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Angiologia e Cirurgia Vascular

versão impressa ISSN 1646-706X

Angiol Cir Vasc vol.18 no.2 Lisboa ago. 2022  Epub 30-Ago-2022

https://doi.org/10.48750/acv.460 

Case Report

Doença cística adventicial da artéria popliteia: excisão sem reconstrução arterial

Tiago Soares1  2 

Paulo Dias1  2 

Sérgio Sampaio1  3 

José Teixeira1 

1 Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário São João, Portugal.

2 Departamento de Cirurgia e Fisiologia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Portugal.

3 CINTESIS - Center of Health Technology and Services Research, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Portugal.


Resumo

Introdução:

A doença cística da adventícia é uma condição vascular rara e que afeta na maioria dos casos a artéria poplítea. Habitualmente cursa com claudicação intermitente durante o exercício.

Caso clínico:

Descreve-se um caso clínico de uma doente com doença cística da adventícia da artéria poplítea. A apresentação clínica foi sob a forma de claudicação intermitente gemelar direita. Procedeu-se ao tratamento cirúrgico, por abordagem posterior, com exérese do quisto mantendo a integridade da parede luminal. Assim, não se verificou a necessidade de reconstrução arterial.

Discussão:

Possíveis etiologias incluem traumatismo, doença sistémica, doença sinovial ou alterações do desenvolvimento embrionário. O tratamento depende do vaso afetado e a remoção do quisto com preservação ou substituição arterial tem apresentado resultados promissores. O seguimento a longo prazo é mandatório, atendendo ao risco de recidiva.

Keywords: Doença cística da adventícia; claudicação; doença vascular não aterosclerótica; artéria poplítea

Introdução

A doença cística da adventícia é uma condição vascular rara e que afeta na maioria dos casos a artéria poplítea. Habitualmente cursa com claudicação intermitente durante o exercício. Os autores descrevem um caso clínico em que a exérese foi possível sem necessidade de reconstrução arterial.

Caso clínico

Uma doente de 55 anos, do sexo feminino, foi referenciada à consulta de angiologia e cirurgia vascular por claudicação intermitente gemelar direita após caminhar em terreno plano cerca de 500 metros. O estudo eco-Doppler arterial dos membros inferiores evidenciou ausência de lesões endoluminais na artéria poplítea direita, com presença de fluxo trifásico em repouso, encontrando-se adjacente à mesma uma estrutura nodular 18x12mm (Figura 1). Ao exame físico, a doente apresentava pulsos distais simétricos dos membros inferiores em repouso e após manobras provocatórias com flexão do joelho (sinal de Ishikawa) ou dorsiflexão plantar não evidenciava perda de pulsos.

Figura 1: Estudo eco-Doppler 

O estudo complementar com angio-ressonância magnética (angio-RM) revelou a presença de um quisto sinovial polilobulado adjacente à vertente posterior do ligamento cruzado posterior do joelho direito, que se estendia através da cápsula posterior até à artéria poplítea, envolvendo a sua camada adventícia de forma circunferencial com diâmetros axiais máximos de 25x13mm, extensão longitudinal de 28mm e espessura de 3mm. O quisto não condicionava redução do calibre luminal nem alteração da integridade da íntima (Figura 2).

Figura 2: Estudo de angio-ressonância magnética 

Procedeu-se a correção cirúrgica em decúbito ventral sob anestesia regional e abordagem posterior da artéria poplítea com uma incisão em S. Após dissecção confirmou-se a presença de uma estrutura cística de conteúdo gelationoso a envolver a artéria poplítea (Figura 3). Procedeu-se à sua remoção juntamente com a camada adventícia arterial, mantendo um plano de dissecção avascular na parede arterial e sem necessidade de reconstrução (Figura 4). A doente teve alta ao quarto dia pós-operatório sem intercorrências. O exame histológico evidenciou uma estrutura com característica de quisto sinovial confirmando o diagnóstico (Figura 5). A angio-RM realizada ao fim do primeiro mês pós-operatório revelou normal permeabilidade da artéria poplítea, sem evidência do quisto sinovial previamente visualizado (Figura 6). A doente mantém-se assintomática três meses após a intervenção e irá manter vigilância clínica com seguimento imagiológico por eco-Doppler anual na ausência de novos sintomas.

Figura 3: Imagem intra-operatória - quisto integro 

Figura 4: Imagem intra-operatória - artéria popliteia após exérese 

Figura 5: Peça operatória 

Figura 6: Estudo por angio-ressonância magnética pós operatório 

Discussão

A doença cística da artéria poplítea é uma doença rara, classificada no espectro de doenças não ateromatosas da poplítea.1 Tipicamente ocorre em homem jovens ou meia idade e cursa com uma clínica de claudicação intermitente para curtas distâncias com um tempo de recuperação prolongado (cerca de 20 minutos), contrariamente aos doentes com doença arterial periférica.2 É importante ressalvar que não existe um consenso em relação à sua etiologia, no entanto, esta patologia ocorre principalmente em vasos adjacentes a estruturas sinoviais. Imagiologicamente caracteriza-se por uma compressão extrínseca ao lúmen da artéria poplítea, sendo o eco-Doppler, angio-tomografia computorizada ou angio-RM importantes ferramentas para o diagnóstico correto.3 O seu tratamento habitual envolve a excisão do quisto com ou sem reconstrução arterial e a manutenção de seguimento é essencial tendo em conta o risco de recidiva.4

Acknowledgements

None

Conflicts of interest:

None

Funding

None

Bibliografia

1. Min SK, Han A, Min S, Park YJ. Inconsistent Use of Terminology and Different Treatment Outcomes of Venous Adventitial Cystic Disease: A Proposal for Reporting Standards. Vasc Specialist Int. 2020;36:57-65. [ Links ]

2. Smith JL, Hariri N, Oriowo B, Lurie F. Cystic adventitial disease of the popliteal artery presenting with features of entrapment syndrome. J Vasc Surg Cases Innov Tech. 2020;6:75-79. [ Links ]

3. Lezotte J, Le QP, Shanley C, Hans S. Adventitial Cystic Disease: Complicated and Uncomplicated. Ann Vasc Surg. 2018;46:370e13-5 [ Links ]

4. Allemang MT, Kashyap VS. Adventitial cystic disease of the popliteal artery. J Vasc Surg. 2015;62:490 [ Links ]

Recebido: 07 de Dezembro de 2021; Revisado: 08 de Janeiro de 2022; Aceito: 04 de Março de 2022

Corresponding Author: Tiago Soares | tiagojoaosoares@hotmail.com Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitario São João Alameda Prof. Hernâni Monteiro, 4200-319 Porto, Portugal

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