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Motricidade

Print version ISSN 1646-107X

Motri. vol.11 no.3 Ribeira de Pena Sept. 2015

https://doi.org/10.6063/motricidade.4704 

ARTIGO ORIGINAL

 

A abordagem mediática sobre o desporto paralímpico: perspetivas de atletas portugueses

 

Media approach over Paralympic Sport: perspectives of Portuguese athletes

 

 

Renato Francisco Rodrigues Marques1,*; Salomé Marivoet2; Marco Antonio Bettine de Almeida1; Gustavo Luis Gutierrez3; Rafael Pombo Menezes1; Myrian Nunomura1

1 Universidade de São Paulo, Brasil
2 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal
3 Universidade Estadual de Campinas, Brasil

 

 


RESUMO

O desporto paralímpico encontra-se em processo de afirmação como fenómeno de espetacularização, tendo nos média uma ferramenta de divulgação dos seus ideais e produtos, além de via para potenciais transformações sociais relativas a pessoas com deficiência. O objetivo deste trabalho foi identificar as características e tendências da abordagem mediática ao movimento paralímpico, com base em percepções pessoais de nove atletas paralímpicos portugueses, oito homens e uma mulher, com deficiência visual ou física, todos com experiência internacional nas modalidades desportivas de boccia, natação ou atletismo. A partir de entrevistas semiestruturadas, a análise de resultados pelo método do Discurso do Sujeito Coletivo e a discussão dos dados com base em categorias sociológicas de Pierre Bourdieu, em particular a teoria dos campos, tem-se como principais resultados: i) a divulgação paralímpica ainda é reduzida, tanto em Portugal como em outros países, porém encontra-se em crescimento; ii) os atletas, na sua maioria, preferem a divulgação dos seus feitos desportivos em detrimento do discurso sensacionalista sobre a superação de dificuldades oriundas da condição de deficiência; iii) o desporto paralímpico é desprestigiado em relação ao olímpico. Como principais conclusões encontra-se o descontentamento dos atletas com a reduzida cobertura mediática, com o estigma supercrip e com a supremacia do futebol, tornando-se evidente a manifestação de uma vontade de ocuparem um espaço de maior relevo no campo desportivo, o que lhes conferiria maior legitimidade e possibilidade de desenvolvimento atlético-competitivo, além de ganhos financeiros e sociais.

Palavras-chave: Paralímpico, Média, Desporto Adaptado, Sociologia do desporto.


ABSTRACT

The paralympic sport lives an affirmation process as a phenomenon of spectacle, taking the media as a tool for the dissemination of it´s ideas and products, as well as pathway for potential social change for persons with disabilities. The aim of this study was to identify the characteristics and trends of the media approach over paralympic movement, based on personal perceptions of nine Portuguese Paralympic athletes, eight men and one woman, with visual or physical disabilities, all with international experience in the following sports: boccia, swimming or athletics. From semi-structured interviews, analysis of results by the method of the Collective Subject Discourse and discussion based on sociological categories of Pierre Bourdieu, in particular the Theory of Fields, has as main results: i) the Paralympic disclosure is further reduced, both in Portugal and in other countries, but is in growth; ii) athletes, mostly prefer to disseminate their sports performance to the detriment of the sensationalist speech about overcoming difficulties arising from the condition of disability; iii) the paralympic sport is devalued in relation to the Olympic. The main conclusions is the discontent of athletes with low media coverage, with supercrip stigma and the supremacy of football (soccer), becoming evident the manifestation of a desire to occupy a space of more prominent sports field, which confer them greater legitimacy and possibility of athletic-competitive development, besides financial and social gains.

Keywords: Paralympic, Media, Sport for Person with Disability, Sociology of Sport.


 

 

INTRODUÇÃO

Os Jogos Paralímpicos representam o maior evento competitivo para pessoas com deficiência (von Sikorski & Schierl, 2012). Enquanto principal vitrina do desporto paralímpico, os Jogos Paralímpicos constituem uma forma de manifestação desportiva que se vem afirmando nas últimas décadas como prática espetacularizada, atraindo a atenção dos meios de comunicação (Howe, 2008).

O desporto para pessoas com deficiência teve o seu início com finalidades terapêuticas e recreativas, porém, atualmente, apresenta características próprias do alto rendimento. A chegada do profissionalismo mais acentuado no desporto paralímpico nas últimas décadas gerou mudanças nos objectivos do movimento que lhe deu origem. Inicialmente, centrado apenas no empowerment (empoderamento), abriu-se a perspetivas de mercado e comercialização do desporto (Marques & Gutierrez, 2014).

Nesta perspetiva, o desporto paralímpico passou a exprimir mais do que uma mera oportunidade de inclusão social para pessoas com deficiência, para se colocar na sociedade como um dos produtos do mercado desportivo (Marques, Gutierrez, Almeida, & Menezes, 2013), com um habitus específico inerente à convivência dialética entre valores próprios do desporto de alto rendimento (como seleção de talentos, rivalidade e comparação objetiva de desempenhos), e aspetos relacionados com a reabilitação e a inclusão social de pessoas com deficiência (Marques & Gutierrez, 2014).

Exemplos destas abordagens ligadas à inclusão social são o legado dos Jogos Paralímpicos em algumas cidades anfitriãs, ao terem fomentado transformações no modo como o público em geral aprecia o desporto adaptado, assim como a melhoria na infraestrutura de adaptação de espaços públicos, e ainda a promoção da reflexão e mudança no modo de inserção da pessoa com deficiência na sociedade.

Esta realidade foi bem evidenciada no caso de Atenas, que acolheu os Jogos em 2004. Inicialmente com pouca infraestrutura voltada ao desporto adaptado, elaborou um plano específico, a Disabled Agenda, para a construção de locais e formas de acesso que atendessem aos deportistas com deficiência, o que acabou se tornando um legado, simbolizando não apenas a quebra de barreiras arquitetónicas, mas também uma recepção bem feita aos atletas com deficiência e à ideia de diversidade (Gold & Gold, 2007). Outra importante ação desempenhada pela primeira vez em Atenas foi o Paralympic School Day, um evento realizado em escolas que proporciona a crianças a oportunidade de discussão e vivências sobre inclusão social de pessoas com deficiência, mostrando resultados muito positivos (com destaque a alguns países como Grécia e República Checa) quanto a modificações nos meios de relações dos jovens com a deficiência (Liu, Kudláček, & Ješina, 2010; Panagiotou, Kudláček, & Evaggelinou, 2006).

Embora ainda exista um longo caminho a ser percorrido em relação a uma inclusão satisfatória frente às potencialidades de atuação e convivência das pessoas com deficiência (Ahmed, 2013), avanços também foram obtidos durante os Jogos Paralímpicos de 2012 na cidade de Londres, com a divulgação de ideais inclusivos e a adaptação de espaços e construções para pessoas com deficiência (Webborn, 2013).

É possível identificar nas últimas décadas um crescimento da comercialização e financiamento do desporto paralímpico, tanto por parte de órgãos públicos, quanto privados, o que constitui uma possibilidade de crescimento e reconhecimento social para pessoas com deficiência envolvidas na prática desportiva (Marques & Gutierrez, 2014). Quanto ao ambiente de alto rendimento, este espaço depende, sensivelmente, da circulação de capital económico, sendo este um fator que possibilita a melhoria dos processos de treino e competição. Neste sentido, para o seu desenvolvimento, torna-se necessário que o desporto seja encarado como um produto capaz de gerar receita e atrair espectadores e empresas investidoras (Coakley, 2008).

Por um lado, o interesse comercial no desporto pauta-se pela proximidade com espectadores que se tornam consumidores, e o desejo de empresas se aproximarem dessas pessoas para vender os seus produtos (Howe, 2004). Por outro, os meios de comunicação apresentam-se como ferramentas de fundamental importância no processo de divulgação, disseminação ideológica e promoção de produtos comerciais e simbólicos, inclusive no campo do desporto (Bourdieu, 1997; Marivoet, 2006), espaço social onde se insere o movimento paralímpico. Tanto o aumento da profissionalização de atletas e treinadores, quanto o incentivo à entrada de novos praticantes e mudanças sociais em relação ao empowerment de pessoas com deficiência na sociedade, podem ser influenciados pelo modo como se constrói o discurso mediático sobre o desporto paralímpico (Ellis, 2009).

Os média têm uma importância fundamental para o desporto, como veículo de valores e símbolos específicos, além do aumento das potencialidades de negócio (Coakley, 2008; Marivoet, 2006). O alargamento da divulgação do desporto paralímpico como prática legítima do campo desportivo, que abarca tanto a procura do espetáculo, como a coesão social pela inclusão da pessoa com deficiência, coloca-se como uma necessidade e forma de expandir ideais inclusivos, desportivos e comerciais (Marques et al., 2013). Esta aproximação entre o desporto paralímpico e os média, coloca-o num mercado altamente competitivo, disputando espaço com outras formas de manifestação desportiva (Purdue & Howe, 2012).

É neste sentido que se coloca a problemática deste trabalho. Alguns estudos (Berger, 2008; Hardin & Hardin, 2004; Marques, Gutierrez, Almeida, Nunomura, & Menezes, 2014) apontam certa insatisfação de desportistas e ex-desportistas paralímpicos de diversos países em relação à frequência com que o desporto paralímpico é abordado pelos média, assim como o conteúdo de tais inserções. É recorrente no discurso destes sujeitos: a) a denúncia sobre a desvalorização do desportista paralímpico como atleta de alto nível; b) o facto do paralimpismo ser preterido frente ao desporto olímpico; c) a pequena contribuição dos média em relação às possibilidades de obtenção de patrocínios ou de maior divulgação do desporto paralímpico. Outros estudos (Figueiredo & Novais, 2011; Novais & Figueiredo, 2010; Pereira, Inês, & Pereira, 2011; Schantz & Gilbert, 2001) confirmam algumas das percepções dos desportistas, com base em análises de documentos e publicações da média, principalmente em relação ao desprestígio frente ao desporto olímpico e à valorização de atletas esteticamente menos comprometidos. Além disso, salientam que o desporto paralímpico é reconhecido e valorizado de modo diferenciado entre os diferentes países.

Face à corrente associação entre a divulgação mediática constante e positiva dos produtos desportivos e as suas possibilidades de crescimento comercial e de inserção social, compreender como se dá a relação entre os protagonistas do desporto paralímpico (atletas) e a abordagem mediática sobre o seu campo de atuação é uma forma de preencher uma importante lacuna na sustentação de propostas e ações no sentido de se melhorar tanto o aumento dos praticantes no desporto para pessoas com deficiência, como as condições de competitividade dos atletas de alto rendimento.

Acresce a este quadro a contribuição que os desportistas envolvidos neste processo podem oferecer a esta discussão, apontando suas percepções, dificuldades e expetativas frente ao desporto paralímpico e à abordagem mediática sobre este objeto. Neste sentido, a presente investigação torna-se oportuna em Portugal, dado que se assiste a um movimento de afirmação e crescimento do desporto paralímpico e, por esta razão, a perspetiva dos seus atletas sobre este fenómeno se torna de grande utilidade para o estabelecimento de políticas e ações de desenvolvimento desta forma de manifestação desportiva.

O desporto, como amplo fenómeno social, não deve ser analisado fora das suas dimensões culturais e históricas, pois não sendo simplesmente uma prática autónoma, torna-o num espaço social que contribui de forma decisiva para a compreensão das sociedades (Marivoet, 2002). Deste modo, torna-se importante a adoção de referenciais teóricos que delimitem a análise do campo desportivo. Para o efeito, recorremos à contribuição de Pierre Bourdieu, em particular à teoria dos campos sociais.

A obra deste autor francês apoia-se no conhecimento praxiológico, que tem como objeto não apenas as relações objetivas, mas as interações dialéticas entre estruturas objetivas e subjetivas, com base nas disposições que atualizam ou reproduzem tais dimensões (Bourdieu, 1983). Nesta teoria, a perceção do mundo social é produto de uma dupla estruturação: objetiva, na qual é socialmente estabelecida, significando que as propriedades que são atribuídas aos agentes e instituições se apresentam em distribuições desiguais. E subjetiva, na qual também é estruturada porque os sistemas de perceção e apreciação exprimem o estado das relações de poder que norteiam o juízo do gosto e as escolhas do agente (Bourdieu, 1990).

Bourdieu sustenta a sua investigação sociológica na denúncia da existência de um jogo de luta pelo poder e reprodução de valores simbólicos baseado em disputas sociais entre diferentes grupos, que competem por ganhos simbólicos em determinados campos da sociedade. Esta ocorrência dá-se pela distribuição desigual de bens e acesso de modo diferenciado aos agentes sociais, de acordo com a posição que cada um ocupa em certos espaços sociais. Essa diferenciação dá-se a partir da consideração de que existem campos sociais de disputas, ou seja, espaços sociais em que sujeitos procuram reconhecimento através da posse de formas de capitais que lhes conferem poder simbólico (Marques et al., 2013).

Um campo social estabelece-se para Bourdieu, através da definição dos objetos de disputas e dos interesses específicos desse espaço, compreendidos por quem faz parte dele (Bourdieu, 1979). No campo, os agentes disputam o direito da violência simbólica, ou seja, o poder de orientar a conservação ou a mudança da estrutura de distribuição de bens, com base no seu reconhecimento como sujeito com destaque social, relativo à sua posse de capitais (Bourdieu, 1983). Desta forma, cada campo específico torna-se relativamente autónomo, ou seja, embora sofra influência do meio social que o cerca, tem as suas regras e história próprias. Por exemplo, pode-se destacar a existência do campo desportivo, no qual os sujeitos lutam pelo reconhecimento no desporto, poder económico e político dentro dos princípios e critérios criados pelos seus agentes (Bourdieu, 1990).

As diferentes espécies de capitais são os recursos que definem as probabilidades de ganho de reconhecimento e poder num determinado campo. Bourdieu identifica quatro formas essenciais de capital que se inter-relacionam e norteiam as disputas: i) económico – quantidade de dinheiro em posse do agente; ii) social – referente ao círculo social e relações interpessoais; iii) cultural – saberes e conhecimento formal, ligado, entre outras formas, à escola regular e transmissão doméstica de conhecimento; e iv) simbólico – específico de cada campo, é determinado pelo que o habitus e costumes de cada espaço indicam como algo a ser valorizado (Bourdieu, 1983). Por exemplo, no desporto, uma das formas de capital simbólico é o mérito desportivo de um atleta (Marques & Gutierrez, 2014).

O conceito de habitus remete para uma estrutura estruturada e estruturante, que norteia as formas de ação dos sujeitos, mas que é estabelecida de acordo com as leis do campo e os caminhos específicos para a disputa e aquisição de capital. O habitus é uma força mediadora entre objetivismo e subjetivismo, rompendo com a dualidade ao captar a interiorização da exterioridade e a exteriorização da interioridade (Bourdieu, 1983).

O habitus constitui, assim, o princípio gerador e um sistema de classificação das práticas sociais, tendo em conta as condições sociais, económicas, e estilos de vida dos indivíduos. Cada grupo tem seu habitus próprio, que justifica suas ações e norteia as práticas dos agentes na busca pela aquisição desses bens (Bourdieu, 1979). A posse de capital de cada agente justifica seu reconhecimento e poder simbólico, podendo este sujeito ser aceite em outra esfera do campo em que se insere, eventualmente até mudar de grupo, adquirindo um novo habitus. O estilo de vida dos agentes, segundo Bourdieu (Bourdieu, 1983), decorre das disposições e possibilidades encontradas por cada um no seu próprio grupo, sendo as respectivas escolhas possíveis proporcionadas pelo seu habitus.

Outro aspecto importante ligado à disputa de capitais nos campos, é a luta entre o “novo” e o “velho”, ou “dominante”, que se trava em cada um. Por um lado, o agente que está entrando tenta forçar o direito de participação no campo (seu habitus consiste no processo de reconhecimento do valor e conhecimento dos princípios de funcionamento do jogo, ou seja, a história das disputas que se encontram presentes nas relações, e, por vezes, o questionamento de tais estruturas). Por outro lado, o “velho” ou “dominante”, detentor do direito à violência simbólica, tenta defender o monopólio e excluir a concorrência (Bourdieu, 1983). Para pessoas não formadas num dado campo, ou que ainda não adquiriram formas de conhecimento sobre o mesmo (novos agentes), os objetos de disputa são impercetíveis ou parcialmente conhecidos (Bourdieu, 1979), o que pode implicar uma tentativa de mudança dos critérios de distribuição de capitais e inversão do direito da violência simbólica.

Considerando que o desporto se afirma como um campo social (Bourdieu, 1983, 1990), este artigo propõe uma reflexão, com base na obra de Pierre Bourdieu, sobre os avanços e dificuldades para a divulgação do desporto paralímpico no século XXI, a partir das perspetivas de atletas portugueses.

Segundo este autor francês, o campo desportivo configura-se como um espaço de lutas específicas, ligadas a algumas formas de disputa pela legitimidade da prática e participação de agentes neste espaço. Como exemplos, pode-se citar os conflitos entre: i) amadorismo e profissionalismo; ii) o corpo desportivo legítimo e o uso legítimo do corpo; iii) práticas desportivas distintivas e populares (Bourdieu, 1979).

Neste contexto, e considerando os atletas paralímpicos como os principais sujeitos envolvidos e afetados pelas recentes transformações sociais e comerciais do desporto paralímpico, pode-se então questionar: i) Como se estabelece a relação dos média com o movimento paralímpico em Portugal?; e ii) Quais as implicações do discurso e intervenção mediática sobre a participação dos atletas paralímpicos no campo desportivo e na sociedade como um todo?

Decorrentemente, a problemática desta pesquisa pautou-se na investigação sobre os processos sociais que envolvem a interrelação entre os média e o movimento paralímpico, a partir da perceção de atletas portugueses.

O objetivo geral deste trabalho foi investigar as características e dimensões socioculturais que envolvem a relação entre os média e o desporto paralímpico, a partir da auto-representação dos atores, i.e., a perceção pessoal dos atletas paralímpicos portugueses. De modo específico, objetivou-se elucidar a posição dos sujeitos quanto à influência dos média sobre os processos de divulgação, captação de recursos, inclusão social e reconhecimento de feitos desportivos de pessoas com deficiência.

Este trabalho justifica-se pela reflexão e perspetivação teórica, capaz de contribuir para a compreensão das realidades socialmente estabelecidas no campo desportivo, no caso particular do desporto paralímpico em análise, pretendendo igualmente contribuir, tanto para a promoção da inclusão social, como para o desenvolvimento do desporto de alto rendimento, em particular de pessoas com deficiência.

 

MÉTODO

Tendo por objectivo dar resposta às questões traçadas para a presente investigação, utilizou-se como técnica de recolha de informação a entrevista semiestruturada presencial com análise qualitativa de discursos.

Participantes

Foram considerados como atletas paralímpicos, indivíduos que treinam e competem de forma sistemática e oficial uma das modalidades dos programas dos Jogos Paralímpicos, organizados pelo Comité Paralímpico Internacional. Este critério baseia-se na diferenciação proposta por Costa e Winckler (2012), na qual o desporto adaptado é um universo que engloba atividades desportivas adaptadas a pessoas com deficiência, enquanto o desporto paralímpico se caracteriza por um ambiente mais restrito, ao envolver as modalidades dos Jogos Paralímpicos, e ser acessível apenas a pessoas que se enquadrem nos critérios de classificação, por isso elegíveis para disputar as provas.

A amostra do estudo contou com nove atletas paralímpicos portugueses, adultos, oito homens e uma mulher, em atividade no campo desportivo durante o período das entrevistas, enquanto participantes em competições nacionais e internacionais. Houve o cuidado de recrutar sujeitos com diferentes tipos de deficiência e praticantes de modalidades desportivas diversas. Os atletas foram indicados pela Federação Portuguesa de Desportos para Pessoas com Deficiência (FPDD), sendo que o número final de entrevistados foi determinado pelo critério de saturação (Minayo, 2006).

Os sujeitos foram denominados aleatoriamente como S1 a S9, de modo a preservar as suas identidades. As características dos participantes estão apresentadas na tabela 1.

Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comité de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Todos os sujeitos assinaram o termo de consentimento de forma livre e esclarecida.

Instrumento de recolha de discursos e procedimentos de análise

A recolha de dados baseou-se em entrevistas pessoais e semiestruturadas com atletas paralímpicos portugueses, realizadas durante o mês de julho de 2013, em locais agendados (centros de treino, instituições de atendimento a pessoas com deficiência, residências, universidades; sempre em ambientes fechados, com o cuidado de garantir o silêncio e evitar interrupções), em horários (diferentes dos momentos de treinos e competições) indicados pelos entrevistados. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas individuais e pessoais, como sugere Lefèvre e Lefèvre (2012), como a principal técnica de recolha dos discursos do método de análise escolhido (Discurso do Sujeito Coletivo). As entrevistas tiveram uma duração média de 50 minutos.

A escolha desta técnica de recolha de dados decorreu do objetivo da presente investigação, dedicada à análise do discurso de atletas paralímpicos portugueses. Ou seja, o enfoque da investigação encontra-se orientado para o destaque e protagonismo da perspetiva dos desportistas frente à abordagem mediática sobre o campo desportivo do qual fazem parte. Por esta razão, optou-se apenas pela entrevista semiestruturada, de modo a destacar tal contribuição por parte dos sujeitos. Após a transcrição dos áudios das entrevistas, este material foi enviado por e-mail a todos os sujeitos para conferência.

Como opção metodológica, recorreu-se ao método do “Discurso do Sujeito Coletivo” para a análise dos dados. Esta forma de pesquisa baseia-se no conceito de Representação Social, que dentro do plano simbólico de trocas entre diferentes agentes sociais num campo, permite a comunicação e compreensão de diferentes sentidos, proporcionando coesão entre os membros de um mesmo espaço social. Neste contexto, o objetivo deste método consiste em delimitar conteúdos de ordem colectiva, ou seja, que representem a opinião e posicionamento político-social de grupos de sujeitos, sem eliminar as diferentes opiniões que podem surgir dentro de um mesmo campo, também consideradas na análise de resultados (Lefèvre & Lefèvre, 2012).

O produto desta forma de pesquisa consiste na construção de diferentes Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) que englobam posicionamentos comuns entre os entrevistados (Lefèvre & Lefèvre, 2005). Esta forma de análise baseia-se na premissa de que em um mesmo grupo existem diferentes tipos ou categorias de pensamento colectivo, e que a construção de diferentes DSC sintetiza e simboliza tal diversidade (Lefèvre & Lefèvre, 2012), própria de contextos de turbulências sociais, que envolvem trocas simbólicas e disputas por poder e reconhecimento social (Bourdieu, 1983, 1990).

Embora o método de análise seguido seja baseado na procura de consensos sobre diversos temas, permite também o apontamento de dissensos e, consequentemente, discursos com pequena intensidade ou força (poucos sujeitos que compartilham de determinada opinião), (Lefèvre & Lefèvre, 2012).

Este método baseia-se na construção de discursos que englobam posicionamentos comuns entre os entrevistados, a partir de figuras metodológicas que encadeadas e relacionadas ordenam as informações: i) Expressões-chave (ECH) – trechos/partes literais do discurso que revelam a essência do mesmo; ii) Ideias Centrais (IC) – tema central do discurso, indica os pontos que devem ser ressaltados na discussão do tema (Lefèvre & Lefèvre, 2005).

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) baseia-se num discurso síntese redigido pelo investigador, sendo composto pela soma das ECH de cada discurso individual que possui as mesmas IC. Para a elaboração dos DSC, as ECH foram destacadas e transportadas para Instrumentos de Análise do Discurso, no qual foram apontadas as IC. Com base na análise das IC, as ECH foram agrupadas de acordo com os sentidos homogéneos, construindo DSC diferentes (Lefèvre & Lefèvre, 2005). A codificação dos dados foi realizada pelo investigador responsável do projeto, e fiabilidade se deu pelo próprio processo de construção dos DSC, sendo que este procedimento não se configura como um processo uni-direcionado, estático ou rígido. Ao contrário, apresenta um fluxo livre entre as diferentes figuras de codificação e construção dos discursos (ECH, IC e DSC), sendo estas constantemente revisadas e retomadas para a organização dos resultados.

Esta investigação é parte integrante de um projeto de pesquisa que envolveu tanto atletas brasileiros como portugueses. Os mesmos procedimentos foram seguidos em ambos os grupos, sendo que o estudo dos atletas brasileiros ocorreu num primeiro momento (Marques et al., 2014). Deste modo, as entrevistas piloto que nos permitiram melhorar o instrumento concebido para a recolha de informação foram realizadas na primeira etapa do projeto junto dos atletas brasileiros. Foram realizadas duas perguntas iniciais aos sujeitos:

1) Como você classificaria a atenção dada pelos média ao desporto paralímpico em Portugal e em outros países?

2) Como é a relação dos atletas paralímpicos com os média?

De acordo com as respostas e temáticas surgidas nas entrevistas, novas questões foram sendo introduzidas pelo entrevistador (como por exemplo, após uma resposta do S1 alegando a melhoria da exposição do desporto paralímpico na média portuguesa, questionámos: “E a partir de quando considera que começou a melhorar? Utilizando os Jogos Paralímpicos como referência.”), como forma de aprofundar a discussão do tema e incentivar os atletas a exporem a sua perceção sobre o objeto estudado. Tal procedimento foi utilizado com todos os sujeitos, sendo menos recorrente quando o entrevistado se mostrava mais comunicativo e com facilidade para o discurso.

Deste modo se explica o fato de nem todos os atletas terem manifestado opinião sobre todos os temas abordados na nossa análise. Tal ocorrência, somada aos dissensos próprios dos campos sociais, produziu oito DSC tendo apenas um sujeito como orador: Tema 1: DSC2; Tema 5: DSC11, DSC15, DSC18, DSC19; Tema 7: DSC23; Tema 8: DSC25, DSC27. Deste modo, os casos específicos caracterizam discursos legítimos de análise, embora não se configurem como formas essencialmente colectivas (Lefèvre & Lefèvre, 2012).

Na análise e discussão dos resultados são descritas as IC e DSC, divididos de acordo com os temas abordados nas entrevistas. Sequencialmente aos títulos das IC, são apontados os sujeitos que compartilham de tal posicionamento, de modo a demonstrar a intensidade/força dos discursos dentro do grupo dos sujeitos entrevistados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Devido ao presente trabalho se basear na análise qualitativa de discurso, optou-se por agregar as seções de Resultados e Discussão, de modo a oferecer uma descrição textual dos testemunhos que facilite a elaboração de algumas reflexões sobre o objeto estudado.

Os tópicos de análise são destacados por temas, oriundos dos conteúdos dos discursos dos sujeitos estrevistados:

Tema 1 - Perceção sobre a divulgação do desporto paralímpico nos média;

Tema 2 - Comparação entre a cobertura mediática do desporto paralímpico em Portugal face outros países;

Tema 3 - Afirmação do desporto paralímpico nos campos desportivos e mediáticos

Tema 4 - O papel do marketing no mercado do desporto paralímpico;

Tema 5 - Divulgação das dificuldades do atleta com deficiência e/ou seus feitos desportivos;

Tema 6 - Fatores que diferenciam a exposição mediática dos Jogos Paralímpicos;

Tema 7 - Diferenças na cobertura das modalidades paralímpicas;

Tema 8 - Cobertura dos diferentes tipos de deficiência;

Tema 9 - Diferenças de género;

Tema 10 - Hegemonia do futebol;

Tema 1 - Perceção sobre a divulgação do desporto paralímpico nos média

Elegemos como Tema 1 a perceção dos atletas sobre a divulgação do desporto paralímpico nos média. Analisando os resultados, podemos concluir que todos os atletas entrevistados demonstram insatisfação com a divulgação do desporto paralímpico nos média portugueses, sendo a Ideia central (IC) no Discurso do Sujeito Colectivo (DSC), que a “Divulgação é insatisfatória” (DSC1– IC-A):

O desporto paralímpico em Portugal é muito pouco falado. Há uma pequena divulgação, com poucas informações e notícias. Eu fui campeão do campeonato do mundo e ninguém soube, ninguém sabe nada. (S1; S2; S3; S4; S5; S6; S7; S8; S9)

No entanto, por sua vez, um dos atletas (S1) acrescenta que a fraca divulgação acontece no mundo inteiro (DSC2-IC-B), ao afirmar que “O desporto paralímpico como um todo nunca foi muito divulgado satisfatoriamente e nunca será”. Alguns autores (Berger, 2008; Brittain, 2004; Coakley, 2008; Marques et al., 2014, 2013) corroboram em parte este posicionamento, afirmando que atletas com deficiência recebem pouca ou nenhuma atenção dos média. Berger (2008) afirma ainda, que a diminuta divulgação faz com que o público em geral não conheça o desporto paralímpico, dificultando o fortalecimento de vínculos e interesse destes com esta forma de desporto.

Com base nestes discursos, pode-se identificar traços caraterísticos do habitus dos atletas entrevistados, tais como o desejo de maior divulgação, o sentimento de abandono pelos meios de comunicação, e a injustiça para com o potencial de negócio e mediático do desporto paralímpico.

Ainda assim, encontram-se dois atletas que apresentam uma visão mais otimista quanto à melhoria deste cenário, ao considerarem que a “Divulgação está melhorando” (DSC3– IC-C).

Acho que de uns anos para cá tem vindo a melhorar. Antigamente ninguém falava sobre desporto paralímpico. Mas ainda há que melhorar bastante. Antigamente eu via uma pessoa, procurava na net, na internet e não via nada. Não tinha alguma coisa, agora tem um site, uma notícia na televisão, algo. Antigamente não, é uma coisa que nós estamos mudando, está mais divulgado. Sem dúvida está muito melhor, sem dúvida. (S1; S5)

Alguns autores corroboram esta perceção, tanto em Portugal (Pereira et al., 2011), como em outros países (Brittain, 2004; Howe, 2008; Macdonald, 2008; Marques et al., 2014, 2013).

Alguns dados ilustram este processo de mudança. Por exemplo, os Jogos Paralímpicos de 1996 em Atlanta foram os primeiros com cobertura da televisão nos EUA (Macdonald, 2008), com um total de apenas 4 horas de transmissões em dois finais de semana (Schell & Duncan, 1999). Porém, a partir destes Jogos, verificou-se um aumento do número de direitos de transmissão vendidos a emissoras de TV e rádio participantes da cobertura dos Jogos Paralímpicos de verão, respectivamente, menos de 20 em 1996; 35 em 2000; 50 em 2004, sendo, neste último, oriundos de 43 países diferentes (Macdonald, 2008). Além disso, nos Jogos Paralímpicos de 1996 estiveram presentes 1600 jornalistas credenciados, em 2000, 2400 profissionais, e em 2008, 3100 representantes da imprensa internacional (Macdonald, 2008).

Neste continuum cabe destacar a melhoria da qualidade da cobertura, sendo que em 1996 apenas o atletismo, natação e basquetebol em cadeira de rodas contaram com mais de uma câmera para transmissão, e em 2000 e 2004 todas as modalidades contaram com tal estrutura. Além disso, todos os eventos com disputa de medalhas contaram com cobertura (MacDonald, 2008). Será ainda de realçar, que os Jogos Paralímpicos de inverno de 2010, em Vancouver, tiveram a maior cobertura mediática até o ano de 2012 (Misener, 2012). Todos estes dados, em articulação com a perceção de alguns atletas entrevistados, sugerem que, de fato, embora ainda haja certa insatisfação com a abrangência da cobertura mediática, ela vem melhorando em termos de abrangência e número de sujeitos envolvidos. Porém, ainda se torna evidente o diminuto destaque do desporto paralímpico e dos Jogos Paralímpicos.

Os discursos dos atletas sugerem que realmente existe uma disputa pelo espaço mediático dentro do campo desportivo. O que se depreende, é que existe um capital simbólico específico neste espaço, que se traduz em maiores ou menores possibilidades de ganhos de destaque nos meios de comunicação. Nesta ótica, pode-se afirmar que o desporto paralímpico, talvez por ser novo nesta disputa, ainda não possui o poder simbólico de outras formas ou práticas desportivas, dado o reduzido espaço que ainda ocupa. Porém, tanto os discursos de alguns atletas, como alguns dados recolhidos na literatura, apontam para um processo de aquisição de valor simbólico ligado ao produto paralímpico.

Tema 2 - Comparação entre a cobertura mediática do desporto paralímpico em Portugal face outros países

Alguns entrevistados compararam a cobertura mediática em Portugal com outros lugares do mundo, destacando que em terras lusitanas o quadro é pior, por isso que a “Divulgação em outros países é melhor” (DSC4–IC-D). Nestes, são referidos países como a Alemanha, Inglaterra e Brasil:

A nível internacional eu percebo diferenças, eu adorei o trabalho feito pelos ingleses. Eles tinham outdoors nas ruas, onde diziam: “obrigado olímpicos pelo aquecimento, agora vêm as competições a sério”. Quer dizer, estão a pôr os olímpicos para trás. Por exemplo, na Alemanha, quando nós vamos competir, existe a transmissão. Mas a maior presença nos média internacionais foi no Brasil, nem que fossem 5 minutos, tinha sempre alguma menção ao desporto paralimpico. Os brasileiros tinham uma cobertura dos média em direto. Está um pouquinho melhor do que em Portugal (S1; S2; S4; S5; S9).

Alguns dados da literatura corroboram a insatisfação dos atletas face à cobertura dos média portugueses em relação à realidade brasileira. No trabalho de comparação entre a divulgação mediática nos dois países, Figueiredo e Guerra (2005) apontam que: i) o Brasil foi o país que mais horas transmitiu nos Jogos Paralímpicos de 2004 (168h), seguido da Espanha (125h); ii) 65% das notícias dos média digitais eram provenientes de websites brasileiros e 35% portugueses durante os mesmos Jogos.

A este propósito, num estudo semelhante, Figueiredo e Novais (2011) salientam ainda, que o país sul-americano recebeu mais informação sobre a preparação dos atletas e bastidores das competições entre os Jogos Paralímpicos de 1996 a 2008, do que o Estado-nação europeu. Uma das explicações dos autores para tais discrepâncias é o fato de só recentemente se ter assistido à fundação do Comité Paralímpico Português, em 2008, face ao órgão similar brasileiro fundado em 1995.

Torna-se assim evidente uma diversificação de reconhecimento do desporto paralímpico em diferentes países. Webborn (2013) destaca, por exemplo, uma ampla cobertura mediática dos Jogos Paralímpicos em Londres 2012 e a sua contribuição para a disseminação de ideais inclusivos.

Os discursos dos sujeitos sugerem que Portugal ofereceria menor relevância simbólica ao desporto paralímpico do que outros países, dando como exemplo o Brasil, Alemanha ou Inglaterra. Os fatos sugerem que esta realidade advém de disputas internas nos campos mediáticos regionalizados, dependentes, porventura, do habitus próprio de diferentes populações.

Tema 3 - Afirmação do desporto paralímpico nos campos desportivos e mediáticos

À luz dos pressupostos teóricos da Teoria dos Campos de Bourdieu, podemos perspetivar que sendo o desporto paralímpico um produto novo no campo mediático, a aquisição de maior capital simbólico irá requerer uma escolha entre por um lado, procurar adequar-se às regras ditadas pela violência simbólica em exercício no campo, e por outro, tentar modificar os critérios de distribuição de poder. Compreende-se, com base nos discursos dos entrevistados, que existem movimentos em Portugal que procuram aproximar os espectadores do Movimento Paralímpico do país, como por exemplo, o financiamento por parte dos órgãos reguladores do desporto paralímpico a membros da imprensa para a cobertura dos Jogos. Este tipo de ação permite a interpretação de que, mesmo que timidamente, existem ações no sentido da conquista de maior espaço no campo mediático em Portugal.

Dos motivos de insatisfação dos entrevistados em relação à cobertura mediática destaca-se, com número elevado de citações (sete e seis respectivamente): i) só acontece em períodos dos Jogos Paralímpicos, campeonatos mundiais e grandes resultados internacionais (IC-E); ii) não há transmissão de competições, apenas notícias sobre resultados (IC-F).

Como nos foi manifestado, a “Divulgação só acontece no período dos Jogos Paralímpicos de verão, campeonatos mundiais ou com resultados internacionais expressivos” (DSC5 – IC-E):

Quando a gente vai para um mundial, europeu, e às vezes quando vamos para uma prova internacional, um meeting, é falado. A nível nacional divulga-se umas duas semanas antes dos Jogos Paralimpicos e duas semanas depois, depois esquece-se. Mas basicamente as notícias que aparecem são sobre os Jogos. Mesmo no mundial, que aparece uma notícia, por exemplo, 3 minutos, ou 10 minutos durante um mundial. É muito pouco. Existem alguns canais que transmitem algumas entrevistas que nós damos nas finais. Só se fala do desporto adaptado quando há medalhas. (S1; S2; S4; S5; S6; S7; S8)

Como podemos observar, segundo os atletas entrevistados, “Não há transmissão de competições, apenas notícias” (DSC6 – IC-F):

Ninguém nos acompanha nos Jogos Paralímpicos. Dava uma filmagenzinha, aparecia no telejornal, o jornal das 8h ou da 1h da tarde. Nos Jogos de Sidney, houve um resuminho de uma hora para os Jogos todos, no final. Umas noticiazinhas nos jornais, nos jornais desportivos, algo pequeno. Para Atenas, eu lembro que foi a primeira vez que tivemos em direto as finais. Tivemos as finais de natação, acho que tivemos do boccia. Mas que, bom, como era em Atenas, calhava no horário normal, então conseguiram fazer assim, uns diretos. Para Pequim, com a diferença de horário, já foi um pouco mais difícil e não conseguiram. Fazia-se todos os dias um resuminho de 20, 30 minutos, passava na televisão, pois havia as notícias que saíam nos jornais. Mas em Londres, tinhas um resumo diário, acho que de 1 hora, não tinhas provas em direto. (S3; S4; S6; S7; S8; S9)

Ambas as Ideias Centrais caracterizam uma perceção negativa por parte dos atletas sobre a frequência e conteúdo de divulgação do desporto paralímpico. Existe a sensação de que a cobertura baseada em notícias se mostra incompleta, pois a transmissão de competições acaba sendo menosprezada, o que se traduz na marginalização destes eventos em relação a algumas modalidades olímpicas.

Brittain (2004) concorda com a posição dos entrevistados em relação à IC-E. Outros autores, além de reforçarem esta ideia, apresentam um quadro mais grave. Coakley (2008) refere que nos EUA, o desporto paralímpico é divulgado nos média apenas em períodos dos Jogos Paralímpicos. O autor afirma também, que os campeonatos mundiais e outros eventos são ignorados pelos meios de comunicação do seu país. Ellis (2009) tem opinião idêntica em relação à Austrália. No mesmo sentido, alguns jornalistas desportivos entrevistados por MacDonald (2008) também reconhecem que a cobertura do desporto paralímpico se dá por 15 dias, apenas durante os Jogos.

Quanto à IC-F, a literatura reforça a perceção dos atletas entrevistados, destacando certa predominância de matérias com ênfase nos resultados, recordes e medalhas (Figueiredo & Guerra, 2005; Pereira et al., 2011; Thomas & Smith, 2003). Alguns meios de comunicação escritos do Brasil e Portugal, entre os Jogos Paralímpicos de 1996 a 2008, seguiram na mesma direção, em detrimento de outras temáticas sobre o evento, como questões organizacionais, político-económicas, expetativas dos atletas, bastidores ou dopagem (Figueiredo & Novais, 2011).

Por outro lado, Pereira et al. (2011) salientam que em Portugal, descrições mais detalhadas sobre o desempenho dos atletas vêm ganhando maior espaço. Misener (2012) aponta que a predominância de resultados como conteúdo quase que exclusivo de notícias também se dá no Canadá, onde jornais de âmbito nacional, durante a cobertura dos Jogos Paralímpicos de inverno de 2010, restringiram-se a destacar campeões e atletas que participaram tanto nos Jogos Olímpicos como nos Jogos Paralímpicos.

Por outro lado, o Brasil pode-se considerar um país privilegiado em relação à transmissão de competições paralímpicas. Gestores do Comité Paralímpico Brasileiro apontam que tanto os Jogos Paralímpicos de 2004, como os de 2008, assim como o campeonato mundial de natação paralímpica de 2010, contaram com transmissões ao vivo em canal de televisão por assinatura especializado em desporto (Marques et al., 2013), encontrando ressonância no discurso de atletas (Marques et al., 2014). Embora tais iniciativas tenham ocorrido num ambiente restrito, e de certo modo elitista, ainda assim, mostram-se como um avanço em relação à maior divulgação do desporto paralímpico, e também em relação à cobertura mediática de outros países do mundo.

Compreende-se que os atletas entrevistados se lamentem pela fraca valorização de seus feitos, e pela importância diminuta oferecida ao Movimento Paralímpico como um todo. A divulgação de resultados, embora possa simbolizar uma conquista do espaço mediático, ainda assim, não satisfaz os membros da comunidade paralímpica, talvez devido à pequena contribuição na divulgação e sedimentação do habitus paralímpico e, principalmente, de uma cultura de identificação e valorização do desporto paralímpico pelo grande público. Os dados sugerem que neste processo não se registra uma preocupação, por parte dos meios de comunicação, com a criação de ídolos paralímpicos, ao contrário de alguns desportos olímpicos. Este fato é sugerido pela pequena aproximação com os atletas em períodos entre competições, assim como pela fraca exploração dos processos de treino e competição durante os ciclos paralímpicos.

Tema 4 - O papel do marketing no mercado do desporto paralímpico

O interesse comercial no desporto pauta-se pela proximidade com espectadores que se tornam consumidores, e o desejo das empresas se aproximarem destas pessoas para vender os seus produtos (Howe, 2004). Porém, o grande público conhece pouco sobre as particularidades do desporto paralímpico (Howe, 2008). O desporto contemporâneo tem sido beneficiado pela relação com os média. Talvez o aspecto mais importante desta associação seja justamente o económico (Coakley, 2008). Neste contexto, o fato de o grande público não conhecer o desporto paralímpico, e por isso não ser seu consumidor, leva os média a não o privilegiarem devido ao risco de obterem apenas uma pequena audiência, e consequentemente o retorno comercial vir a ser insatisfatório.

Uma implicação da divulgação insatisfatória do desporto paralímpico é, segundo alguns atletas, a “Dificuldade em obter patrocínio devido à pequena divulgação” (DSC7 – IC-G), o que parece ser consequência da denúncia de que o desporto paralímpico “Não tem um trabalho de marketing suficientemente atrativo” (DSC8 –IC-H):

Eu pedi patrocínio a uma empresa e até hoje... nada. Porque é pouco divulgado, não há dinheiro. Para os Jogos de Atenas, oferecemos uma parceria com uma empresa de marketing e comunicação e foram os Jogos que melhor funcionou. É verdade, nos Jogos de Atenas conseguimos ter finais em direto na televisão. Tudo bem, não era em horário nobre, era a segunda televisão estatal, mas pela primeira vez tiveste e aí consegues dar retorno a patrocinadores. (DSC7 – IC-G: S1; S8)

Ainda não arranjaram um mecanismo de marketing para vender o desporto paralímpico. Não tem um apelo comercial. Não sabem usar a sua imagem. Não vão aos campeonatos da Europa, não vão acompanhar os campeonatos do mundo, se um atleta faz um resultado, um recorde do mundo, alguma coisa assim do género, sai uma notinha de duas ou três linhas na última folha do jornal, pouco mais do que isso. São esses aspectos que eu acho que não somos devidamente trabalhados e tem que ser nesse aspecto, tem que ser a Federação, o Comité a investir. (DSC8 – IC-H: S1; S7; S8)

Os média são um dos catalisadores da perspetiva comercial do desporto paralímpico (Howe, 2008). A literatura indica que, de fato, existe certa resistência por parte de potenciais patrocinadores face à associação da sua marca a atletas com deficiência (Marques, Duarte, Gutierrez, Almeida, & Miranda, 2009). Esta realidade fica-se a dever: i) ao incómodo estético que os afastam de estereótipos de saúde e beleza; ii) à falta de identificação entre o movimento paralímpico e o público consumidor; e iii) à dificuldade de associar uma imagem tida como frágil, aos ideais desportivos de superioridade, força e vitória (Faria & Carvalho, 2011; Pereira et al., 2011).

Como referem Marques e Gutierrez (2014), os média que cobrem o desporto paralímpico utilizam-se do “capital físico” do ponto de vista do desempenho e da estética. Conclui-se, tanto no discurso dos sujeitos como na literatura, que existe uma disputa nos campos desportivo e mediático, ligado ao corpo legítimo do habitus desportivo. A este propósito, Bourdieu (1979) aponta os estereótipos ligados à força, virilidade e resistência, historicamente associados ao desportista, o que lhe confere maior ou menor capital simbólico no desporto.

Pode-se assim concluir que, neste sentido, os atletas paralímpicos sofrem de discriminação, ou desvantagens, em relação aos olímpicos na disputa pelo espaço mediático. De modo a ultrapassar os constrangimentos impostos pelos valores e crenças dominantes no campo desportivo, e aceites e reproduzidos pelos média, Howe (2004) afirma existirem movimentações no Comité Paralímpico Internacional, para modificar algumas regras de distribuição dos atletas em classes, de modo a privilegiar sujeitos que estejam mais próximos do estereótipo desportivo tradicionalmente legitimado.

Também a afirmação dos atletas paralímpicos se dá, pela disputa ou concorrência entre eles, na obtenção de maior capital simbólico no espaço mediático, pela procura reivindicativa da valorização dos seus feitos, em oposição às resistências culturalmente estabelecidas relativas a questões estéticas.

Considerando que os média são uma ferramenta importante para a disseminação da cultura desportiva (Bourdieu, 1994, 1997; Marivoet, 2006; Silva & Howe, 2012), seria desejável que a lógica de divulgação do desporto paralímpico, e de outras manifestações desportivas pouco prestigiadas, fosse revista, de modo a atrair maior interesse do público. Este movimento poderia expressar-se em iniciativas conjuntas promovidas pelas entidades organizadoras do desporto e os meios de comunicação social, como por exemplo, o financiamento por parte do Comité Paralímpico Brasileiro a jornalistas do Brasil para cobrirem os Jogos Paralímpicos de 2004 e 2008 (Marques et al., 2013).

Neste mesmo sentido, dois atletas entrevistados  referem que o “Comité Paralímpico de Portugal e a Federação Portuguesa de Desportos para Pessoas com Deficiência paga para os jornalistas fazerem a cobertura” dos Jogos Paralímpicos, (DSC9 – IC-I):

O Comité e a Federação chamam a própria imprensa para cobrir. Porque normalmente eles têm de pagar para os jornalistas irem, incluindo estadia, estarem lá, mesmo para transmitirem para a televisão estatal (S6; S8).

Também MacDonald (2008) refere que o Comité Organizador dos Jogos Paralímpicos de 2000, em Sidney, arcou com parte das despesas dos grupos de jornalistas estrangeiros. Administradores brasileiros apontam o mesmo procedimento por parte do Comité Paralímpico Brasileiro nos Jogos Paralímpicos de 1996, 2000 e 2004 (Marques et al., 2013). Tais fatos sugerem que esta prática é, de certo modo, adotada por dirigentes de diferentes países, na tentativa de aumentar a divulgação do desporto adaptado, podendo ser interpretado como um ato de investimento por parte dos gestores paralímpicos.

Porém, o ideal seria que tais medidas não viessem a ser mais necessárias num futuro próximo. Mas para que esta realidade seja possível, seria importante que tanto os meios de comunicação dedicassem maior atenção a esta forma de desporto, como o movimento paralímpico adequasse algumas das suas diretrizes, como por exemplo, o sistema de classificação, tal como é salientado por Howe (2008), de modo a tornar-se mais interessante para o público e, consequentemente, para patrocinadores e média.

Tema 5 - Divulgação das dificuldades do atleta com deficiência e/ou seus feitos desportivos.

O discurso mediático sensacionalista, destinado a destacar a superação das adversidades oriundas da deficiência, é denominado supercrip (Berger, 2008; Hardin & Hardin, 2004; Howe, 2008; Misener, 2012; Silva & Howe, 2012). Esta tendência implica um processo estereotipado de divulgação do atleta com deficiência como um herói que, mesmo com as desvantagens que lhe são impostas, supera-as e consegue feitos extraordinários (Silva & Howe, 2012).

O supercrip carateriza-se como um discurso que atribui ao atleta paralímpico valores mais ligados à deficiência e superação de suas dificuldades, do que aos seus feitos desportivos. Este discurso mediático atribui um capital simbólico ao atleta com deficiência, que por um lado, o diferencia dos atletas não deficientes, e por outro, imprime-lhe um estereótipo de menor importância no campo desportivo (Marques et al., 2014).

Os nossos entrevistados não foram consensuais face à perceção das diferentes perspetivas mediáticas na cobertura do desporto paralímpico. Destacam-se três posicionamentos: i) preferência por divulgação dos feitos atléticos e incómodo com o foco na superação da deficiência (IC-J); ii) perceção otimista quanto à divulgação sobre a superação da deficiência (IC-K); e iii) perceção positiva em relação a um equilíbrio entre as duas formas (IC-L).

Elucidativas são as respostas de alguns atletas entrevistados acerca do “Incómodo com o fato das condições de deficiência serem mais valorizadas do que os resultados desportivos. Prefere a divulgação dos feitos atléticos” (DSC10 – IC-J):

Eu acho que a melhor forma de divulgação do desporto paralímpico é dizer que nós fomos lá e fizemos alguma coisa para o país. Eu gosto que falem dos resultados e não da vida pessoal, porque a minha vida é a minha vida. Com mais dificuldade ou com menos dificuldade, a minha vida particular é a minha vida particular. Não quero ser tratado como um deficiente, porque eu acho que sou igual às outras pessoas e mereço ser tratado como atleta. A deficiência é só algo que me aconteceu na vida. (S1; S2; S3; S4; S7; S8)

Porém, em dissenso, um atleta considera que “Se sente valorizado e prefere a divulgação sobre a superação” (DSC11 – IC-K):

A divulgação sobre a superação das dificuldades relativas à deficiência é a linha que eu prefiro e me sinto valorizado. Dá informação às pessoas com deficiência que estão fechadas (S5).

Já para outros atletas, a opinião é de que “Acredita que as duas perspetivas se complementam como modo de aumentar a divulgação” (DSC12 – IC-L):

As duas possibilidades são boas. Era uma coisa útil que se completava, porque as pessoas vão dizer assim, eu ganhei uma medalha disso e daquilo, e os espectadores perguntarão: mas quem é ela? Mas quem é? No Facebook, eu criei uma página em dezembro, tinha 500 gajos só. Este mês do Splash [programa de entretenimento na televisão] já tem 3 mil. Acho que as duas coisas se completam. Precisa-se das duas formas de divulgação. Eu acho que é só haver um equilíbrio entre elas. Acho que não se deve esconder nada, talvez só um bocadinho, da parte que dá mais ênfase à superação, da parte de deficiência e tudo mais e tirar a parte desportiva, dos resultados, porque a parte desportiva eu acho que é a parte de real superação. O atleta teve que passar por toda aquela fase de superar as dificuldades da deficiência para chegar na parte desportiva, porque é prova da nossa superação, que é possível. (S6; S7; S8; S9)

Esta divisão de opiniões foi também encontrada em grupos de atletas paralímpicos norte-americanos, britânicos e brasileiros (Hardin & Hardin, 2004; Marques et al., 2014; Purdue & Howe, 2012). Ex-atletas aposentados britânicos afirmam que seria melhor o foco sobre as potencialidades da pessoa com deficiência e não em suas dificuldades (como na IC-J). Sentem-se melhor representados em relação à divulgação dos seus feitos desportivos, pois consideravam-se atletas de alto rendimento (Purdue & Howe, 2012).

Alguns praticantes de desportos em cadeira de rodas nos EUA também demonstraram preferir modelos de cobertura mediática com destaque aos resultados desportivos (em concordância à IC-J), pois temem que o público não os veja como atletas e fortaleça o sentimento de pena pela pessoa com deficiência. No mesmo estudo, outros sujeitos disseram preferir o discurso supercrip (como a IC-K), porque valoriza e destaca a determinação da pessoa com deficiência, mostra-as de modo positivo e aumenta a exposição destes sujeitos nos média (Hardin & Hardin, 2004). O último destes argumentos vai de encontro à perspetiva de que não importa como, mas é importante que os média falem sobre as pessoas com deficiência.

Por sua vez, um grupo de 23 atletas brasileiros também dividiu-se entre os três posicionamentos expostos pelas IC-J, IC-K, IC-L, sendo uma minoria (quatro sujeitos) com uma perspetiva positiva sobre o supercrip como a melhor forma de divulgação dos feitos de desportistas paralímpicos (Marques et al., 2014), assim como neste presente estudo.

Embora alguns atletas paralímpicos prefiram serem tratados pelos seus feitos atléticos, alguns aceitam o discurso supercrip para receberem alguma exposição mediática (Coakley, 2008; Hardin & Hardin, 2004; Marques et al., 2014). Este posicionamento foi também encontrado entre sujeitos deste trabalho como acabámos de analisar (IC-K, IC-L).

Esta realidade permite supor que existe uma indefinição quanto à preferência do capital simbólico atribuído pelo discurso supercrip aos atletas paralímpicos. De fato, embora seja uma forma de valorização no campo mediático, não representa um caminho consistente para a ascensão ou afirmação no campo desportivo. Talvez, por esta razão, haja esta falta de consenso entre os entrevistados.

Ambos os discursos sobre a cobertura mediática de atletas com deficiência são suportados por fatos segundo a opinião dos desportistas, realidade que reforça a falta de consenso. Assim, encontramos dois grupos de atletas, um que aponta a predominância do discurso sobre os feitos atléticos (IC-M), e outro que aponta a maior ocorrência do discurso sobre a superação das dificuldades em relação à deficiência – supercrip (IC-N).

Assim, segundo dois dos atletas, “Há predominância do discurso sobre os feitos atléticos nos média” (DSC13 – IC-M):

Eu acho que há mais divulgação dos feitos desportivos. Porque a gente tem mais isso para divulgar. No nível particular nós evitamos. Poucas pessoas são usadas nessa justificativa (S1; S7).

Já para os atletas S2 e S8 “Há predominância do discurso sobre superação nos média” (DSC14 – IC-N):

A vertente que é mais focada diz respeito à superação da deficiência. Essa é quase uma parte inerente às notícias sobre o desporto paralímpico. Os média nos tratam como coitadinhos, deficientes. Não nos trata como atletas (S2; S8).

Ambas as possibilidades de cobertura acontecem na mediatização paralímpica (Marques et al., 2013). Porém, o discurso supercrip é mais recorrente e tradicional (Berger, 2008; Faria & Carvalho, 2011; Figueiredo & Novais, 2011; Howe, 2008; Misener, 2012; Schell & Duncan, 1999; Silva & Howe, 2012; von Sikorski & Schierl, 2012). Especificamente sobre a realidade portuguesa, Carmo (2006) concorda com o posicionamento dos sujeitos que se situaram na IC-N. A autora aponta que os atletas paralímpicos são apresentados nos média como exemplo de dedicação e superação, e não como desportistas de alto rendimento, o que dificulta a criação de ídolos.

Assim como alguns atletas de outros países que apontam insatisfação em relação ao discurso supercrip (Berger, 2008; Hardin & Hardin, 2004; Marques et al., 2014; Purdue & Howe, 2012), os sujeitos entrevistados neste trabalho posicionaram-se em maioria na mesma direção (IC-J). Um dos atletas (S4) fez ainda um comentário, que aponta no sentido de aceitar que falem sobre a superação de dificuldades apenas quando elas se referem aos desafios próprios da prática desportiva (DSC15 – IC-O: “Quando se menciona superação, prefere que se fale sobre a superação no desporto”), nas suas palavras: “Eu dou mais valor à superação no desporto em que estou e na ajuda ao nosso país”. Ou seja, independentemente do atleta ser ou não pessoa com deficiência, expõe a sua vontade de ser tratado unicamente como desportista.

Embora a maioria dos entrevistados prefira a abordagem ligada aos feitos atléticos, boa parte reconhece que o discurso supercrip atrai maior audiência para o desporto paralímpico (DSC16 – IC-P: “O discurso da superação atrai mais audiência e tem maior apelo comercial”):

Aquelas pessoas que não desistem, querem lutar e sabendo usar isso tudo, vende. Eu consegui uma entrevista apenas, foi um senhor amigo meu que estava a tratar da direção da RTP, em que tive lá cerca de 2, 3 minutos, em que estive a falar dos meus treinos e pronto. Nas outras entrevistas estamos a falar da superação, como superou as dificuldades da deficiência. Somos mesmo tratados como coitadinhos. Esta é uma grande verdade. É que os portugueses gostam muito das coisas do coitadinho (S2; S3; S7; S8; S9)

Como sublinham alguns autores, os média, e principalmente a televisão, divulgam o que lhes for mais interessante, tanto do ponto de vista político como económico (Bourdieu, 1997; Coakley, 2008). Existe uma lógica comercial que determina os conteúdos privilegiados no campo mediático (Bourdieu, 1997), inclusive sobre o desporto paralímpico (Schantz & Gilbert, 2001). Estes são determinados a partir da sua capacidade de gerar audiência (Coakley, 2008), por razões financeiras, interesse do público ou patrocinadores e “noticiabilidade” (Brittain, 2004).

Neste sentido, os jornalistas dependem de boas histórias sobre os atletas, e as narrativas mais valorizadas acabam sendo as vinculadas ao puritanismo e ao estereótipo do supercrip, e não aos feitos desportivos (Howe, 2008). Tal perspetiva acaba por nutrir a indústria mediática desportiva (Silva & Howe, 2012), mas não contribui para a legitimação dos atletas paralímpicos como desportistas de elite (Berger, 2008), e a criação de ídolos por parte do público em geral (Novais & Figueiredo, 2010). Neste processo, é explorada a compaixão dos espectadores pelos atletas paralímpicos, tratando-os como vítimas (Figueiredo & Guerra, 2005). Este discurso parece ser coerente com a procura de ganhos de espaço e reconhecimento simbólico no campo mediático, porém, não se traduzem no aumento de prestígio no campo desportivo.

Cria-se assim certa “assepsia moral”, ou seja, trata-se o desporto paralímpico de modo puritano, desvinculado de qualquer sentido crítico por parte dos média. Temas controversos, como dopagem e desempenhos não satisfatórios de atletas, não são destacados pelos média, diferenciando o desporto paralímpico do desporto olímpico, e criando uma áurea de marginalização e desprestígio (Howe, 2008).

Outro tema abordado pelos atletas entrevistados foi a influência que a divulgação mediática poderia causar sobre a adesão de pessoas com deficiência em práticas desportivas. Dois dos sujeitos entrevistados referiram que uma cobertura baseada em feitos atléticos seria mais favorável para estimular as pessoas a se inserirem em programas desportivos (DSC17 – IC-Q: “Maior divulgação de feitos atléticos estimularia mais pessoas a praticar desporto”):

No nosso espaço existem pessoas com deficiência que se isolam completamente, que acham que não conseguem fazer as coisas, mas se houvesse mais divulgação daquelas pessoas que conseguem fazer, acho que se existisse mais divulgação como o André Brasil, que é um dos melhores atletas para mim, estimularia as pessoas a tentarem se superar. Se existisse a mesma publicidade do André Brasil como, por exemplo, com o Michael Phelps, acho que viriam muito mais pessoas com deficiência praticar natação adaptada. Sem isso, é mais difícil. Porque falta um bocado de transmissão informando as pessoas. Seria importante falar um pouquinho mais, para atrair o jovem que não conhece o desporto (S3, S4).

Thomas e Smith (2003) reforçam esta perspetiva. Porém Misener (2012) afirma que, embora a divulgação dos Jogos Paralímpicos possa estimular pessoas com deficiência a praticar desporto, existe um sério problema em relação à oferta de oportunidades para tal. Ellis (2009) reforça esta ideia, assinalando que na Austrália as crianças em geral são muito incentivadas à prática desportiva. Porém, as pessoas com deficiência não recebem tantas oportunidades, indo de acordo com um dos sujeitos, que defende a necessidade de aumento de oportunidades de prática para pessoas com deficiência (DSC18 – IC-R: “Tenta divulgar a ideia de que pessoas com deficiência têm as mesmas possibilidades de ação das não deficientes. Porém, precisam de oportunidades”), como afirma:

Eu tenho sempre que ficar e dar asas para que as pessoas saibam que há desporto adaptado e que as pessoas com deficiência são iguais e podem fazer muitas coisas que outras pessoas fazem também, precisam é de ajuda (S7).

Ainda assim, um dos entrevistados (S6) defende que o discurso supercrip tem também a capacidade de incentivar pessoas a praticar desporto (DSC19 – IC-S: “Falar da superação pode motivar pessoas com deficiência a superarem suas dificuldades”), como assinalou: “É bom para motivar alguém que está no fundo do poço por conta de uma deficiência e para motivar essa pessoa a seguir”. Este atleta encontra ressonância em alguns colegas norte-americanos e brasileiros (Berger, 2008; Hardin & Hardin, 2004; Marques et al., 2014), que consideram o supercrip como uma forma de mostrar a deficiência de modo positivo, destacando a determinação e o poder de superação das pessoas com deficiência.

No entanto, para alguns autores, o discurso supercrip baseia-se no paradigma médico da deficiência, e fortalece estereótipos de dependência e ineficiência, contribuindo para a disseminação da discriminação e preconceito (Figueiredo & Novais, 2011; Hardin & Hardin, 2004; Howe, 2008; Pereira et al., 2011; Silva & Howe, 2012). Para alguns autores, esta abordagem trata os atletas como vítimas, explorando a compaixão dos espectadores (Figueiredo & Guerra, 2005), e desse modo dificultando o surgimento da admiração pelos feitos atléticos e a consequente formação de ídolos desportivos (Novais & Figueiredo, 2010). Sobre este assunto, Brittain (2004) discorda da IC-S, e defende que tanto a falta de divulgação, como a imagem de pena e compaixão para com os atletas com deficiência contribuem para inibir o envolvimento de pessoas com deficiência em atividades desportivas.

Esta perspetiva radica na ideia de que a criação de ídolos no campo desportivo respeita critérios ligados aos feitos extraordinários de atletas que parecem superar capacidades dos cidadãos comuns (Coakley, 2008). Ao tratar os atletas com deficiência sob uma perspetiva de menosprezo e compaixão, os média acabam por não privilegiar a criação de ídolos paralímpicos, imprimindo uma marca simbólica de inferioridade a estes atletas no mercado desportivo. Deste modo, tornam-se dificultadas as ações de marketing em relação ao desporto paralímpico, tanto para difundir o aspecto comercial do mesmo, como para estimular novos praticantes, ou seja, pessoas com deficiência que, eventualmente, ambicionem a aquisição de capitais simbólicos advindos da imagem de atletas com deficiência, encontram assim resistências às suas expetativas.

Tema 6 - Fatores que diferenciam a exposição mediática dos Jogos Paralímpicos

Da análise da informação recolhida, pudemos concluir que os atletas entrevistados posicionaram-se de forma diferenciada na abordagem de alguns fatores presentes no campo paralímpico. Uma primeira ideia foi a comparação entre as coberturas mediáticas do desporto olímpico e paralímpico, na qual os atletas denunciam uma predominância do primeiro no espaço mediático, associado ao maior prestígio com o público, meios de comunicação e patrocinadores (DSC20 – IC-T: “Os Jogos Olímpicos têm mais prestígio e uma divulgação maior do que os Jogos Paralímpicos”):

A diferença que eles fazem é paralímpico e olímpico. Aqui em Portugal, eu acho que estamos um bocado esquecidos, ficamos na sombra do que é o desporto dos ditos normais. Quando há jogos olímpicos, sempre a televisão está ligada nisso. Quando é o desporto adaptado, não sei se há espaço. A diferença é muito grande. Umas 80 horas diárias nos olímpicos e chegam os paralímpicos tem uma nota escrita. O que tu vês como transmissão paralímpica diária é uma hora a seguir ao telejornal da tarde e uma hora seguida no telejornal da noite. Tem um canal com olimpíadas que é aquela coisa, 24 horas sobre aquilo. E você vê:” nadador não sei das quantas fica em vigésimo sétimo”. Aí, depois aparecem os paralímpicos: “David Grachat ficou em sexto na final. Simone Fragoso ficou em sétimo na final”. Que importância se dá né, ficar o canal 24 horas aos atletas portugueses que ficaram em trigésimo, em quadragésimo, olha que absurdo. (S4; S6; S7; S9)

Alguns autores corroboram esta perspetiva (Brittain, 2004; Marques et al., 2009; Schantz & Gilbert, 2001), afirmando que os média não abordam o desporto adaptado do mesmo modo que o desporto de pessoas não deficientes, havendo uma grande diferença entre a exposição de atletas olímpicos e paralímpicos, sendo que os Jogos Paralímpicos são o “primo pobre” dos Jogos Olímpicos, recebendo, inclusive, menor apoio governamental (Ellis, 2009; Gonçalves, Albino, & Vaz, 2009).

A comparação entre os universos olímpico e paralímpico é tema latente, tanto no campo jornalístico quanto no académico. Neste cenário, o movimento paralímpico coloca-se como herdeiro do olímpico, principalmente quanto à organização, divulgação e comercialização de símbolos e objetos (Marques et al., 2009).

É possível encontrar relatos na literatura congruentes com o posicionamento exposto na IC-T. Schell e Duncan (1999) denunciam que a estrutura de cobertura jornalística dos Jogos Paralímpicos de 1996 foi muito inferior e menos preparada do que a destinada aos Jogos Olímpicos do mesmo ano. MacDonald (2008) reforça este cenário em relação aos Jogos Paralímpicos de 2000, nos quais os meios de comunicação enviaram uma equipa muito pequena para o evento, numa proporção de 1 para 10 ou 15 em relação aos Jogos Olímpicos. Esta condição pode ajudar a criar uma perceção de menor importância ou de falta de legitimidade desportiva dos Jogos Paralímpicos junto do grande público.

Com base neste cenário, compreende-se que os Jogos Paralímpicos sejam considerados como uma categoria secundária para uma boa parcela de jornalistas desportivos e meios de comunicação. Alguns dos sujeitos atuantes nos Jogos Paralímpicos de 2000 defendem que algumas competições não são interessantes para a televisão e espectadores, além de ser difícil realizar a sua cobertura jornalística (Macdonald, 2008).

A literatura fornece dados que sustentam estes mesmos posicionamentos de comparação entre os dois eventos, em relação a edições mais recentes. Das notícias brasileiras e portuguesas referentes aos Jogos Paralímpicos e Jogos Olímpicos de 2008, 27% referiram-se ao primeiro e 73% ao segundo (Novais & Figueiredo, 2010). A confirmar esta tendência, comparando alguns dos principais atletas olímpicos e paralímpicos do Brasil e Portugal, tem-se que 71% das menções entre os brasileiros remetem-se a Maurren Maggi (Olímpica) e 29% a Daniel Dias (Paralímpico), e 74% refere-se a Nelson Évora (Olímpico) e 26% a João Paulo Fernandes (Paralímpico). Será de destacar que, neste caso, ambos os atletas paralímpicos conquistaram mais medalhas que seus compatriotas olímpicos (Novais & Figueiredo, 2010).

Percebe-se no discurso dos atletas e em dados da literatura que, tanto no campo desportivo, como no mediático, o desporto olímpico assume um papel de destaque e maior poder simbólico. Tal fato pode dever-se à maior tradição e importância histórica atribuída, o que lhe confere o poder de estabelecer parâmetros culturais próprios ligados ao estereótipo de corpo e simbologia de feitos atléticos.

Sendo o desporto paralímpico o agente novo neste espaço, cabe questionar qual seria a melhor estratégia para a valorização de seus símbolos e produtos: i) adotar formas estéticas e simbólicas mais próximas do estereótipo olímpico (com maior valorização de atletas menos comprometidos fisicamente, por exemplo); ou ii) reivindicar o reconhecimento de um habitus próprio, desvinculado da comparação com o olimpismo, destacando caraterísticas e particularidades do habitus paralímpico. Segundo Howe (Howe, 2008), este habitus distinguiria-se, principalmente, pelos sistemas de classificação e o questionamento às melhores formas de organização do mesmo.

Outro dado que reforça esta questão é que, enquanto as notícias paralímpicas são carregadas do discurso supercrip, as olímpicas têm maior dramatização e contextualização sobre os feitos desportivos dos atletas, o que contribui para criar novos ídolos não deficientes (Novais & Figueiredo, 2010).

Tema 7 - Diferenças na cobertura das modalidades paralímpicas

Outros aspectos abordados pelos atletas entrevistados foram as diferenças de cobertura mediática entre as modalidades paralímpicas disputadas pelos portugueses. Pode-se identificar duas posições distintas: i) a maioria dos atletas defendeu que existe um equilíbrio entre as oportunidades de divulgação entre as diferentes modalidades (IC-U); ii) alguns apontaram que a natação, o atletismo e o boccia seriam privilegiados (IC-V), com maior destaque neste último (IC-W).

“A divulgação paralímpica é equilibrada entre diferentes modalidades desportivas”, reúne o consenso de cinco atletas (DSC21 – IC-U):

Entre os desportos paralímpicos não há grande diferença. Durante aquelas duas semanas, todos nós somos tratados como iguais. Eu acho que estamos todos no mesmo barco. Até agora sempre divulgaram um bocadinho de cada modalidade (S1; S2; S4; S6; S9).

Em dissenso, dois atletas consideram existir “Maior divulgação da natação, atletismo e boccia” (DSC22 – IC-V):

No fundo temos o quê, temos natação, o atletismo e o boccia. Dos desportos com mais medalhas, dos desportos paralímpicos com mais medalhas em Portugal é boccia. Mas, nas poucas campanhas publicitárias cá em Portugal, aparecem natação, mas só as classes mais altas, e atletismo, se for só para uma fotografia (S3; S8).

Apenas um atleta afirma ser a “Divulgação ligeiramente maior do boccia, pelo número de medalhas conquistadas nos últimos anos” (DSC23 – IC-W), nas suas palavras:

Talvez o boccia, pois tem sido as últimas medalhas que tem saído. São um pouco mais entrevistados do que os outros. Mas não há assim tanta diferença (S2).

A literatura brasileira contraria a IC-W. Gestores do Comité Paralímpico Brasileiro e atletas brasileiros apontam que modalidades colectivas encontram maiores dificuldades para divulgação e obtenção de patrocínios em relação às individuais (Marques et al., 2014, 2013), o que, por outro lado, fortalece a IC-V. Quanto ao destaque feito por alguns atletas ao boccia (IC-V e IC-W), este justifica-se devido aos grandes resultados obtidos por portugueses nas últimas edições dos Jogos Paralímpicos. Por esta razão, Portugal apresenta uma característica peculiar em relação a outros países, pois atletas com paralisia cerebral acabam recebendo certo destaque (Pereira et al., 2011), mesmo sendo desfavorecidos em relação ao estereótipo de corpo desportivo.

Tema 8 - Cobertura dos diferentes tipos de deficiência

No mesmo sentido, alguns atletas entrevistados denunciaram diferenças no espaço mediático entre diversos tipos de deficiência. Os dados sugerem existir uma divisão entre os atletas, pois alguns afirmam que não encontram diferenças entre as deficiências: (DSC24 –IC-X: “Não identifica nenhuma diferença de tratamento por parte dos média a diferentes deficiências”), ao manifestar a opinião de que: “Acho que não há diferença nenhuma entre as deficiências” (S7, S9). No entanto, em dissenso, um atleta defende que as pessoas com deficiência com maiores comprometimentos estéticos receberiam maior divulgação (DSC25 – IC-Y: “São privilegiados os sujeitos esteticamente mais comprometidos. Pois têm maior apelo sensacionalista ligado à superação”), como refere:

O André Brasil é o maior nadador paralímpico, sem tirar o mérito ao Daniel Dias. O André faz coisas que muito normal não conseguiria. Mesmo com aquela deficiência dele. Faz coisas impressionantes. Mas não é tão conhecido no Brasil quanto o Daniel. Quanto mais deficiente melhor (S2).

Pudemos ainda identificar um terceiro grupo que defende que atletas menos comprometidos teriam prioridade (IC-Z e IC-AA). Para estes atletas “São privilegiados os sujeitos esteticamente menos comprometidos. Pois estão mais próximos do estereótipo de desportista” (DSC26 – IC-Z):

Assim, mais privilegiados são os cegos, os deficientes visuais. Depois em nível de pessoas emcadeiras de rodas são os paraplégicos, são mais musculosos, tem mais voz, tem mais peito. Quem tem paralisia cerebral já não, são mancos e magros. Tens os atletas do boccia, dificilmente vais encontrar um ou outro que tem um discurso que tu consegues perceber. A grande maioria são aqueles de paralisia cerebral que têm grandes afetações na fala. Existem essas diferenças entre essas deficiências, não vamos apenas dizer, não são todos iguais. Assumir a igualdade é um discurso completamente idealista e desligado do que existe. Natação, classes mais altas, atletismo, se for só para uma fotografia, até mesmo, se fores ao site do Comité Paralímpico Português, tens lá uma fotografia que foi para os Jogos de Londres. Tens lá vários atletas de várias modalidades, do boccia foram buscar uma rapariga, não é das melhores enquanto atleta, mas é a que tem a imagem menos comprometida, mais vendável. Obviamente que tu como atleta da área mental, da área intelectual, como é agora chamada, não dá, por exemplo, para estabelecer uma grande entrevista com um surdo, não vai dar. (S2; S5; S8)

Um dos atletas acrescenta a este propósito, que “Quanto à transmissão de provas, as classes mais altas têm privilégio, pois são mais emocionantes e próximas do estereótipo olímpico” (DSC27 – IC-AA), afirmando que:

É o dinheiro. Financiamento. E depois transformação do desporto adaptado em um desporto espetacular, entende. Já não interessa muito as classes baixas. Agora interessa as classes altas, porque as provas são mais rápidas, são mais emocionantes, muito mais disputadas, e os interesses são esses (S2).

Em geral, a literatura corrobora com a opinião expressa na IC-Z e IC-AA (Marques et al., 2013; Schantz & Gilbert, 2001; Schell & Duncan, 1999). Em estudos sobre a cobertura dos média norteamericanos, franceses e alemães aos Jogos Paralímpicos de 1996, conclui-se que atletas em cadeira de rodas tenderam a receber maior cobertura mediática, possivelmente pela sua deficiência não ser percepcionada como um desvio substancial do padrão dominante de pessoas não deficientes, o que promoverá maior aceitação e identificação por parte do público (Schantz & Gilbert, 2001; Schell & Duncan, 1999). Outros autores também corroboram a ideia de que os espectadores aceitam melhor imagens de atletas mais próximos de padrões estéticos de pessoas não deficientes (Howe, 2008; Marques et al., 2013; Pereira et al., 2011).

Em relação a fotos da imprensa dos EUA, Schell e Duncan (1999) apontam que nos Jogos Paralímpicos de 1996, 40% reportaram-se a atletas em cadeira de rodas e 59,6% não revelavam qual era a deficiência do atleta, não apresentando ou escondendo diferenças estéticas com atletas não deficientes. Quanto aos jornais franceses e alemães, Schantz e Gilbert (2001) referem que 32% das fotos escondiam a deficiência dos atletas e 52% destacavam os atletas em cadeira de rodas. Atletas em cadeira de rodas foram apresentados em 10 notícias (40%), amputados em 8 (32%), cegos em 5 (20%), enquanto atletas com paralisia cerebral não apareceram (Schell & Duncan, 1999). Já nos Jogos Paralímpicos de 2000, estes últimos estiveram presentes em apenas 3 fotos da imprensa britânica (Thomas & Smith, 2003).

É importante destacar que não foram encontrados dados relativos a imagens publicadas referentes a Jogos Paralímpicos mais recentes. Uma hipótese a ser investigada com maior profundidade, é que atualmente este cenário se tenha modificado, com maior equilíbrio entre as diferentes formas de deficiência, visto que alguns dos nossos entrevistados manifestaram-se nesse sentido.

Depreende-se, tanto no discurso dos sujeitos, quanto em dados da literatura, argumentos ligados aos capitais simbólicos atribuídos principalmente a três diferentes modalidades em Portugal. De modo geral, todas representam os caminhos de maiores conquistas desportivas paralímpicas lusitanas. De forma mais específica, tem-se no boccia a maior fonte de medalhas paralímpicas portuguesas recentes, enquanto o atletismo e a natação oferecem um apelo estético mais próximo do estereótipo de corpo do atleta olímpico, principalmente nas classes mais altas de competição (menos comprometidas esteticamente). Principalmente o boccia, apresenta uma maior valorização dos feitos atléticos em detrimento do capital físico. Porém, dados da literatura sugerem que esta não é uma tendência no campo desportivo paralímpico.

Tema 9 - Diferenças de género

Tanto quanto pudemos concluir, os atletas entrevistados no presente estudo não identificam diferenças de género na cobertura mediática (IC-BB). Os três atletas que se referiram a este tema (um deles é mulher – S9) inclinaram-se para que “Não há diferença entre a divulgação de atletas do sexo masculino e feminino” (DSC28 – IC-BB): “Não há diferença. Tanto homem e mulher. Dá 50%. Pode haver um pouco mais de mulheres do que homens” (S2; S8; S9). Destaca-se que os atletas referiram-se a questões quantitativas frente às aparições de homens e mulheres nos conteúdos mediáticos paralímpicos.

Embora alguns autores defendam que os homens são mais favorecidos neste sentido (Brittain, 2010; Ellis, 2009; Schantz & Gilbert, 2001; Thomas & Smith, 2003), outros, baseados em dados de proporção entre os participantes dos Jogos Paralímpicos, que apresentam menor presença feminina, defendem não existir privilégios ou discriminação de género (Léséleuc, Pappous, & Marcellini, 2010; Schell & Duncan, 1999).

No estudo sobre os Jogos Paralímpicos de 2000, em números absolutos, realmente os homens apresentam maior incidência nos média da Alemanha, Espanha, França e Inglaterra, com 296 menções em artigos e 36 fotos, enquanto as mulheres constaram em 113 artigos e 17 fotos. Porém, na comparação entre a proporção de incidência de menções, o número de participantes e de medalhas conquistadas por ambos os sexos, tem-se que os homens compuseram 72,2% do quadro de atletas e ganharam 65,4% das medalhas, com 72,4% de menções em jornais e 67,9% em fotos. Quanto às mulheres, representaram 27,8% dos participantes, conquistando 34,6% das medalhas, aparecendo em 27,6% dos artigos e 32,1% das fotos. Segundo os autores deste estudo, não houve diferença estatística entre a cobertura mediática de homens e mulheres nos Jogos Paralímpicos de 2000 (Léséleuc et al., 2010).

Embora em Portugal, de um modo geral, a população apresente uma fraca adesão à prática desportiva, sendo este fato mais acentuado em relação às mulheres (Marivoet, 2001), compreende-se que, historicamente, elas têm vindo a tornarem-se cada vez mais presentes no campo do desporto (Marivoet, 2002, 2005), tal como em outros países (Coakley, 2008), e com destaque no universo paralímpico (Brittain, 2010).

Embora exista um número maior de homens do que mulheres competindo nos Jogos Paralímpicos, o crescimento da participação feminina é maior do que o masculino em relação aos índices percentuais, o que indica um aumento do espaço conquistado pelas mulheres neste espaço (Gomes, Morato, & Almeida, 2011).

Porém, a importância dada às competições femininas ainda não é a mesma das masculinas em competições paralímpicas (Brittain, 2010; Howe, 2011), tanto em relação ao número de eventos, quanto à legitimidade do capital desportivo e quantidade de investimento financeiro (Brittain, 2010; Coakley, 2008; Marivoet, 2001, 2002, 2005). Gomes et al. (2011, p. 89) apontam que em algumas modalidades paralímpicas, “... apesar da existência de categorias femininas, há uma baixa adesão das mulheres devido a uma série de crenças, tabus e paradigmas ainda permanecentes na sociedade contemporânea”.

Howe (2011) aponta que poderia haver um movimento mais radical e incisivo na defesa de uma maior participação feminina no desporto paralímpico, como forma de ampliar movimentos feministas neste espaço. Segundo este autor, há uma ação do Comité Paralímpico Internacional no sentido de estabelecer mais mulheres em posições de direção, como uma forma de encorajar a participação feminina em diversos níveis do desporto. 

Apontar avanços em relação à participação de mulheres é de grande importância, de modo a evidenciar mudanças em relação ao estereótipo desportivo feminino e a quebra de alguns paradigmas ligados à associação de habilidades desportivas ao sexo masculino. O desporto paralímpico tem oferecido grande contribuição neste sentido, visto a maior percentagem de mulheres participantes nas últimas edições em relação às atletas olímpicas (Brittain, 2010).

Ainda no século XXI, competições de alto rendimento e, principalmente, de desportos colectivos, são associadas a um estereótipo masculino, ligado à luta e confrontação (Marivoet, 2002), inclusive no campo paralímpico (Gomes et al., 2011; Roy, 2012). Porém, o processo de real igualdade de oportunidades de participação no campo desportivo ainda está longe de ser concluído. Embora a presença de mulheres em competições esteja aumentando, a simbologia ligada à liderança, superação e esforço, encontra-se não raras vezes associada ao sexo masculino (Coakley, 2008).

Ainda que a perceção dos atletas deste estudo aponte para a tendência da igualdade de oportunidades na divulgação mediática entre homens e mulheres, e os dados da literatura sustentem o aumento da participação feminina (Brittain, 2010; Gomes et al., 2011), ainda existe uma série de barreiras culturais impostas por estereótipos de género no campo paralímpico, a necessitar de serem transpostas por mulheres atletas, a fim de conquistarem uma maior igualdade de condições de legitimação da sua participação desportiva (Howe, 2011; Roy, 2012).

A real igualdade entre os sexos requer transformações não apenas na participação desportiva, mas principalmente na valorização das realizações das mulheres na sociedade como um todo. Naturalmente, que esta questão também se faz sentir no movimento paralímpico. Segundo Howe (2011), a participação feminina no desporto paralímpico não deveria ser subestimada, pois as desportistas contribuem de igual modo na difusão do ideal de capacidade de realização do atleta com deficiência.

Tema 10 - Hegemonia do futebol

De um modo geral, alguns capitais simbólicos próprios do campo desportivo podem reforçar a desigualdade de acesso à prática do desporto entre homens e mulheres. Em Portugal, a hegemonia do futebol continua a atrair o interesse da maioria da população, especialmente homens (Marivoet, 2002, 2005), ainda que se assista à tendência na procura de desportos tradicionalmente considerados masculinos pelas mulheres, como é justamente o caso do futebol feminino.

Neste cenário, compreende-se que entre os atletas entrevistados, se “Reclama da supremacia do futebol nos média” (DSC29 – IC-CC):

Hoje em dia é o futebol, depois o resto. O que aparece nos jornais é o futebol e mais nada.  Se compra um jornal desportivo, é futebol. O jornal tem 40 páginas, 30 páginas é futebol e o resto são notícias pequenininhas e acabou. Não se dedicam, nem tentam evoluir nem dar a conhecer ao português outro desporto. Tens o futebol e para lá do futebol começa a ser muito escasso. Mesmo as modalidades olímpicas. Tudo que seja outras modalidades, natação, atletismo, praticamente não tens transmissão em direto. Tens ocasionalmente um ou outro resumo e basicamente é isso (S3; S7; S8).

Quanto à denúncia da supremacia do futebol no espaço mediático (IC-CC), Betti (2001) reforça o posicionamento destes atletas, salientando o processo de monocultura desportiva que padroniza os formatos de transmissão mediática, e o discurso em diversos desportos a partir do modelo do futebol. Segundo este autor, esta perspetiva seria nutrida por uma melhor relação custo-benefício oferecida pela modalidade. De fato, não é difícil entender tal soberania nos meios de comunicação, sendo este um problema tanto para o desporto paralímpico, como para inúmeras modalidades olímpicas.

Apercebe-se, no campo mediático, de uma tendência na valorização da notícia que vende (Bourdieu, 1997), sendo que, especificamente em relação a conteúdos desportivos, o futebol mostra-se o produto mais rentável. Cabe ao desporto paralímpico uma posição de desvantagem em relação a esta modalidade, e de disputa pela conquista de maior capital simbólico no campo desportivo com outras formas de manifestação desportiva, de modo a ganhar espaço e maior capacidade de atrair e gerar capital económico.

 

CONCLUSÕES

Os meios de comunicação social fazem mais do que transmitir notícias, eles determinam o que é notícia e apresentam-na de acordo com valores que servem os seus interesses (Bourdieu, 1997). Os conteúdos noticiados são uma espécie de (re) construção da realidade, de acordo com as normas e valores da sociedade a que se dirigem e em que se originam (Figueiredo & Novais, 2011; Marivoet, 2006). Deste modo, os média traduzem e perpetuam aspectos culturais da sociedade, contribuindo para o fortalecimento ou transformação de padrões culturais (Bourdieu, 1997; Coakley, 2008).

Os atletas entrevistados neste trabalho demonstram que os média são um fator importante para as possibilidades de desenvolvimento do desporto paralímpico, pois tanto pode disseminar, quanto transformar habitus e, principalmente, atribuir maior ou menor reconhecimento simbólico ao paralimpismo nos campos desportivo e mediático. A posição de descontentamento com algumas questões, como a abrangência da cobertura mediática, seus conteúdos ligados ao estigma supercrip e a supremacia do futebol, demonstram que há uma vontade por parte dos desportistas paralímpicos de ocuparem um espaço de maior relevo no campo desportivo, o que lhes conferiria maior legitimidade, e possibilidade de desenvolvimento atlético-competitivo, e também ganhos financeiros e sociais. 

Pudemos concluir o enfoque dos entrevistados, em relação ao potencial transformador de uma divulgação positiva sobre a deficiência, baseada nas possibilidades de atuação social e nas potencialidades de ação das pessoas com deficiência no campo desportivo. Afinal, assim como no desporto olímpico, no universo paralímpico também é vitorioso somente o mais rápido, o mais alto e o mais forte, tal como vaticina a divisa olímpica Citius, Altius, Fortius. A diferença é que os talentos dos atletas se articulam a próteses e vendas, além de outras adaptações estruturais (Gonçalves et al., 2009).

O fato de não haver consenso entre os entrevistados sobre alguns dos temas em análise, demonstra a multiculturalidade do campo social, com traços tanto específicos quanto dissonantes, como é caraterística de qualquer campo sujeito à mudança social, apresentando-se a cobertura mediática como um tema polémico e actual, a exigir aprofundamento em estudos mais alargados e continuados no tempo.

O presente trabalho procurou contribuir justamente para a problematização deste objeto, a partir da apresentação e análise da perspetiva dos atletas portugueses em confrontação com a literatura sobre o tema, tendo presente o panorama sobre a situação atual da divulgação mediática paralímpica.

Por fim, cabe destacar o anseio pela inclusão social presente no discurso dos atletas, evidenciado pelas denúncias de diferenciação e/ou discriminação entre os universos olímpico e paralímpico, e o desejo de serem tratados como desportistas de alto rendimento, tão habilidosos, capazes e empreendedores quanto qualquer atleta de outra modalidade olímpica. Por último, será importante realçar na conclusão do presente estudo, que os discursos e conteúdos mediáticos podem contribuir para a instauração de uma igualdade de tratamento e oportunidade, valorizando os feitos desportivos destes atletas, e deste modo, contribuir para a transformação de paradigmas discriminatórios relacionados à deficiência.

 

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Agradecimentos:
Federação Portuguesa de Desportos para Pessoas com Deficiência
Atletas entrevistados neste estudo.
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas – LUDENS-PRP-USP.

Artigo recebido a 20.08.2014; Aceite a 30.10.2014

 

 

* Autor correspondente: Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Avenida Bandeirantes, 3900, Monte Alegre, Ribeirão Preto/SP – Brasil. CEP 14040-907. E-mail: renatomarques@usp.br

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