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Motricidade

Print version ISSN 1646-107X

Motri. vol.19 no.3 Ribeira de Pena Sept. 2023  Epub Mar 21, 2024

https://doi.org/10.6063/motricidade.31568 

Artigo de Revisão

Efeitos da dança em cadeira de rodas na saúde e qualidade de vida de pessoas com deficiência física: uma revisão narrativa

Effects of wheelchair dancing on the health and quality of life of people with physical disability: a narrative review

Maurício Almeida1  * 
http://orcid.org/0000-0002-6153-1011

Pedro Henrique Berbert de Carvalho1 
http://orcid.org/0000-0002-4918-5080

Mauro Lúcio de Oliveira Júnior1 
http://orcid.org/0000-0002-1644-5173

Cleonaldo Gonçalves Santos1 
http://orcid.org/0000-0002-9302-388X

Priscila Figueiredo Campos1 
http://orcid.org/0000-0002-2235-7129

André Gustavo Pinto de Souza1 
http://orcid.org/0000-0001-7109-2799

Thainá Richelli Oliveira Resende1 
http://orcid.org/0000-0003-4896-5605

Lindsei Brabec Mota Barreto2 
http://orcid.org/0000-0001-5941-4409

Anaile Duarte Toledo Martins3 
http://orcid.org/0009-0003-9888-6312

Rogério Vieira Primo4 
http://orcid.org/0009-0003-4365-0564

Eliana Lúcia Ferreira1 
http://orcid.org/0000-0001-7978-8731

1Universidade Federal de Juiz de Fora – Juiz de Fora (MG), Brasil.

2Universidade Federal da Grande Dourados – Dourados (MS), Brasil.

3Universidade Vale do Rio Doce – Governador Valadares (MG), Brasil.

4Faculdade Presidente Antônio Carlos – Governador Valadares (MG), Brasil.


RESUMO

A dança em cadeira de rodas (DCR) é uma modalidade praticada principalmente por pessoas com deficiência física. No Brasil, é uma modalidade emergente que carece de investigação e sistematização. Assim, o objetivo do presente estudo foi, por meio de uma revisão narrativa da literatura, identificar, analisar e sistematizar os estudos existentes sobre os efeitos da DCR na saúde e qualidade de vida de pessoas com deficiência física. As pesquisas foram conduzidas em bases de dados especializadas, Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e em bibliotecas digitais de teses e dissertações de inúmeras instituições de ensino superior. Estudos elegíveis incluíram apenas pessoas com deficiência física, assim como tratavam dos efeitos da DCR na saúde e qualidade de vida. Um total de oito estudos foram incluídos na síntese qualitativa. A maior parte dos estudos apresentou uma abordagem qualitativa e delineamento transversal. É possível concluir que a DCR pode trazer inúmeros benefícios para a saúde física, para o funcionamento psicossocial e para a qualidade de vida de pessoas com deficiência física.

PALAVRAS-CHAVE: pessoas com deficiência; dança; saúde; qualidade de vida

ABSTRACT

Wheelchair dancing (DCR) is an activity practised mainly by people with physical disabilities. In Brazil, it is an emerging activity lacking investigation and systematisation. Thus, the objective of the present study was, through a narrative review of the literature, to identify, analyse and systematise the existing studies about the effects of DCR on the health and quality of life of people with physical disabilities. The research was driven in specialised databases, the Theses and Dissertations Catalog of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (Capes), and digital libraries of theses and dissertations from numerous higher education institutions. Eligible studies included only people with physical disabilities, as well as dealing with the effects of DCR on health and quality of life. A total of eight studies were included in the qualitative synthesis. Most of the studies had a qualitative approach and cross-sectional design. It is possible to conclude that DCR can bring countless benefits to the physical health, psychosocial functioning and quality of life of people with physical disabilities.

KEYWORDS: people with disability; dancing; health; quality of life

INTRODUÇÃO

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil possui aproximadamente 45,6 milhões de pessoas com deficiência, nas quais mais de 13 milhões são pessoas com deficiência física (Brasil, 2021b). Em geral, essas pessoas apresentam alterações completas ou parciais em um ou mais segmentos do corpo, o que acarreta o comprometimento da mobilidade e da coordenação geral, podendo afetar também a fala (Brasil, 2021b). Não obstante, historicamente, as pessoas com deficiência têm vivenciado um contexto de exclusão, preconceito e discriminação (Mendes, Denari, & Costa, 2022).

Buscando reduzir o capacitismo, bem como incluir as pessoas com deficiência física nas mais variadas práticas corporais, artísticas e esportivas, diversas modalidades têm sido desenvolvidas, incluindo a dança em cadeira de rodas (DCR) (Ferreira & Ferreira, 2004). Essa modalidade incorpora elementos da dança moderna, criativa, contemporânea, terapêutica, folclórica, bem como diversos movimentos rítmicos (Ferreira, 2000; 2001). No contexto brasileiro, a DCR ainda é uma modalidade emergente, que carece de estudos e sistematização (Santos, Gutiérrez, & Roble, 2019).

No que diz respeito à saúde e qualidade de vida, estudos de revisões sistemáticas com metanálise têm destacado que a dança é uma atividade corporal eficaz no aumento da apreciação corporal e autoestima, assim como na redução dos sintomas depressivos e ansiedade (Fong Yan et al., 2018; Karkou, Aithal, Zubala, & Meekums, 2019; Koch et al., 2019). Embora esses estudos apresentem informações essenciais para o desenvolvimento da área, eles não incluíram pessoas com deficiência física, nem mesmo a DCR, modalidade praticada por essa população.

Nesse sentido, é imprescindível o desenvolvimento de estudos bibliográficos buscando compreender os benefícios da DCR para as pessoas com deficiência física; pois, a disponibilidade desses resultados contribuirá para a inclusão dessa modalidade em associações, projetos sociais/culturais, assim como em centros de promoção e prevenção da saúde. Realmente, a dança tem uma maior aceitação, pois fornece alegria e diversão durante a sua prática, e não apenas esforços exaustivos vivenciados em alguns programas de exercício físico, aspectos que estão diretamente associados a percepção de qualidade da vida (Marbá, Silva, & Guimarães, 2016).

Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi, por meio de uma revisão narrativa da literatura, identificar, analisar e sistematizar os estudos existentes sobre os efeitos da DCR na saúde e qualidade de vida de pessoas com deficiência física. Como hipótese, espera-se evidenciar que a DCR é uma modalidade eficaz na melhoria da saúde e qualidade de vida de pessoas com deficiência física.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter exploratório, no qual foi desenvolvido uma revisão narrativa da literatura (Marconi & Lakatos, 2017). Esse delineamento metodológico possibilita a identificação, análise e sistematização dos estudos existentes, fornecendo insights para pesquisas futuras (Gil, 2002; Marconi & Lakatos, 2017).

Estratégias de pesquisa

Inicialmente, as buscas foram realizadas no mês de novembro de 2022, nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para realizar as buscas os seguintes descritores foram utilizados: “Pessoa com Deficiência” OR “Pessoas com Deficiência” OR “Pessoas com Deficiência Física” OR “Deficiente Físico” OR “Pessoas com Necessidade Especial” OR “Pessoas com Necessidades Especiais” AND “Dança” OR “Dança em cadeira de rodas” OR “Terapia pela Dança” AND “Saúde” OR “Serviços de Saúde para Pessoas com Deficiência” OR “Qualidade de Vida” OR “Indicadores de Qualidade de Vida” OR “Qualidade de Vida Relacionada à Saúde” OR “HRQOL”.

Por se tratar de uma temática pouco estudada no contexto nacional, muitos estudos podem estar em formato de dissertação e/ou tese, não tendo sido publicados em periódicos científicos. Desse modo, durante o mês de dezembro de 2022, as buscas foram expandidas para o Google Acadêmico, Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Critérios de elegibilidade

Em relação aos critérios de elegibilidade, só foram incluídos estudos disponíveis na íntegra, escritos em língua Portuguesa (Brasil), Inglesa (EUA) e/ou Espanhola. Ademais, só foram incluídos estudos que associaram a prática da DCR à saúde e qualidade de vida. Por outro lado, foram excluídos os estudos que não incluíram pessoas com deficiência física. Ademais, não foi estabelecido restrição de tempo para seleção dos estudos.

Seleção dos estudos

A busca foi realizada por dois pesquisadores independentes, com todos os estudos selecionados sendo enviados para um software de gerenciamento de referências (isto é, EndNote). Um terceiro pesquisador cruzou os estudos encontrados em ambas as buscas e resolveu possíveis divergências. Logo após, todos os estudos duplicados foram excluídos. Os estudos que permaneceram tiveram seu título e resumo lidos na íntegra por dois pesquisadores independentes, com as divergências sendo resolvidas por um terceiro pesquisador. Os estudos que permaneceram foram lidos na íntegra para verificar se eles atendiam aos critérios de elegibilidade. Os estudos que atenderam todos os critérios de elegibilidade foram incluídos na síntese qualitativa.

RESULTADOS

Após a aplicação dos critérios de elegibilidade, um total de oito estudos foram incluídos na síntese qualitativa. Todo o processo de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão pode ser visualizado na Figura 1. Ademais, a Tabela 1 apresenta um resumo das principais informações dos estudos incluídos (isto é, autor, ano, tipo de estudo, participantes, objetivos e principais resultados encontrados).

Figura 1 Fluxograma do estudo. 

Tabela 1 Principais informações dos estudos incluídos. 

Autor (ano) Tipo de estudo Participantes Objetivo(s) Principais resultados
Silva, Carvalho e Millen Neto (2009) Qualitativo (etnografia - entrevista e diário de campo) – longitudinal. 1 menina com 9 anos. Analisar as possibilidades da DCR como recurso para o desenvolvimento dos aspectos afetivo social, cognitivo, psicomotor e terapêutico de uma criança com paralisia cerebral. O interesse da menina pela dança. O apoio da família e acompanhamento de profissionais especializados foram essenciais para o projeto de dança. Progressão nos aspectos motores e psicológicos da criança no desenvolver das aulas de dança.
Maciel, Camargo e Vilela Junior (2009) Qualitativo (observação) e quantitativo (questionário) – transversal. Dois grupos de dança com cadeirantes (Total= 30 participantes). Grupo 1: homens e mulheres - idade entre 8 e 18 anos; Grupo 2: homens e mulheres - idade entre 10 e 18 anos. Avaliar a importância da dança para cadeirantes, apontar os benefícios e contribuições para a melhor qualidade de vida e inclusão social desses indivíduos. Satisfação dos cadeirantes em praticar a modalidade. Benefícios e contribuições relevantes para a melhora das capacidades físicas, motoras, cognitivas e sociais da pessoa com deficiência (PCD) física.
Giraldi e Souza (2011) Qualitativo (análise de conteúdo) e quantitativo (estatística descritiva) – transversal. 2 cadeirantes homens participantes do projeto de dança no Instituto de Educação Santa Inês (Mantenedora APAE). Pesquisar quais são os benefícios da dança para 2 alunos cadeirantes. Identificar quais são os sentimentos dos praticantes da DCR, analisar quais outros benefícios alcançados através das aulas e verificar se houve melhora no convívio social e no desenvolvimento cognitivo. Os cadeirantes praticantes de dança sentem-se mais felizes, apresentam melhora em sua autoestima, bem como fortalecimento muscular.
Quadros e Palma (2013) Qualitativo (descritivo, entrevista semiestruturada e análise de conteúdo) – transversal. 6 participantes de DCR, sendo, 3 mulheres e 3 homens – idade entre 21 e 50 anos. Analisar as representações corporais de praticantes de DCR através de seus conceitos de movimento, corpo e deficiência. A DCR é um espaço social em que os bailarinos demonstram suas capacidades e habilidades na esfera social e motora. Os entrevistados entendem o corpo como forma de bem-estar, realização de movimentos na DCR, bem como modo de transmissão de suas emoções e habilidades.
Rosa (2014) Qualitativo (entrevista semiestruturada e análise de conteúdo) – transversal. 5 homens bailarinos de DCR – idade entre 18 e 47 anos. Identificar e analisar a representação do corpo de homens que praticam DCR. Conhecer o perfil dos entrevistados, analisar as representações do próprio corpo, bem como o corpo do outro dançante, e analisar as representações do dançarino acerca do olhar do outro para a PCD. O significado de corpo “saudável”, imposto pelo contexto social e mídia, está relacionado a estética (padrão). PCD possuem marcas em seus corpos por não adequarem aos “padrões”, assim, são entendidos como seres doentes e menos aceitos. Esses corpos são marcados pela deficiência, performance e tecnologia, permitindo aos atletas de DCR uma nova forma de viver, enfrentar e superar seus limites.
Nunes (2016) Qualitativo (descritivo, entrevista semiestruturada - história oral e análise de conteúdo) – transversal. 8 alunos participantes do projeto Dança esportiva para PCD (maior prevalência do gênero masculino) – idade entre 10 e 44 anos. Desvelar as vivências de cadeirantes no projeto de DCR para PCD. Levantar, colher e estabelecer informações dos participantes acerca do projeto, bem como contextualizar a história de ser dançante e cadeirante no projeto. As vivências dos cadeirantes dançantes demonstraram aspectos positivos em relação a sua trajetória como ser que dança, mesmo deficiente. O processo de ensino da dança proporciona um ambiente favorável para o desenvolvimento de habilidades e valorização do próprio “eu”, sendo a sociedade um grande potencializador.
Corrêa, Nunes e Verde (2020) Qualitativo e quantitativo – longitudinal (pré e pós-intervenção). 6 cadeirantes – idade igual ou maior que 18 anos. Avaliar a imagem corporal e a autoestima de PCD física praticantes de DCR a partir da percepção do próprio sujeito. A dança é um ótimo instrumento para a melhora da imagem e estima corporal, pois pode proporcionar benefícios físicos, psicológicos e sociais.
Vasconcelos (2021) Qualitativo (observação das aulas e anotações feitas pelo professor, registros fotográficos e filmagens) – longitudinal. 6 mulheres bailarinas cadeirantes – idade entre 13 e 39 anos. Analisar e expor os benefícios da DCR como forma terapêutica para pessoas com paralisia cerebral. As participantes apresentaram melhorias na psicomotricidade, possibilitando descobertas corporais e verbalização das emoções. Ademais, criaram e recriaram diversas formas de linguagem corporal, melhorando suas relações sociais, respeitando seus limites, superações e potencialidades.

Ao observar o ano de publicação dos estudos elegíveis, apenas dois foram publicados nos últimos cinco anos. Em relação a metodologia, a maior parte dos estudos incluídos apresentaram uma abordagem qualitativa (n= 5) e delineamento transversal (n= 5). No que diz respeito à amostra, os estudos incluíram desde crianças (≥ 8 anos de idade) até adultos de meia idade (≤ 50 anos de idade). A maioria dos estudos incluiu amostras mistas de homens e mulheres (n= 3), apenas homens (n= 2) e apenas mulheres (n= 2). Sendo que um estudo não descreveu o sexo dos participantes.

DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão narrativa da literatura buscando investigar os efeitos da DCR na saúde e qualidade de vida de pessoas com deficiência física. Dessa maneira, os estudos incluídos na presente revisão estão sendo discutidos com base na definição de saúde, compreendida como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (Organização Mundial da Saúde, 1948).

Essa definição de saúde já vem sendo apresentada como obsoleta (Brasil, 2021b). Assim, o Ministério da Saúde complementa que é necessário compreender a saúde de uma maneira ampla, levando em consideração suas relações históricas, econômicas, políticas e sociais (Brasil, 2021a). Adicionalmente, ela deve levar em consideração a qualidade de vida, as necessidades básicas do ser humano, seus valores, crenças, direitos, deveres e suas relações dinâmicas, (re)construídas ao longo de toda a vida (Brasil, 2021a).

Em consonância com essa ideia, a qualidade de vida é entendida, segundo a World Health Organization (2021), como as percepções que o indivíduo tem da sua posição na vida, no contexto cultural e nos sistemas de valores nos quais vive, bem como em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Ademais, a qualidade de vida também envolve o bem estar físico, espiritual, mental, psicológico e emocional, além dos relacionamentos sociais (por exemplo, com a família e amigos), saúde, educação, habitação, saneamento básico e outras circunstâncias da vida (Brasil, 2013).

Nesse sentido, percebe-se que as pessoas com deficiência possuem o desejo, não apenas de utilizar suas capacidades de movimento, mas também de atribuir significado à sua linguagem corporal (Ferreira, 2000). Assim, visando identificar os potenciais efeitos da DCR na saúde e qualidade de vida de pessoas com deficiência física, autores desenvolveram um estudo de caso, com abordagem qualitativa, com uma menina de nove anos, na cidade de Quatis, município localizado na região sul-fluminense, no estado do Rio de Janeiro (Silva et al., 2009). Além do diário de campo, os autores realizaram entrevistas semiestruturadas com a família da criança, professores e os profissionais da saúde que realizavam o acompanhamento da paciente. Dentre os resultados encontrados, houve melhora do sistema motor, o que contribuiu para melhora do equilíbrio nas atividades da vida diária (Silva et al., 2009). Em consonância com esses achados, quando os autores entrevistaram o fisioterapeuta da criança, ele destacou que praticar a modalidade melhorou sua motivação, quebrando barreiras quanto às suas capacidades físicas, desfazendo a monotonia das sessões de fisioterapia que o tratamento requer (Silva et al., 2009). Na entrevista com a psicóloga que acompanhava a menina, elucidou-se que a DCR melhorou a autoestima, de modo que a paciente passou a ser mais descontraída, alegre e feliz (Silva et al., 2009). Corroborando esses achados, Corrêa et al. (2020) ressaltam que a DCR pode ser decisiva na melhora da autoestima, proporcionando maior independência e interação com outras pessoas.

Analogamente, o estudo de Maciel et al. (2009) avaliou dois grupos de DCR da cidade de Castro no estado do Paraná. O estudo inclui 30 participantes, homens e mulheres, com idade entre oito e 18 anos de idade. Inicialmente, os pesquisadores realizaram uma observação não participante das aulas de dança e, posteriormente, aplicaram um questionário estruturado aos participantes. Após iniciar as aulas de DCR, os dançarinos destacaram uma melhoria na capacidade motora, percepção e contato com o próprio corpo e qualidade de vida (Maciel et al., 2009). Ademais, os participantes destacaram que a prática da DCR melhorou a integração da cadeira de rodas à sua imagem corporal (Maciel et al., 2009). Realmente, estudo de Rosa (2014), identificou que a cadeira de rodas tem um significado único para as pessoas com deficiência física. Por exemplo, um dos participantes destacou que “a cadeira de rodas representa liberdade, é a forma no qual eu consigo me locomover.” (Rosa, 2014, p. 19). Ao encontro dessas ideias, outro participante ressaltou: “são as minhas pernas, é uma ferramenta que faz parte do meu corpo, é a minha sapatilha.” (Rosa, 2014, p. 19). Essas falas enfatizam a importância da DCR como uma facilitadora da incorporação da cadeira de rodas à imagem corporal das pessoas com deficiência física.

Posteriormente, Giraldi e Souza (2011) desenvolveram um estudo com dois homens, cadeirantes, com paralisia cerebral (ambos com deficiência motora), participantes de um projeto de dança, localizado no Instituto de Educação Santa Inês, no município de Brusque, Santa Catarina. Os autores realizaram uma entrevista individual e estruturada com os participantes, e devido às especificidades da deficiência, uma prancheta de comunicação alternativa foi utilizada. Ao serem perguntados como se sentiam ao praticar a DCR os participantes destacaram os sentimentos de orgulho e felicidade (Giraldi & Souza, 2011). Ambos os entrevistados relatam que após iniciarem a prática da DCR sentiram expressiva melhora na sua qualidade de vida, principalmente pela melhora da força de membros superiores e inferiores, melhora da mobilidade e alívio das dores. Destaca-se a fala de um dos participantes, que ressaltou o fato de, após iniciar as aulas de DCR, ter conseguido sentar-se (Giraldi & Souza, 2011). Ambos os entrevistados citam que a DCR é importante, pois possibilita aumentar o companheirismo, carinho e troca de experiências com outros colegas (Giraldi & Souza, 2011). De fato, muitas são as maneiras de “expressar os sentimentos quando se dança, pois se pode transmitir mensagens e sentimentos profundos através dos movimentos que talvez não se consiga expressar verbalmente” (Giraldi & Souza, 2011, p. 189).

Contribuindo com esses achados, Quadros e Palma (2013) conduziram um estudo com seis praticantes da DCR, com idade entre 21 e 50 anos, sendo três do sexo feminino e três do sexo masculino. Em relação à metodologia, as autoras utilizaram uma entrevista semiestruturada em conjunto com a análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin (Quadros & Palma, 2013). Percebe-se que, em relação à saúde, os entrevistados destacaram a melhora da coordenação motora, controle e consciência corporal e condicionamento físico (Quadros & Palma, 2013). Não obstante, ao descrever a qualidade de vida, perceberam melhora das possibilidades de lazer, principalmente pela ampliação da independência (Quadros & Palma, 2013). Os participantes destacaram ainda a sua satisfação em dançar, fazendo com que, em alguns casos, a DCR torne-se uma opção de lazer e até mesmo sua profissão (Quadros & Palma, 2013). De fato, a DCR permite que os dançarinos afirmem seu poder de pensar, criticar e agir (Quadros & Palma, 2013).

Buscando compreender as percepções masculinas em relação ao corpo dançante, Rosa (2014) desenvolveu um estudo com cinco atletas que participaram do I Simpósio Paradesportivo Paulista. A idade dos participantes variou de 18 a 47 anos. Em relação à cor/raça, quatro participantes se auto identificaram como Brancos e um como Preto. Assim como nos estudos anteriores, o método de coleta e análise dos dados foram a entrevista semiestruturada e análise de conteúdo, respectivamente (Rosa, 2014). Quando perguntados, “como você acredita que as pessoas te veem enquanto dançarino que utiliza a cadeira de rodas para dançar?”, dois participantes descreveram que as outras pessoas os “veem como artista, um esportista, com admiração, respeito e carinho” (Rosa, 2014, p. 24). Acredita-se que pessoas com deficiência que utilizam a cadeira de rodas para dançar vêm quebrando estereótipos, conquistando seu espaço na arte, no esporte, bem como no contexto social, político e econômico (Rosa, 2014).

Nunes (2016) descreveu um relatório no qual evidenciou a participação de oito alunos, com idade entre 10 e 44 anos, membros do projeto de extensão Dança Esportiva para Pessoas com Deficiência (DEPD), da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da UFAM. No presente estudo, a autora realizou uma entrevista semiestruturada com os participantes, seguida por uma análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin (Nunes, 2016). Os participantes do projeto de extensão, destacaram a DCR como uma experiência singular, única e agradável (Nunes, 2016). Dentre os benefícios específicos, os alunos sinalizam melhora do manuseio e agilidade da cadeira de rodas, aprendizagem da dança e de ritmos variados (Nunes, 2016). Por fim, eles destacaram que através do projeto de DCR construíram novas amizades, melhoraram a timidez, aceitação corporal, bem como puderam vivenciar uma experiência única de se apresentar em público (Nunes, 2016).

Estudo posterior, desenvolvido no mesmo projeto de dança (DEPD), utilizou um estudo de caso com abordagem mista (quantitativa e qualitativa) para avaliar a imagem corporal e autoestima de seis praticantes de DCR (Corrêa et al., 2020). Para tanto, eles aplicaram a Escala de Catexe Corporal desenvolvida por Secord e Jourard (Barbosa, 2003) e a Physical Disability Body Esteem Questionnaire (PDBEQ) (Cuba, 2008). As escalas foram aplicadas antes e após 30 intervenções com aulas de DCR. Observa-se que houve uma melhora média (os autores não realizaram teste de comparação), entre o momento inicial e após a intervenção com a DCR, nas variáveis de funções corporais, aparência global e estima corporal (Corrêa et al., 2020). Estudos que privilegiem o aumento da apreciação corporal em pessoas com deficiência física são essenciais, pois, em grande parte, são considerados distantes do modelo de aparência ideal ditados pelos fatores de influência sociocultural, em especial a mídia (Rafael, Gomes, Duarte, Barreto, & Ferreira, 2012). Desse modo, a DCR é uma ferramenta imprescindível para o desenvolvimento da imagem corporal, especialmente porque ela se apresenta como uma modalidade capaz de estabelecer um diálogo contínuo do dançarino com o seu ambiente físico e social (Corrêa et al., 2020).

Um estudo longitudinal, conduzido com a companhia “Dançando sobre Rodas” na cidade de Taubaté-SP, avaliou os efeitos da DCR em seis participantes, com idade variando de 13 a 39 anos (Vasconcelos, 2021). A coleta de dados foi realizada por meio de uma observação participante, de modo que as anotações foram feitas pelo professor da parte técnica somatopsicodinâmica. Além disso, foram realizados registros fotográficos e filmagens. Os autores evidenciaram melhorias significantes na coordenação global, coordenação óculo-manual, percepção do esquema corporal e maior estímulo das emoções (Vasconcelos, 2021). O autor ressaltou ainda que DCR inclui uma ampla gama de movimentos corporais que podem ser utilizados em outras ocasiões, principalmente nas atividades da vida diária (Vasconcelos, 2021).

Percebe-se que alguns estudos têm se dedicado a investigar os benefícios da DCR para saúde e qualidade de vida das pessoas com deficiência física. Contudo, em sua grande maioria eles apresentam um reduzido tamanho amostral e envolvem uma metodologia exploratória e qualitativa. Como supracitado, o Brasil possui aproximadamente 45,6 milhões de pessoas com deficiência, nas quais mais de 13 milhões são pessoas com deficiência física (Brasil, 2021b). Desse modo, a DCR pode favorecer a inclusão plena dessas pessoas na sociedade contemporânea, trazendo inúmeros benefícios de ordem física, emocional, psicológica e social (Braga, Melo, Labronici, Cunha, & Oliveira, 2002). Pois, como evidenciado, no aspecto físico ela pode favorecer o desenvolvimento das capacidades físicas e das condições orgânicas-funcionais (por exemplo, melhor funcionamento do aparelho circulatório, respiratório, digestivo, reprodutor e excretor) (Giraldi & Souza, 2011). Desse modo, a DCR pode melhorar a qualidade de vida dos deficientes físicos, sendo uma forma de manifestação dos sentimentos, na qual o contato com o seu próprio corpo é muito intenso (Giraldi & Souza, 2011).

Embora o presente estudo descreva informações imprescindíveis para o desenvolvimento da área, ele apresenta algumas limitações. Por exemplo, devido a metodologia adotada, não é possível realizar uma síntese quantitativa dos dados. Não obstante, devido ao delineamento metodológico dos estudos elegíveis, não foi possível aplicar um instrumento de avaliação da qualidade e/ou do risco de viés.

CONCLUSÕES

Conclui-se que a DCR pode trazer benefícios para saúde física e para o funcionamento psicossocial das pessoas com deficiência física. Ademais, os estudos encontrados evidenciaram que a DCR impactou positivamente a qualidade de vida, melhorando, principalmente, a autonomia e independência para realização das atividades da vida diária. Não obstante, a DCR auxiliou na incorporação da cadeira de rodas à imagem corporal, assim como no aumento da apreciação corporal e autoestima. Dessa forma, a DCR deve ser aplicada amplamente em associações, projetos sociais/culturais, assim como em centros de promoção e prevenção da saúde.

Estudos futuros poderiam utilizar um elevado tamanho amostral, bem como empregar métodos quantitativos, em contrapartida aos qualitativos, desenvolvidos até o presente momento. Ademais, poderiam avaliar os efeitos dos diferentes estilos de DCR em uma série de variáveis como, por exemplo, saúde física, relacionamento interpessoal, qualidade de vida, autoestima, insatisfação corporal e sintomas depressivos.

Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem os membros do Núcleo Interprofissional de Estudos e Pesquisa em Imagem Corporal e Transtornos Alimentares (NICTA/CNPq).

REFERÊNCIAS

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Corrêa, L. da S., Nunes, L. M. de A., & Verde, E. J. S. R. C. (2020). Imagem corporal e autoestima de cadeirantes praticantes de dança sobre rodas. Amazônica - Revista de Psicopedagogia, Psicologia escolar e Educação, 25(2), 52-63. [ Links ]

Cuba, B. W. (2008). Imagem corporal de pessoas com deficiência física atletas e não atletas [Trabalho de Conclusão de Curso]. Instituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. [ Links ]

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Recebido: 05 de Novembro de 2022; Aceito: 21 de Dezembro de 2022

*Autor correspondente: Programa de Pós-graduação em Educação Física, Faculdade de Educação Física e Desportos, Universidade Federal de Juiz de Fora, Via Local, CEP: 39863-998, Juiz de Fora (MG), Brasil. E-mail: maualmeida4@gmail.com

Conflito de interesses: nada a declarar.

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