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Revista Crítica de Ciências Sociais

versão On-line ISSN 2182-7435

Revista Crítica de Ciências Sociais  no.120 Coimbra dez. 2019

https://doi.org/10.4000/rccs.9570 

ARTIGO

Bullying em adolescentes do 3.º ciclo: papel da vinculação aos pares no comportamento do agressor e da vítima

Bullying in Adolescents in Secondary School: Role of Peer Attachment on the Aggressor and Victim Behavior

Bullying chez les collégiens: le rôle de la relation aux pairs dans le comportement de l’agresseur et de la victime

 

Denise Dias*, Magda Rocha**, Catarina Pinheiro Mota***

* Departamento de Educação e Psicologia, Escola de Ciências Humanas e Sociais, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Edifício das Ciências Humanas e Sociais – Polo I. Quinta dos Prados – UTAD 5000-801 Vila Real, Portugal denisedias91@gmail.com

** Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde Rua Doutor António Bernardino de Almeida 541, 4200-450 Porto, Portugal psi.magdarocha@gmail.com

*** Departamento de Educação e Psicologia, Escola de Ciências Humanas e Sociais, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) | Centro de Psicologia da Universidade do Porto Edifício das Ciências Humanas e Sociais – Polo I. Quinta dos Prados – UTAD 5000-801 Vila Real, Portugal catppmota@utad.pt

 

RESUMO

A vinculação segura aos pares tem vindo a ser perspetivada na literatura enquanto fator protetor face ao envolvimento em comportamentos de bullying. O presente estudo testa o efeito preditor da vinculação aos pares nos comportamentos de bullying, avaliando se o sexo é moderador nesta associação. A amostra é constituída por 351 participantes de ambos os sexos, entre os 12 e os 17 anos de idade. Os resultados apontam para o efeito preditivo da vinculação aos pares nos comportamentos de vitimização, não se verificando um efeito moderador do sexo nesta associação. No que refere aos comportamentos de agressão, não foi encontrado valor preditivo da vinculação aos pares. Os resultados serão discutidos à luz da teoria da vinculação, considerando a relevância da qualidade da relação com os pares enquanto fator protetor em comportamentos desadaptativos de bullying na adolescência.

Palavras-chave: adolescência, bullying, comportamento desviante, prestação de cuidados, vitimização

 

ABSTRACT

A secure peer attachment appears in the literature as a protective factor against bullying behavior. The present study seeks to test the predictor effect of peer attachment on different types of bullying and to examine the mediating role of gender on the same association. The sample consists of 351 individuals of both genders, between the ages of 12 and 17. The results show the existence of a peer attachment predictive effect on victimization but does not reveal a gender moderator effect in this association. As for the aggressive behaviors, no predictive value of peer attachment was found. The results will be discussed and analyzed as the attachment theory, in order to understand the importance of peer attachment as a protective factor for maladaptive behavior in adolescence.

Keywords: adolescence, bullying, care delivery, deviant behaviour, victimization

 

RÉSUMÉ

La relation sûr aux pairs a été mis en perspective par la littérature en tant que facteur protecteur face à l’engagement dans des comportements de bullying. Cette étude se penche sur l’effet prédicteur du lien aux pairs face à l’engagement dans des comportements de bullying en évaluant si le sexe est modérateur de cette association. L’échantillon est composé de 351 participants des deux sexes, âgés de 12 à 17 ans. Les résultats montent l’effet prédictif du lien aux pairs dans les comportements de victimisation, aucun effet modérateur du sexe dans cette association n’étant constaté. Pour ce qui est des comportements d’agression, aucune valeur prédictive du lien aux pairs n’est à souligner. Les résultats seront sujet à débat à la lumière de la théorie du lien, en tenant compte de l’importance de la qualité de la relation avec les pairs en tant que facteur protecteur en matière de comportements désadaptant de bullying au cours de l’adolescence.

Mots-clés: adolescence, bullying, comportement déviant, prestation de soins, victimisation

 

Introdução

A ativação do sistema de vinculação encontra-se presente desde o nascimento (Ainsworth, 1967; Ainsworth e Bowlby, 1991; Bowlby, 1982 (1969)), no entanto deve prestar-se atenção à distinção teórica entre comportamento e laços de vinculação. O estabelecimento de uma relação de vinculação inicia-se com a procura de proximidade, processo independente da existência de vinculação em si mesma, obrigatória em qualquer tipo de relação humana. Por sua vez a vinculação surge do sistema comportamental inato em ordem a estabelecer uma relação afetiva e manter a proximidade a alguém capaz de prestar auxílio e cuidados perante situações hostis (Bowlby, 1982 (1969), 1988). Nos primeiros meses de vida assiste-se a uma procura de apoio e cuidados do bebé essencialmente para com a mãe (ou figura equivalente) em situações ansiogénicas, por exemplo de fome ou dor. A mãe (ou figura equivalente) ativa o sistema complementar comportamental de prestação de cuidados, cuja função é a sobrevivência da criança. Do relacionamento interpessoal que é suscitado pela interação entre o sistema de vinculação e de prestação de cuidados começam a construir-se e a serem internalizados modelos de si mesmo, do outro e do mundo, capazes de plasticidade mas que tendem a seguir o rumo inicial do seu estabelecimento (Bowlby, 1982 (1969)). É a disponibilidade e responsividade transmitida(s) pela(s) figura(s) de vinculação que permite a construção destas organizações internas dinâmicas, mais ou menos seguras, de acordo com a constância e qualidade dos cuidados prestados (Bowlby, 1982 (1969), 1988).

Bowlby (1973, 1988) destaca a importância que os modelos internos dinâmicos desempenham ao longo de todo o ciclo vital e não apenas na infância. Estas representações pessoais são suscetíveis de adaptação em etapas do ciclo vital sendo essenciais à sobrevivência física e psicológica que se constitui em adaptação biopsicossocial (ibidem). Se os vínculos que são estabelecidos têm uma qualidade segura, a criança sente que é possível explorar o mundo, na certeza de que a figura de vinculação estará disponível para o seu regresso ou agirá apoiando-a se algo correr menos bem (base segura quando confrontada) (Ainsworth, 1967; Ainsworth et al., 1978; Bowlby, 1982 (1969), 1988; Taylor, 2010). É por tudo o que acabou de ser referenciado acerca do sistema de vinculação e respetivas relações da mesma categoria, que existe a garantia de existência de processos autonómicos adaptativos (Ainsworth et al., 1978; Bowlby, 1973, 1988; Taylor, 2010).

Pese embora a vinculação se mantenha ao longo de todo o ciclo vital, o comportamento de vinculação apresenta alterações próprias a cada estádio desenvolvimental (Bowlby 1982 (1969); Taylor, 2010). Um período particularmente fértil a este nível é o da adolescência, período cuja principal tarefa do desenvolvimento é a busca de autonomia e independência em relação às figuras parentais (e.g. Mota e Rocha, 2012; Mounts, 2001; Ribeiro et al., 2012). O adolescente – que já antes tinha dado início a contactos em contextos relacionais distintos dos parentais, nomeadamente com pares (irmãos, primos e colegas) – estabelece agora relações com outros pares que estimulam o estabelecimento de novas relações (Bronfenbrenner, 1987) e um alargamento da rede social de relações passíveis de se tornarem em vinculações (Rocha, 2008). O direcionamento aos pares do mesmo sexo e de sexo oposto e, posteriormente, ao par amoroso são as figuras com as quais nesta fase o adolescente se identifica, quer pela similitude de experiências, quer pelas características do grupo alargado e restrito de pares (Mota e Rocha, 2012).

A maioria da literatura sugere a existência de um processo de transferência das funções de vinculação dos pais durante a adolescência (Fraley e Davis, 1997; Hazan e Zeifman, 1994; Mayseless, 2004; Meeus et al., 2002; Nickerson e Nagle, 2005). O modelo de transferência das funções de vinculação de pais para pares é estimulado e parece ser mais célere quando existem sentimentos de confiança e segurança transmitidos pelas figuras primárias de vinculação (ibidem). De acordo com os autores supracitados, este processo inicia-se pela transferência contínua da procura de proximidade e continua com a procura dos pares enquanto porto seguro, estando estabelecida uma relação total de vinculação quando se observam comportamentos e emoções associadas à base segura e ao protesto de separação (Hazan e Zeifman, 1994). Se por um lado os amigos passam a ser fonte de apoio e proteção, as figuras parentais não deixam também de o ser, salientando-se que é também pela manutenção das relações de vinculação com os pais que o adolescente se permite explorar o mundo social e consequentemente estabelecendo vínculos fora do contexto familiar (Delgado Gallego et al., 2011; Nickerson e Nagle, 2005). Rocha (2008) propõe, no entanto, que este processo não acontece através de uma transferência – justamente porque os pais se mantêm na rede social de vinculação –, mas antes através de um alargamento das redes de figuras de vinculação. A autora sustenta a perspetiva de que as figuras primárias de vinculação não deixam de desempenhar funções de vinculação durante a adolescência, mas que cada contexto relacional (mãe, pai, pares do mesmo sexo e sexo oposto e par amoroso) responde a necessidades e áreas de exploração subjetivas. De acordo com o modelo do alargamento da rede de vinculação, as figuras parentais continuam a ser fontes de segurança, confiança e proteção, embora se dê início à possibilidade de integração de outras figuras fora do núcleo familiar mais próximo, nomeadamente os pares, procurados para exercerem, também eles, funções de vinculação (Meeus et al., 2002). Os pares passam assim a ser fundamentais ao longo do processo do estabelecimento da identidade pessoal, sendo fontes de apoio emocional que permitem desenvolver e experimentar ensaios essenciais ao estabelecimento de relações de vinculação recíprocas na adultícia (Ribeiro et al., 2012).

As relações de vinculação com os pares são também – tal como qualquer relação de vinculação – pautadas por sentimentos de confiança, segurança e comunicação. Níveis elevados de confiança e comunicação sugerem a presença de laços afetivos seguros com os pares e, ao invés, a incapacidade de autonomia ou mesmo a fusão total com o outro par sugerem que a relação estabelecida é insegura (Armsden e Greenberg, 1987; Gorrese e Ruggieri, 2012; Gullone e Robinson, 2005; Pace et al., 2011). Por outro lado, verifica-se a existência de diferenças no estabelecimento destes laços em função do sexo. A literatura refere que as raparigas relatam ser mais confiantes e comunicativas na relação com os pares (sobretudo os do mesmo sexo) e, ao contrário, os rapazes parecem apresentar maiores níveis de alienação na relação com os amigos (e.g. Armsden e Greenberg, 1987; Gorrese e Ruggieri, 2012; Guarnieri et al., 2010; Gullone e Robinson, 2005; Pace et al., 2011).

Tal como na infância, é a qualidade dos laços afetivos presentes ao longo do desenvolvimento que vai permitido ao adolescente, ao adulto e ao idoso atualizar e reconstruir os seus modelos internos dinâmicos iniciais (Holmes, 2001). É a plasticidade dos modelos internos dinâmicos, atualizada relacionalmente, que se torna essencial no desenvolvimento e adaptação do adolescente enquanto membro do(s) seu(s) grupo(s) de pares (e.g. Laible, 2007; Laible et al., 2000; Mota e Matos, 2013; Tambelli et al., 2012; Tomé et al., 2011; Wilkinson, 2004). Mais ainda, a responsividade por parte das figuras de vinculação/pares e os sentimentos de segurança que dessa relação advêm permitem ao adolescente desenvolver sentimentos que, por serem positivos, são capazes de aumentar o grau de resiliência aquando de situações de vida adversas e, por isso, ansiogénicas (Mikulincer e Shaver, 2007; Ribeiro et al., 2012). Os adolescentes seguros tendem a criar modelos internos dinâmicos positivos que lhes permitem adotar comportamentos adaptados do ponto de vista social, regulando mais adequadamente os seus estados emocionais e mantendo sentimentos positivos e empáticos para com o self e com os outros (Laible, 2007; Laible et al., 2000; Gorrese, 2016; Gorrese e Ruggieri, 2012). Pelo contrário, os adolescentes cujos vínculos aos pares são inseguros manifestam mais dificuldades em lidar com as tarefas desenvolvimentais – características da fase da adolescência – estando, portanto, mais expostos ao risco da desadaptação, apresentando por vezes problemas de internalização e externalização ou envolvimento em comportamentos de violência escolar ou de bullying (Laible et al., 2000; Ribeiro et al., 2012; Simões et al., 2015).

A violência escolar e o bullying em particular têm vindo a ser cada vez mais estudados, dado o aumento de condutas dos adolescentes associadas ao bullying e tendo em conta as consequências psicológicas que acarretam, quer tratando-se das vítimas, dos perpetradores ou dos observadores. O bullying caracteriza-se por ser um qualquer comportamento violento, muitas vezes exercido em contexto escolar, sistemática e recorrentemente sobre alguém percecionado como mais fraco (Olweus, 1993). Este fenómeno ocorre muitas vezes independentemente da classe social das figuras parentais (AA. VV., 2010; Martins, 2005; Rech et al., 2013), embora surja associado à presença de desequilíbrios de poder extremos (AA. VV., 2009). Estes desequilíbrios podem dever-se ao aspeto físico, ao lugar ocupado no grupo de pares ou ainda ao tamanho do grupo onde se insere (Menesini e Salmivalli, 2017). O bullying pode ter caráter físico, verbal, psicológico, sexual e virtual, este último denominado também como cyberbullying (Almeida et al., 2008; Carvalhosa et al., 2002; Silva, 2010). Pode ser executado de forma direta ou indireta (Olweus, 1993), sendo que o bullying direto acontece quando praticado através de comportamentos que prejudicam diretamente os pares. Já o bullying indireto refere-se a comportamentos negativos exercidos de forma mais discreta, que conduzem na maioria das vezes a vítima ao isolamento do grupo de pares (ibidem).

No que concerne aos tipos de envolvimento em situações de bullying, os adolescentes podem desempenhar o papel de vítima, agressor, vítima/agressor e observador ou não envolvido (Martins e Castro, 2010; Sousa et al., 2011). É no sexo feminino que surge maior associação a comportamentos violentos de cariz verbal e condutas de vitimização, sendo no sexo masculino que a frequência de comportamentos mais físicos nas condutas agressivas é mais elevada (AA. VV., 2013; Bandeira e Hutz, 2012; Bauman et al., 2013; Beckman et al., 2013; Farrow e Fox, 2011; Freire et al., 2006; Marées e Petermann, 2010; Seixas, 2005, 2006; Silva et al., 2013).

São diversas as características que a literatura tem vindo a estudar e a reconhecer como associadas aos papéis de agressor e de vítima, no entanto, o lugar ocupado no grupo de pares e uma vinculação insegura aos mesmos parece ser comum a ambos (e.g. Bayraktar, 2012; Bruyn et al., 2010; Burton et al., 2013; Kokkinos, 2007; Nikiforou et al., 2013; Pouwels et al., 2018). Relações de vinculação seguras são baseadas no entendimento e respeito mútuos (You et al., 2015), qualidades que são contrárias às das relações caracterizadas pela agressão e vitimização. Se, por um lado, os adolescentes com ligações de proximidade afetiva com os pares parecem estar mais atentos e mais empáticos com o outro (ibidem) – sendo estes fatores essenciais para a ausência de bullying –, por outro lado, os adolescentes com vínculos inseguros podem apresentar dificuldades ao nível da regulação emocional, na adaptação e no relacionamento interpessoal e social, sendo mais suscetíveis de estar envolvidos em situações de bullying (e.g. Gorrese e Ruggieri, 2012; Igundunasse e Anozie, 2018; Laible, 2007; Laible et al., 2000), ou de outro modo, estes são fatores comuns quer a bullies, quer a vítimas.

As características que a literatura apresenta como sendo do agressor associam-se essencialmente a problemas de conduta e, consequentemente, a uma desadaptação ao meio (Nansel et al., 2001). No entanto, é notória a presença de alguma ambiguidade no que concerne ao lugar que estes intervenientes ocupam no grupo de pares. Embora alguma literatura aponte no sentido de bullies terem um nível elevado de popularidade entre os pares (Pouwels et al., 2018), outra indica que estes tendem a manter níveis de confiança e comunicação mais reduzidos no grupo de pares (Simões et al., 2015) e que, muitas vezes, são os adolescentes que se sentem excluídos e rejeitados aqueles que adotam comportamentos agressivos como forma de imporem ao grupo uma sensação de poder (Leary et al., 2006; Ruiz et al., 2009; Sentse et al., 2015). Nesta medida, o envolvimento em condutas de agressão pode ser entendido como uma reação comportamental ao lugar que o adolescente ocupa no grupo de pares (Sentse et al., 2015).

Também as vítimas manifestam características pessoais que se associam às experiências de insegurança na relação com os demais. Para além da presença de sentimentos de alienação, também a incapacidade de autonomização face às figuras parentais se encontra muitas vezes nos adolescentes vítimas de bullying. Embora também seja comum nos adolescentes inseridos na categoria de agressores e na categoria de vítimas/agressores, as vítimas podem ser caracterizadas pela sua impopularidade, insegurança e baixa autoestima, manifestando por vezes sintomatologia concomitante ansiosa e depressiva (Craig, 1998; Nansel et al., 2001; Martins, 2005; Pouwels et al., 2018; Salmivalli et al., 1996; Simões et al., 2015). Em associação, estas dimensões tornam o adolescente mais vulnerável, isolado socialmente e mais exposto à vitimização (Nansel et al., 2001; Rosário e Duarte, 2010; Yubero et al., 2010). A este propósito, Simões e colaboradores (2015) verificaram que a vinculação segura se apresenta enquanto um fator de proteção relativamente ao envolvimento em comportamentos de bullying. Nesse estudo, os adolescentes envolvidos em comportamentos agressivos apresentavam confiança e comunicação menores relativamente aos amigos e ao pai, enquanto comportamentos de vitimização foram mais associados a adolescentes cujos sentimentos de alienação eram mais elevados. Por seu turno, os adolescentes inseguros demonstraram maiores dificuldades relacionais com os pares, tendo existido evidência de ser um dos fatores subjacentes à vitimização.

Também Igundunasse e Anozie (2018) encontraram evidências empíricas de que o estilo de vinculação se encontra diretamente associado à envolvência dos adolescentes em comportamentos de bullying. Na sua investigação, e avaliando o estilo de vinculação aos pais e pares, os autores concluíram que adolescentes que mantinham vínculos seguros se encontravam menos envolvidos em situações de bullying, ao invés de adolescentes cujo estilo de vinculação era inseguro. Nesses últimos, foi possível constatar o acréscimo da sua envolvência em comportamentos de bullying, tal como aponta a generalidade da literatura. Assim, o presente estudo pretende compreender com maior profundidade a violência escolar/bullying em relação à qualidade das relações de vinculação estabelecidas e às relações prevalecentes na adolescência: as relações com o grupo de pares.

 

Objetivos e hipóteses

O objetivo geral desta investigação é o de estudar o efeito preditor da vinculação aos pares nas práticas de bullying, tendo em conta os grupos caracterizados como agressores e como vítimas e ainda considerando o efeito moderador do sexo na anterior associação.

Face ao objetivo geral, a hipótese formulada é a de que uma vinculação segura aos pares seja um preditor negativo do envolvimento dos adolescentes em comportamentos de violência escolar/bullying, nos contextos quer da agressão, quer da vitimização. Espera-se ainda que o sexo modere a associação entre as dimensões da vinculação aos pares estudadas e os comportamentos de bullying anteriormente referidos. Neste sentido, é expectável que a associação entre a qualidade dos vínculos estabelecidos com os pares e os comportamentos de vitimização sejam maioritariamente observados no sexo feminino. Já no que refere ao sexo masculino, espera-se um papel mais significativo na associação entre a qualidade de vínculos aos pares e a envolvência em comportamentos de agressão.

 

Método

Participantes

A amostra é constituída por 351 adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos de idade (M = 13.55, DP = 1.08), dos quais 144 (41%) são do sexo masculino e 207 (59%) do sexo feminino. Os participantes frequentam escolas do norte de Portugal, nomeadamente o 3.º ciclo de escolaridade (M = 8.12, DP = .80), sendo que 94 (26,8%) frequentavam o 7.º ano, 122 (34,8%) o 8.º ano e 135 (38,5%) o 9.º ano. Tendo por base a díade parental, 43 adolescentes (12,3%) reportam pertencer à classe social baixa, 173 (49,3%) à classe social média e 77 (21,9%) à classe social alta. A amostra foi recolhida por conveniência, tendo como critérios de inclusão a idade compreendida entre os 12 e os 17 anos e a frequência no 3.º ciclo do ensino básico.

Instrumentos

Questionário sociodemoGráfico – Este instrumento foi construído para efeitos da presente investigação de modo a facultar informações demográficas dos participantes, tais como a idade, o sexo, o grau de escolaridade e o nível socioeconómico das figuras parentais. Este último foi calculado tendo por base a profissão, os rendimentos mensais das figuras parentais e o número de elementos do agregado familiar.

Inventory of Parent and Peer Attachment (IPPA) – O IPPA foi construído por Armsden e Greenberg (1987) e adaptado em Portugal por Ferreira e Costa (apud Ferreira, 1998). Trata-se de um instrumento multifatorial de autorrelato que pretende avaliar a qualidade da vinculação aos pais (28 itens) e aos pares (25 itens), sendo que neste estudo apenas foi utilizada a versão pares. O IPPA foi desenvolvido para avaliar a confiança (e.g. “Os meus amigos ouvem aquilo que tenho para dizer”), a alienação (e.g “Sinto-me zangado(a) com os meus amigos”), e a qualidade da comunicação com os pares (e.g. “Quando discutimos algum assunto, os meus amigos consideram a minha opinião”). Apresenta assim uma estrutura fatorial de três dimensões, nomeadamente confiança (CONF), comunicação (COM), e alienação (AL). O formato de resposta é do tipo Likert, optando-se pela utilização da escala de resposta original em cinco pontos: 1 (Nunca) a 5 (Sempre). A análise de consistência interna no presente estudo apresenta um alfa de Cronbach de .71 quando o instrumento é utilizado enquanto medida global, sendo de .84 o alfa de Cronbach na dimensão confiança (CONF), .83 na dimensão comunicação (COM) e de .81 na dimensão alienação (AL). As análises fatoriais confirmatórias indicam um bom ajuste do modelo aos dados, à exceção do valor RMSEA e do rácio (χ2/gl) que se encontram um pouco acima do esperado (SRMR = .08, CFI = .95, RMSEA = .12, χ2(19) = 122.518, p = 0.00, χ2/gl = 6.45).

Questionário de exclusão social e violência escolar (QEVE) – O QEVE resulta de uma adaptação de um instrumento (elaborado por Diaz-Aguado, Arias e Seoane em 2004) realizada por Martins em 2009. Trata-se de um questionário de autorrelato cujo formato de resposta é uma escala tipo Likert que oscila entre 1 (Nunca) e 4 (Quase sempre). É constituído por três escalas que avaliam o envolvimento do respondente no fenómeno do bullying, quer como vítima, agressor e como observador. A escala relativa às condutas de vítima é constituída por oito itens distribuídos em dois fatores: exclusão social e agressão verbal (ESAVV) e agressão física (AFV). O mesmo acontece na escala relativa às práticas de agressão, composta por oito itens distribuídos por dois fatores relativos à exclusão social e agressão verbal (ESAVA) e à agressão física (AFA). As escalas do presente instrumento são constituídas pelo mesmo número de itens, no entanto, o bloco de itens relativos às condutas de observador é composto por três fatores: violência com agressão menor (VAMO); exclusão social e agressão verbal (ESAVO); e violência com agressão grave (VAGO).

Para o presente estudo optou-se por calcular as variáveis compósitas das subescalas referentes à agressão, vitimização e observação. Deste modo, foram encontrados valores de alfa de .90 para a totalidade do instrumento. Já no que se refere às escalas analisadas, os valores de alfa verificados foram de .85 na subescala vítima, .86 na subescala agressor e .93 na subescala observador. As análises fatoriais confirmatórias e respetivos índices de ajustamento indicaram que a estrutura fatorial do QEVE se replica na presente amostra (SRMR = 0.05, CFI = 0.93, RMSEA = 0.08, χ2(168) = 589.65, p = 0.00, χ2/gl = 3.51).

Embora medidas inicialmente as três subescalas que compõem o QEVE, no presente estudo optou-se por utilizar apenas as subescalas referentes a comportamentos de agressão e vitimização. Tendo em conta que o QEVE permite avaliar situações de vitimização/agressão ocasional, foram utilizados os critérios sugeridos por Martins e Castro (2010) por forma a estudar a população envolvida em comportamentos de bullying conforme sugerido na Tabela 1. A amostra foi caracterizada conforme as variáveis em estudo de acordo com a Tabela 2.

 

 

 

Procedimento

O presente projeto de investigação foi sujeito a aprovação por parte da Comissão de Ética da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e ainda submetido e aprovado pela Direção-Geral da Educação do Ministério da Educação.

Constituído o protocolo de investigação, procedeu-se à realização de uma reflexão falada para avaliar a adequação formal e semântica dos instrumentos do protocolo, bem como do tempo provável de administração dos questionários.

Este é um estudo de caráter transversal, com a recolha efetuada em escolas secundárias do norte de Portugal, nos distritos de Vila Real, Viseu e Porto. A população alvo foi retirada do universo dos alunos do 3.º ciclo que frequentam estabelecimentos de ensino público.

A aplicação do protocolo teve lugar em tempo letivo. Procedeu-se inicialmente ao envio de pedidos de autorização via e-mail aos Diretores dos Conselhos Executivos das diferentes instituições participantes. Posteriormente e obtidas as autorizações, foram realizadas reuniões – uma em cada instituição – de modo a dar conta da investigação e do protocolo a utilizar, respondendo ainda às dúvidas que pudessem subsistir.

Considerando a idade dos respondentes, foram entregues consentimentos informados aos alunos para anuência parental da participação dos seus filhos no estudo, sendo garantido o sigilo e o caráter voluntário da participação. No início de cada aplicação, os participantes foram instruídos acerca do preenchimento dos questionários e informados do caráter confidencial e voluntário da investigação.

 

Estratégia de análise de dados

No tratamento de dados recorreu-se à versão 20.0 do programa estatístico SPSS – Statistical Package for Social Sciences para o sistema operativo Windows. Posteriormente, e com o objetivo de normalizar a amostra, foram levados a cabo procedimentos de eliminação de valores extremos univariados e multivariados (vide Field, 2005). Testou-se então a normalidade das distribuições de acordo com as indicações de Maroco (2007) e Pallant (2005), tendo sido obtidos valores de assimetria e achatamento dos dados próximos a 0, no intervalo ótimo (-1;1). Procedeu-se ainda à análise da média em consonância com a trimmed mean, verificando valores aproximados de forma a cumprir os pressupostos de normalidade. Recorreu-se ainda ao teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo a significância obtida superior a .05. Complementarmente, a normalidade dos dados foi verificada recorrendo à interpretação de histogramas, q-qplots e boxplots.

As análises fatoriais confirmatórias de cada instrumento foram efetuadas com recurso ao programa EQS versão 6.1. Posteriormente, e no que se refere às análises relativas à associação entre as variáveis em estudo, as mesmas foram realizadas através de regressões múltiplas hierárquicas. Já o efeito moderador do sexo na associação em estudo foi testado através de análises de regressões com recurso ao programa macro PROCESS (Hayes, 2013).

 

Resultados

Para testar o valor preditivo da qualidade da vinculação aos pares na adoção de comportamentos de agressão ou vitimização no bullying foi criada uma variável compósita relativa à escala referente à adoção de condutas de vitimização e, posteriormente, foi criada uma variável compósita distinta relativa à escala que contempla comportamentos de agressão. Com efeito, relativamente à escala de vitimização procedeu-se ao somatório das subescalas constituintes da mesma (ESAV e AFV), efetuando-se de forma similar a variável compósita referente aos comportamentos de agressão com recurso às respetivas subescalas (ESAVA e AFA).

Levou-se a cabo uma regressão múltipla hierárquica cuja variável dependente indica os comportamentos de vitimização no bullying. Dois blocos foram inseridos na equação. O primeiro bloco a ser introduzido foi a variável sexo dos participantes e o segundo bloco incluiu as componentes de vinculação aos pares, nomeadamente comunicação, confiança e alienação. Os resultados indicaram que o sexo não apresenta contributos significativos para o modelo (F(1, 349) = .006, p = .941), não explicando qualquer variância (R2 = .00), não existindo por isso contributo individual para a explicação da variância do modelo (R2change = .00). Por sua vez, e relativamente ao segundo bloco, a introdução das componentes da vinculação aos pares permitiu perceber que estas se apresentam como um contributo significativo (F(4, 346) = 14.451, p = .000), explicando 14,3% da variância total (R2 = .143) e contribuindo individualmente com 14,3% para a variância do modelo (R2change = .143).

Após a análise do contributo de cada uma das variáveis independentes dos blocos introduzidos, constata-se que apenas duas apresentam uma contribuição significativa (p < .05) na predição de comportamentos de vitimização, sendo as mesmas mencionadas de seguida por ordem de importância: confiança (β = -.29) e alienação (β = .19) (vide Tabela 1).

Em seguida, procedeu-se à realização da regressão múltipla hierárquica, tendo como variável dependente comportamentos de agressão. Da mesma forma, foram introduzidos dois blocos: o bloco 1 com a variável sexo (enquanto variável dummy) e o bloco 2 com as três componentes da vinculação aos pares: comunicação, confiança e alienação.

No bloco 1, o sexo (dummy) apresenta contributos significativos (F(1, 349) = 6.38, p = .012), explicando 1,8% da variância total (R2 = .018) e apresentando um contributo individual de 1,8% para a variância do modelo (R2change = .018). No que diz respeito ao bloco 2, a vinculação aos pares contribui também significativamente para a explicação do critério (F(4, 346) = 5.14, p = .00), explicando 5,6% da variância total (R2 = .056) e contribuindo individualmente 3,8% para a variância do modelo (R2change = .038). Analisando o contributo individual das variáveis foi possível verificar a inexistência de contributos significativos, tal como reportado na Tabela 3.

 

 

Efeito moderador do sexo na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de vitimização e agressão

Com o objetivo de testar o efeito moderador do sexo na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de vitimização, procedeu-se à realização de uma regressão linear simples cuja variável dependente se refere aos comportamentos de vitimização. De notar que anteriormente foi centrada a variável independente – dimensões relativas à vinculação aos pares, nomeadamente confiança, comunicação e alienação de forma a controlar a multicolinearidade (Maroco, 2007, 2010). Foi criada uma variável resultante do produto da variável independente com a variável moderadora (vinculação aos pares x sexo).

Aquando da realização da regressão, no primeiro bloco foram introduzidas as dimensões da vinculação aos pares (confiança, comunicação e alienação) e o sexo e, no segundo bloco, as variáveis referentes ao produto das variáveis independentes com a variável moderadora (e.g. alienação x sexo). Analisando os resultados, verificou-se a ausência de significância no produto das variáveis, podendo concluir-se que o sexo não funciona como moderador na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de vitimização, pese embora se verifique um efeito preditor das variáveis separadamente, tal como se pode observar na Tabela 4.

 

 

No que concerne aos comportamentos de agressão foi igualmente realizada uma regressão com o objetivo de verificar o papel moderador do sexo na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de agressão.

O procedimento realizado foi idêntico ao da regressão anteriormente citada, tendo sido inseridos dois blocos. Desta forma, o bloco 1 contemplava as dimensões da vinculação aos pares (confiança, comunicação e alienação) e o sexo e, o bloco 2, as variáveis referentes ao produto das variáveis independentes com a variável moderadora (e.g. alienação x sexo). Os resultados apontam da mesma forma para a ausência de contributos significativos do sexo como variável moderadora, indicando que este não interfere na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de agressão (vide Tabela 4). Deste modo, e dada a ausência de significância nesta primeira testagem, não se procedeu ao segundo passo da testagem da moderação com recurso ao programa Macro PROCESS de Hayes.

 

Discussão

A presente investigação teve como principal objetivo testar o efeito da vinculação aos pares nos comportamentos de bullying durante a adolescência, especificamente no que refere a comportamentos de agressão e de vitimização.

Os resultados permitem perceber a existência de um efeito preditor da vinculação aos pares nos comportamentos de vitimização. Desta forma, verificou-se que a confiança prediz negativamente a envolvência dos adolescentes em condutas de vitimização enquanto a alienação exerce um efeito preditor positivo na envolvência dos alunos enquanto vítimas, o que seria expectável. Deste modo, sugere-se que, como referido anteriormente, de todas as dimensões relativas à vinculação aos pares estudadas, é a confiança e a alienação que se assumem como contributo fundamental aquando da envolvência do adolescente em situações de vitimização. São os sentimentos de confiança presentes nas relações afetivas com os pares que promovem sentimentos de partilha emocional, compreensão e ajuda ativa entre iguais. Por outro lado, a presença de sentimentos de alienação sugere a presença de sentimentos pejorativos face aos pares, fomentando por vezes o isolamento e a solidão. Assim sendo, a escassez de sentimentos de confiança nas relações entre iguais associada à permanência de fortes sentimentos de alienação sugere a presença de sentimentos de insegurança nos vínculos estabelecidos com os pares.

Relações com outros significativos pautadas por sentimentos de segurança promovem no adolescente capacidades comunicativas que facilitam quer o desenvolvimento de sentimentos empáticos, quer a exposição e partilha de questões emocionais com os demais (Mota e Matos, 2013). É a interação entre estes fatores que permite ao adolescente relacionar-se e adaptar-se socialmente, manifestando sentimentos de cariz positivo e empático com os pares (e.g. Gorrese e Ruggieri, 2012; Laible et al., 2000; Laible, 2007; Tambelli et al., 2012). Por outro lado, adolescentes inseguros tendem a evidenciar dificuldades relacionais (Ribeiro et al., 2012). Os pares, que nesta fase do ciclo vital são, geralmente, procurados como porto seguro (e.g. Nickerson e Nagle, 2005), podem não desempenhar essa função, deixando portanto de ser fonte de apoio e proteção emocional, física e social. Sugere-se assim que o isolamento do adolescente combinado com a escassez de apoio emocional, físico e social fomenta a existência de desequilíbrios de poder entre iguais, característica fundamental na concetualização do bullying (e.g. Olweus, 1993).

O adolescente transforma-se deste modo em alguém mais fragilizado e inseguro e, portanto, mais vulnerável à perpetração de comportamentos agressivos (e.g. Menesini e Salmivalli, 2017; Yubero et al., 2011). Desta forma, parece adequado perceber a qualidade de vinculação aos pares como fator protetor para a aquisição de comportamentos de vitimização. Nesta medida, a aceitação e o sentimento de pertença ao grupo de pares promovidos por relações de vinculação seguras constituem um fator protetor à envolvência do adolescente em condutas de bullying como vítima (Bruyn et al., 2010; Burton et al., 2013; Igundunasse e Anozie, 2018; Kokkinos, 2007; Pouwels et al., 2018; Simões et al., 2015; You et al., 2015; Yubero et al., 2010). Destaca-se o estudo de Nikiforou e colaboradores (2013) através do qual os autores observaram resultados concordantes aos da presente investigação, verificando a existência de um efeito preditor negativo da confiança, assim como um efeito preditor positivo da alienação em condutas de vitimização.

Ainda relativamente à predição de comportamentos de bullying, os resultados observados na presente investigação permitem perceber a ausência de um efeito preditor da vinculação aos pares na envolvência dos adolescentes em comportamentos agressivos, o que não seria de todo expectável dada a presença de literatura que contempla a efetiva existência desse efeito preditor (e.g. Bayraktar, 2012; Igundunasse e Anozie, 2018; Kokkinos, 2007). Sugere-se a possibilidade de tais resultados se encontrarem relacionados ao sexo dos adolescentes e ao tipo de envolvimento que estes mantêm no bullying. Se, por um lado, o sexo masculino se caracteriza como vivenciando as relações entre iguais de forma mais independente (Crosnoe e Elder, 2004; Cross e Madson, 1997), não exercendo estas um efeito direto nos níveis de satisfação que o adolescente mantém para com as suas vivências entre os 10 e os 16 anos de idade (Ma e Huebner, 2008), por outro lado, são os rapazes os que mais se encontram associados à perpetração de condutas agressivas (Carvalhosa et al., 2002; Seixas, 2005).

Desta forma, e tendo presente a independência característica das relações entre pares no sexo masculino, julga-se que pese embora a qualidade de vinculação aos pares se relacione com o envolvimento em condutas agressivas, no presente estudo não desempenha um fator preponderante no que refere à predição de comportamentos agressivos na faixa etária em análise. No entanto, mostra-se importante referir que, embora o estabelecimento de relações afetivas com as figuras significativas desempenhe primariamente um papel de relevo nas vivências do sexo feminino, com o decorrer do ciclo de vida, mais concretamente na fase da adultez emergente, as diferenças entre sexos tendem a esbater-se, verificando-se uma crescente capacidade de estabelecimento de vínculos entre pares por parte dos rapazes (Delgado Gallego et al., 2011).

Sugere-se, portanto, que nesta fase do ciclo vital, em que as relações com os pares são equacionadas de forma similar em ambos os sexos, a qualidade dos vínculos estabelecidos com os pares possa exercer um efeito preditor nas condutas agressivas, tal com indica a generalidade da literatura (e.g. Bayraktar, 2012). Por outro lado, o facto de a literatura ser consensual no que diz respeito aos comportamentos agressivos serem maioritariamente perpetrados em grupo (Martins, 2009; Martins e Castro, 2010) pressupõe a existência de vínculos entre alguns adolescentes bullies, mas não a existência de vínculos com todos os colegas, podendo assim anular o efeito preditor das variáveis consideradas. Ainda face a este resultado poderia apontar-se a eventual presença de outras figuras significativas de afeto (e.g. irmãos, figuras parentais, etc.) e a qualidade da vinculação com as mesmas, enquanto variáveis que poderiam ser mais significativas do que a relação com os pares na presente amostra, sendo desde logo relevante a sua testagem em estudos futuros.

Em suma, os resultados alcançados parecem ir ao encontro da conceção elaborada por Sentse e colaboradoras (2015), na qual as autoras encontram evidências empíricas da presença de uma associação mais significativa entre o lugar ocupado no grupo e a adoção de condutas de vitimização, não se verificando de forma tão significativa no que toca às condutas de agressão.

Verificou-se ainda a ausência de um papel moderador do sexo na associação entre vinculação aos pares e comportamentos de vitimização, podendo assim perceber-se que a vinculação aos pares – nomeadamente a confiança e a alienação – exercem um efeito preditor relativamente aos comportamentos de vitimização independentemente do sexo do adolescente. Tais resultados parecem associar-se ao facto de ambos os sexos experienciarem comportamentos de vitimização na presente amostra. Enquanto as condutas relativas a comportamentos agressivos se manifestam, de acordo com os resultados, em adolescentes do sexo masculino, as condutas de vitimização encontram-se presentes em ambos os sexos, como vítima simples no sexo feminino e como vítima/agressor no sexo masculino. Se, por um lado, o sexo feminino se encontra vulnerável a situações de vitimização dada a fragilidade física associada ao mesmo (Olweus, 1993), por outro, os rapazes tendem a agredir maioritariamente rapazes, envolvendo-os também assim no processo de vitimização (Bandeira e Hutz, 2012; Carvalhosa et al., 2002).

 

Implicações práticas, limitações e pistas futuras

Destacam-se, de seguida, as questões práticas alcançadas através da realização da presente investigação bem como as suas limitações. O presente estudo fornece um contributo importante em dois aspetos: em primeiro lugar, destaca o efeito preditor da vinculação aos pares nos comportamentos de vitimização; em segundo lugar, evidencia a ausência de moderação do sexo, sugerindo assim que quanto melhor a qualidade de vinculação aos pares, menos o adolescente se envolve em comportamentos de vitimização, sendo este um processo independente do sexo.

As limitações do presente estudo passam essencialmente pelo caráter transversal que o mesmo assume, não sendo possível estabelecer e compreender relações de causa-efeito. O uso de questionários de autorrelato surge também como uma limitação desta investigação, podendo a sua interpretação ser subjetiva. Destaca-se ainda a pertinência da realização de uma avaliação dos comportamentos de vinculação com as figuras primárias de vinculação e outros significativos, de forma a compreender na íntegra qual a sua contribuição no processo de vitimização e agressão. Sugere-se também a utilização de materiais de avaliação que contemplem todas as formas de vitimização e agressão, tais como o cyberbullying. Por último, salienta-se a importância da implementação de programas preventivos em ambiente escolar, fomentando o desenvolvimento de relacionamentos de qualidade entre pares. Sendo o contexto escolar o mais propício ao estabelecimento de vínculos com os pares, e estando estes diretamente relacionados com as condutas adotadas, destaca-se a necessidade e relevância de preparar e capacitar os agentes escolares (docentes e não docentes) para a promoção de competências comunicacionais, assim como para a redução/extinção de comportamentos negativos entre pares. A participação de todos (professores, auxiliares e alunos) nas tomadas de decisão de questões relativas à sua escola, assim como o aumento do diálogo entre si, potenciará uma estimulação constante de competências de comunicação. O aumento dos canais de comunicação permitirá aos alunos compreender a importância do ouvir e ser ouvido, do respeito mútuo e da aceitação da diferença, olhando para o outro de forma similar a si próprio. Estas características facilitarão o desenvolvimento de sentimentos de confiança nas relações entre pares, reduzindo simultaneamente a presença de sentimentos de alienação.

Também a implementação de dinâmicas de grupo em contexto de sala de aula, que permitam aos adolescentes desenvolver competências de expressão emocional, pensamento crítico e escuta ativa, parecem melhorar a interação social entre os pares e, consequentemente, constituir-se como uma medida preventiva de elevada eficácia. Destaca-se, assim, a importância do papel do professor em todo o processo. Adotar estratégias de aprendizagem cooperativa bem como priorizar o diálogo dão oportunidades aos alunos de comunicarem entre si de forma respeitadora e atenta ao outro, condições fundamentais à redução de comportamentos de bullying (Rey e Ortega, 2007).

 

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Artigo recebido a 05.02.2018 Aprovado para publicação a 27.06.2019

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