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Laboreal

versão On-line ISSN 1646-5237

Laboreal vol.19 no.2 Porto dez. 2023  Epub 01-Dez-2023

https://doi.org/10.4000/laboreal.21463 

Editorial

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1Católica Porto Business School, Universidade Católica Portuguesa, Rua Diogo Botelho, 1327, 4169-005 Porto. cvalverde@ucp.pt

2Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto; Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto. lcunha@fpce.up.pt


Acabamos de editar mais um número da revista Laboreal. Como vem sendo habitual, cada número está organizado em três secções: Dossier Temático; Varia; e O Trabalho e Suas Histórias, que integra as rubricas Textos Históricos e Datário.

Iniciamos com um dossier temático que denominámos “A atividade dos músicos - trabalho, formação e saúde”. Queríamos, pois, convidar os.as leitores.as para uma reflexão sobre o exercício da atividade dos músicos, associada a condições de trabalho não raras vezes marcadas por instabilidade e precariedade, num setor com peso relevante no emprego, particularmente dos jovens.

Três artigos integram este dossier destinado a analisar várias facetas relevantes para o exercício desta atividade: as práticas de ensino e de estudo necessárias para formação e atuação musical; a inserção na profissão e as condições de trabalho; e a preservação da saúde dos.as músicos.as, frequentemente pontuada por queixas físicas e mentais.

Com o primeiro artigo de Flora Vezzá, temos acesso a um estudo realizado em Portugal, através de entrevistas com professores, sobre a aprendizagem, a performance e o ensino da bateria. O texto desenvolve uma análise que torna visível os debates suscitados sobre a corporeidade, expressividade e performance na produção de música. Ilustra assim um domínio de investigação e de intervenção bastante promissor para a ergonomia e a psicologia do trabalho na melhoria de condições de estudo e de trabalho dos músicos.

Helder Capuzzo apresenta o segundo artigo deste dossier. Aqui, é a atividade de pianistas que passa a ser o objeto de um estudo realizado através da análise de entrevistas com profissionais da região de São Paulo, observando as suas elaborações artísticas e criativas e a sua inserção profissional.

O terceiro artigo, de Katya Freire e William Martin, irá interessar particularmente os.as leitores.as preocupados.as com o rumo a dar às intervenções de cariz preventivo, face aos frequentes distúrbios auditivos em músicos, originados pelos elevados níveis de pressão sonora dos seus contextos de trabalho. É aqui elencado um conjunto de conhecimentos e de dispositivos técnicos, resultantes de uma prática clínica, passíveis de ser então utilizados.

Quanto à secção Varia, esta reúne quatro artigos, distintos no seu propósito e, por isso, inseridos em quatro das rubricas da revista.

A Pesquisa Empírica de Vanessa Gregoviski e Janine Monteiro leva-nos a dar maior atenção à questão do emprego e à sua qualidade nos percursos migratórios. A pesquisa relatada refere-se a migrantes venezuelanos que residem na região sul do Brasil. É evidenciada a precariedade laboral à qual estão expostos, agravada por um quadro de vulnerabilidades relacionadas com fatores frequentemente associados às histórias de migração, tais como: a falta de uma rede de apoio sociocomunitário, a impossibilidade de revalidação de diplomas académicos, a xenofobia e o xenoracismo. São analisadas de modo particular as estratégias de mediação, de defesa e de enfrentamento desenvolvidas pelas pessoas entrevistadas face a vivências de sofrimento laboral e suas consequências para a sua saúde mental. E são realçados pontos cruciais necessitando de maior atenção, nomeadamente quando o sofrimento não consegue encontrar vias saudáveis de ressignificação. Pontua-se, ainda, que o género feminino demonstrou maior carga de sofrimento patogénico, sendo um recorte interseccional que requer atenção e pesquisas complementares.

Na rubrica ‘Instrumentos de investigação,’ Ernani Freitas, Keila Schermack e Luis Boaventura propõem uma metodologia enraizada na perspetiva enunciativo-discursiva de Mainguenot - onde o que é designado de cenografia diz respeito à mobilização de cenas enunciativas que a engendram para promover efeitos de sentido, emergindo então o processo construtivo do ethos. Associando o contributo da ergologia e destacando a importância dos saberes constituídos e investidos para que possamos analisar uma situação de trabalho, os autores chegam a apresentar-nos cenografias e ethos discursivos que se manifestaram, em contexto de pandemia, nas práticas linguageiras de duas professoras “donas de casa”. O cenário metodológico não deixa de ter a sua complexidade, mas na verdade permite evidenciar e compreender melhor as dramáticas de uso do corpo-si nas atividades laborais. Este artigo passará, de certeza, a enriquecer o referencial de muitos pesquisadores na sua procura de instrumentos de investigação inovadores.

Nos Resumos de Tese, pudemos contar com o contributo da nossa colega Cláudia Pereira, membro ativo da equipa editorial da Laboreal. A sua tese, em psicologia do trabalho, analisou de modo privilegiado as caraterísticas e condições de transmissão informal de conhecimentos entre trabalhadores - uma temática já explorada por valiosas pesquisas, mas que não deixa de precisar de atualização e enriquecimento. Os estudos empíricos foram realizados numa empresa metalomecânica portuguesa e completados por uma recolha de dados no setor secundário. Foram, assim, perspetivados avanços teórico-metodológicos significativos e relevantes para a sustentabilidade da transmissão de conhecimentos no trabalho.

E na rubrica Atas de Seminário, retomámos o texto da conferência de Yves Schwartz, na abertura da 12ª Semana Filosófica de Langres, organizada no ano passado, (http://eduscol.éducation.fr%3erpl-2022-le-travail). O texto irá encantar muitos.as leitores.as, já conhecedores ou não da Ergologia. Permite, pois, retraçar a história dos seus fundamentos, instigando à reflexão sobre o “trabalho” a partir da atividade de formação de conceitos, que está no cerne do trabalho filosófico. Questionando, por isso, como se constroem saberes sobre o trabalho e como se assegura a sua vigilância epistemológica. Ou, ainda, quais os limites entre a deontologia e o risco de usurpação das realidades de trabalho na concetualização do trabalho.

Publicamos este texto em espanhol no âmbito de uma colaboração com a revista Serviço Social & Saúde que o editou em português -https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/sss/article/view/8675046

Finalmente, na nossa habitual secção “O trabalho e suas histórias”, apresentamos:

O Texto histórico “O desenvolvimento da psique”, de Alexis Leontiev, retirado do seu livro clássico: Léontiev, A. (1959/1976). Le développement du psychisme. Éditions sociales. Agradecemos aos responsáveis das Éditions sociales por nos terem autorizado, sem encargos, a publicação das traduções deste texto, em espanhol e português.

Este texto histórico é comentado por Yannick Lémonie no artigo “O que é esta atividade, especificamente humana, à qual chamamos trabalho? O exemplo de Leontiev sobre a caça primitiva”. Trata-se de um contributo precioso para a nossa memória coletiva, não só porque nos lembra as etapas do percurso de Leontiev, mas ainda porque ajuda a melhor circunscrever o significado e o alcance do conceito de atividade no exemplo da análise da caça primitiva. Também permite entender as continuidades e as ruturas que a obra de Leontiev revela quando comparada com a abordagem histórico-cultural de Vygotsky.

Na rubrica Datário, Marianne Lacomblez, a propósito do centenário do nascimento de Ivar Odone em 26 de outubro de 2023, brinda-nos com um artigo intitulado “Ivar Oddone: uma História de resistência”. Para além de apresentar dados históricos sobre a interessantíssima trajetória de vida de Ivar Odone, este texto carateriza de forma esclarecedora os contextos histórico, social e epistemológico em que este autor contribuiu para o desenvolvimento de outras formas de ver e de intervir no domínio da saúde no trabalho. A leitura deste texto também nos permite ficar com uma visão mais consistente sobre a atualidade e as potencialidades dos muitos conceitos e instrumentos que constituem o legado de Ivar Odonne, que devemos preservar e aprofundar.

Por fim, temos o prazer de dar a notícia da publicação, em francês, na revista Travailler ( http://www.martinmedia.fr/offre/editoriale/psychologue/travailler) do dossier sobre ‘O trabalho animal’ que editámos no nosso número de julho 2022 (https://journals.openedition.org/laboreal/18790). Esta colaboração, sem custos, entre revistas, tal como as duas outras já referidas neste editorial, merece ser destacada, não unicamente pela cumplicidade científica que revela, mas também pelos valores morais que sustentam projetos de livre acesso gratuito à produção científica.

Só nos resta agradecer a todos.as os.as que colaboraram neste número: os.as autores.as, obviamente; Edna Goulart pelo apoio que garantiu a colaboração com a revista Serviço Social & Saúde; mas ainda as tradutoras, Fernanda Romero, Flora Vezza, Gabriela Cuenca e Raquel Araújo; e, claro, os.as peritos.as que avaliaram as propostas de artigos que recebemos para este número, Alessandra Re, Catarina Silva, Décio Rocha, Elisandra Magalhães, Hélder Muniz, Jean-Yves Rochex, João Alberto Camarotto, Kátia Reis de Sousa, Kátia Santorum, Leda Leal Ferreira, Marco Saraceno, Margarida Oliveira, Maria de Fátima Queirós, Roberto Funes Abrahão, Rogério Leitão e Wladimir Souza.

Desejamos a todos.as que disfrutem da leitura deste número.

Em nome do Comité Editorial da Laboreal,

Camilo Valverde e Liliana Cunha

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