SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 issue3Information and informed consents. A way to deal with obstetric violenceFrequency of precursor lesions of cervical cancer in patients younger than 25 years old in a medium-sized countryside Brazilian town author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa

Print version ISSN 1646-5830

Acta Obstet Ginecol Port vol.15 no.3 Algés Sept. 2021  Epub Sep 30, 2021

 

Artigo de opinião/ Opinion article

Vacinação contra a COVID-19 da pré-conceção ao aleitamento materno: Que recomendações?

Vaccination against COVID-19 from preconception to breastfeeding: What are the recommendations?

Patrícia Pereira Amaral1  , Interna

Marta Luísa Rodrigues1  , Interna

Fernanda Matos2  , Assistente Graduada Sénior

1. Interna de Formação Específica em Ginecologia-Obstetrícia, Departamento da Mulher, Serviço de Ginecologia e Obstetrícia. Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca. Amadora. Portugal.

2. Assistente Graduada Sénior em Ginecologia-Obstetrícia, Departamento da Mulher, Serviço de Ginecologia e Obstetrícia. Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca. Amadora. Portugal.


A COVID-19 é a doença causada pelo vírus do síndrome respiratório agudo grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) e é responsável pela pandemia anunciada em Março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde1.

Os estudos publicados sugerem que grávidas infetadas por SARS-CoV-2 têm maior probabilidade de desenvolverem doença grave e morte em comparação com mulheres não grávidas na mesma faixa etária, incluindo internamento em Unidade de Cuidados Intensivos, necessidade de ventilação mecânica e oxigenação por membrana extracorporal. Este risco é tanto maior quanto a mulher apresentar comorbilidades como obesidade, diabetes ou hipertensão arterial2), (3. Do ponto de vista obstétrico, a doença pelo novo coronavírus parece aumentar o risco de parto pré-termo, sobretudo no caso de infeções no terceiro trimestre da gravidez4.

Atualmente existem quatro vacinas contra a COVID-19 aprovadas a nível nacional. Duas delas utilizam tecnologia com RNA mensageiro (mRNA) (SPIKEVAX® e COMIRNATY®) e outras duas que utilizam um adenovírus como vetor (Janssen® e VAXZEVRIA®)5), (6), (7), (8.

O desenvolvimento e utilização de vacinas de mRNA é relativamente recente. O seu mecanismo consiste em mRNA encapsulado por uma nanopartícula lipídica, que a entrega nas células do hospedeiro. Estas vacinas utilizam as próprias células do hospedeiro para gerar a proteína spike do SARS-CoV-2 que vai estimular o sistema imune a produzir anticorpos contra a COVID-19. Estas vacinas não entram no núcleo das células nem alteram o DNA humano, pelo que não parecem provocar alterações genéticas9. Baseado no mecanismo de ação destas vacinas e na demonstração de segurança e eficácia de estudos de fase II e III, é expectável que estas tenham um perfil de segurança e eficácia semelhante a mulheres não grávidas10.

As vacinas Janssen® e VAXZEVRIA® utilizam um adenovírus imuno-incompetente como vetor da proteína spike. Estas vacinas não contêm vírus vivos e não se replicam no interior das células do hospedeiro. Considerando os estudos com esta tecnologia com outras vacinas administradas em mulheres grávidas, parece ter um perfil de segurança e reactogenicidade aceitáveis10.

Foram publicados dados preliminares que incluíram a vacinação de 35,691 grávidas entre os 16 e os 54 anos com vacinas de mRNA sem evidentes problemas de segurança11. Outros estudos, que envolveram mais de 100.000 grávidas vacinadas contra a COVID-19 também não evidenciaram diferenças estatisticamente significativas no que diz respeito ao outcome da gravidez12.

Apesar da gravidez e do puerpério constituírem um estado particularmente pró-trombótico, pensa-se que o aumento de risco com as vacinas seja baixo e que o tromboembolismo seja um evento raro. Atendendo à evidência atual, aos princípios teóricos e à experiência acumulada com outras vacinas, a comunidade internacional recomenda a decisão informada e vacinação das mulheres grávidas e a amamentar, tendo em conta que os benefícios esperados ultrapassam os riscos materno-fetais de uma infeção por SARS-CoV-2. Este grupo restrito de mulheres não deve ser excluído dos programas de vacinação sob pena de violar os princípios éticos de autonomia, beneficência e justiça13.

Em Portugal, de acordo com a Norma 002/2021 da Direção Geral da Saúde (atualizada a 1 de setembro de 2021), é aconselhada a vacinação contra a COVID-19 com as vacinas recomendadas em Portugal (Quadro I) (5), (6), (7), (14 de grávidas com 16 ou mais anos de idade a partir das 21 semanas de gestação, após a realização da ecografia morfológica. No entanto, deve ser respeitado um intervalo de pelo menos 14 dias em relação à administração de outras vacinas, tais como as vacinas contra a tosse convulsa e contra a gripe. De realçar, que não é exigida qualquer declaração médica para o referido ato. De forma semelhante, as mulheres que estejam a amamentar podem ser vacinadas contra a COVID-1914.

Quadro I Resumo das recomendações das vacinas contra a covid-19 disponíveis em portugal em relação à idade e esquema vacinal5), (6), (7), (14

Cada vez mais urge a necessidade de criar e homogeneizar as normas de orientação e práticas a nível mundial. É também imperativo que os obstetras estejam em constante atualização para ser possível fazer um aconselhamento correto (Anexo - Quadro II)10), (15), (16), (17. De realçar a importância de apoiar as mulheres que recusam a vacinação, tendo sempre em vista que a abordagem desta temática em consulta é uma oportunidade de relembrar as mulheres das medidas de prevenção primária, que em nenhum momento devem ser descuradas.

Quadro II Resumo das recomendações da vacinação contra a covid-19 de acordo com a literatura científica10), (12), (14), (15), (16), (17

Referências bibliográficas

1. Cucinotta D. Vanelli M. WHO Declares COVID-19 a Pandemic. Acta Biomed 2020; Vol. 91, N. 1: 157-160. [ Links ]

2. Ellington S. et al. Characteristics of Women of Reproductive Age with Laboratory-Confirmed SARS-CoV2 Infection by Pregnancy Status - United States, January 22-June7, 2020. MMWR 2020; Vol. 69, N. 25: 769-775. [ Links ]

3. Zambrano LD. Ellington S. Strid P. Update: characteristics of symptomatic women of reproductive age with laboratory-confirmed SARS-CoV-2 infection by pregnancy status - United States, January 22-October 3, 2020. MMWR 2020; Vol. 69, No. 44:1641-1647. [ Links ]

4. Recomendações da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno Fetal (SPOMMF) [homepage na internet]. Gravidez e Coronavírus 2019 (COVID-19): o que os Obstetras precisam saber; [consultado 2021 Fev 26]. Disponível em: https://congressos.mundiconvenius.pt/Ficheiros/Secretariado%20SPOMMF/SPOMMF_coronav%C3%ADr us_vf_12deMar%C3%A7o.pdf. [ Links ]

5. Norma DGS número 001/2021 [homepage na internet]. Campanha de Vacinação contra a COVID-19 Vacina SPIKEVAX(r) (anteriormente designada COVID-19 Vaccine Moderna(r)) (r). Data: 14/01/2021. Atualização: 06/07/2021. [ Links ]

6. Norma DGS número 003/2021 [homepage na internet]. Campanha de Vacinação contra a COVID-19, COVID-19 Vaccine VAXZEVRIA(r). Data: 08/02/2021. Atualização: 17/06/2021. [ Links ]

7. Norma DGS número 004/2021 [homepage na internet]. Campanha de Vacinação contra a COVID-19, COVID-19 Vaccine Janssen(r). Data: 30/04/2021. Atualização: 08/06/2021. [ Links ]

8. Norma DGS número 021/2020 [homepage na internet]. Campanha de Vacinação contra a COVID-19, Vacina COMIRNATY(r). Data: 23/12/2020. Atualização: 20/08/2021. [ Links ]

9. Centers for Disease Control and Prevention [homepage na internet]. Understanding mRNA COVID-19Vaccines. [consultado 2021 Jul 1]. Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/different-vaccines/mrna.html. [ Links ]

10. Practice Advisory [homepage na internet]. Vaccinating Pregnant and Lactating Patients Against COVID-19. ACOG. 2021. [consultado 2021 Jul 1]. Disponível em: https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/practice-advisory/articles/2020/12/covid-19-vaccination-considerations-for-obstetric-gynecologic-care. [ Links ]

11. Shimabukuro TT. Kim SY. Myers TR. et al. Preliminary Findings of mTNA Covid-19 Vaccine Safety in Pregnant Persons. NEJM 2021; Vol. 384, N. 24: 2273-2282 [ Links ]

12. Centers for Disease Control and Prevention [homepage na internet]. Information about COVID-19 Vaccines for People who Are Pregnant or Breastfeeding. [consultado 2021 Jul 4]. Disponível em: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/recommendations/pregnancy.html. [ Links ]

13. Craig A.M. Hughes B.L. Swamy G.K. Coronavirus disease 2019 vaccines in pregnancy. AJOG MFM 2020; Vol. 3, N.2: 1-6. [ Links ]

14. Norma DGS número 002/2021 [homepage na internet]. Campanha de Vacinação contra a COVID-19. Data: 30/01/2021. Atualização: 01/09/2021. [ Links ]

15. RCOG [homepage na internet]. COVID-19 vaccines, pregnancy and breastfeeding. [consultado 2021 Mai 12]. Disponível em: https://www.rcog.org.uk/en/guidelines-research-services/coronavirus-covid-19-pregnancy-and-womens-health/covid-19-vaccines-and-pregnancy/covid-19-vaccines-pregnancy-and-breastfeeding/. [ Links ]

16. FIGO [homepage na internet]. COVID-19 Vaccination for Pregnant and Breastfeeding Women. [consultado 2021 Mai 12]. Disponível em: https://www.figo.org/covid-19-vaccination-pregnant-and-breastfeeding-women. [ Links ]

17. Martins, I. Louwen F, Ayres-de-Campos, D. EBCOG position statement on COVID-19 vaccination for pregnant and breastfeeding women. EJOG 2021. [ Links ]

Recebido: 17 de Julho de 2021; Aceito: 30 de Agosto de 2021

Endereço para correspondência Patrícia Pereira Amaral E-mail: amaral.patricia16@gmail.com

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons