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Motricidade

Print version ISSN 1646-107X

Motri. vol.13 no.2 Ribeira de Pena June 2017

https://doi.org/10.6063/motricidade.7904 

ARTIGO ORIGINAL

 

Relações entre imagem corporal e perfil somatotípico em mulheres jovens

 

Relationship between body image and somatotype profile in young women

 

 

Marcela Rodrigues de Castro1,*; Fabiane Frota Rocha Morgado2; Ana Clara de Souza Paiva3; Fernanda Lopes Magre3; Diego Giulliano Destro Christofaro4; Ismael Forte Freitas Junior4

1 Universidade Federal da Bahia, departamento de Educação Física, Salvador, Brasil
2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, departamento de Educação Física e Esportes, Seropédica, Brasil
3 Universidade Estadual Paulista, Campus Júlio de Mesquita Filho, departamento de Educação Física, Rio Claro, Brasil
4 Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, departamento de Educação Física, Presidente Prudente, Brasil

 

 


RESUMO

O objetivo do presente estudo foi verificar se há associação estatística entre insatisfação corporal, comportamentos, afetos e crenças relacionados ao próprio corpo com o somatótipo de mulheres adultas jovens. Participaram 142 universitárias (21,81± 3,0 anos) submetidas à avaliação do Índice de Massa Corporal e do somatótipo. Para avaliação da imagem corporal foram aplicados os instrumentos: Body Shape Questionnaire, Body Attitudes Questionnaire, Body Image Avoidance Questionnaire, Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale. Os dados foram analisados por meio da análise de variância multivariada (MANOVA one-way). Frente aos principais resultados, observou-se que a insatisfação corporal, a evitação corporal e atitudes negativas referentes à aparência, apresentam associação significante entre si e com os perfis somatotipológicos com predominância mesomórfica e endomórfica. Conclui-se que o perfil somatotipo pode ser um importante preditor de alterações na imagem corporal, podendo ser útil para rastrear grupos de risco

Palavras-chave: Imagem corporal, Somatótipo, Dimensão atitudinal


ABSTRACT

This study aimed to investigate associations among body dissatisfaction, behaviors, feelings, and beliefs related to the body - and somatotypical profile. The sample included 142 undergraduate female students (21.81 ± 3 years) who underwent to assessment of Body Mass Index and somatotype, according to the World Health Organization and Heath-Carter protocols, respectively. To assess body image the following instruments were applied: Body Shape Questionnaire, Body Attitudes Questionnaire, Body Image Avoidance Questionnaire, Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale, Self-Subject Silhouettes To the analysis data we proceeded to multivariate analysis of variance (MANOVA one-way). As the main result, we find that body dissatisfaction, body avoidance and negative attitudes about appearance components are linked to each other and they are influenced by body profiles with mesomorphic and endomorphic predominance. We conclude that the somatotype profile can be an important predictor of changes in body image and is indicated for tracking risk groups.

Keywords: Body image, Somatotype, Attitudinal dimension.


 

 

INTRODUÇÃO

Considerada um constructo multidimensional, a imagem corporal abrange, diferentes elementos tais como: insatisfação corporal, afetos, comportamentos e crenças relacionadas ao próprio corpo. Alterações em qualquer desses elementos podem implicar no desenvolvimento de uma imagem corporal negativa, aqui entendida como um desgosto profundo com o próprio corpo (Cash, Pruzinsky, 2002).

Insatisfação corporal, por exemplo, está relacionada a baixo autoestima, depressão (Morgado, Ferreira, Campana, Rigby, & Tavares, 2013), alterações afetivas, quadros de distúrbios na alimentação e na prática exagerada de exercícios físicos (Thompson et al., 2004). Também podem levar a disfunções cognitivos cognitivas que, por sua vez, podem gerar pensamentos ansiosos, depressivos e preocupação exagerada com o peso corporal. Além disso, mudanças comportamentais estão associadas à relutância em reconhecer os limites e formas do corpo, depreciando-o, contribuindo, assim, para situações de evitar e “checagem” corporal, comprometendo a vida social da pessoa (Thompson et al., 2004).

Apesar do caráter multidimensional da imagem corporal, a insatisfação com o corpo tem sido a característica de maior enfoque entre pesquisadores da área (Laus, Miranda, Almeida, Costa, & Ferreira, 2012, Levine & Murnen, 2009, Runfola et al., 2013, Slevec & Tiggemann, 2011, Swami et al., 2010), o que incorre, muitas vezes, em deixar negligenciadas as demais dimensões (Thompson & Van Den Berg, 2002, Cash & Pruzinsky, 2002).

O estudo articulado das diferentes dimensões da imagem corporal mostra-se de grande valor para seu entendimento mais profundo e consistente, fundamental na identificação de grupos de risco e na consequente adoção de medidas preventivas e terapêuticas. Nesse sentido, algumas iniciativas têm sido tomadas, como no estudo de Rosenström et al. (2013) o qual demonstrou que afetos relacionados ao próprio corpo estão estreitamente relacionados à insatisfação corporal, constatando ser essa preditora de sentimentos negativos relacionados ao corpo.

Nessa direção, no intuito de compreender a multidimensionalidade da imagem corporal, Cash e Pruzinsky (2002) alertam para importância de se considerar os aspectos objetivos do corpo (massa corporal, estatura, Índice de Massa Corporal - IMC, percentual de gordura, etc.). Alguns estudos avançaram no sentido de verificar associações entre imagem corporal e parâmetros antropométricos como IMC, razão cintura/quadril e percentual de gordura, indicando serem estas preditoras da insatisfação com o corpo (Austin, Haines, & Veugelers, 2009, Corseuil, Pelegrini, Beck, & Petroski, 2009, Damasceno, Vianna, Novaes & Fernandes, 2011, Faries & Bartholomew, 2012, Laus et al., 2012, Pallan, Hiam, Duda, & Adab, 2011, Stewart et al., 2014). Contudo, tais características físicas avaliadas, não refletem noções de simetria e proporcionalidade, conceitos pertinentes quando se trata de aparência, beleza e estética (Nevill, Stewart, Olds, & Holder, 2006).

Uma oura forma objetiva que indica a estrutura e composição corporal é o somatotipo, e é expresso pelos componentes: endomórfico (adiposidade relativa), mesomórfico (magnitude musculoesquelética) e ectomórfico (linearidade). Atualmente, parece que há certa tendência para valorização da estrutura corporal mesomórficas para homens e ectomórficas para mulheres, impactando, assim a imagem corporal (Pedretti, 2008).

Diante disso, o presente estudo teve por objetivo verificar associações entre as quatro principais dimensões da imagem corporal – insatisfação, comportamento, afeto e crença – e o somatotipo em mulheres jovens.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo de caráter transversal.

Esta pesquisa teve aprovação no Comitê de Ética da Universidade Estadual Paulista- Campus de Rio Claro/SP, sob o protocolo de número 298 e decisão de número 071/2012 e todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido tendo ciência do que trata o estudo e sua participação.

Participantes

A seleção das participantes foi baseada no cadastro de estudantes de graduação do sexo feminino do campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista/UNESP, a partir do qual foi realizado cálculo amostral para população finita, estratificado por curso por meio da seguinte fórmula: N= (Zα/2σ| E)2 .Onde: N = Número de indivíduos na amostra, Z α/2 = Valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado, σ =Desvio-padrão populacional da variável estudada e E = Margem de erro ou erro máximo de estimativa. Optamos pelo grau de confiança de 90%, sendo o α de 0,10 e o valor crítico (Z α/2) correspondente de 1,96. Para correção do tamanho da amostra utilizaremos a fórmula: N*= n/1+n/N. Onde: N*= amostra corrigida, n= amostra obtida pela primeira fórmula e N = tamanho da população. Resultando assim, em amostra de 142 mulheres, distribuídas nos cursos: Engenharia Ambiental (n=14), Ciências Biológicas (n=27), Ciências da Computação (n=7), Ecologia (n=21), Educação Física (n=19), Física (n=8), Geografia (n=14), Geologia (n= 4), Matemática (n=9) e Pedagogia (n=19).

Foram considerados os seguintes critérios de inclusão de participação na pesquisa: 1) ser mulher; 2) estudante de graduação da UNESP, campus Rio Claro; 3) possuir o IMC dentro da amplitude de 16,5 a 40 Kg/m2; 4) não ter realizado exercício físico menos de três horas antes do teste; 5) não ter passado por situações atípicas (insônia ou sono alterado) na noite anterior ao teste, e 6) não ter passado por algum evento estressante (mau-humor, ansiedade, tristeza, euforia, dores musculares, tensão pré-menstrual) no dia do teste. Os critérios 4 a 6 foram avaliados por meio de anamnese (formulário elaborado pela autora) no momento da coleta, sendo necessário obter resposta negativa em todos.

Instrumentos e Procedimentos

Os A Massa Corporal foi mensurada por meio de balança de plataforma digital marca Tannita e precisão de 0,1 kg; a estatura foi mensurada utilizando estadiômetro com cabeçal móvel marca Sanny com precisão 1 cm; os perímetros foram mensurados por meio de fita métrica flexível marca Sanny e precisão 1 cm. Os diâmetros ósseos foram mensurados por paquímetros marca Sanny com precisão de 1 mm. As medidas de pregas cutâneas foram obtidas por meio de adipômetro marca Sanny e precisão 1mm. Todas as medidas foram realizadas seguindo os direcionamentos propostos por Fernandes Filho (2003).

Cálculo do somatotipo

Foi utilizado o protocolo de Heath-Carter (Carter, 2002), que preconiza dez medidas: estatura, massa corporal, quatro dobras cutâneas (tríceps, supraespinhal, subescapular e panturrilha medial), dois diâmetros ósseos (biepicondilar de úmero e fêmur), dois perímetros (braço flexionado em contração máxima e panturrilha).

Avaliação da imagem corporal

A avaliação da imagem corporal foi realizada utilizando-se quatro diferentes instrumentos específicos a cada uma de suas dimensões. Para verificação da Insatisfação corporal foi utilizado o Body Shape Questionnaire (BSQ) (Di Pietro, 2009), composto por 34 questões em uma escala tipo Likert, a partir das quais o avaliado aponta com que frequência, no último mês, experimentou os eventos propostos pelas alternativas. A dimensão afetiva foi mensurada por meio do Body Attitudes Questionnaire (BAQ) (Scagliusi et al., 2005) o qual, a partir de 44 questões em escala tipo Likert as respondentes são avaliadas em seis fatores, quatro atitudes negativas (sentir-se gorda, depreciação do corpo, importância do peso e da forma do corpo, depósito de gordura nos membros inferiores) e duas atitudes positivas (força e condicionamento físico e atratividade). Para mensuração da dimensão comportamental utilizamos o Body Image Avoidance Questionnaire (BIAQ) (Campana, Tavares, Silva, & Diogo, 2009) o qual contém 19 assertivas divididas em quatro fatores: vestuários, atividades sociais, restrição alimentar e arrumação/pesagem, e identifica comportamentos de evitação corporal. Por fim, a dimensão cognitiva e crenças acerca do corpo foi avaliado com o Sociocultural Attitudes Towards Appearance Scale (SATAQ-3) (Amaral, Conti, Cordás, & Ferreira, 2011), o instrumento é composto por 30 perguntas em escala Likert, dividido em 4 subescalas (Internalização Geral, Informação, Pressão, Internalização Atlética) que avaliam a influência da mídia na imagem corporal.

Análise estatística

O grupo foi dividido conforme as três denominações do perfil somatotípico: endomorfo (GEN, n=104), mesomorfo (GM, n=20), ectomorfo (GEC, n=16). Após atestar a normalidade na distribuição dos dados por meio do teste Shapiro-Wilk (p= 0.005), procedemos à análise multivariada de variância MANOVA one-way realizada para determinar o efeito do perfil somatotípico das mulheres pesquisadas acerca dos componentes atitudinais da imagem corporal. Na sequência complementamos com exame a posteriori Tukey da verificação das diferenças das médias amostrais. Todas as análises foram realizadas no software SPSS, v. 18.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA) com valor de significância estabelecido em 5%.

 

RESULTADOS

Na Tabela 1 estão apresentadas as características gerais da amostra. Foram observadas diferenças estatísticas na massa e no Índice de Massa corporal entre os três: endomorfo e mesomorfo; endomorfo e ectomorfo; mesomorfo e ectomorfo.

Existem diferenças entre os grupos delineados pelos perfis somatotípicos acerca das variáveis dependentes combinadas, no caso os componentes da imagem corporal F(36, 375)= 1.81, p= 0.0001; Wilk de Λ = 0.623, ηp2= 0.146. Acompanhamento de ANOVAs univariadas mostraram que o perfil somatotípico tem efeito estatisticamente significativo apenas sobre os componentes da imagem corporal expressos pelos instrumentos BSQ (F(3, 138)= 6.1; p= 0,001; ηp2= 0.11), BIAQ (F(3, 138)=4.7; p= 0.003; ηp2= 0.94), “atitudes negativas sobre o corpo” (F(3, 138)=7.9; p= 0,0001; ηp2= 0.18) “sentir-se gorda” (F(3, 138)=10; p= 0.0005; ηp2= 0.18), “depreciação do corpo” (F(3, 138)=2.6; p= 0,05; ηp2= 0.54), “gordura nos membros inferiores” (F(3, 138)=1.7; p= 0.005; ηp2= 0.36), “atratividade” (F(3, 138)=2.8; p= 0.05; ηp2= 0.57). O teste de Tukey identificou diferenças com significância estatística entre dois pares de grupos, GEC (ectomorfo) e GEN (endomorfo) e GEC e GM (mesomorfo), para os escores médios do BSQ, BIAQ, “atitudes negativas”, “sentir-se gorda” e “gordura nos membros inferiores” detalhadas abaixo e resumidas na Tabela 2:

O teste de Tukey identificou diferença nos resultados do BSQ entre os grupos ectomorfo e endomorfo (p=0.001) e ectomorfo e mesomorfo (p=0.003). Destacando ser o grupo mesomorfo mais insatisfeito com a aparência e o ectomorfo menos insatisfeito. Houve também diferença significativa nos escores médios do BIAQ detectada pelo teste post hoc entre os grupos endomorfo e ectomorfo (p= 0.001) e mesomorfo e ectomorfo (p= 0.001), sendo que os perfis prioritariamente endomorfo e mesomorfos apresentaram maior comportamento de evitação corporal. Ainda, houve efeito de grupo para três subescalas do BAQ. A subescala “atitudes negativas sobre o corpo” apresentou diferença entre os grupos ectomorfo e endomorfo (p= 0.0001 e ectomorfo e mesomorfo (p= 0.0001), destacando que sujeitos ectomorfos tenderam a ter menos atitudes negativas relativas ao corpo do que sujeitos endomorfos e mesomorfos. Das atitudes negativas, destacaram-se a subescala “sentir-se gorda” e “depósito de gordura nos membro inferiores”. Na primeira, o teste de Tukey discriminou diferença entre os grupos ectomorfo e endomorfo (p= 0.0001) e ectomorfo e mesomorfo (p= 0.0001), sendo que o primeiro obteve menor pontuação ao passo que os demais obtiveram pontuações maiores e semelhantes. Já a subescala “depósito de gordura nos membros inferiores” reforçou tais resultados demonstrando diferença significativa entre os grupos ectomorfos e endomorfos (p= 0.0001) e ectomorfos e mesomorfos (p= 0.002). Ressalta-se que mulheres ectomórficas apresentaram menor escore dessa subescala em comparação aos outros dois grupos.

 

DISCUSSÃO

Este estudo teve como principal objetivo investigar insatisfação corporal, afetos, comportamentos e crenças relacionados ao próprio corpo, verificando suas relações com o perfil somatotípico. Foi possível identificar que a estrutura corporal esteve relacionada com a insatisfação geral subjetiva (BSQ), o comportamento de evitação corporal (BIAQ), atitudes negativas com relação ao corpo, e sentimento de excesso de peso, em especial nos membros inferiores (BAQ). Ademais, tais elementos apresentam-se de forma articulada e não são mutuamente excludentes, reforçando assim, o caráter multidimensional da imagem corporal (Cash & Pruzinsky, 2002).

A literatura específica aponta a importância da estrutura física na elaboração da imagem corporal, indicando que mulheres com valores elevados de percentual de gordura e IMC estão mais propensas à insatisfação corporal (Austin et al., 2009, Bucchianeri, Arikian, Hannan, Eisenberg, & Neumark-Sztainer, 2013, Damasceno et al., 2011, Kakeshita & Almeida, 2006, Laus et al., 2012, Pallan et al., 2011, Runfola, 2013, Swami et al., 2010). Todavia, tais parâmetros são lineares e dificultam a interpretação sob o ponto de vista da proporcionalidade corporal.

Diante dos resultados do BSQ foi possível inferir que mulheres ectomorfas tenderam a ser menos insatisfeitas quando comparadas aos demais perfis. Nesse quesito, o tamanho corporal pareceu ter mais importância do que a proporção entre tecido adiposo, muscular e linearidade, uma vez que mulheres mesomorfas se assemelharam mais aquelas endomorfas. Resultados semelhantes são encontrados nos estudos de Stewart et al. (2003) e Bahran e Shafizadeh (2006), os quais verificaram uma relação negativa entre satisfação corporal e componentes de endomorfia e mesomorfia. Stewart et al. (2014) ao considerarem o perfil somatotípico em amostras com e sem transtornos alimentares, identificaram que todos os grupos desejaram o corpo mais próximo da ectomorfia. Este é coerente com o corpo extremamente magro, ainda idealizado pela maioria das mulheres (Swami et al., 2010; Stewart et al., 2003).

Fortemente relacionado à insatisfação corporal está a dimensão afetiva, que verificada pelo BAQ, expressa experiências das emoções concernentes à aparência física. Em nossos resultados, mulheres endomorfas e mesomorfas apresentaram sentimentos negativos referentes à adiposidade corporal (“sentir-se gorda”), principalmente que os membros inferiores são gordos (“gordura nos membros inferiores”). Interessante destacar que o perfil mesomorfo, diferentemente do endomorfo, possui prioritariamente tecido muscular, e ainda assim os dois grupos apresentaram o mesmo comportamento. Alleva, Lange, Jansen e Martijn (2014) destacam que mulheres que apresentam sentimentos negativos a respeito do próprio corpo superestimam feedback social sobre elas, podendo interferir nas relações interpessoais.

Por outro lado, o BAQ demonstrou que mulheres ectmorfas apresentaram escores mais altos de atitudes positivas referentes à aparência ao acharem-se atraentes fisicamente (“atratividade”) (apesar de a significância ser apontada na análise, não foi confirmada no Post Hoc). Pesquisadores explicam que a elaboração do corpo ideal para mulheres, no quesito atratividade, envolve baixos valores de IMC e reduzidas proporções entre cintura/quadril (Crossley, Cornelissen, & Tovée, 2012, Price, Pound, Dunn, Hopkins, & Kang, 2013, Swami, 2011). Este último é impactado pelo percentual de gordura, que quando elevado, pode alterar tamanho e forma do corpo da mulher (Faries & Bartholomew, 2012). Assim, medidas que remetem ao corpo esguio, portanto, ectomorfo, foram valorizadas por esse grupo.

A dimensão afetiva comumente é investigada em populações clínicas como mulheres com transtornos alimentares (Hraboskt et al., 2009, Timerman, Scagliusi, & Cordás, 2010) e que passam por alterações corporais marcantes, como gestantes (Hill, Skouteris, Mccabe, & Fuller-Tyszkiewicz, 2013). Em ambos os casos, assim como na presente pesquisa, sentimentos negativos referentes à aparência são correlacionados com a predominância da adiposidade, ainda que ela não seja verdadeira, como no caso da mesomorfia. Rosenström et al. (2013) pontuam que a insatisfação corporal atrelada aos sentimentos negativos referentes à aparência pode acarretar disforia crônica em mulheres, independentemente da idade.

As condições descritas acima podem desencadear comportamentos prejudiciais, tais como evitação corporal (evitar olhar-se no espelho e pesar-se, buscar o isolamento social). Nesse estudo, tal característica verificada pelo BIAQ, a partir do qual observamos a mesma tendência que nas demais variáveis: uma relação positiva e proporcional com os perfis endomorfos e mesomorfos. Resultados semelhantes foram encontrados em populações com excesso de peso (Latner, 2008) e transtornos alimentares (Timerman et al., 2010). Porém, estudos recentes (Lydecker, Cotter, & Mazzeo, 2014, White & Warren, 2013) indicaram que amostras não clínicas, como universitárias, também estão suscetíveis às mesmas atitudes relativas ao corpo e que estas geralmente são relacionadas ao elevado IMC. Por outro lado, Bamford, Attoe, Mountford, Morgan e Sly (2014), destacam que a relação entre evitação corporal e peso não é clara, e que pode estar presente em mulheres com diferentes pesos, sendo mais influenciada pelo status de ansiedade.

A evitação corporal também está atrelada às crenças, elevado senso crítico e exigência sobre o corpo. Por conta disso, investigamos também a influência da mídia devido à sua poderosa capacidade de propagar e instalar costumes, hábitos, motivações e consequentemente modular a imagem corporal (Dittmar, 2009). O SATAQ-3 indicou que o grupo pesquisado, cognitivamente, aceita normas e padrões de beleza propagados pela mídia (Thompson, Van Den Berg, Roehrig, Guarda & Heinberg, 2004), entretanto, isso não foi modulado pelo perfil somatotípico. Estudos apontam que outros aspectos deixam mulheres mais suscetíveis à influência midiática, tais como condição socioeconômica e risco a transtornos alimentares (Dunker, Fernandes, & Carreira Filho, 2009), variáveis não contempladas na presente pesquisa.

O presente trabalho possui limitações de cunho metodológico. A primeira refere-se ao desequilíbrio numérico entre os grupos, o que pode ter influenciado os resultados. Além disso, não verificamos o comportamento de checagem corporal, aspecto que está intimamente atrelado à evitação corporal. Recomenda-se que novos estudos considerem essas lacunas a fim de enriquecer os resultados.

 

CONCLUSÕES

Aspectos atitudinais da imagem corporal, especificamente insatisfação corporal, evitação corporal e atitudes negativas referentes à aparência, estão atrelados entre si e são influenciados por perfis corporais predominantemente mesomorfo e endomorfo. O perfil somatotípico configura-se em estratégia rápida, acessível e precisa, agregando informações às demais ferramentas para verificação de alterações da imagem corporal, tornando-a mais ampla e consistente. Os dados aqui obtidos possuem implicações teóricas e práticas. As primeiras referem-se à avaliação multidimensional da imagem corporal articulada às características físicas reais do avaliado. As implicações práticas envolvem o uso de tais informações em intervenções em áreas que lidam diretamente com o corpo, tornando-as mais assertivas e eficientes.

 

REFERÊNCIAS

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Agradecimentos:
Nada a declarar
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brasil

Artigo recebido a 04.01.2016; Aceite a 21.03.2017

 

 

*Autor correspondente: Universidade Federal da Bahia, departamento de Educação Física, Salvador, Brasil. E-mail: marcelarodriguescastro@hotmail.com

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