alertado sobre a sociedade de risco em que vivemos hoje, que inclui riscos não apenas conjunturais, mas essencialmente estruturais, como a poluição e o aquecimento global. Recentemente, a contemporaneidade enfrenta um novo e grave risco, a pandemia causada pela COVID-19, que parece estar a transformar as nossas formações sociais numa sociedade viral. Para compreender estes processos sociais e questões sociológicas, o presente texto chama a atenção para uma das mediações sociais e interculturais mais relevantes no atual quadro social, a articulação entre a pandemia do coronavírus e as atividades turísticas. Um estudo de caso trata aqui do discurso produzido sobre tais temas pela rede social digital Wikipedia. Este estudo é contextualizado por reflexões teóricas e práticas dos estudos de turismo e apoiado em ideias como “risco viral” e “turismo de risco viral”. Uma amostra de conteúdo extraída da Wikipedia é analisada e interpretada por meio de um método qualitativo e quantitativo desenvolvido pelo autor, denominado “análise híbrida do discurso”, que utiliza, entre outras ferramentas interpretativas, o “alfabeto de relações interconceptuais”.

Palavras-chave: sociedade de risco; sociedade viral; turismo de risco viral; análise híbrida do discurso; alfabeto das relações interconceptuais

Abstract

In recent decades, sociologist Ulrich Beck (1992) has been warning about the risk society in which we operate today, which includes risks that are not only conjunctural but essentially structural, such as pollution and global warming. Recently, contemporaneity faces a new serious risk, the pandemic caused by COVID-19, which seems to be transforming our social formations into a viral society. In order to understand these social processes and sociological questions, the present text draws attention to one of the most relevant social and intercultural mediations in the current social framework, the articulation between the coronavirus pandemic and tourist activities. A case study deals here with the discourse produced about such themes by digital social network Wikipedia. This study is contextualized by theoretical and practical reflections from tourism studies and supported by ideas such as “viral risk” and “viral risk tourism”. A sample of content extracted from Wikipedia is analyzed and interpreted through a qualitative and quantitative method developed by the author, named “hybrid discourse analysis”, which uses, among other interpretive tools, the “alphabet of interconceptual relations”.

Keywords: risk society; viral society; viral risk tourism; hybrid discourse analysis; alphabet of interconceptual relations

1. Introdução: Uma Sociedade Viral Emergente?

“Sociedade viral” é um conceito cunhado em estudos anteriores realizados pelo autor do presente texto desde o surgimento da pandemia de COVID-19 (Andrade, 2020, 2021; https://www.sites.google.com/view/viral-tourism-city). Por exemplo, a atual crise pandémica parece indicar que o coronavírus se encontra a desconstruir a atual “sociedade em rede” e a reconstruí-la num paradigma emergente de sociedade. A sociedade viral é caracterizada, entre outros traços, por economias e tecnologias virais, políticas e políticos virais, culturas e cultos virais.

Outros estudos sobre a pandemia de COVID-19 confirmam a relevância de várias dimensões sociais deste processo: no âmbito económico (Gans, 2020); no que diz respeito aos “heróis da pandemia” (Naik, 2020); ou a dramática situação na Itália nos primeiros meses do surto (Rio, 2020).

O presente texto visa refletir sobre tais situações pandémicas, articuladas com um processo social específico, o turismo, principalmente no que toca aos riscos que esta atividade pode desencadear. O objetivo é construir um conceito mediador, o “turismo de risco viral”, que ateste tal realidade. Ambos fenómenos, a pandemia e o turismo, requerem mediações interculturais adequadas. Além disso, sob a pandemia do coronavírus, essas mediações estão a ocorrer gradualmente no ciberespaço.

Por conseguinte, torna-se urgente estudar a infinidade de processos virulentos que migraram para páginas de sites e redes sociais, entre outros. Apresenta-se aqui um estudo de caso que analisa o discurso produzido sobre esses temas intermediários e híbridos, por parte da rede social digital Wikipedia, em estreita conexão com conceitos e ideias originados nos estudos de turismo. A análise híbrida do discurso (AHD) consiste num método qualitativo e quantitativo desenvolvido pelo autor, que é utilizado para esta análise aplicando, em particular, o nomeado “alfabeto de relações interconceptuais” (doravante denominado “alfabeto”), um instrumento interpretativo apoiado por softwares de aplicação de métodos qualitativos e estatísticos, como o NVivo.

A estrutura do presente texto reflete o debate precedente. Em primeiro lugar, sugere-se uma breve discussão sociológica sobre o turismo de risco viral. Em segundo lugar, explica-se a metodologia referente à AHD. Em terceiro lugar, é apresentado um estudo de caso acerca do discurso da Wikipedia sobre a pandemia de COVID-19 e o turismo. A AHD é reintroduzida para este fim. Posteriormente, essa metodologia é detalhada por meio da análise e interpretação de conceitos e relações entre esses termos, que podem elucidar os fenómenos sociais subjacentes. O método é melhor exemplificado por meio de um tipo específico de rede sociológica, as redes semântico-lógicas. A clarificação e a utilidade da AHD são demonstradas, extensivamente e intensivamente, via uma análise e interpretação relacional mais específicas e profundas. Por fim, uma conclusão expõe algumas considerações e recomendações. Ao final do artigo (ver Apêndice), um glossário resume alguns conceitos centrais debatidos e as suas principais relações. No entanto, o leitor deve observar que este é um instrumento científico incompleto, pois as ideias do texto relacionam-se, necessariamente, com uma intertextualidade infinita, mas nem sempre indefinida, dentro do rizoma de todos os textos sociais e sociológicos, locais e globais, que circulam no mundo.

2. O Debate Sociológico Sobre o Turismo de Risco Viral

Por forma a desenvolver o debate sobre o turismo de risco viral, o presente texto aplica o alfabeto mencionado acima de duas maneiras: primeiro, define algumas das principais relações teóricas entre conceitos sociológicos forjados por autores seminais, indicados a seguir, que discutiram questões sociais relevantes para a análise. O autor não pretende desenvolver uma articulação teórica extensa ou intensiva entre tais autores. Em vez disso, o objetivo é fornecer alguns exemplos rápidos de como esse alfabeto relacional pode ser aplicado a tais conceitos, no seio de um mapa conceptual coerente, o que constitui um método poderoso para conectar ideias sociológicas que levantem questões pertinentes e formulem hipóteses verificáveis e válidas (Figura 1).

Figura 1 O debate sobre o turismo de risco viral 

Para o desenvolvimento das ideias originais de tais autores, ver Ulrich Beck (1992, 2013, 2016), que refletiu sobre a chamada “sociedade de risco”. Trata-se de um paradigma societal onde os riscos não se apresentam apenas conjunturais, mas principalmente estruturais, pois derivam da própria essência do capitalismo, sistema que causa desequilíbrios irreversíveis para o planeta, como as mudanças climáticas. Além disso, Manuel Castells (1996) circunscreve a “sociedade em rede”, um tecido social dominado por fluxos de informação em rede. E John Urry (1990, 2007) desenvolveu as ideias de “olhar turístico” e “mobilidades urbanas”. O conceito “mobilidades” refere-se a tudo o que se move, local e globalmente, e se transforma: capital, força de trabalho, bens, informação e assim por diante.

Esses termos podem estar ligados à conceptualização discutida na presente reflexão, por exemplo, a noção de “turismo de risco viral”, por meio de relações extraídas do alfabeto. Este alfabeto define 37 relações sociológicas e lógicas centrais: 23 relações de natureza estrutural (aqui associadas a estruturas sociais); e 14 conexões de natureza conjuntural, testemunhando eventos e ações sociais (Andrade, 2007a). A Figura 1 dá alguns exemplos dessas conexões, onde são indicados os códigos correspondentes a cada uma dessas relações. Para demonstrar esta estratégia interpretativa, na parte esquerda da Figura 1, o conceito “sociedade de risco” articula-se com a noção de “sociedade viral”, pois as pandemias em geral, e a pandemia de COVID-19 em particular, constituem alguns dos maiores riscos no mundo contemporâneo. Do mesmo modo, a “sociedade de risco” interage com a “sociedade em rede”, na medida em que o coronavírus causou o deslocamento de muitas atividades sociais para o ciberespaço e para as redes sociais digitais.

No que diz respeito à notação utilizada para a definição das relações, por exemplo, “r6 x->” é um código que significa condição necessária, “r6” significa a sexta relação do alfabeto, circunscrita dentro da “classe sociológica conjuntural”, e é nomeada “relação conjuntural 6”. Tal vínculo é expresso na Figura 1 como “r6 x-> condição necessária”, pois conecta: (a) de um lado, o “conceito anterior” (causas, etc.) expresso por meio de uma frase em linguagem natural, por exemplo, inglês (e dentro da proposição sociológica correspondente), neste caso, “pandemia de COVID-19”; e (b), de outro lado, o “conceito posterior” numa dada frase/proposição (efeitos, etc.), aqui denominado “casos/óbitos de pandemia”, processo social ilustrado, entre outros, pela próxima parte deste texto.

Em segundo lugar, este texto baseia-se na análise empírica e na interpretação de páginas da Wikipedia sobre “pandemia de COVID-19” e “turismo”, contextualizadas pelas precedentes reflexões teóricas, e através de um estudo de caso, que aplica o alfabeto de forma mais sistemática, usando tanto software qualitativo como o NVivo, quanto software quantitativo ou estatístico.

3. Metodologia: Uma Genealogia da Análise Híbrida do Discurso

Uma estratégia metodológica desenvolvida ao longo de vários anos de pesquisa, denominada AHD (Andrade, 2016), será revisitada aqui. Essa metodologia inclui e aplica: (a) substantivamente, conceitos sociológicos baseados em estudos pós-coloniais, entre outras escolas sociológicas, como a noção de “híbrido”; e (b) epistemologicamente, métodos sociológicos tradicionais, por exemplo, análise de discurso e conteúdo, hibridizados com novos métodos e técnicas oriundos dos média digitais, por exemplo, as análises qualitativa e quantitativa do discurso veiculadas por meio de softwares como o NVivo, e jogos digitais ou realidade aumentada. Neste texto, apenas as análises qualitativa e quantitativa do discurso serão exemplificadas.

Para um tal propósito, a AHD pode utilizar redes semântico-lógicas, que são redes conceptuais organizadas por conceitos e por relações-conceitos lógicos, explicados e exemplificados a seguir.

Este método tem sido desenvolvido pelo autor desde há algumas décadas (Andrade, 1985) sobre redes sociológicas, relações-conceitos, entre outros: por exemplo, um ensaio sobre a natureza variável e mutável dos conceitos, que assumem diferentes significados dependendo do contexto social da sua enunciação. As próprias relações entre os conceitos podem adquirir grande relevância na interação social ou nos escritos das ciências sociais. Através dessas movimentações sociais ou sociológicas, tais relações podem ser transformadas em conceitos de um novo tipo, ou seja, as relações-conceitos (Andrade, 1991, 2002).

Para além disso, a AHD forjou os seus fundamentos no caráter universal do híbrido. Este conceito tem sido objeto de diversos debates nas últimas décadas, principalmente no âmbito dos estudos pós-coloniais (Appadurai, 2013; Bhabha, 2004; Canclini, 1995/2005; Said, 2008). Na investigação pelo autor do presente texto, o híbrido foi aplicado aos seguintes objetos de estudo, entre outros:

  • No que diz respeito às artes digitais, em 2006, a noção de híbrido foi ligada à net art (arte feita para a internet) e à construção de um novo tipo de blog, o hybrilog. Este é um blog híbrido, incluindo e hibridizando vários tipos de blogs, cada um deles baseado num meio diferente (por exemplo, um blog de texto, um blog de vídeo, um blog de poesia em vídeo, um blog de arte digital, etc.). A esfera social onde os blogs operam tem sido chamada de blogosfera. Da mesma forma, a paisagem social onde circulam os hybrilogs pode ser denominada “hibridosfera”. Dentro da hibridosfera, por exemplo, um blogart é um tipo de arte na internet que adquire a forma e as características de um blog, e o hybrilog pode atuar como um blogart ou como outro tipo de hibridização cultural e artística (Andrade, 2006a). O híbrido também pode ser usado como recurso para a prática da escrita híbrida em vários novos géneros de blogs, como o hybrilog, ou dentro de qualquer outro meio de escrita (Andrade, 2006b).

  • A hibridização de literacias é outro conceito central usado para entender e aplicar a AHD (Andrade, 2011a, pp. 71-72, 2014). A literacia pode ser definida como um conjunto de processos sociais de leitura e escrita, incluindo competências e desempenhos subjacentes a um determinado modo de conhecimento, além dos regimes de leitura e escrita de uma língua nacional ou materna. Articulando tais literacias, emerge hoje um modo de conhecer inédito, a hibridologia, que se concentra nas entidades e identidades híbridas que proliferam na contemporaneidade, especialmente nas redes sociais digitais. Exemplos são fornecidos num estudo de caso de audiências no Museu Coleção Berardo realizado em 2010, através de metodologias híbridas como o questionário multitoque e o jogo das tricotomias (Andrade, 2011b). Outra ilustração de métodos sociológicos híbridos é a Novela GeoNeológica (Andrade, 2007b, 2011b, p. 52) Ou, na área do património cultural, uma reflexão sobre a sociologia das ruínas mostra um exemplo de métodos híbridos por meio de um estudo de caso realizado no contexto das redes sociais digitais (Andrade, 2013). Outro debate sintético sobre hibridologia, conectada com a esfera digital e os novos média, pode ser encontrado em Andrade (2015).

4. Análise e Interpretação do Corpus da Wikipedia: Questões na Análise Híbrida do Discurso

Este estudo de caso incide sobre as páginas da Wikipedia que debatem “pandemia de COVID-19” e “turismo”, contextualizadas essencialmente pelos estudos de turismo. As questões específicas que a AHD coloca para interpretar o corpus das páginas da

Wikipedia no ciberespaço são as seguintes:

  1. Que processos sociais emergem como mais relevantes para os autores dessas páginas (e para o seu discurso social inerente), entre os tópicos associados à COVID-19 e ao turismo?

  2. Quais são os conceitos centrais que representam esses fenómenos sociais?

  3. Que relações sociais articulam tais conceitos?

  4. É possível identificar meta-relações, ou seja, relações que associam outras relações?

Esses conceitos e suas relações tornam visíveis redes sociológicas pertinentes, que se definem enquanto constelações conceituais, apresentando uma síntese da realidade social falada/escrita, neste caso imersa nas páginas selecionadas da Wikipedia. Conforme observado a seguir, tais redes sociológicas podem ser especificadas em redes semântico-lógicas. Estas redes mais particulares traduzem desde, de um lado, os significados semânticos que os atores sociais produzem por meio de frases e palavras pertencentes às línguas naturais (inglês, português, etc.), até, de outro lado, proposições (socio)lógicas. Por exemplo, no interior de uma rede semântica-lógica, palavras comuns como substantivos são transformadas em conceitos; os verbos são usados como relações interconceptuais; e as frases quotidianas são modificadas em proposições lógicas.

5. Dimensões Sociais e Sociológicas do Conceito “Turismo de Risco Viral”

Conforme descrito na secção “Introdução”, a AHD pode ser pormenorizada em várias etapas. A primeira fase é conceptual. Considera não apenas os principais conceitos que organizam o texto, mas também as suas dimensões sociais e sociológicas. No cor pus retido, as “estruturas sociais” revelam-se como a dimensão social mais frequente, com 3.845 menções aos respetivos conceitos, dentro das frases do texto anteriormente divididas em proposições (socio)lógicas (ver Figura 2).

Figura 2 Dimensões sociais e sociológicas 

Observe-se que as “relações entre conceitos” se mostram enquanto segunda classe analítica mais citada (2.394 ocorrências dentro dos textos analisados).

O processo de “turismo” desvela-se, em parte, entendido sociologicamente como uma estrutura socioeconómica e cultural/discursiva, dentro da dimensão “estruturas sociais”. O nosso corpus possui 2.545 frases referentes a “estruturas discursivas”, como “artes e culturas” (378 proposições), sendo esta estrutura social cada vez mais praticada pelos turistas culturais contemporâneos (cf. Figura 3).

Figura 3 Estruturas discursivas 

Outra dimensão amplamente representada no corpus é o “agente social”, particularmente a sua relação com as estruturas sociais “medicina e saúde” (ver Figura 4 e Figura 5).

Figura 4 Saúde dos agentes sociais 

Figura 5 Saúde dos agentes sociais (continuação) 

Observe-se as 114 menções a “pandemia” na subcategoria “infeções”. E as 33 referências a “sars”, dentro da subclasse “doenças infeciosas”. Além disso, a “vacinação” registra 63 ocorrências, e tanto as vacinas Pfizer quanto a Astra-Merck recebem quatro indicações dentro da “indústria farmacêutica”.

Alguns outros conceitos relacionados são visíveis dentro das frases sociais e proposições sociológicas no interior do corpus, por exemplo, os agentes sociais “médico” (oito) e “paciente” (19).

E quanto à “indústria do turismo”, outra estrutura socioeconómica pertinente neste estudo de caso? Pertence a uma categoria estrutural mais ampla, “transporte e viagens”. A subclasse mais relacionada com o turismo é “viagem” (“trip and travel”), apresentando uma frequência de 698 vezes dentro do corpus (ver Figura 6).

Figura 6 Indústria do turismo 

6. Redes Semântico-Lógicas

Uma segunda etapa que pormenoriza a AHD é a seguinte: os conceitos podem ser mais profundamente compreendidos por meio de suas relações dentro de redes semântico-lógicas, que traduzem significados sociais em significantes sociológicos.

Observando uma rede semântico-lógica dentro da Figura 7, fica claro que o conceito central “turismo” é rodeado por outros conceitos, através de círculos concêntricos exprimindo maior ou menor grau de associação com o conceito central.

Figura 7 Rede semântico-lógica “orbital” incluindo o conceito central “turismo”e os seus conceitos satélites 

Horizontalmente, esta rede conota a posição condicional dos conceitos dentro do conjunto completo de frases escritas ou de todas as proposições (socio)lógicas correspondentes. À esquerda, encontram-se os conceitos antecedentes (causas, etc.), como “religioso” para o turismo religioso, ou “arte” mostrando a sua influência, por exemplo, no turismo cultural, e por aí adiante. À direita, os conceitos subsequentes (efeitos, etc.) são visíveis, por exemplo, a “segurança” no turismo, ou a “comunicação” ativada nas atividades turísticas, e por aí adiante.

Uma rede sociológica mais complexa é apresentada na Figura 8.

Figura 8 Rede semântico-lógica “axial” mostrando o conceito “turismo” e os respetivos processos sociais e conceitos sociológicos, actantes e atuados 

O turismo situa-se aqui como actante. Isso significa uma condicionalidade em relação a outros fenómenos sociais traduzidos por conceitos, aqueles atuados. Por exemplo, neste corpus, o “turismo” é tratado como fator de influência sobre outros processos sociais, como o surto pandémico da COVID-19. No entanto, outros processos/conceitos também apresentam essa condicionalidade, por exemplo, “pessoas”, os “EUA”, o espaço mundial global, o ano de “2020” e o mês de “março”, ou alguns “governos” ou países como a “Itália” onde a pandemia começou no ocidente. Curiosamente, a “China” é colocada em uma posição ambígua, tanto como causadora da pandemia quanto como um dos países que a combateu de forma mais sistemática.

Assim como na rede da Figura 7, na Figura 8, os conceitos são representados por esferas. As linhas mostram relações (socio)lógicas entre esses conceitos. Esta rede também hibridiza abordagens qualitativas e quantitativas.

  1. Perspetiva qualitativa. Observando mais de perto a relação actante/atuado, visível no eixo X horizontal, as noções à esquerda, assinaladas em azul, significam palavras anteriores/antecedentes/ precedentes/anteriores, no interior da totalidade das frases da linguagem social e das proposições (socio)lógicas. Os conceitos à direita, em verde, representam as noções consequentes/seguintes/ resultantes posteriores, dentro de todas as frases sociais e proposições sociológicas do corpus.

  2. Perspetiva quantitativa. As relações para cada conceito estão concentradas em torno do eixo Y vertical. As relações mais fortes estão localizadas no topo da rede e as mais fracas na base. Uma linha sólida indica uma associação frequente e uma linha pontilhada indica um link pouco frequente.

  3. Outra configuração de uma rede semântico-lógica pode ser vista na Figura 9, hibridizando interpretações qualitativas e medidas quantitativas

Figura 9 Rede semântico-lógica em “estrela” acerca de turismo, incluindo as frequências dos respetivos conceitos associados 

No que respeita a abordagem qualitativa, as relações encontram-se agora mais ordenadas e distribuídas entre duas listas de conceitos com a forma de uma estrela, as anteriores e as posteriores, em torno do conceito central.

No que concerne à postura quantitativa, as articulações sociais e semânticas (qualitativas) são ordenadas (quantitativamente), desde as frequências mais altas no topo até às ocorrências mais baixas na base. Por exemplo, “internacional” e “mundo” ocorrem 16 vezes, o que denota a relevância global do turismo. Em comparação, “cidade”, um território social mais local e um conceito sociológico mais específico, aparece apenas nove vezes.

Usando o AHD, também é possível aprofundar a interpretação, mudando o “ponto de vista” social e conceitual. Por exemplo, transitando do conceito central “turismo” (na Figura 9) para o conceito principal “covid” (Figura 10).

Figura 10 Rede semântico-lógica “orbital” contendo o conceito central “covid” e os seus conceitos satélites 

Este movimento chama-se “transitividade”. Agora, o investigador inquire o corpus mediante o processo social e o conceito sociológico “covid” entendido como a sua lupa de referência. Desta maneira, outros conceitos relacionados surgem, por exemplo, a vacina como arma influente contra a COVID-19, infeções em 2020 em pacientes e o surto de casos funcionando como efeitos sociais do vírus.

Para além disso, usando o prisma “atuante/atuado” (ver Figura 11), o coronavírus encontra-se mais diretamente relacionado com o turismo do que na Figura 10.

Figura 11 Rede semântica-lógica “axial” apresentando o conceito “covid” e os respetivos processos sociais e conceitos sociológicos, actantes e atuados 

De facto, na Figura 11, como na Figura 8, o investigador pode observar mais claramente as relações entre os conceitos envolvidos, através das linhas que transitam de um conceito para outro. As conexões principais encontram-se novamente indicadas por traços contínuos e a azul, e as relações menos importantes estão marcadas em traços pontilhados.

Por exemplo, a relação entre a COVID-19 e a China é muito forte, surgindo este país como fator decisivo para o surto e propagação da pandemia. As relações entre a China e os demais fenómenos sociais são testemunhadas por intermédio das conexões visíveis na Figura 11, ligando a China a “covid”, “epidemia”, “surto”, “povo”, “turismo”, “EUA”, entre outras. A Figura 12 quantifica essas relações.

Figura 12 Rede semântico-lógica em “estrela” sobre COVID-19, registando as frequências dos correspondentes conceitos conectados 

Note-se que esta estratégia de interpretação utiliza um conceito, “China”, que medeia duas outras dimensões da realidade: uma estrutura social (“turismo”) e um agente social (“COVID-19”). Esse tipo de noção é denominado “conceito mediador” ou “conceito-relação”. Assim, um conceito mediador significa um termo científico que intermedeia (relaciona substantivamente) termos polares, como é o caso de conceitos opostos em termos de níveis sociais (Andrade, 1991, p. 270). Por exemplo, o nível macrossocial representado pela estrutura “turismo” e o nível microssocial manifestado via o agente social COVID-19, conforme exemplificado acima.

Abaixo mostram-se alguns exemplos das ocorrências mencionadas acima e relações expressas no próprio texto em inglês. Eles foram extraídos do corpus das páginas selecionadas da Wikipedia, especificamente sobre a relação entre a China e a COVID-19, dentro de uma conjuntura global onde as viagens turísticas contribuem para agravar a pandemia. Esta é apenas uma ilustração, pois as citações são muito numerosas no corpus.

As seguintes referências podem ser encontradas na página da Wikipedia sobre a pandemia de COVID-19. Os números no início de cada linha indicam a ordem das proposições após a análise.

Aqui estão algumas citações sobre a propagação do vírus através dos turistas:

  • (11) Em 31 de janeiro, a Itália havia confirmado os seus primeiros casos, dois turistas da China.

  • (7) As chegadas de turistas internacionais ultrapassaram a marca de 1 bilhão de turistas globalmente pela primeira vez em 2012.

  • (8) mercados de origem emergentes como China, Rússia e Estados Unidos, em vez da China, onde o vírus se originou.

  • (733) O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, foi criticado por se referir ao COVID-19 como o “Vírus Chinês” e “Gripe Kung”.

No que diz respeito à situação de pandemia em 2020:

  • (72) No entanto, a primeira morte relatada fora da China ocorreu em 1º de fevereiro de 2020, nas Filipinas.

  • (307) Em 14 de julho de 2020, havia 83.545 casos confirmados na China, excluindo 114 casos assintomáticos.

Declarações oficiais da agência governamental chinesa sobre o vírus:

  • (34) Em 12 de janeiro de 2020, cinco genomas de SARS-Cov-2 foram isolados de Wuhan e relatados pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CCDC) e outras instituições

Animais como alegadamente originando o vírus:

  • (231) No entanto, em maio de 2020, George Gao, diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, disse que amostras de animais coletadas no mercado de frutos do mar deram resultado negativo para o vírus

Casos de pandemia de COVID-19 na China:

  • (59) Uma análise no início de 2020 de casos por idade na China indicou que uma proporção relativamente baixa de casos ocorreu em indivíduos com menos de 20 anos.

  • (229) No dia seguinte, em 31 de dezembro, o escritório do The Who na China foi informado de casos de pneumonia de causa desconhecida em Wuhan.

  • (229) De acordo com fontes oficiais chinesas, os primeiros casos estavam ligados principalmente ao mercado grossista de frutos do mar de Huanan.

  • (236) Em 20 de janeiro, a China relatou quase 140 novos casos num dia.

  • (247) Em 26 de março, os Estados Unidos ultrapassaram a China e a Itália com o maior número de casos confirmados no mundo.

  • (307) Em 14 de julho de 2020, havia 83.545 casos confirmados na China, excluindo 114 casos assintomáticos

Mortes na China causadas pelo coronavírus:

  • (311) No entanto, ao longo da pandemia, várias fontes lançaram dúvidas sobre a precisão dos números oficiais da China para mortes e infeções de Covid-19 durante o surto inicial

  • (407) Em 19 de março de 2020, a Itália ultrapassou a China como o país com mais mortes relacionadas ao COVID-19 no mundo depois de relatar 3.405 mortes pela pandemia.

7. Análise e Interpretação Relacional

Um terceiro grande passo do AHD é principalmente relacional. Uma aplicação do alfabeto é apresentada nas próximas páginas. No corpus retido, foram encontradas

2.393 ocorrências de relações extraídas desse alfabeto (socio)lógico. As relações (socio) lógicas codificadas como “rs” significam “structural relations” (relações estruturais), por exemplo, a relação de “globalização”, codificada como “rs3 ((( é global para”. E as relações (socio)lógicas codificadas como “rc” são “conjunctural relations” (relações conjunturais), por exemplo, a relação “transformação em rede digital”, codificada como “rc14 x-x> transforma na web”.

De entre as relações estruturais, a mais frequente é a relação de “igualdade”, codificada como “rs7 = igual a” e mencionada 506 vezes. Em segundo lugar aparece a relação “totalidade”, codificada como “rs1 ( contém”, com 150 referências.

No caso das relações conjunturais, a relação “determinação”, codificada como “rc1 ->> determina”, é a mais numerosa, com 313 ocorrências. A segunda mais usual é a relação “movimento”, expressa na análise como “rc4 -|-||> mover para”, referenciada 202 vezes. Outras conexões conceptuais e a sua relativa relevância no corpus podem ser vistas na Figura 13.

Figura 13 Relações (socio)lógicas entre os conceitos 

As redes seguintes mostram como uma relação pode ser conectada com conceitos anteriores e posteriores no método AHD. Por exemplo, a relação de “determinação” (Figura 14) é agora tomada como ideia central, colocada assim no centro da rede.

Figura 14 Conceitos anteriores e posteriores para relação “determina” 

Dessa forma, a relação de “determinação” reúne, à sua esquerda, conceitos antecedentes e, à sua direita, conceitos consequentes. Por outras palavras, a relação de “determinação” passa a ser entendida como um conceito-relação (Andrade, 2002). Além disso, epistemologicamente, por meio desse movimento interpretativo, o conceito-relação adquire o estatuto de conceito híbrido ou, se se preferir, a conotação de relação híbrida, pois hibridiza conceitos com relações e vice-versa.

Alguns dos “conceitos anteriores” (às vezes atuando como causas) mais frequentemente associados à relação “determinação”, são estes: “turismo”, com 28 ocorrências; “pandemia” (13); “saúde” (cinco); “vírus” (cinco); “vacina” (cinco). O conceito “turismo” também é o conceito posterior mais citado (20 vezes), localizado após a relação de determinação, dentro de todas as proposições do corpus. Isso significa que o processo social “turismo”, no discurso do corpus, está mais presente como fator condicionante do que como fator condicionado.

Quanto a esses conceitos posteriores (funcionando, por exemplo, como consequências de efeitos), alguns são relevantes. Por exemplo, “sars”, “morte”, “pandemia”, “infeção”, entre outros.

Outra estratégia de interpretação consiste em usar a transitividade mais profundamente. Como notado supra, a transitividade significa mudar a perspetiva do investigador em relação ao conceito central dentro de uma rede (socio)lógica ou entre redes diferentes. Por exemplo, é possível passar para uma rede (ver Figura 15) que toma um conceito “turismo” conectado com uma relação-conceito (a relação dialética codificada como “rc13 transforma”) enquanto ideia central da rede, e assim localizada no centro da rede.

Figura 15 Conceitos antecedentes e consequentes de uma proposição incluindo o conceito “turismo” e a relação “transforma” 

Isto significa que um tal centro é ele próprio hibridizado, pois funde um conceito e uma relação numa proposição parcial. Observem-se as frequências dos conceitos antecedentes e subsequentes no que diz respeito a esta nova ideia central. Quanto aos termos posteriores, o “turismo” pode transformar qualquer um deles, por exemplo, as “pessoas” e a “comunicação”, ou a “pandemia”.

A seguir, expõem-se exemplos da relação “determinação” no corpus considerado. As palavras em itálico indicam os termos usados na língua inglesa da página da Wikipédia sobre a pandemia da COVID-19, aqui traduzidos para português:

  • (6) Relatando em 24 de março de 2020, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos indicaram que o The Who havia fornecido dois códigos para Covid-19.

  • (30) O vírus que causou o surto é conhecido como coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-Cov-2).

  • (82) A razão morte/caso reflete o número de mortes atribuídas ao Covid-19 dividido pelo número de casos diagnosticados dentro de um determinado intervalo de tempo ( ... ) porque as comparações das taxas de mortalidade antes e durante a pandemia mostram um aumento de mortes, que não é explicado apenas pelas mortes por Covid-19.

  • (84) O CDC notou que (o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS)) não planeia implementar U07. 2 para estatísticas de mortalidade

Algumas ilustrações de frases reais de linguagem social, correspondentes a essas proposições (socio)lógicas na página “Turismo” da Wikipédia, encontram-se abaixo. Novamente, os termos que conotam os dois termos encontrados, mutuamente associados dentro das mesmas proposições, são marcados em itálico.

  • (7) As chegadas de turistas internacionais ultrapassaram (“ultrapassaram” é uma palavra no corpus indicando a relação “dialética” ou “transformação”) a marca de 1 bilhão de turistas globalmente pela primeira vez em 2012.

  • (8) os mercados de origem emergentes (outra palavra situada na classe “transformação”, no que diz respeito ao turismo) como China, Rússia.

  • (9) Base Internacional tourism ao longo do tempo, a aviação moderna tornou possível viajar rapidamente longas distâncias.

  • (63) Esta forma de turismo desenvolveu-se durante a segunda metade do século XIX no Reino Unido.

  • (65) O turismo educacional é desenvolvido devido à crescente popularidade do ensino.

  • (106) O turismo social está a tornar o turismo disponível para pessoas pobres que de outra forma não poderiam dar-se ao luxo de viajar para a sua educação ou recreação.

  • (138) Os produtos e serviços de turismo foram disponibilizados por meio de intermediários.

Além disso, pode ser interessante pesquisar, como ideia central de uma rede, a hibridização entre dois conceitos-relação (Figura 16).

Figura 16 Conceitos anteriores e posteriores à relação “é igual a” hibridizado com relação “determina” 

Por exemplo, a associação entre, de um lado, a relação denominada “igualdade” (codificada “rs7 = igual a”) e, de outro lado, a relação “determinação” (codificada “rc1

->> determina”). Tal conexão entre duas relações é nomeada “meta-relação”. Agora é possível descobrir alguns conceitos frequentes, ou outros conceitos-relação, ligados a essa nova ideia central de uma rede semântico-lógica.

Para tanto, poder-se-ia retomar a totalidade das sentenças linguísticas do corpus e as respetivas proposições lógicas subjacentes. Como dito acima, tais proposições incluem conceitos anteriores (por exemplo, condições, causas) e conceitos posteriores (consequências, efeitos, etc.) conectados por uma ou mais relações. No que diz respeito aos conceitos anteriores dentro de todas as proposições (socio)lógicas no interior do corpus, as menções mais frequentes incluem “turismo” (48 vezes), “pessoas” (23), “vírus” (18), “pandemia” (oito) , e assim por diante. E o impacto dessa meta-relação contém “sars”, “morte”, “pandemia”, “infecção”, entre outros.

Exemplos dessa meta-relação no corpus são apresentados abaixo, encontrados na página da Wikipedia sobre “pandemia COVID-19”. A relação “é igual a” é indicada em itálico, e a relação “determina” é indicada entre aspas.

  • (179) No entanto, nos Estados Unidos, duas terapias baseadas em anticorpos monoclonais estão disponíveis para uso precoce em casos “pensados” com alto risco de progressão para doença grave.

  • (180) Em 34% dos casos (7,4% para aqueles com mais de 65 anos), os sintomas são graves o suficiente para “causar” hospitalização.

  • (190) os cuidados de saúde devem estar disponíveis para “fornecer” as necessidades dos infetados.

  • (199) O rastreamento de contatos é um método importante para as autoridades de saúde “determinarem” a fonte de infeção.

  • (200) e em 7 de abril de 2020, mais de uma dúzia de grupos de especialistas estavam a trabalhar em soluções amigáveis à privacidade, como “usar” Bluetooth para registrar a proximidade de um utilizador a outros em coleta obrigatória de informações do viajante para uso em contato com o Covid-19.

  • (208) Na Europa e nos EUA, a Palantir Technologies está também a “fornecer” serviços de rastreamento Covid-19.

  • (210) em algumas áreas, serviços de saúde não de emergência estão a ser “fornecidos” virtualmente.

Outras citações com a meta-relação que hibridiza a relação “é igual a” com relação à conexão “determina” estão localizadas na página da Wikipedia intitulada “Turismo”:

  • (60) O turismo cultural é uma das megatendências “refletida” no grande número de pernoites e vendas.

  • (80) Os destinos turísticos estão a mudar para baixas emissões de carbono seguindo a tendência dos visitantes estarem mais focados em serem ambientalmente responsáveis, “adotando” um comportamento sustentável.

  • (89) também a possibilidade de princípios de turismo pró-pobres serem “adotados”, no turismo comunitário em Serra Leoa?

  • (91) e isso é “refletido” no número de turistas recuperando cerca de 6,6% globalmente em relação a 2009, com crescimento de até 8% nas economias emergentes.

8. Conclusão

Seria possível prolongar aqui a hermenêutica sociológica híbrida AHD sobre processos sociais híbridos, através das perspetivas epistemológicas, teóricas, metodológicas e empíricas, aplicadas acima. Na verdade, uma tal estratégia ainda se encontra em seu estágio inicial de desenvolvimento. Por conseguinte, algumas conclusões prévias e incompletas sobre o presente estudo são as seguintes: no interior de uma perspetiva epistemológica, não só os métodos, mas tudo na pesquisa poderia ou deveria ser, de alguma forma, hibridizado, pelo menos parcialmente. Por exemplo, não apenas a interdisciplinaridade é pertinente hoje em dia; mas também articulações mais claras entre conceitos e entre teorias; bem como uma fusão mais eficiente entre equipas de investigação originárias de culturas de pesquisa dominantes e alternativas, por exemplo, equipas de investigação nativas de países e sociedades centrais e periféricas.

Do ponto de vista teórico, a web 3.0, e em particular os sites sociais-semânticos como a Wikipedia, têm sido objetos de estudo relativamente pouco analisados, apesar de Tim Berners-Lee (2000), o inventor da world wide web (a internet visual e gráfica), ter sublinhado a sua relevância e urgência, centrais para o esclarecimento dos fenómenos que subjazem às redes sociais digitais.

Considerando uma perspetiva metodológica, por forma a interpretar inéditos processos sociais, é necessário não apenas criar conceitos inovadores, mas também forjar novas metodologias. Usando o alfabeto, a AHD representa apenas uma contribuição possível para isso, embora em estado de desenvolvimento e, portanto, naturalmente sob avaliação contínua.

De qualquer modo, como resultados temporários deste estudo de caso, destaca-se o seguinte: para os autores do discurso das páginas web analisadas, entre os assuntos associados à COVID-19 e ao turismo, e tendo em conta a abordagem quantitativa aplicada, as dimensões dos fenómenos sociais mais relevantes são estruturais, registrando 3.845 menções. O número de referências a “relações” e a “agentes sociais” mostra-se relativamente semelhante, com 2.394 e 2.335, respetivamente. A frequência de “contextos” e “processos” sociais encontra-se igualmente muito próxima. “Objetos” e “práticas” são as dimensões/níveis sociais e sociológicos menos presentes no discurso da Wikipedia.

Quanto a uma abordagem mais qualitativa, e revisitando as questões anteriormente formuladas, os conceitos centrais que representam essas dimensões dos fenómenos sociais, pertencem à categoria “medicina e saúde” relacionada com “agentes sociais” e referem-se a “transportes e viagens” com “turismo”, o que demonstra a pertinência da respetiva articulação. As relações sociais mais expressivas que articulam tais conceitos são a “igualdade” nas relações estruturais e a “determinação” nas relações conjunturais. Algumas delas são meta-relações, ou seja, vínculos sociais e sociológicos que se associam a outros vínculos. É o caso de “igual a”, relacionado, num primeiro movimento, a “determina”, e ambos ligados, num segundo momento, a várias ideias antecedentes e posteriores, dentro do discurso reticular residente nas páginas da rede social Wikipedia, sobre a “pandemia de COVID-19” e o “turismo”, um discurso social parcialmente decifrado através das proposições sociológicas propostas pela AHD.

Agradecimentos

Este trabalho é apoiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., ao abrigo dos projetos UIDB/00736/2020 (financiamento base) e UIDP/00736/2020 (financiamento programático).

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Appendix II - Breve Glossário Sobre Turismo Urbano, Sociedade Viral e Análise Híbrida do Discurso

O objetivo deste glossário é permitir, de forma sintética, o acesso a conceitos relacionados ao tema central deste texto. Note-se que tais relações não são apenas conexões diretas, mas também de natureza indireta. Por exemplo, podem constituir uma relação de inclusão entre um termo e as suas categorias mais amplas que contextualizam um tal conceito específico. De facto, um glossário não recebe o mesmo papel que as referências bibliográficas, onde devem ser indicadas as relações diretas entre uma citação e a respetiva fonte. Diferentemente, um glossário desvela-se útil para definir e consolidar brevemente as ideias, não articulando todos os termos com o texto, nem desenvolvendo a sua reflexão, o que seria impossível por falta de espaço.

Por exemplo, no presente glossário, o conceito “cidade 3.0” deve ser incluído na categoria mais ampla “cidade” ou “urbano”, que constituem duas classes hierárquicas de conhecimento. Dentro da definição de “cidade 3.0”, é possível reparar numa relação direta com o estudo de caso sobre o discurso da Wikipedia, aqui analisado, visto que a Wikipedia é uma web semântica incluída no sistema mais amplo da “web 3.0”. Observe- se que alguns (mas não todos os) conceitos relacionados diretamente com “cidade 3.0”, por exemplo, “web 3.0” e “turismo 3.0”, são marcados em itálico na definição de “cidade 3.0”. Isso significa que o leitor pode ser elucidado, rápida e brevemente, com o significado dessas duas últimas ideias. Em suma, os textos contemporâneos encerram uma natureza rizomática e intertextual. Ou seja, eles fundam uma rede incomensurável de significantes inter-relacionados. Os glossários são apenas um rizoma mais sintético.

Análise híbrida do discurso: é um género de análise crítica e híbrida do discurso que realiza fusões entre as diferentes naturezas das coisas ao analisar um determinado corpus de dados sociais. Por exemplo, ao hibridizar tipos de conhecimento, abordagens metodológicas como métodos híbridos, pré-digitais, média digitais e hibrimédia, equipas de pesquisa interculturais e interprofissionais, entre outras.

Cidade 3.0 ou cidade sócio-semântica: localidade globalizada e configurada numa rede geográfica urbana que inclui redes digitais, sociais e semânticas, características da web 3.0, particularmente nas atividades de turismo 3.0.

Cidade inteligente: paradigma de cidade que privilegia o planeamento, monitorização e tecnologias digitais para alcançar maior previsibilidade na reestruturação urbana, entre outros aspetos de maior mobilidade, turismo inovador e segurança no espaço público. No entanto, uma tal visão ubíqua da cidade e do cidadão traz riscos, desde a intrusão na sua vida privada, passando pelo desrespeito dos direitos humanos, até à naturalização e aceitação acrítica de um panoptismo generalizado. Diferencia-se da cidade 3.0, pois este modo urbano está mais profundamente ligado à web 3.0 e ao turismo 3.0.

Comunicação turística: paradigma comunicativo em torno das atividades turísticas, fundado em três modos distintos de comunicação, mas também hibridizados na contemporaneidade: o modo pré-moderno de comunicação em copresença (conversas face a face, etc.); o modo de comunicação de massa característico das sociedades modernas (imprensa, rádio, televisão); e o modo de comunicação digital associado à pós-modernidade (ciberespaço, cibertempo).

Hibridologia: consiste no estudo científico, tecnológico e artístico das entidades híbridas que abundam e de alguma forma definem a nossa contemporaneidade globalizada, como é o caso da crescente hibridização demográfica nas sociedades europeias, através de décadas de imigração massiva. Outros exemplos são os métodos híbridos, a análise híbrida do discurso e a hibrimédia.

Métodos híbridos/Hibrimédia: mistura, fusão ou hibridação de diversos métodos e meios científicos, tecnológicos ou artísticos, por exemplo, os que caracterizam os seguintes modos de conhecimento: ciências sociais (questionário, etc.), novas tecnologias (dispositivos digitais interactivos construídos em hipermédia) e as artes (arte-objecto, arte processual como instalação e performance).

Remobilidade social: define-se como uma postura de combate à sociedade viral, visando a sua superação e a recriação alternativa de processos de mobilidade social no seio dos processos sociais e comunicativos contemporâneos, como a comunicação entre cidadãos, turistas e migrantes. Numa sociedade viral, ocorre a de-mobilidade social. Por outras palavras, a sociedade móvel, em que “tudo está em movimento”, como argumenta John Urry (1990, 2007), transformou-se parcialmente numa sociedade imóvel. Portanto, é necessário deslocá-la de sua i-mobilidade, por meio da remobilidade social, entre outras estratégias. Alguns exemplos desses processos de remobilização social são a arte pública urbana vinculada às culturas móveis, como a cultura turística e as culturas inerentes às redes sociais digitais. Tais culturas encontram-se fundadas e fundidas, hoje, em comunidades virtuais-virais que circulam no ciberespaço e no cibertempo, entendendo-se como esferas públicas digitais conflituosas onde, atualmente, sociedades pré-virais desconstroem-se e reconstroem-se gradualmente enquanto sociedades pós-virais.

Site social-semântico: esse tipo de site digital está intimamente associado à web 3.0. Apresenta explicitamente um paradigma explicativo ou secções sobre seu próprio conteúdo semântico (ideias, conceitos, fatos, eventos, etc.) e as suas relações lógicas (ligação entre ideias dentro do site, ou links entre páginas no site ou entre estas e lugares, externos a ele na internet).

Sociedade da investigação: na contemporaneidade, os cidadãos comuns podem pesquisar ou (re)procurar, através da investigação aberta ou open research (pesquisa aberta), tanto informação quanto conhecimento abertos, usando ferramentas e dispositivos globais, como o Google ou telemóveis, em várias cenas ou arenas sociais, incluindo espaços museológicos físicos ou virtuais, ou a rua. Ao fazê-lo, os cidadãos comuns podem construir conceitos e definições, por exemplo, na Wikipedia, e assim, de alguma forma, competir com cientistas e artistas profissionais, na produção e disseminação de informação e conhecimento, locais e globais.

Sociedade viral: paradigma de sociedade definido por processos sociais nunca antes vistos, como economias e tecnologias virais; políticas e políticos virais; culturas e cultos virais, turismo de risco viral. Um dos processos que buscam superar a sociedade viral é a remobilidade social.

Turismo: modo de viagem dominante nas sociedades industriais e na modernidade. Os tipos de turismo incluem turismo cultural, turismo cultural digital, turismo inovador, turismo locativo móvel, turismo 3.0, turismo de risco viral.

Turismo 3.0: é definido com base nas seguintes características: maior interesse dos turistas pelo património imaterial; a superação da dicotomia entre cultura erudita e cultura popular, processo testemunhado, por exemplo, pela abertura dos turistas à arte pública na rua; hibridização entre produção e consumo cultural; desejo de experiências autênticas na viagem turística; um tal paradigma do turismo moderno revela-se como uma das manifestações práticas da cidade 3.0, que muitas vezes permite o uso da cultura3.0 no seio do ciberespaço público da web 3.0.

Turismo cultural: tipo de turismo que se interessa predominantemente por aspetos culturais da sociedade (artes e suas instituições ou contextos), por exemplo, o Museu de Arte Pública ou outros espaços culturais públicos, como a rua.

Turismo cultural digital: modalidade de turismo associada ao ciberespaço e cibertempo, e à cultura móvel veiculada pelo turista por meio do telemóvel, por exemplo, como instrumento de vinculação das artes públicas à cibercultura.

Turismo inovador: tipo de turismo ligado à inovação social, especialmente dentro da mobilidade urbana característica da cidade inteligente.

Turismo locativo móvel: configuração da viagem turística em que a informação e o conhecimento sobre a viagem (pesquisas na internet sobre o destino turístico, memórias captadas durante a visita, etc.) são captados nomeadamente via telemóvel, presencialmente ou em sites online. As novas mobilidades características do turismo móvel locativo e do turismo de risco viral redefinem as atuais mobilidades sociais. Ou seja, estabelecem processos de remobilidade, que desenvolvem certas regularidades já detetadas no caso da comunicação turística via média locativos e turismo comunicativo.

Turismo de risco viral: este processo é definido como um novo modo de viajar que herda algumas das características da sociedade viral, sociedade de risco e sociedade em rede. Por exemplo, devido ao confinamento forçado, os potenciais turistas optam cada vez mais por realizar viagens virtuais no ciberespaço e no cibertempo em vez de viagens físicas. Outro atributo do turismo de risco viral é o desenvolvimento do turismo locativo móvel, que pode tornar-se tão ou mais importante que o turismo presencial.

Web 2.0 (ou web social ou internet de leitura/escrita): tipo de rede social digital que permite uma postura ativa por parte do utilizador. Além de ler as informações, ele pode escrever conteúdos como artigos (posts) ou comentários sobre um blog e compartilhar informações pessoais e profissionais nas redes sociais digitais, como Facebook, Twitter ou YouTube.

Web 3.0 (ou web semântica): paradigma das redes sociais digitais que se baseia, entre outros dispositivos discursivos, em sites social-semânticos. Por exemplo, os sites Wikipedia, Freebase, Comunicação Pública da Arte.

Wikipedia: um site social semântico da web 3.0, apresentado na forma de um glossário digital global, onde cidadãos comuns podem definir ideias e conceitos, mesmo que avaliados por uma comissão da Wikipedia, dedicada a controlar algumas práticas e escritos antidemocráticos, como posturas racistas, notícias falsas, entre outros.

Recebido: 09 de Novembro de 2021; Aceito: 04 de Janeiro de 2022

Tradução: Pedro Andrade

Pedro Andrade é sociólogo e investigador da Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. Foi docente nas Universidades de Coimbra e Lisboa, em sociologia da cultura, comunicação, métodos sociológicos, humanidades digitais. Realiza pesquisas sobre culturas urbanas, comunicação artística, museus de arte/ ciência, letramentos, redes sociais digitais (web 2.0/web 3.0), metodologias/hibrimédia. Foi coordenador de projetos internacionais, por exemplo, Scientific-Technological Literacy and Public Opinion (Alfabetização Científico-Tecnológica e Opinião Pública; 2005, sobre os públicos dos museus de ciência) e Public Communication of Arts (Comunicação Pública das Artes; 2011, sobre os museus de arte e suas relações com os públicos, turismo, metodologia sociológica digital/virtual, interação hibrimédia, jogos, redes sociais, realidade virtual/aumentada), ambos financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Tem participação em redes universitárias internacionais, por exemplo, Universidade Comunitária de Virgínia, Estados Unidos da América; membro do projeto Manifesto Art and Social Inclusion in Urban Communities (Arte Manifesto e Inclusão Social em Comunidades Urbanas; Reino Unido). É o autor de vários livros e artigos científicos publicados em revistas internacionais e nacionais com revisão por pares, indexados em bases de dados bibliográficas globais (Web of Science, etc.). É o diretor da primeira revista científica luso-francesa, Atalaia-Intermundos (desde 1995). Email: pjoandrade@gmail.com Morada: Centro de Investigação em Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4750-057 Braga, Portugal

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