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CIDADES, Comunidades e Territórios

versão On-line ISSN 2182-3030

CIDADES  no.30 Lisboa jun. 2015

https://doi.org/10.7749/citiescommunitiesterritories.jun2015.030.art06 

ARTIGO ORIGINAL

 

Fala Fallet: As memórias de um grupo de idosos de uma favela em Santa Teresa, Rio de Janeiro.

Fala Fallet: memories from an elderly group, residents in a slum of Santa Teresa´s quarter, in Rio de Janeiro.

Silvana BagnoI; Sérgio Luiz Pereira SilvaII; Diana Souza PintoIII

[I]Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Brasil. e-mail: silvana.memoriasocial@gmail.com.
[II]
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Brasil. e-mail:slps@uol.com.br.
[III]Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Brasil. e-mail: dianap@globo.com.

 




RESUMO

Este artigo objetiva investigar as mudanças pelas quais o Fallet vem passando ao longo dos anos, com base na análise das narrativas de um grupo de idosos moradores, reunidos para uma entrevista de pesquisa em grupo, que tematizou as memórias dos entrevistados sobre o local. Após a transcrição do grupo focal, as narrativas foram agrupadas em blocos temáticos e analisadas à luz da análise de narrativa (Riessman, 2008). Suas narrativas, memórias e experiências revelam um forte pertencimento e identificação com o lugar. Através de suas narrativas, os entrevistados vêm se construindo discursivamente como homens-memória, empenhados em difundir os lugares de memória, atualmente presentes apenas em suas lembranças (NORA, 1993).

Palavras-chave: narrativas; memórias; identidade; pertencimento; favela.


ABSTRACT

Taking into account ways of listening to speech memories from an elderly group, which are residents in a slum of Santa Teresa´s quarter, in Rio de Janeiro, a Brazilian city, as well as, getting to know what the scientific literature describes about favelas, it is possible to get an idea of how strong social prejudices are and the discriminatory treatment given to their residents. The term currently used as ‘favelado’ (squatter) contained strong pejorative connotation. Later, some of these territories have been being controlled by drug trafficking gangs and their residents, indiscriminately, even today, are seen as criminals. Because of that, these people suffer constant abuse by police. Nowadays, there are installing Pacifying Police Units (UPP) in slums, taking back the territorialized control under local drug trafficking domain, public and private actors, many essential services arrive and begin, social, sporting and cultural. This article aims to discuss the changes that the slums in general have been going over the years, and specifically how they affect the identity of this group of seniors, a process that may be glimpsed through their narratives.

Keywords: memories; slum; social and spatial segregation; social discrimination; urban violence.


 

Introdução

Pretende-se investigar, neste artigo que apresenta parte de uma pesquisa de doutorado no Programa de Pós-graduação em Memória Social, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), como as memórias, experiências e configurações identitárias dos moradores do Fallet, cujos familiares mudaram-se para a região desde os seus primórdios, são construídas na interação entre eles e enunciadas em suas narrativas.

De acordo com suas narrativas, a alteração nesta conceituação do Fallet, de bairro para favela, deve-se às mudanças que foram ocorrendo ao longo dos anos no desenvolvimento socioeconômico e cultural desta área, sobretudo em virtude do processo de favelização, nos anos 1960-70, da territorialização pelo narcotráfico, no final dos anos 1970-80 e instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) [4], em 25 de fevereiro de 2011.

Assim, consideramos relevante indagar como todas essas mudanças vividas pelos antigos moradores, descendentes dos pioneiros locais, assim como suas memórias e experiências, presentes em suas narrativas, influenciaram suas configurações identitárias e o sentimento de pertencimento ao lugar.

O Fallet está localizado na Zona Central da cidade do Rio de Janeiro. Pode-se adentrar nessa favela pelos bairros do Rio Comprido ou por Santa Teresa. A região do Fallet/Amavale (Associação de Moradores e Amigos do Vale) pertence à Área de Planejamento I, Região Administrativa XXIII, Santa Teresa, segundo dados da Secretaria Municipal de Governo, Prefeitura do Rio de Janeiro [5]. O morro do Fallet possui cerca de 4500 habitantes e na região do Fallet Amavale há cerca de 490 moradores.

As questões que norteiam esta pesquisa decorrem de uma escuta atenta ao discurso de um grupo de idosos, filhos e netos dos primeiros habitantes da região, que afirmam recorrentemente que o lugar onde eles habitam era um bairro e não uma favela. Tal conceituação lhes é muito cara, possuindo uma grande significação para eles, que demonstram um forte anseio por restituir o caráter de bairro a este lugar.

O corpus desta pesquisa consiste em dois Grupos Focais, cujas entrevistas foram realizadas baseadas em um roteiro de perguntas abertas, previamente definidas, segundo um tópico-guia. Assim, aos participantes das entrevistas grupais foi perguntado: 1) Para você, o que é ser morador do Fallet? 2) O que de melhor e de pior tem no Fallet? A Metodologia de Análise de dados envolve a Seleção, Organização e codificação dos dados em categorias.

Esta pesquisa foi submetida à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO e, a partir de sua aprovação, os participantes dos Grupos Focais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o Termo de Autorização de Cessão de Direito sobre Depoimentos Escritos/Imagens, de acordo as exigências do referido Comitê. Ressaltamos que utilizamos pseudônimos com o intuito de preservarmos a identidade dos participantes da pesquisa.

Acreditamos que o clima de confiança, descontração e entrega que marcou o Grupo Focal masculino tenha ocorrido em virtude da experiência de uma das autoras e professora do PPGMS/UNIRIO, Diana Pinto, em condução de entrevistas grupais, aliado ao fato da primeira autora do artigo já ser conhecida pelos entrevistados.

Percebemos nos participantes das entrevistas grupais, um forte desejo de reconhecimento, de valorização e respeito ao lugar aonde vivem. Suas narrativas acerca da vida local são um convite para desconstruirmos o preconceito e a discriminação com que as favelas e seus moradores foram vistos ao longo de mais de um século.

O anseio do grupo por reconhecimento nos remete ao discurso veiculado desde o surgimento das primeiras favelas, no final do século XIX, quando essas eram representadas como sinônimo de criminalidade - cujo significado, nessa ocasião, era o de "invasão ilegal do terreno alheio". Somente a partir da década de 1980, esse termo passou a significar violência urbana, crimes violentos, em geral praticados pelos traficantes de drogas, assim como pela polícia em ação nas favelas (Velho, 2000; Gomes et al, 2006; Maiolino, 2008; Campos, 2011).

Mas, ao lado dessa imagem negativa, frequentemente disseminada, nos últimos 30 anos, as favelas passaram a ser consideradas, política e socialmente, uma solução para os problemas de habitação para as populações mais pobres. Acadêmicos, pesquisadores, artistas, arquitetos, dentre outros, têm contribuído para um novo olhar sobre esse segmento da população, valorizando o capital cultural local (Valladares, 2005; Gomes et al, 2006; Maiolino, 2008).

Tal perspectiva vai ao encontro das expectativas e desejos de nossos entrevistados. O grupo de idosos do Fallet quer, acima de tudo, falar. Narrar sua história, suas origens, seu passado glamouroso, seu patrimônio humano, cultural e desportivo, suas perdas; em suma, transmitir suas memórias àqueles que não tiveram essa experiência (Nora, 1993). Precisam, acima de tudo, esclarecer a identidade espacial do Fallet e, por conseguinte, a sua própria (Gupta e Ferguson, 2000; Elias e Scotson, 2000).

 

O que nos contam os moradores do Fallet...

A escuta das narrativas de moradores idosos[6] do Fallet, em Santa Teresa se deu no Instituto Social Petra / Nando é Vida, situado ao lado da Amavale (Associação de Moradores e Amigos do Vale), ao participarem de um Grupo Focal, com a presença de duas mediadoras, autoras deste artigo, doutoranda e sua co-orientadora no Programa de Pós-graduação em Memória Social (UNIRIO).

De acordo com Flick (2004), os grupos focais favorecem, pela interação mais próxima da vida cotidiana de seus participantes, a rememoração de dados do passado, que possam contribuir para uma memória coletivamente partilhada e construída (HALBWACHS, 1990).

Os Grupos Focais foram organizados intergeracionalmente e distintos por gênero, com a participação de até quatro idosos descendentes dos primeiros habitantes do Fallet Amavale e de um a dois integrantes de gerações mais novas. A fim de que os temas do tópico-guia pudessem ser debatidos abertamente e as diferenças de opiniões, vivências, percepções e memórias distintas viessem à tona, elaboramos previamente um roteiro de perguntas abertas que constituíram o tópico-guia. Para a finalidade deste artigo, nos deteremos nas narrativas obtidas no Grupo Focal Masculino apenas.

O grupo teve duração de uma hora e cinquenta e cinco minutos, foi gravado em áudio e transcrito inicialmente por mim e revisto por um segundo transcritor. Participaram deste grupo focal, quatro idosos e um adulto, com idades entre 53 e 86 anos. Em ordem decrescente de idade:

Joaquim (apelido Juca), 86 anos, é o mais velho do grupo. Aposentado, trabalhava "atendendo chamados" (sic), o que o levou a percorrer vários morros e bairros da cidade. Pertence à segunda geração do Fallet e seus filhos e netos todos moram lá. Apontado pelos amigos como "peralta", assume que "aprontou muito" desde a infância, relata vários episódios em que, por brincadeira e diversão, causou confusão.

Walter (apelido Coelho), 75 anos, é servidor público aposentado. Pertence à segunda geração do Fallet. Foi o fundador e primeiro presidente da Associação de Moradores e Amigos do Vale (Amavale). Quando mais jovem, organizava e financiava com recursos próprios, passeios e festas para as crianças. Em ocasiões de conflitos e doenças, a comunidade recorria a ele, que também fazia os enterros dos moradores assassinados pelo tráfico.

Hélio (apelido Helinho), 68 anos. Soldador aposentado, já foi presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa (AMAST) e está em seu segundo mandato como vice-presidente da Associação de Moradores e Amigos do Vale (Amavale). Terceira geração de moradores do Fallet, onde seus filhos e netos também habitam. Muito ativo e atuante na comunidade, "briga" (sic) pela participação dos moradores nas decisões comunitárias, pela questão ambiental, saúde e educação.

Joel, 62 anos. Trabalha em uma indústria de bebidas. Membro da diretoria da Associação de Moradores e Amigos do Vale, Amavale, faz a ponte entre esta e o alto do morro onde mora, divulgando ações, eventos, reuniões e informando os problemas e reivindicações dos moradores à Associação. Neto da Dona Rosa, que partejou quase todos os moradores nascidos no Fallet e deixou enorme descendência.

Cláudio (apelido Cacá), 53 anos. Pertence à terceira geração de moradores. Atual presidente da Associação de Moradores e Amigos do Vale (Amavale) e diretor do Instituto Petra / Nando é Vida e, assim como sua mulher, Rosana, devota-se ao trabalho realizado com as crianças da região.

Característica comum a todos os participantes do Grupo Focal masculino é o fato de todos eles terem nascido no Fallet e, assim como os seus pais, foram criados todos juntos, amigos de infância. Suas propriedades foram compradas pelos seus avós. Outro ponto em comum é o fato de todos eles terem nascido pelas mãos da "vovó Rosa", parteira do local e avó de Joel. Os três mais velhos estão aposentados. À exceção de Cacá, o caçula do grupo, todos disseram que só deixarão o Fallet na hora de sua morte, embora este tenha dito que sairia de lá se ganhasse na Megasena, mas manteria sua casa no Fallet e ficaria indo "cá e lá".

As sessões a seguir foram elencadas a partir da organização das narrativas dos entrevistados no Grupo Focal masculino em Blocos Temáticos. Estes, por sua vez, foram eleitos de acordo com a pertinência em relação às perguntas de pesquisa. Buscávamos compreender como as pessoas se relacionam com aquele espaço. Em síntese, a pergunta que orienta esta investigação é: Como o espaço opera na memória, na construção narrativa dos entrevistados?

 

As Origens do Fallet e suas Tradições

Segundo os relatos dos entrevistados, o Fallet era um loteamento datado de 1922, que foi se constituindo como um bairro tradicional que, inicialmente, abrigava imigrantes.

Eles contam que no início do século XX, na Rua Fallet, instalou-se um clube fechado, fundado por um grupo seleto de moradores, que se constituíram em 30 sócios-proprietários – o Clube dos Trinta. O clube, denominado Associação Atlética Fallet, situava-se onde hoje está instalada a Associação de Moradores e Amigos do Vale, a Amavale. Era neste local que ocorriam os bailes de gala a que eles sempre se referem com tanta ênfase. O clube recebia grupos de Bossa Nova e outros famosos na época, como o The Fevers.

COELHO: (...) aqui tinha a Associação Atlética Fallet. Que era, olha bem, era um espaço reservado para trinta pessoas. Era uma elite ali, trinta pessoas. Era o clube (...)

CACÁ: Trinta sócios proprietários e era pra eles e pra família

JUCA: Eles compraram, fizeram o clube...

O bairro, segundo seus relatos, destacava-se também nos esportes e na cultura: tinham um time de futebol, um time de basquete campeão, "o melhor grupo de teatro amador do Rio de Janeiro" e dois blocos carnavalescos; um deles desfilava na Avenida Rio Branco e se consagrou em muitos carnavais. Além disso, havia uma fábrica de biscoitos e uma de calçados, que empregaram muitos moradores no passado, a última localizada onde atualmente está situado o Instituto Petra/ Nando é Vida.

COELHO: Isso aqui era uma fábrica de sapatos... Fábrica de sapatos Mafra

DIANA: Mafra?

COELHO: É. Deu muito emprego as questões sociais da comunidade naquela época

CACÁ: Já foi serralheria...

SILVANA: Já foi serralheria?

HELINHO: Tem o bloco também

JOEL: Escola de samba.

JOEL: Paraíso da Floresta, né? Paraíso da Floresta

Além disso, os idosos entrevistados relatam que, no passado, eles se reuniam na noite de São João, festejando durante toda a madrugada. Faziam uma grande fogueira, soltavam balão e iam de casa em casa, até o amanhecer.

HELINHO: (...) O Juca, que sempre fez festa de São João, entendeu? Quer dizer, isso tudo mudou muito pra pior. Aqui, em época de São João, esse aqui todo ano ele fazia uma fogueirinha e ele ficava soltando balão de hora em hora, a noite toda, fazendo balão caixa a noite toda. Então nós íamos de casa em casa, tomar uma bebidinha, comer um salgado, ficar até de manhã, até o dia amanhecer (...)

As narrativas acima, carregadas de emoção, expressam certo saudosismo destes antigos moradores, em relação ao modo de vida estabelecido na região, antes de se instalarem os fatores por eles apontados como responsáveis pelas mudanças que resultaram no fechamento do clube e consequentemente, na extinção das atividades socioculturais e desportivas que os agregavam, além do fechamento da fábrica. Assim, estes idosos vivenciaram uma gradativa redução do seu poder aquisitivo e em seus usos e costumes em comunidade.

Por sua vez, Coelho, que desde jovem empenhou-se em mobilizar os moradores para o debate e a união de todos em prol da comunidade e cujas ações sempre abrangeram a totalidade da região (que ele refere como Complexo do Fallet, Fogueteiro e Beco Ocidental), explica que a Associação de Moradores do Fallet foi fundada a partir de uma mobilização de trezentos moradores, devido à iminência de desapropriação dessas famílias pela Light para a colocação de torres que conduziriam energia para a Zona Sul. Coelho esclarece ainda que a sede da Associação não era onde ela se localiza atualmente, pois ela foi fundada numa área considerada favela:

COELHO: A sede dela (Amavale) foi lá em cima na Manoel de Abrantes. Aonde aqui via como favela.

SILVANA: Ou seja, a Amavale foi fundada numa área que pra vocês é considerada como favela.

Observamos, a partir dos segmentos acima, uma intenção dos entrevistados em salientar que o lugar onde habitam é um bairro, outrora próspero, em termos culturais, sociais e com potencial econômico. Assim como, expressam o propósito de diferenciá-lo da favela que foi se constituindo em outra parte do morro. Poderíamos considerar que este empenho em situar o lugar onde habitam enquanto parte da cidade se deva à necessidade de não sofrerem a estigmatização com que as favelas e seus moradores são considerados?

Por sua vez, inferimos nestes relatos, um intenso desejo de resgatar parte deste passado. Em que medida suas narrativas expressam o desejo - e a impotência para realizá-lo - de recuperar o modo de vida, o poder aquisitivo, a cultura e suas tradições? Neste caso, estariam eles buscando recuperar, a partir de suas narrativas, parte de sua história e com ela, parte de suas experiências e de suas identidades, vividas no passado?

 

Relação com o Lugar

No segmento abaixo, Diana apresentou-se ao grupo como professora da UNIRIO, colocando em cena, a apresentação dos demais participantes:

DIANA: Sou professora universitária lá no Programa de Memória Social da UNIRIO, já trabalho lá há uns sete anos, mas já trabalhei no Município, já trabalhei em escola particular, enfim, e agora estou na universidade e estou ajudando a Silvana nesse trabalho agora. Quem quer continuar aí a se apresentar?

Em seguida, os entrevistados apresentaram-se um a um, construindo-se discursivamente (Reissman, 2008) sinalizando um forte pertencimento ao Fallet e ao grupo, onde se sentem profundamente enraizados. Nota-se a importância do lugar em suas narrativas, o qual é projetado discursivamente na interação entre eles, como uma "dádiva de Deus", "uma benção", o "seu mundo". Por esse motivo, lutam para resgatar a condição de bairro a este lugar amado e, segundo sua ótica, invadido e favelizado pelos novos habitantes em condições socioeconômicas desiguais e desfavoráveis.

COELHO: Eu sou nascido e criado aqui na comunidade (...) Então, aqui é o meu mundo, aqui estão minhas raízes, aqui estou criando a minha família, daqui não saio, daqui ninguém me tira.

Helinho, ao se apresentar, explicita a sua relação com o lugar e o que morar no Fallet significa para ele.

HELINHO: Eu sou Hélio Neto. Nasci aqui e moro aqui em Santa Teresa, nessa região, sou soldador, e sou vice-presidente da Associação. Pela segunda vez eu participo, já participei também da AMAST como diretor, que é a associação do bairro todo, né?

Em sua apresentação, Helinho ressalta que nasceu em Santa Teresa, demarcando o lugar onde ele e gerações de seus familiares habitam, enquanto um bairro da cidade do Rio de Janeiro, destacando que o mesmo possui excelente localização - na Zona Central da cidade (vide abaixo). Além disso, Helinho nos oferece referências de que possui uma posição de relevância, tanto na comunidade, quanto na sociedade, pois possui uma profissão valorizada no mercado (soldador). O narrador, continuando sua auto-apresentação elogiosa, apresenta-se como "vice-presidente da Associação, pela segunda vez" atestando, assim, o reiterado reconhecimento da comunidade, que o reelegeu. Para finalizar o elenco de ações socialmente legitimadas e valorizadas, ele foi também diretor da Associação de Moradores do bairro de Santa Teresa.

E em resposta à pergunta proposta por Diana, sobre "o que há de melhor e de pior no Fallet", Cacá destacou a sua excelente localização:

CACÁ: O que há de melhor aqui é a localização da comunidade. Nós estamos aqui em Santa Teresa, com esse ar maravilhoso, com essa vista maravilhosa. (...). Estamos perto do Centro, do Sambódromo, do Maracanã, da Zona Sul. Então, a localização nossa aqui é excelente.

O Fallet é igualmente apontado por Helinho como parte de Santa Teresa, logo no início da entrevista grupal, quando ainda está se apresentando.

HELINHO: A gente mora no centro, tem tudo, entendeu? Então eu acho que tem tudo para o Rio de Janeiro voltar a ser o que era e Santa Teresa também.

Em razão da minha atuação no campo por quase três anos, testemunhei por diversas vezes, a ênfase com que eles se referem ao lugar como o bairro de Santa Teresa, pertencente à Zona central da cidade do Rio de Janeiro. E não apenas oralmente, mas também comprovando esta condição através dos carnês de IPTU pagos por eles e da escritura de suas casas. Deste modo, observamos que há de fato, nesses segmentos, a intenção de demarcarem a sua condição de moradores da cidade. Inferimos que isso se deva ao desejo de se diferenciarem da condição de moradores de favela, uma vez que, desde o surgimento das mesmas, no início do século XX até os dias atuais, estes sejam vistos de modo discriminatório e preconceituoso pelos moradores do "asfalto". Tal cisão e estigmatização podem ser comprovadas pelos dados da recente pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e publicados pela Agência Brasil, em fevereiro de 2015, revelando que "47% dos cidadãos do asfalto nunca contratariam, para trabalhar em sua casa, uma pessoa que morasse em favela"[7].

Pode-se observar, ao longo do tempo, uma alternância nos discursos veiculados sobre as favelas no Rio de Janeiro, que ora as enalteciam, ora as denegriam, assim como a seus moradores, representados como criativos, solidários, ou como vagabundos e marginais. E, uma vez que os discursos criam a realidade e são tomados como tal (Butler, 2004), ao sermos chamados por um nome insultante, somos menosprezados e degradados.

Por outro lado, quais os efeitos sobre as identidades dos moradores de um processo de valorização e de "inclusão das favelas à cidade formal", quando o Plano Diretor da Cidade, em 1992, passou a dar prioridade à urbanização das favelas e propôs uma mudança na sua denominação, categorizando-as como 'bairros populares' (Maiolino, 2008: 102)? Em que medida essa outra denominação do espaço refletiu-se em suas narrativas sobre o local onde habitam? Estas teriam repercutindo positivamente em sua identidade e em suas memórias?

Entretanto, apesar da mudança de terminologia e da urbanização das favelas com vistas à inclusão territorial, ocorrida nos anos 1980, observa-se, nas grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e em outras metrópoles, a manutenção dos discursos que lhes atribuem sentidos relativos a locais onde se concentra a pobreza urbana ou a espaços destinados à segregação e exclusão; seus moradores, marginalizados, recebem um tratamento diferenciado, social e espacialmente e, inclusive, o acesso aos bens e serviços urbanos lhes é negado (Véras, 2003; Valladares, 2005; Gomes et al., 2006; Maiolino, 2008; Campos, 2011).

Além disso, de acordo com a definição de favela proposta pelo Observatório de Favelas[8] (2009), esta é um território constituinte da cidade, que se caracteriza por forte estigmatização socioespacial, alta densidade de habitações e apropriação social do território para fins de moradia. E talvez esta seja uma das razões da recorrente demanda dos entrevistados de se denominar o Fallet Amavale, ou seja, a região comprada pelos seus antepassados e onde eles nasceram e cresceram, como o bairro de Santa Teresa. Sobretudo porque, conforme comprovação documental, essas terras foram compradas, escrituradas e tributadas.

 

A Convivência na Comunidade e a Experiência de Lugar

Segundo os relatos dos entrevistados, seus antepassados foram os primeiros habitantes do Fallet, mudando-se para lá desde os primórdios da sua fundação. Esses pioneiros tornaram-se grandes amigos – amizade esta que vem se perpetuando por gerações. Em resposta a nossa pergunta sobre "o que para cada um de vocês significa ser morador do Fallet?", Helinho nos conta que:

HELINHO: A nossa história aqui começa com os nossos avós. Eles compraram o terreno. Aí nossos pais foram criados juntos. Hoje, eu que sou neto... estamos sendo criados todos juntos. Então, nós se conhecemos desde garotos (...) E nós, a vida toda nós juntos aqui, os nossos avós, depois os pais, os netos, os netos deles...

Há em todas as narrativas, uma forte ênfase no que significa para eles morar no Fallet, destacando-se como um dos pontos principais a convivência entre eles - vizinhos e amigos. Ainda em resposta à pergunta anterior, Coelho afirma que:

"Pra mim, morar aqui, no Complexo do Fogueteiro, né? Que é composto pelas comunidades do Fogueteiro, Fallet e Beco Ocidental, que nem já falou anteriormente o Juca, é uma dádiva de Deus mesmo e eu sempre agradeço a Deus. Obrigado meu Deus, porque o senhor me deu essa oportunidade de morar aqui no Fallet e ter todas essas pessoas como vizinhos e amigos."

A esse respeito, Helinho ressalta que:

"Bom, o que há de melhor é aquilo que a gente estava falando... É essa convivência de muitos anos e a gente poder ... Como eu nasci aqui, né? Já criei meus filhos, já são adultos e agora os meus netos já estão um com vinte anos, são dois homens, e outro com quinze e estão vivendo aqui também."

E é justamente essa convivência originada na época do povoamento do local pelos seus pioneiros que define e constitui a experiência do espaço, uma vez que esta é socialmente construída, fruto da associação entre lugares e povos. Gupta e Ferguson (2000) esclarecem que as noções de localidade ou comunidade referem-se tanto a um espaço físico, quanto a agrupamentos de interação.

O processo pelo qual um espaço adquire uma identidade distintiva como lugar se dá a partir de uma distribuição espacial de relações de poder hierárquicas, uma vez que a identidade de um lugar surge da interseção entre o seu envolvimento em um sistema de espaços hierarquicamente organizados e sua construção cultural como comunidade ou localidade (Gupta e Ferguson, 2000: 34). Nessa direção, as favelas devem ser conceituadas como territórios da cidade, que guardam um sentido de lugar, são construídos nas relações sociais, materiais e simbólicas, estabelecidas entre e pelos indivíduos e grupos sociais (Gomes et al, 2006).

No segmento abaixo, observa-se que, apesar de Cacá ter vivido em outro lugar, ele sentia que o seu "porto seguro" estava no Fallet: ali estavam suas raízes, seus laços, suas "terras" e seus parentes. E essa sensação de segurança, proteção e familiaridade, proporcionada pelos vínculos com a comunidade parece ter se estendido a sua mulher, não originária deste lugar.

DIANA: E você também é nascido e criado aqui?

CACÁ: Há cinquenta e três anos atrás.

CACÁ: E depois, é... por problemas que eu passei, financeiros, eu fui obrigado a voltar pra cá. Não que eu quisesse. Quando você sai daqui, você não quer voltar. Quando você pensa em sair, você não quer voltar. Mas, talvez seja obra do destino mesmo porque me deixou duro e aí eu voltei pra cá porque eu já tinha terreno aqui, meus parentes aqui e aqui era o meu porto seguro. Então construí a minha própria casa e voltei pra cá. E minha mulher, igual à mulher do JOEL, também relutou no início, mas agora você fala assim pra ela -"vamos se mudar daqui" e ela fala -"não, daqui eu não saio".

 

Divisão Social: Fallet Amavale e Ocidental Fallet

Como exposto acima, os entrevistados alegam que a prova de que a região onde habitam desde que nasceram é parte da cidade, um bairro localizado no Centro da cidade do Rio de Janeiro, está no título de propriedade de suas casas e no IPTU pago. Reivindicam para si, portanto, a identidade de cidadãos pagadores de impostos, nos termos do entrevistado Helinho, de "proprietários", em contraposição à identidade de "favelados".

Helinho ressalta que:

"Aqui tem uma parte favela e uma parte que é loteamento. Então, até os jornais mesmo, com o negócio do tráfico, fala que aqui é favela. Não é favela. O que o Cacá falou aí, o Morar Carioca se afastou daqui por causa disso. Porque aqui, todo mundo é proprietário. A maioria...".

De acordo com suas narrativas, o Fallet é setorizado: há a área denominada Fallet / Amavale, por onde teve início o povoamento da região e que atualmente abriga a Associação de Moradores, fundada em 1985, outrora sede da Associação Atlética.

Do lado oposto, havia uma área mais carente de recursos, menos urbanizada, denominada Jorge da Silva, Beco, ou ainda, Fallet Ocidental. Os entrevistados relatam que essa área foi sendo loteada e alugada a preços módicos a pessoas desprovidas de recursos. Tal fato foi apontado como um dos fatores propiciadores da condição de favelização do bairro do Fallet.

Eles contam, também, que o processo de favelização do Fallet acirrou-se a partir da ocupação do morro pelo tráfico de drogas gerenciado pela facção criminosa Comando Vermelho (CV) e, em decorrência disso, deu-se a desvalorização da região no mercado imobiliário.

O processo de favelização da região, segundo eles, foi se dando com a chegada de moradores menos abastados em outra parte do morro, nos anos 1960 e, posteriormente, com a entrada do tráfico de drogas, já nas décadas de 1970 e de 1980.

A chegada destes novos moradores levou, pois, a uma divisão entre os mais antigos, com melhores condições socioeconômicas, e os mais recentes, que viviam em condições mais precárias. A demarcação de classes sociais distintas é expressa pela divisão geográfica e social entre Fallet Ocidental e Fallet Amavale ou Associação de Moradores e Amigos do Vale (A. M. e Amigos do Vale. Os moradores não transitam facilmente de um lado para o outro, e os que habitam no lado ocidental sentem-se discriminados, não contemplados pela Associação de Moradores, excluídos das poucas ações sociais que chegam ao Fallet.

COELHO: Ah, mas existe divisão lá dentro da favela.

DIANA: Como em qualquer lugar.

COELHO: Você vê que o morador do Fogueteiro, da parte debaixo, ele se julga melhor do que o morador do Cajueiro.

COELHO: Aqui sempre existiu uma divisão

HELINHO: Sempre! Até hoje. Até no futebol. Até no futebol!

DIANA: Como é que é essa divisão?

CACÁ: Classe econômica!

COELHO: Quem mora pra cá, mora na cidade; quem mora pra lá, mora na favela.

COELHO: Aqui não é favela.

JOEL: O pessoal se sente diferenciado.

COELHO: Diferenciado.

HELINHO: O pessoal acha que é Favela e não é. Lá não é favela.

Pode-se testemunhar, em suas narrativas, certa diferenciação entre nós e o outro (Gupta e Ferguson, 2000) presente no Fallet, assim como no interior das favelas. Estas, por sua vez, são concebidas como os lugares que abrigam a pobreza urbana ou como espaços da segregação e da exclusão, cujos moradores são representados como excluídos, marginalizados da sociedade moderna, sobretudo com a presença do narcotráfico (Gomes et al., 2006).

Processo semelhante se dá acerca das relações entre os estabelecidos e os outsiders, no qual ocorre a figuração – ou a interdependência - de dois ou mais grupos, caracterizada por um equilíbrio instável de poder, segundo o qual os outsiders, excluídos das posições de poder, são estigmatizados pelos estabelecidos. O estigma social que lhes é imputado passa a fazer parte de sua autoimagem, enfraquecendo-os (Elias e Scotson, 2000).

Os autores esclarecem ainda que, em geral, esse poder está centrado no fator antiguidade e coesão grupal, ou seja, o grupo que detém o poder é o grupo estabelecido há mais tempo na localidade em questão e no qual há maior coesão, em comparação aos recém-chegados. Tais traços estão presentes dentre os entrevistados, que vivenciam intensa coesão grupal, com fortes vínculos de amizade. Além disso, tais vínculos foram estabelecidos pelos seus antepassados, fundadores da região, configurando o fator antiguidade, apontado por Elias e Scoton.

E, segundo eles apontam, em razão da chegada dos outsiders (moradores de baixa renda que começaram a habitar o lugar de forma mais aglomerada e do estabelecimento do narcotráfico fortemente armado, em constante guerra com facções inimigas), a vida social dos habitantes daquele bairro foi sofrendo drásticas alterações, a começar pela decisão de se fechar o clube, invadido pelos traficantes para suas festas privadas. Aos poucos, suas atividades esportivas e culturais foram encerradas, estando presentes apenas em suas memórias.

E, se ao contar um fato, o revivemos, esta talvez seja a essência do desejo desses senhores, ou seja, a possibilidade de um encontro com o seu passado, pleno de conquistas, vitórias e alegrias, um meio de (re)construir essa realidade e de reencontrar os seus pares, não apenas para tratar de problemas que envolvam a comunidade, mas para (re)contatarem a sua força, potência, vitalidade e criatividade e difundi-las.

 

Lugares de Memórias

Nesse contexto, marcado por tensões e frustrações, ao mesmo tempo em que há a esperança de um futuro mais promissor, acolhemos a "vontade de memória" desses homens-memória, que revelam, através de seus discursos, uma intenção memorialista que preserve a identidade desse local, com o qual possuem fortes vínculos afetivos, de passado glorioso e que poucos, atualmente, conhecem.

O conceito de "lugares de memória" (Nora, 1993) refere-se aos locais que contêm a memória de uma sociedade; pertencentes a um outro tempo, são aquilo que resta e que se perpetua. Podem ser materiais (segundo o qual a memória social pode ser apreendida pelos sentidos) e imateriais; estes podem ser funcionais (onde se alicerçam as memórias coletivas) e simbólicos (onde a memória coletiva se expressa e se revela). São locais nos quais os atores sociais se reconhecem e desenvolvem um sentimento de identidade e de pertencimento.

No Fallet, alguns desses lugares materiais estão preservados; outros foram transformados. A Associação Atlética, onde ocorriam os bailes, deu lugar à atual Associação de Moradores (Amavale). A quadra, onde treinava o time campeão de basquete, foi transformada em creche. O desejo de memória pode estar denunciando o desejo de reviver o seu passado ao falar dele, uma vez que, segundo Butler (2006), a fala cria a realidade.

 

Considerações Finais

O desejo de memória dos idosos de uma favela do Rio de Janeiro foi o ponto de partida para a escuta e análise de suas narrativas e para a pesquisa bibliográfica acerca das favelas cariocas.

Constatamos que, desde a formação das primeiras favelas, estas e os seus habitantes foram discriminados, excluídos, sendo o termo "favelado" empregado frequentemente com uma conotação pejorativa. E, a partir da ocupação dos morros e favelas pelo narcotráfico e a consequente violência, o medo e o preconceito em relação ao favelado e, sobretudo ao jovem e negro – indiscriminadamente considerados criminosos pela população e "suspeitos" pela polícia – aumentaram consideravelmente, acirrados pelas notícias veiculadas pela mídia.

Vimos que muitas das memórias relatadas pelo grupo de idosos apontaram para mudanças ocorridas na localidade, como o fechamento do Clube Atlético Fallet, um dos "Lugares de Memória" (Nora, 1993), que ancorou tantas vivências significativas destes idosos. Suas narrativas evidenciam que eles percebem as progressivas mudanças no bairro em que moravam, como em decorrência da invasão dos outsiders (Elias e Scotson, 2000).

Suas narrativas revelam ainda que, de todo o glamour, alegrias, vitórias esportivas e culturais vividas no passado, restaram as memórias desse grupo de idosos, que desejam partilhá-las com aqueles que não conheceram este Fallet pacífico e glorioso e que possuem como referência do lugar onde habitam, aquilo que é noticiado pela imprensa, situando-o como uma das mais violentas e conflagradas favelas cariocas.

Deste modo, podemos refletir sobre o que representa para o sujeito nascer e viver em um lugar que recebe tal estigma, assim como ponderar acerca das consequências físicas e psíquicas para o sujeito que é discriminado, denominado pejorativamente como preto, pobre e favelado, apontado como criminoso, vagabundo e cujo lar vem sendo secularmente aviltado, removido, invadido, territorializado, segregado, ocupado, pacificado e militarizado.

Butler (2004) chama-nos a atenção para o fato de que os tratamentos injuriosos e insultantes, assim como os nomes pelos quais somos chamados, deixam marcas na constituição e na identificação do sujeito.

As narrativas dos nossos entrevistados evidenciam uma divisão socioespacial existente no Fallet, segregando-o em duas áreas distintas. Seria possível que a conscientização desta segregação venha a colaborar no processo de inclusão social?

Ao longo da entrevista, pudemos notar a vontade de memória e o desejo desses homens-memória (Nora, 1993) de transmiti-las; observamos a intenção memorialista de preservar a identidade local e dignificar seus moradores. Assim, o ato de narrar pode ser considerado como a possibilidade de ordenar a experiência a partir de premissas espaço-temporais, em que nos reconstruímos discursivamente em um hoje ao olhar para o passado. Nesse sentido, a narrativa configura-se como uma janela para a compreensão dos processos transitórios e fluidos de identidades sociais de indivíduos e grupos, que constantemente estão em vias de tornarem-se algo(s), de integrarem-se a novas teias de pertencimento que se fazem e se desfazem em um ilimitado jogo social. Importa-nos indagar quais são os jogos sociais possíveis que reconfigurem as favelas tomando as múltiplas vozes de seus habitantes como expressões legítimas de cidadãos.

 

 

REFERÊNCIAS

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Notas

[4] A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) é um projeto desenvolvido pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (SESEG) que visa a retomada do controle pelo Estado, de áreas territorializadas pelos grupos armados.

[5] http://www.rio.rj.gov.br/web/smg/regioes-administrativas.

[6] De acordo com a LEI Nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, Art. 2º, considera-se idoso, a pessoa maior de sessenta anos de idade.

[7] Disponível em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-02/moradores-do-asfalto-tem-visao-preconceituosa-em-relacao-favelas/.

[8] Instituição dedicada à pesquisa e ação, com o intuito de contribuir para a proposição e avaliação de políticas públicas voltadas à superação de desigualdades sociais e produção de conhecimento sobre as favelas e fenômenos urbanos. Disponível em http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/home/index.php.

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