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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.28 Lisboa jul. 2020

 

VARIA

Investigando os cancioneiros medievais galego-portugueses - novas pistas de trabalho[*]

New research trails on medieval galician-portuguese songbooks

Margarida Lemea
https://orcid.org/0000-0002-0726-0572

Graça Videira Lopesb
https://orcid.org/0000-0002-9213-2910

a,b Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos Medievais. 1070-312 Lisboa, Portugal. mleme@netcabo.pt. gvl@fcsh.unl.pt


 

No âmbito do projeto “STEMMA - Do canto à escrita: produção material e percursos da lírica galego-portuguesa” (PTDC/LLT-EGL/30984/2017), decidimos partilhar, desde já, alguns dados que a investigação até agora desenvolvida nos permitiu apurar. São dados que dizem respeito

1) ao percurso moderno do Cancioneiro da Ajuda, tanto no que se refere ao próprio manuscrito, como às suas cópias mais antigas e

2) a António Ribeiro, o célebre «quel da Ribera» citado por Angelo Colocci numa conhecida nota manuscrita que se encontra numa das suas miscelâneas (Vat. Lat. 4817), e que teria sido o portador do «libro di portughesi» aí também referido, decerto o cancioneiro perdido a partir do qual Colocci mandou fazer as duas cópias sobreviventes (os hoje designados Cancioneiro da Biblioteca Nacional e Cancioneiro da Vaticana).

Trata-se, em ambos os casos, de dados novos e que consideramos interessantes, até por dizerem respeito a matérias onde a escassez documental é quase a regra. Embora preliminares, a sua publicação nesta breve nota parte da nossa certeza de que a circulação da informação entre a comunidade dos especialistas e demais interessados é um instrumento fundamental para o avanço científico.

1. O percurso moderno do Cancioneiro da Ajuda: alguns contributos

1. 1. O Cancioneiro da Ajuda esteve em Tomar?

Ignorado durante séculos, o Cancioneiro hoje designado da Ajuda irá aparecer, cerca de 1810, na biblioteca do Colégio dos Nobres[1]. Desconhece-se como terá chegado à referida biblioteca, aventando-se geralmente a possibilidade de ter pertencido a algum colégio jesuíta, uma vez que o Colégio dos Nobres se instalou, depois da sua instituição em 1761, na casa que havia sido o Noviciado da Cotovia, da Companhia de Jesus (expulsa de Portugal em 1759)[2].

O percurso desse Cancioneiro, desde a sua execução, em finais do século XIII até ao seu reaparecimento moderno, tem sido estudado por diversos autores[3]. O que se traz hoje aqui é apenas mais uma hipótese para a determinação desse percurso, na sua vertente moderna.

Já Carolina Michaëlis, no seu magno estudo sobre o Cancioneiro da Ajuda, e no capítulo dedicado ao elenco de todas as referências históricas ao mesmo[4], cita um texto, datado de 1846, do erudito francês Ferdinand Denis (1798-1890), que refere a possibilidade de ter existido no final do século XVIII, no Convento de Cristo em Tomar, um cancioneiro de D. Dinis. A referência de D. Carolina é muito breve e sem qualquer comentário adicional. A investigação que temos vindo a desenvolver permitiu-nos agora completá-la com alguns dados novos. Assim, foi-nos possível apurar que já muito antes, em Outubro de 1800, o viajante inglês Robert Southey[5] enuncia a mesma hipótese, mas, neste caso, citando como fonte dessa informação Francisco Dias Gomes (1745-1795), um poeta e crítico literário então muito reputado[6] (e que foi também a fonte da nota posterior de F. Denis, como este nos diz[7]). Dias Gomes escreve, de facto, num texto publicado em 1793 nas Memórias da Litteratura Portugueza[8]:

“Deixemos também as Poesias anteriores ao Século de quinhentos, muitas das quaes existem em algumas bibliothecas antigas, como as d’ElRei D. Diniz na do Convento da Ordem de Christo em Thomar, e outras andão empregadas no célebre Cancioneiro de Resende, collecção preciosa, donde se podem extrahir as maiores luzes a respeito da natureza, e origem da nossa Poesia”.

Dias Gomes não refere a fonte para esta sua informação, embora o que diz um pouco mais adiante (no contexto da história crítica da língua portuguesa que se propõe fazer nessas páginas[9]) deixe no ar a suspeita de que terá lido e eventualmente tido contacto direto com as próprias poesias de D. Dinis (ou que acreditava serem dele):

“As Poesias dos Reis D. Diniz, D. Pedro I, e vários fragmentos de escritos daquelles tempos estão consignados em huma linguagem tão confusa e bárbara, que quasi não se entendem”[10].

Seja como for, o certo é que, aquando da sua segunda viagem a Portugal, Robert Southey se dispôs a apurar in loco a veracidade da informação de Dias Gomes. E assim, em Outubro de 1800, em carta dirigida ao seu amigo Charles Danvers[11], escreve:

“I have business with a MSS. at Thomar - a collection of very early Poems, collected by King Diniz”.

A ida a Tomar concretiza-se apenas em Abril de 1801. Mas sem lograr, infelizmente, o que pretendia. Com efeito, escreve no seu Diário:

“I sought, as Francisco Dias Gomes directed, the Poems collected by K[ing] Diniz. They were not at Thomar, and the Fathers fancied that they had with other valuable MSS. been removed by John IV to Torre do Tombo. Adjoining the Library was a room of books and Mss. rotting with damp and scattered without any arrangement - many even on the floor”[12].

As informações de que dispomos indicam, de facto, que pelo menos uma parte da documentação administrativa do Convento de Cristo (livros da Chancelaria, tombos) teve a Torre do Tombo como destino (embora apenas a partir de finais do século XVIII). Já sobre a antiga biblioteca do convento, pouco se sabe em concreto, embora, em termos gerais, se possa avaliar ter sido bastante rica[13]. Foi-nos, no entanto, impossível apurar, pelo menos de momento, se a informação dada pelos frades a Robert Southey e relativa a uma eventual intervenção de D. João IV neste âmbito, tem alguma credibilidade[14].

De qualquer forma, e como referido, alguns anos depois da viagem de Robert Southey a Tomar, o manuscrito hoje designado Cancioneiro da Ajuda será localizado no Colégio dos Nobres. E, em data indeterminada, o próprio Southey dele manda fazer uma cópia (ver ponto seguinte). Mas parece-nos, mesmo assim, que os dados acima referidos sobre a eventual passagem do manuscrito por Tomar abrem uma nova linha de investigação, que iremos evidentemente prosseguir.

1. 2. As primeiras cópias do Cancioneiro da Ajuda

Logo depois da notícia do aparecimento de um Cancioneiro no Colégio dos Nobres (entre 1802 e 1810)[15], ele foi copiado mais do que uma vez, sendo que uma dessas cópias serviu para a sua já célebre 1ª edição, datada de 1823 e realizada por Lord Stuart[16].

Essas cópias iniciais modernas, se bem que sem grande utilidade para a fixação dos textos, têm alguma relevância, porque nos permitem ter uma imagem relativamente fiel da fisionomia do manuscrito na época, antes da introdução dos fólios posteriormente encontrados em Évora, levada a cabo por D. Carolina Michaëlis segundo um plano que está longe de ser consensual. A própria D. Carolina refere duas cópias completas precoces, uma delas mandada efetuar por Lord Stuart (e cuja localização desconhecia à data) e a outra por Robert Southey (que estaria em Berlim - cf. nº 2, adiante). E desde então pouco mais se tem avançado nesta matéria, salvo no que diz respeito à nova localização dessa cópia de Berlim, hoje em Cracóvia (por razões que se prendem com a transferência dos manuscritos de Berlim aquando da Segunda Guerra Mundial)[17]. Tem havido, no entanto, alguma discussão sobre a cronologia das cópias e também sobre qual delas corresponde ao manuscrito de Cracóvia. No estudo mais recente sobre o assunto, Mariña Arbor Aldea e Carlo Pulsoni, contrariando D. Carolina, defendem que se trata da cópia de Lord Stuart[18], o que consideramos improvável (pelos motivos que expomos adiante). Retomamos, pois, o assunto aqui, com o resumo do que conseguimos apurar.

As cópias iniciais de A foram, a saber:

1) A que pertenceu a Lord Stuart, executada por Bernardo José de Figueiredo e Silva[19], terminada em Maio de 1810 (cf. citação em baixo). Arrematada em leilão em 1855[20], foi comprada pelo colecionador britânico Thomas Phillipps[21], e vendida, anos após a sua morte em 1872, a alguém que se desconhece. Foi a cópia que serviu para a edição de Paris de 1823 e foi compulsada por Raynouard[22], a quem Lord Stuart a emprestou, e que a descreve nos seguintes termos:

“Le chevalier Charles Stuart, ambassadeur d’Angleterre en France, avait fait prendre une copie de ce manuscrit pendant son séjour à Lisbonne. Il a bien voulu me le communiquer, et il m’a autorisé à en prendre des extraits. [...] La copie que possède le Ch. Stuart est terminée par ces mots: Copiado e conferido por mim Bernardo Jozè de Figueiredo e Silva, com faculdade regia para autenticar documentos de letra antiga. Lisboa 19 de mayo 1810. Bernardo Jozè de Figdo e Sa”.

2) A de Robert Southey, que foi vendida, em 1844, no leilão da sua biblioteca. Poderá ser a cópia que foi executada depois de 1814[23] e se encontra atualmente em Cracóvia (Polónia). Adquirida por Carl Herman von Thile (1812-1889)[24], foi por este doada à Biblioteca Real de Berlim, passando posteriormente para a Biblioteka Jagiellońska de Cracóvia, atualmente com reprodução disponível online[25]. Como esta cópia não contém qualquer informação sobre a sua execução, não pode ser a que pertenceu a Lord Stuart, terminada por Figueiredo e Silva em Maio de 1810, como já sabemos[26]. O próprio papel da cópia de Cracóvia tem marcas de água datadas de 1811-1814 (informação do site onde a cópia está digitalizada), o que também não se coaduna com a data de 1810.

3) Por fim, existirá talvez uma terceira cópia anterior à edição de 1823. O olissipógrafo Gustavo de Matos Sequeira, em Depois do Terramoto[27], refere ter visto, entre a documentação que consultou na Torre do Tombo, um Aviso dos Governadores do Reino, datado de 16 de Abril de 1810, dirigido ao reitor do Colégio dos Nobres, que determinava o empréstimo do Cancioneiro “a Francisco José Dias, para que dele pudesse copiar uma parte um tal Mr. Harent”[28]. Dada a proximidade de datas (Abril e Maio de 1810), será esta a cópia executada por Figueiredo e Silva para Lord Stuart, ou não? Até à data, não nos foi possível apurar quem seria este Mr. Harent[29].

2. Quem era António Ribeiro?

Citado por Angelo Colocci na nota já antes referida, o nome de António Ribeiro («quel da Ribera») parece ser indissociável do processo das cópias italianas de um desaparecido Cancioneiro medieval galego-português. Ainda que a sua intervenção no dito processo seja lateral - simples portador do manuscrito original - António Ribeiro acaba por ganhar uma importância acrescida por ser, efetivamente, o único elemento conhecido deste misterioso percurso. Foi Elsa Gonçalves a primeira investigadora a situar a questão e a adiantar alguns dados sobre esta figura. Tratar-se-ia, sem grande margem para dúvidas, de “António Ribeiro, camarário de Clemente VII, encarregado pelo Pontífice, em 1525, de levar a Rosa de ouro ao Rei de Portugal e de lhe expor verbis o que o embaixador D. Miguel da Silva havia explicado per litteras acerca da gravíssima situação da Cristandade”[30]. Um pouco mais tarde, Sylvie Deswarte acrescentou novos dados à sua biografia, reforçando a sua proximidade à notável figura de erudito humanista que foi o Bispo de Viseu, D. Miguel da Silva, uma proximidade que dataria já, pelo menos, de 1516[31].

Ora, na investigação que temos vindo a desenvolver, deparámo-nos com dois homónimos, claramente diferenciados pelas assinaturas. Um deles é o António Ribeiro, próximo de D. Miguel da Silva (então já embaixador em Roma), que de Bordéus escreve ao Secretário António Carneiro, em Abril de 1516 (na carta citada por Deswarte, exatamente). Diz ele nesta carta:

“O embaixador escreve a V. M. de minha demora nesta terra e por isso não digo mais, somente que como me achar em boa disposição logo me partirei do que estou muito desejoso. E quanto ao negócio sobre que vim de D. Miguel já creio que terá lá recado porque por via de Lião o mandei.”

 

 

Deste António Ribeiro (I) temos pelo menos três documentos na Torre do Tombo, incluídos na coleção denominada Corpo Cronológico, datados respetivamente de 1516[32], 1525[33] e 1528[34], todos eles assinados, constatando-se pelas assinaturas pertencerem à mesma pessoa. No documento datado de 1528, António Ribeiro (I) é dito «escudeiro da casa d’el rei». Será também ele provavelmente o António Ribeiro referido numa carta datada de 1532, enviada pelo embaixador em Madrid, Álvaro Mendes de Vasconcelos, que propõe ao rei D. João III a sua nomeação como «correio-mor» por morte do anterior detentor do ofício, Luís Homem[35].

Na realidade, pela análise das assinaturas verifica-se, como dissemos, que este António Ribeiro (I), se bem que contemporâneo, não é o mesmo António Ribeiro clérigo bracarense, que em Roma foi camareiro do Papa (e, segundo Elsa Gonçalves e Sylvie Deswarte, secretário pessoal do bispo D. Miguel da Silva e provavelmente o “quel da Ribera” mencionado por Colocci). É este António Ribeiro (II) que em 1558[36], ao escrever de Roma à rainha, pedindo-lhe que interceda acerca da usurpação de um benefício que tinha recebido em Portugal, se diz familiar e criado do Papa Júlio III e a viver em Roma há 40 anos. Como se pode verificar na imagem infra, a sua assinatura é inteiramente diferente.

 

 

Também este António Ribeiro (II) parece ter sido próximo de D. Miguel da Silva. É plausível, pelo menos, que seja ele o “António Ribeiro que aqui faz os negócios do bispo de Viseu” referido nestes termos numa carta que um tal António de Barros dirige ao infante D. Luís, em 12 de junho de 1540[37]. Escrita pouco tempo depois da morte do cardeal-infante D. Afonso e cerca de um mês antes da fuga de D. Miguel para Roma, é já visível na carta uma certa animosidade para com o Bispo de Viseu e os da sua casa, nomeadamente nas informações que o autor da carta dá sobre a manifesta (e para ele nefasta) influência que D. Miguel tem na Cúria, em particular através do cardeal Farnese, neto do papa e afilhado do mesmo D. Miguel[38]. E é neste contexto que nos informa ainda que “o dito António Ribeiro está com o dito cardeal Frenese e come seu paom e bebe seu vinho”.

A localização agora feita destes dois homónimos, ambos com relações documentadas com o Bispo de Viseu, vem, pois, juntar mais alguma incerteza a um problema já de si complicado. Sendo certo que António Ribeiro (II), camareiro do Papa e procurador de D. Miguel da Silva parece mais apto a ser o “quel da Ribera” referido por Colocci, o facto de António Ribeiro (I) viajar e tratar de negócios de D. Miguel (como em França, em 1516) não deixa de gerar justificadas dúvidas sobre a sua identidade. Enfim, se a homonímia é uma situação corrente na época, estes dois homónimos ao serviço do Bispo de Viseu, e na mesma época, acrescentam alguma perplexidade a essas dúvidas. Seja como for, aqui deixamos estes novos dados, enquanto a nossa investigação prossegue.

 

 

Como citar este artigo | How to quote this article:

LEME, Margarida; LOPES, Graça Videira - “Investigando os cancioneiros medievais galego-portugueses - novas pistas”. Medievalista 28 (Julho-Dezembro 2020), pp. 467-480. Disponível em https://medievalista.iem.fcsh.unl.pt.

 

Data recepção do artigo / Received for publication: 2 de Abril de 2020

 

[*] Este estudo insere-se no âmbito do projeto STEMMA. Do canto à escrita - produção material e percursos da lírica galego-portuguesa (PTDC/LLT-EGL/30984/2017), projeto cujo site está disponível em https://stemma.fcsh.unl.pt/.

[1] Instituído em 1761 com a designação de Colégio Real de Nobres, teve os seus estatutos publicados na mesma data. Neles se estabelece, nos títulos XVIII e XIX, que o colégio terá não só um cartório como uma livraria (biblioteca). Cf. AGUILAR, Manuel Busquets de - O Real Colégio de Nobres (1761-1837). Lisboa: Tip. da Ciência Penitenciária de Lisboa, 1935. O fundo primitivo da biblioteca terá sido constituído pelos livros duplicados da Biblioteca Real e por aqueles que haviam pertencido aos extintos colégios jesuítas. Cf. CARVALHO, Rómulo de - História da fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa. Coimbra: Atlântida, 1959.

[2] Mas é interessante anotar que o Catálogo do Colégio dos Nobres integra o Cancioneiro como um «acrescento» ao catálogo inicial (CEPEDA, Isabel - “Antiga cota do Cancioneiro da Ajuda.” in À volta do Cancioneiro da Ajuda. Actas do colóquio «Cancioneiro da Ajuda (1904-2004). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2016, pp. 65-66. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://books.google.pt/books?id=VqbCCwAAQBAJ&pg=PA61&lpg=PA61&dq=Isabel+Cepeda,+%22Antiga+cota&source=bl&ots=NDel5ZysQS&sig=ACfU3U1UkV6aRhcTWc4i188Io_bXU-84HQ&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwikkKeX2MToAhXQx4UKHffkCjEQ6AEwCnoECAkQAQ#v=onepage&q=Isabel%20Cepeda%2C%20%22Antiga%20cota&f=false

[3] Cf. por todos, VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - Cancioneiro da Ajuda. Halle: Max Niemeyer Buchdruckerei des Weisenhauses, 1904, 2 vols.; ARBOR ALDEA, Mariña; PULSONI, Carlo - “Il «Cancionerio da Ajuda» prima di Carolina Michaëlis (1904).” Critica del Testo 2 (2004), pp. 721-789; RAMOS, Maria Ana - O Cancioneiro da Ajuda: confecção e escrita. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2008, 2 vols. Tese de Doutoramento.

[4] VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - Cancioneiro da Ajuda... Vol. 2, pp. 235-236.

[5] Robert Southey (1774-1843), filho de um negociante de Bristol, foi um escritor, historiador e poeta que se especializou na História de Portugal e do Brasil. Esteve por duas vezes em Portugal, em 1796 e em 1800-1801. De ambas as vezes esteve instalado em casa de seu tio Robert Hill (1749-1828), capelão da feitoria inglesa em Lisboa entre 1782 e 1807. A sua correspondência está disponível em http://romantic-circles.org/editions/southey_letters. [Consultado a 27 Março 2020]. Cf. também SOUTHEY, Robert - Journals of a residence in Portugal, 1800-1801 and a visit to France, 1838: supplement by extracts from his correspondence (ed. Adolfo Cabral). Oxford: The Clarendon Press, 1960.

[6] Filho de um pequeno comerciante de Lisboa, estudou na Universidade de Coimbra mas teve que regressar Lisboa por morte do pai, para dirigir o negócio da família. Embora desenvolvendo a sua atividade literária e crítica apenas nos tempos livres, foi sócio da Academia das Ciências. Vide COELHO, J. do Prado“Francisco Dias Gomes, Crítico Literário.” Revista da Faculdade de Letras de Lisboa 13 (1971), II Série (Separata).

[7] DENIS, Ferdinand - Portugal. Paris: Firmin Didot Frères, 1846, p. 31.

[8] Memorias da Litteratura Portugueza. Tomo IV. Lisboa: Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1793, p. 33. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=uc1.b3763628&view=1up&seq=537.

[9] Grande admirador de Voltaire e dos iluministas, Dias Gomes tem um olhar muito crítico sobre a Idade Média, que considera, genericamente, um tempo bárbaro. Desta forma, a literatura portuguesa começa, para ele, apenas em Sá de Miranda (como se pode ler no mesmo texto).

[10] Também Ferdinand Denis parece, de resto, convencido que Dias Gomes teria visto o próprio Cancioneiro em Tomar, quando, no seu texto, escreve: “Les poésies du roi Diniz, écrites à peu près dans le style dont se servit Alphonse le Sage, furent longtemps conservées à Thomar; la bibliothèque du couvent de l’ordre du Christ possédait encore ce précieux dépôt en 1793”, DENIS, Ferdinand - Portugal…, nota à mesma p. 31.

[11] Charles Danvers (c.1764-1819), abastado mercador de Bristol, amigo de Southey desde a juventude. Cf. http://romantic-circles.org/editions/southey_letters/people.html. [Consultado a 27 Março 2020].

[12] SOUTHEY, Robert - Journals of a residence in Portugal, 1800-1801 and a visit to France, 1838: supplement by extracts from his correspondence … .

[13] Dos pouquíssimos estudos sobre o assunto, destacamos o de Ana Cristina da Cunha MACHADO, o qual, versando em específico sobre o restauro de dois livros de coro sobreviventes, inclui, no âmbito do contexto geral desses manuscritos, uma breve história da biblioteca: Estudo e intervenção de códices dos Séculos XVII e XVIII do Convento de Cristo, de Tomar. Tomar: Instituto Politécnico de Tomar, 2013. Relatório de Estágio. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/5902.

[14] D. João IV era um amante de música e mesmo um notável músico, pelo que não seria impossível que se interessasse pela rica coleção de Tomar, descrita nestes termos pelo frade espanhol agostiniano Frei Hieronimo Roman (que, em 29 de julho de 1523, assistiu à cerimónia da tomada de posse do Mestrado de Cristo por D. João III). “A livraria de cantochão são quarenta tomos da maior grandeza que pode haver em pergaminho e rica e fortemente encadernados tendo ferros e cantoneiras e as demais reais e esfera e divisa e empresa dos Reis de Portugal e a Cruz de Cristo tudo com tanto primor que não há mais que pedir nem desejar…” (COTA, Cristina - “A música no Convento de Cristo em Tomar - desde finais do séc. XV até finais século XVIII”. Lisboa: Edições Colibri, 2007, p. 133. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://run.unl.pt/handle/10362/36277.

[15] Descoberto pelo reitor, Ricardo Raimundo Nogueira, foi descrito por Ribeiro dos Santos, antes de 1818, em “Noticia de hum Cancioneiro inédito”, mss. 4061 e 4602 da BNL. Cf. VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - Cancioneiro da Ajuda…, vol. II, pp. 2-4.

[16] Lord Charles Stuart of Rothesay (1779-1845), diplomata britânico, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em Lisboa entre 1810 e 1814 e depois entre 1825 e 1826. Desempenhou um papel importante nas negociações que culminaram no reconhecimento por Portugal da independência do Brasil. Foi feito por D. João VI conde de Machico e Marquês de Angra (Brasil) por D. Maria II. Era embaixador em Paris em 1823 quando publicou à sua custa Fragmentos de hum cancioneiro inedito que se acha na Livraria do Real Collegio dos Nobres de Lisboa. Para referências sobre Stuart, vide RAMOS, Maria Ana - O Cancioneiro da Ajuda …, vol. I, pp. 33-34, nota 4.

[17] O estado da questão foi inicialmente feito por SHARRER, Harvey L. - “Estado actual de los estudios sobre el Cancioneiro da Ajuda”. O Cancioneiro da Ajuda, cem anos despois. Congreso Internacional, 25 a 28 de Maio 2004. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2004, pp. 41-54.

[18] “Il Cancioneiro da Ajuda prima di Carolina Michaëlis (1904).” Critica del testo VII/2 (2004), pp. 721-789. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://www.academia.edu/4111484/_Il_Cancioneiro_da_Ajuda_prima_di_Carolina_Micha%C3%ABlis_1904.

[19] Figueiredo e Silva foi funcionário da Torre do Tombo, habilitado a assinar cópias e certidões, pelo menos desde 1783. Cf. ANTT - Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.14, f. 309.

[20] Catalogue of the Valuable Library of the Late Right Honourable Lord Stuart de Rothesay, Including Many Illuminated and Important Manuscripts ...: Which Will be Sold by Auction by Messrs. S. Leigh Sotheby & John Wilkinson, Auctioneers ... the 31st Day of May, 1855, and Fourteen Following Days.

[21] Sir Thomas Phillipps (1792-1871) foi um dos maiores, senão o maior colecionador de manuscritos do seu tempo. O catálogo da sua biblioteca, que foi publicando em fascículos ao longo de mais de trinta anos, com o título Catalogus librorum manuscriptorum in bibliotheca d. Thomae Phillips, Bt., contava mais de 60.000 manuscritos. Com o nº 14162 aparece o Canzionero Portuguezo, cuja descrição corresponde exatamente à cópia de Lord Stuart. Em Anexo incluímos a imagem da página. A partir de 1885, a biblioteca começou a ser vendida pelo seu neto Thomas FitzRoy Fenwick, mas num processo extremamente lento, que durou mais de 50 anos. Sobre o assunto, ver http://www.historyofinformation.com/detail.php?id=1525. [Consultado a 27 Março 2020].

[22] François Juste Marie Raynouard (1761-1836), historiador, filólogo e dramaturgo francês. O comentário encontra-se na obra Grammaire comparée des langues de l’Europe latine dans leurs rapports avec la langue des troubadours. Paris: F. Didot, 1821, p. XLI, n. 3.

[23] As marcas de água do papel datam de 1811-1814. Cf. http://info.filg.uj.edu.pl/fibula/pl/content/lus-fol-1. [Consultado a 10 Janeiro 2020].

[24] Diplomata alemão e, posteriormente, ministro dos negócios estrangeiros da Prússia. Como diplomata, um dos postos que ocupou foi Londres.

[25] Disponível em https://jbc.bj.uj.edu.pl/dlibra/publication/380697/edition/362767/content. [Consultado a 27 Março 2020]. No manuscrito é visível o ex libris de Von Thile.

[26] Mariña Arbor e Carlos Pulsoni argumentam que faltará a página onde esta informação se encontrava, mas o argumento não parece ter qualquer fundamento.

[27] SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Depois do Terramoto. Lisboa: Academia das Ciências, 1967. Vol. I, p. 308.

[28] Matos Sequeira não fornece a cota do documento, que até agora não foi possível localizar no ANTT.

[29] D. Carolina refere ainda mais duas cópias, sem indicar qualquer data (mas referindo que a informação lhe chegou de Teófilo Braga), uma para o Morgado de Mateus e outra para a Casa de Villareal (Cancioneiro da Ajuda… p. 103). A primeira encontra-se efetivamente no espólio de Teófilo Braga (Biblioteca Pública e Arquivo Regional, Angra do Heroísmo). Cf. BITAGAP manid 4042.

[30] “Quel da Ribera.” Cultura neolatina 44 (1984), pp. 219-224; republicado em «Pressupostos históricos e geográficos à crítica textual no âmbito da lírica medieval galego-portuguesa: (l) «Quel da Ribera»; (2) A Romaria, de San Servando», no volume De Roma ata Lixboa. Estudos sobre os cancioneiros galego-portugueses. A Coruña: Real Academia Galega, 2016.

[31] Il Perfetto Cortegiano. D. Miguel da Silva. Roma: Bulzoni Editore, 1989; o livro retoma e alarga um artigo aparecido no ano anterior, em DESWART, Sylvie - “La Rome de D. Miguel da Silva (1515-1525)”. Lisboa: separata de Publicações do II Centenário da Academia de Ciências, 1988. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://www.academia.edu/12491251/_La_Rome_de_D._Miguel_da_Silva_1515-1525_in_O_Humanismo_Portugu%C3%AAs_1500-1600_._Primeiro_Simp%C3%B3sio_Nacional_21-25_de_Outubro_de_1985_Lisbonne_Academia_das_Ci%C3%AAncias_de_Lisboa_1988_pp._177-307.

[32] ANTT - Corpo Cronológico, pt.1, mç. 20, n.º 18.

[33] ANTT - Corpo Cronológico, Gaveta 2, mç. 10, nº 20.

[34] ANTT - Corpo Cronológico, pt.1, mç. 39, n.º 80.

[35] Carta de Álvaro Mendes de Vasconcelos para D. João III, Madrid, 10 de Novembro de 1532. ANTT - Corpo Cronológico, pt.1, mç. 50, n.º 32. António Ribeiro acabou por não conseguir o lugar (Cf. MACHADO, Luís Guilherme - “Luís Homem e a criação do ofício de correio-mor do Reino em 1520”, Códice 6 (2009), II Série).

[36] Carta de António Ribeiro para a rainha D. Catarina, de Roma, 20 de Fevereiro de 1558. ANTT - Corpo Cronológico, pt. 1, mç. 102, n.º 77.

[37] ANTT - Corpo Cronológico, pt.1, mç. 67, n.º 108.

[38] Segundo o autor da carta, António Ribeiro, recebendo, por mensageiro especial, a notícia da morte de cardeal-infante D. Afonso antes que chegasse a Roma a notícia oficial, tê-la-ia feito chegar ao Papa e a outras altas figuras da Cúria, que logo se teriam apressado a estabelecer barreiras quanto ao futuro preenchimento do seu lugar.

 

Anexo

 

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