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Revista Internacional em Língua Portuguesa

Print version ISSN 2182-4452On-line version ISSN 2184-2043

RILP vol.36  Lisboa Dec. 2019  Epub July 29, 2021

https://doi.org/10.31492/2184-2043.rilp2019.36/pp.9-10 

Memórias

Profa. Dra. Amélia Arlete Dias Rodrigues Mingas, em memória

Orlando Manuel José Fernandes da Mata1 

1Presidente da AULP-Brasil


Angola e a lusofonia lamentam o falecimento da conceituada linguista Amélia Mingas, e desde logo, também a Associação das Universidades de Língua Portu- guesa junta o seu pesar às demais manifestações e mensagens pelo falecimento da Professora Doutora Amélia Mingas.

Oriunda de uma família de prestigiados músicos angolanos, com destaque para o seu tio, Liceu Vieira Dias, e os irmãos Rui e André Mingas, Amélia Arlete Dias Rodrigues Mingas nasceu na Rua do Carmo no município da Ingombota em Luanda em 1946, era filha de André Rodrigues Mingas e de Antónia Diniz Vieira Dias. Fez a instrução primária na Escola n.º 8 e os estudos secundários nos Liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia, respectivamente.

Nacionalista convicta, Amélia Mingas licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Forçada a abandonar os estu- dos nos anos 70, juntou-se à luta armada de libertação nacional, no Congo-Bra- zzaville, onde se encontrava quando ocorreu a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974 em Portugal, tendo em 1975, regressado a Angola, seu país natal.

Em 1995 faz o doutoramento em Linguística Geral e Aplicada na Universi- dade René Descartes, em Paris, França.

Com uma extensa experiência profissional ao serviço da educação, Amélia Mingas, como era carinhosamente chamada, foi professora do Ensino Secundário em Angola, tendo sido coordenadora de Língua Portuguesa no Instituto Médio de Educação de Luanda.

Amélia Mingas traçaria uma notável carreira como docente e investigadora, que na qualidade de Professora Titular e, posteriormente Catedrática, leccionando e investigando matérias ligadas a língua portuguesa. Foi a decana da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto. Como professora e investigadora, coordenou e chefiou a secção e o departamento de Língua Portuguesa do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) da Universidade Agostinho, cabendo igualmente a ela, a introdução da cadeira de Linguística Bantu na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.

Como investigadora apresentou importantes contribuições à questão da influência das línguas africanas no português, um estudo que culminou com a

obra por si escrita em 2000 e intitulada “Interferência do Kimbundu no Português Falado em Lwanda”, obra que explica a influência da língua nacional Kimbundu na língua portuguesa.

Amélia Mingas exerceu também, entre 2006 e 2009, o cargo de Directora do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) sediado na cidade da Praia, capital de Cabo Verde, entre 2006 e 2009, tendo defendido uma política global para a língua portuguesa, assente no respeito e no enquadramento das influências de cada país na estrutura formal do Português.

Defendeu de igual modo, a necessidade de se estudar e inventariar, à medida que a língua portuguesa evoluiu nos países lusófonos e foi a precursora da ideia de que os Estados membros da CPLP deveriam adoptar uma política linguística, que definisse o Estatuto de Língua Portuguesa nos respectivos países, em função da coexistência do português com as outras línguas locais, bem como ver o que realmente interessava fazer, na medida em que o português é a língua comum de oito Estados.

Na qualidade de directora do IILP, coordenou cinco Coletâneas da Literatura Oral da CPLP em Língua Portuguesa. As obras bilingues (português e crioulo) abrangem parte do acervo de contos, adivinhas e provérbios dos países-membros da CPLP e são dirigidas ao público jovem, aproximando os povos que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa em torno daquilo que têm de mais genuíno e autêntico.

Do seu perfil profissional, reportamos também o facto de ter sido responsável pelo Instituto Nacional de Línguas do Ministério da Cultura da República de Angola.

Amélia Mingas exerceu nos últimos anos da sua vida a actividade de docente da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto em Luanda, onde veio a fale- cer no dia 12 de Agosto de 2019, aos 73 anos de idade, vítima de paragem cardíaca, deixando um profundo vazio no seio da Comunidade Académica da Lusofonia.

Enquanto Presidente da AULP, Reitor da Universidade Mandume Ya Nde- mufayo, Angola, quis assim deixar neste número da Revista Internacional em Língua Portuguesa (RILP) estas breves palavras escritas em sua memória e reconhecimento pelo percurso cívico e académico singulares para a construção e expressão linguística da lusofonia. Para tal, a AULP não esquece a dedicação, força impulsionadora e contributo para a elaboração deste número 36 da RILP, no qual a Professora Doutora Amélia Mingas inicialmente colaborou enquanto editora científica. Fica, assim, para memória futura uma das últimas colaborações científicas da Professora Amélia Mingas com a Associação das Universidades de Língua Portuguesa. Somos gratos pela sua obra.

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