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versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. v.5 n.4 Vila Real dez. 2009

 

A eficiência propulsiva e a performance em nadadores não experts

T.M. Barbosa1, V. Lima2, E. Mejias1, M.J. Costa1, D.A. Marinho3, N. Garrido4, A.J. Silva4, J.A. Bragada1

 

O estudo da eficiência propulsiva é um dos assuntos mais interessantes para os investigadores em natação pura desportiva, já que apresenta uma relação directa no comportamento biofísico do nadador e na sua performance. Apesar de ser uma variável que tem sido bastante estudada em nadadores de elevado nível competitivo, não há nenhuma investigação sobre esta temática em jovens nadadores não experts. Assim, o objectivo deste estudo foi: (i) estimar a eficiência propulsiva em nadadores não experts; (ii) identificar os factores biomecânicos e antropométricos que estão associados à eficiência propulsiva e; (iii) identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance. Vinte e oito nadadores não experts, praticantes regulares de natação numa Escola Municipal participaram neste estudo. Foram avaliados a eficiência propulsiva, parâmetros biomecânicos, antropométricos e a performance de nado. Os principais resultados encontrados mostram que a eficiência propulsiva de nadadores não experts é inferior à descrita na literatura para nadadores de outros níveis competitivos e que não há diferenças significativas entre os dois sexos. Foi também verificado que vários parâmetros biomecânicos, antropométricos, assim como, a performance estão associados com a eficiência propulsiva.

Palavras-chave: natação, antropometria, biofísica, crol, nível competitivo

 

Propulsive efficiency and non- expert swimmers performance

Propulsive efficiency is one of the most interesting issues for competitive swimming researchers, has it presents significant relationships with the swimmer’s biophysical behavior and his/her performance. Although propulsive efficiency is a variable that has been quite studied in elite swimmers, there is no research on this issue in young and non-expert swimmers. Thus, the aim of this study was to: (i) estimate the propulsive efficiency on non-expert swimmers; (ii) identify biomechanical and anthropometrical parameters that are associated with propulsive efficiency; (iii) identify the association between the propulsive efficiency and swim performance. Twenty-eight non-expert swimmers participated on this study. It was assessed the propulsive efficiency, biomechanical and anthropometrical parameters, as well as, the swim performance. The propulsive efficiency of non-expert swimmers is lower than data reported in the literature to higher competitive levels swimmers and there are no significant differences between boys and girls. It was also noted that several biomechanical and anthropometrical parameters, as well as, the swim performance are associated with the propulsive efficiency.

Key words: efficiency, anthropometry, biophysics, front-crawl, competitive level

 

 

O principal objectivo de uma prova de natação pura desportiva é percorrer determinada distância no menor tempo possível. Para que tal seja possível, o nadador deve deslocar-se à sua máxima velocidade. Com efeito, a velocidade maximal em natação depende de (Zamparo, Lazzer, Antoniazzi, Cedolin, Avon, & Lesa, 2008):

Onde vmax é a velocidade maximal, Emax é a potência metabólica total máxima e C o custo energético. Verifica-se então que a performance em natação pura desportiva é fortemente condicionada por pressupostos bioenergéticos [expresso pelo numerador da equação (1)] e por pressupostos biomecânicos [expresso pelo denominador da equação (1)] (Barbosa, Keskinen, & Vilas-Boas, 2006). Na realidade, o Emax pode ser quantificado como sendo (Capelli, Pendergast, & Termin, 1998):

Onde Emax é a potência metabólica total máxima, Eaer é a potência metabólica com origem no sistema aeróbio, Eanaer-la é a potência metabólica com origem no sistema anaeróbio láctico e Eanaer-ala é a potência metabólica com origem no sistema anaeróbio aláctico. Todavia, mesmo em provas de natação de curtas distâncias, o contributo percentual do Eanaer-ala para o Emax é negligenciável (Capelli et al., 1998). Quanto ao C, este pode ser quantificado como sendo (Zamparo, 2006):

Onde C é o custo energético, ηo a eficiência total, wtot o trabalho mecânico total e ηp a eficiência propulsiva. Com efeito, o estudo da eficiência propulsiva é um dos assuntos mais interessantes para os investigadores em natação pura desportiva, já que tem uma repercussão directa no comportamento biofísico do nadador e na sua performance (Barbosa et al., 2006). Estima-se que a eficiência propulsiva na técnica de Crol seja de aproximadamente 50 % (Pendergast et al., 2003; Toussaint et al., 1988). Neste caso, apenas 50 % da potência metabólica gerada serve para a produção de trabalho mecânico externo com repercussão na translação do centro de massa do nadador. A restante potência metabólica perde-se por diversos fenómenos como a termo-regulação, o trabalho postural, a co-activação e/ou absorção muscular (Winter, 1990), ou a transferência de energia cinética para a massa de água (de Groot, & van Ingen Schenau, 1988).

Uma das técnicas mais citadas na literatura para avaliação da ηp é o MAD (Measure Active Drag) - system desenvolvido por Hollander et al. (1986). Este sistema permite que o nadador se desloque na água tendo como pontos de propulsão uma sucessão de apoios fixos. Outra técnica, sugerida por Cappaert, Bone, e Troup (1992a), recorre a um sistema tridimensional de análise da cinemática segmentar. Todavia, a aplicabilidade destas técnicas não é excluída de limitações, tais como: (i) o custo económico; (ii) o tempo necessário para montar o equipamento; (iii) o tempo necessário para adquirir e processar os dados; (iv) o nível de expertise do avaliador na aquisição dos dados e; (v) salvo melhor opinião, o MAD-system não ter sido validado para sujeitos de escalões de formação. Neste sentido, o modelo teórico de Martin, Yeater, e White (1981), e mais tarde desenvolvido por Zamparo, Pendergast, Mollendorf, Termin, e Minetti (2005), pode ser uma opção a considerar pela sua simplicidade de operacionalização.

Considere-se o membro superior como um segmento rígido que efectua uma revolução completa, em que metade dessa revolução é executada com o segmento imerso (i.e., o trajecto motor) e a outra metade da revolução com o segmento emerso (i.e., a fase da recuperação) como expresso na figura 1.

 

Figura 1. Diagrama de corpo livre das forças actuantes sobre um segmento rígido durante o trajecto motor, apresentado a força de arrasto propulsivo (Fp), a força ascensional propulsiva (FL), a resultante da soma da Fp e da FL (F) em cada posição angular (a) e o comprimento do membro superior (l) (modificado de Zamparo et al., 2005)

 

Se a posição angular a do membro superior varia entre 0 e p, com uma dada frequência gestual (FG), a velocidade angular w é dada por:

O trabalho mecânico útil é definido por:

De acordo com 2ª lei newtoniana, esta força deve ser igual e oposta ao arrasto FD, considerando a massa m e a aceleração a. Logo:

Se o movimento for uniforme:

O trabalho mecânico total é calculado com base no momento na articulação escápulo-umeral, onde l é o comprimento do membro superior:

A eficiência instantânea neste tipo de locomoção é o rácio do trabalho mecânico “útil” e o trabalho mecânico total:

Ao longo de um trajecto motor entre ο e π, a eficiência média é:

Como a contribuição dos membros superiores para a propulsão é de sensivelmente 90 % (Hollander et al., 1986):

A equação (11) consiste na estimação da eficiência de Froude. A diferença entre a eficiência de Froude e a eficiência propulsiva decorre da primeira não tomar em consideração o efeito do trabalho mecânico interno para o trabalho mecânico total produzido. Contudo, dada a amplitude de velocidades que os nadadores não experts atingem, o trabalho mecânico interno pode ser considerado como negligenciável (Zamparo et al., 2005). Portanto, nesta circunstância, a eficiência propulsiva apresenta um valor próximo da eficiência de Froude.

Diversos estudos foram desenvolvidos no sentido de compreender a dependência da ηp de características biomecânicas e antropométricas, assim como, a sua influência na performance. Teoricamente, foi definida a existência de uma relação directa da ηp com a distância de ciclo (DC) e inversa com a FG (Toussaint, & Hollander, 1994). Mais ainda, sabe-se que existe uma relação inversa entre o C e o ηp (Barbosa, Fernandes, Keskinen, & Vilas-Boas, 2008) e verificou-se a existência de uma relação positiva entre o C e a FG (Barbosa, Keskinen, Fernandes, Colaço, Carmo, & Vilas-Boas, 2005). Por outro lado, sugere-se a existência de uma associação significativa entre a ηp e diversas características antropométricas. Por exemplo, a envergadura pode induzir aumentos da DC e, consequentemente, aumentos na ηp (Toussaint, 1990). Paralelamente, verificou-se que os nadadores de melhor nível competitivo apresentavam valores superiores de ηp (p.e., Toussaint, 1990) e que esta era superior na prova na qual o nadador era especialista (Cappaert, Franciosi, Langhand, & Troup, 1992b).

Não obstante este tipo de estudos ser frequente em nadadores adultos e de elite (p.e., Barbosa et al., 2008; Cappaert et al., 1992a, 1992b; Toussaint, 1990), poucos são os trabalhos desta índole nos escalões de formação (p.e., Zamparo, 2006). Mais ainda, tanto quanto é possível apurar não há nenhuma investigação sobre esta temática em jovens nadadores não experts. Consideram-se para o efeito como nadadores não experts, sujeitos que, apesar de praticarem de forma regular a actividade, não participam em quadros competitivos oficiais de qualquer associação ou federação representativa da modalidade.

Neste sentido, este estudo teve como objectivos: (i) estimar a eficiência propulsiva em nadadores não experts; (ii) identificar os factores biomecânicos e antropométricos que estão associados à eficiência propulsiva e; (iii) identificar a associação entre a eficiência propulsiva e a performance. Em nosso entender, a análise dos factores que influenciam o rendimento desportivo revela-se de especial importância, não só em desportistas de elite mas também em indivíduos não experts. Cada vez mais assistimos à procura de actividades desportivas por parte da população, em geral, e dos jovens, em particular. Esta prática tem vindo a ser incentivada pelas políticas desportivas, pelo que a manutenção destes praticantes nas actividades desportivas deve ser uma preocupação dos técnicos desportivos. Neste sentido, e sabendo-se da importância da melhoria do rendimento na motivação para a prática desportiva (Fernandes, 1999), o estudo dos factores que influenciam a performance em natação, como parece ser o caso da eficiência propulsiva, pode revelar-se importante na consecução deste objectivo, através da melhoria dos processos de treino em nadadores não experts.

 

Metodologia

Amostra

A amostra foi constituída por um total de 28 nadadores não experts. Quinze nadadores do sexo masculino (13,54±2,40 anos de idade) e 13 do sexo feminino (12,54±2,87 anos de idade). Para os objectivos deste estudo foi determinado como parâmetro de selecção dos indivíduos que fossem clinicamente saudáveis, não apresentando qualquer patologia músculo-esquelética nos seis meses antecedentes à recolha de dados. Para além disso, os indivíduos tinham que ser praticantes regulares de natação numa Escola Municipal de Natação (duas sessões de 45 minutos por semana) com um mínimo de dois anos de prática mas que não participavam em quadros competitivos oficiais de qualquer associação ou federação representativa da modalidade. Foi solicitada autorização aos pais e/ou encarregados de educação dos nadadores para estes fazerem parte do estudo.

 

Instrumentos e Procedimentos

Estimação da eficiência propulsiva

Para a estimação da eficiência propulsiva, cada nadador realizou três repetições de 25 m à velocidade média correspondente à prestação num teste máximo de 100 m Crol efectuado por todos os nadadores na semana que antecedeu as avaliações. Assumiu-se um intervalo mínimo de 60 s entre repetições. A partida foi efectuada dentro de água, de modo a minimizar o deslize e o percurso subaquático. Cada nadador executou o percurso sozinho, de forma a reduzir o efeito de drafting ou a alteração do ritmo de nado imposto. A ηp foi estimada como descrito na equação (11). O comprimento do membro superior foi calculado com recurso a uma correcção trigonométrica da distância entre a articulação escápulo-umeral e o terceiro dedo, considerando o ângulo relativo médio entre o antebraço e o braço descrito por Zamparo (2006) para nadadores de igual idade cronológica e sexo.

 

Avaliação biomecânica

Os três percursos de 25 m para estimação da eficiência propulsiva foram gravados por duas câmaras de vídeo. Uma câmara (JVC, GR-SXM26EG, Yokoama, Japão) encontrava-se no plano sagital, com o eixo óptico perpendicular à trajectória do nadador, no cais da piscina e captando os 15 m intermédios do percurso a ser nadado. A outra câmara (JVC, GR-SXM26EG, Yokoama, Japão) estava no plano oblíquo, numa banca, alinhando o seu eixo óptico com a pista. A partir das imagens gravadas pelas duas câmaras foi calculada a velocidade de nado nos 15 metros intermédios de cada percurso:

Onde v é a velocidade de nado (m.s-1), d é a distância percorrida (m) e t o tempo dispendido para percorrer a distância (s). De igual modo, a partir das mesmas imagens, foi avaliada a frequência gestual (FG, Hz) nos 15 metros intermédios do percurso, com um crono-frequencímetro de base 3 (Golfinho Sports MC 815, Aveiro, Portugal) e posteriormente convertida em unidades do sistema internacional (Hz). A distância de ciclo (DC, m) foi calculada sabendo que (Craig, & Pendergast, 1979):

Onde DC é a distância de ciclo, v a velocidade de nado e FG a frequência gestual.

 

Avaliação antropométrica

Para avaliação da estatura e da massa corporal utilizou-se, respectivamente, uma balança (SECA, 884, Hamburgo, Alemanha) e um estadiómetro (SECA, 242, Hamburgo, Alemanha). A área de superfície corporal foi estimada como sendo (Haycock, Schwartz, & Wisotsky, 1978):

Onde ASC (m2) é a área de superfície corporal, mc a massa corporal (kg) e h a estatura (m). Realizou-se a medição da envergadura através de uma fita métrica (Lufkin, EUA) entre o 3º dedo médio da mão direita e o 3º dedo médio da mão esquerda, com os membros superiores em abdução e a efectuar um ângulo relativo com o tronco de 90º.

Efectuaram-se as medições dos comprimentos e das larguras palmar e plantar através de dois medidores (ROSSCRAFT, Campbell, Caliper 20, Canada; ROSSCRAFT, Campbell, Capiler 10, Canadá) de acordo com os procedimentos descritos por Alves (1995). A área palmar foi estimada como sendo (Fragoso, & Vieira, 1994):

Onde Apalmar é a área palmar (m2) e ASC a área de superfície corporal (m2). Por sua vez, a área plantar foi estimada (Fragoso, & Vieira, 1994):

Onde Aplantar é a área palmar (m2) e ASC a área de superfície corporal (m2). O índice longitudinal da mão foi calculado através da seguinte equação (Alves, 1995):

Onde ILmão é o índice longitudinal da mão, Cmão é o comprimento da mão e Lmão é a largura da mão.

O índice longitudinal do pé foi calculado através da seguinte equação (Alves, 1995):

Onde ILpé é o índice longitudinal do pé, Cpé é o comprimento do pé e Lpé é a largura do pé.

 

Avaliação da performance

A performance foi obtida com recurso ao melhor tempo (s) nas provas supra-máximas de 50 m, 100 m, 200 m e 400 m livres. A partida foi realizada do bloco e pediu-se aos sujeitos para cumprir a prova à máxima velocidade, como se uma situação competitiva se tratasse. A ordem das provas entre os sujeitos foi aleatória e com um intervalo mínimo de 24 horas entre elas. Todas as provas foram realizadas à mesma hora do dia para minimizar o possível efeito do ritmo circadiano. Todas as provas foram realizadas mais uma vez com o nadador sozinho, sem outro nadador na pista de forma a reduzir o efeito de drafting ou de alteração do ritmo de nado.

 

Procedimentos estatísticos

A análise exploratória dos dados incluiu a determinação dos pressupostos de normalidade através do teste de Shapiro-Wilk, testando a hipótese nula que a amostra seleccionada tem origem numa população com distribuição normal (p≤0,05). Foi calculada a estatística descritiva (média e um desvio-padrão) de todas as variáveis em estudo. Para comparação das variáveis entre sexos utilizou-se o teste de Mann-Whitney para amostras independentes. Para determinação do grau de associação entre a eficiência propulsiva e as características antropométricas, a performance e as características biomecânicas adoptou-se o coeficiente de correlação de Spearman. Em todas as situações o nível de significância foi determinado para p≤0,05.

 

Resultados

O quadro 1 apresenta a estatística descritiva de todas as variáveis estudadas e a sua comparação com base no sexo dos sujeitos. A ηp não apresentou diferenças significativas entre os dois sexos. Relativamente às variáveis biomecânicas, apenas a v foi significativamente superior no sexo masculino do que no feminino (p<0,01).

 

Quadro 1. Estatística descritiva (média ± desvio-padrão) das variáveis estudadas e respectiva comparação em função do sexo

Variáveis

Sexo Masculino

M±DP

Sexo Feminino

M±DP

p

ηp (%)

20,56 ± 10,00

20,51 ± 10,41

ns

v (m.s-1)

0,77 ± 0,12

0,69 ± 0,09

<0,01

FG (Hz)

1,04 ± 0,19

0,99 ± 0,19

ns

DC (m)

0,76 ± 0,15

0,71 ± 0,14

ns

Estatura (m)

1,62 ± 0,15

1,56 ± 0,12

ns

Massa corporal (kg)

55,7 ± 14,4

48,8 ± 11,21

ns

Envergadura (m)

1,62 ± 0,17

1,52 ± 0,14

<0,01

ASC (m2)

1,58 ± 0,27

1,46 ± 0,22

ns

Apalmar (m2)

0,021 ± 0,003

0,018 ± 0,003

0,04

Aplantar (m2)

0,030 ± 0,005

0,025 ± 0,004

<0,01

Cmão (m)

0,17 ± 0,03

0,16  ± 0,04

0,01

Lmão (m)

0,09 ± 0,01

0,09  ± 0,02

0,02

ILmão

1,93 ± 0,12

1,95 ± 0,11

ns

Cpé (m)

0,24 ± 0,03

0,22  ± 0,04

0,02

Lpé (m)

0,10 ± 0,02

0,09  ± 0,03

0,04

ILpé

2,61 ± 0,19

2,63 ± 0,21

ns

50m Livres (s)

41,9 ± 8,47

46,80 ± 7,25

<0,01

100m Livres (s)

90,93 ± 16,98

101,29 ± 15,84

<0,01

200m Livres (s)

219,39 ± 36,8

241,84 ± 35,98

<0,01

400m Livres (s)

465,62 ± 70,86

516,08 ± 64,99

<0,01

                                                                                                    ns: Não significativo

 

No caso das variáveis antropométricas, as variáveis Envergadura (p<0,01), Apalmar (p=0,04), Aplantar (p=001), Cmão (p=0,01), Lmão (p=0,02), Cpé (p=0,02) e Lpé (p=0,04) foram significativamente superiores no sexo masculino. No que concerne à performance, o sexo masculino apresentou em todas as provas melhores resultados desportivos do que o sexo feminino (p=0,01).

O quadro 2 apresenta a associação entre a <η p e os parâmetros biomecânicos, antropométricos e da performance seleccionados.

 

Quadro 2. Associação entre a eficiência propulsiva e as restantes variáveis

Variáveis

Sexo Masculino

Sexo Feminino

v (m.s-1)

  0,81 **

  0,90 **

FG (Hz)

-0,79 *

-0,93 **

DC (m)

  0,90 **

  0,97 **

Estatura (m)

  0,76 *

  0,83 *

Massa corporal (kg)

  0,71 *

  0,86 *

ASC (m2)

  0,74 *

  0,89 *

Envergadura (m)

  0,74 *

  0,79 *

Apalmar (m2)

  0,79 *

  0,89 **

Aplantar (m2)

  0,79 *

  0,89 **

Cmão (m)

  0,83 *

  0,86 **

Lmão (m)

  0,69 *

  0,57

ILmão

  0,28

-0,33

Cpé (m)

  0,80 *

  0,74 *

Lpé (m)

  0,65

  0,75 *

ILpé

  0,68 *

-0,19

50m Livres (s)

-0,85 **

-0,96 **

100m Livres (s)

-0,90 **

-0,93 **

200m Livres (s)

-0,85 **

-0,79**

400m Livres (s)

-0,92 **

-0,89**

*p£0,05   ** p£0,01

 

Todos os parâmetros biomecânicos apresentaram associações elevadas e significativas com a ηp em ambos os sexos (-0,79 ≤ rs ≤ 0,90). No caso dos parâmetros antropométricos, no sexo masculino não se verificaram associações significativas com a ILmão e Lpé; já no sexo feminino foi a Lmão, o ILmão e o ILpé a não apresentar correlações significativas. Quanto à associação com a performance as relações foram elevadas, negativas e significavas em todas as situações nos dois sexos (-0,96 ≤ rs ≤ -0,79).

 

Discussão

O presente estudo teve como objectivos estimar a eficiência propulsiva em nadadores não experts, assim como, identificar os factores biomecânicos, antropométricos e da performance associados à ηp. Os principais resultados demonstram que a ηp não apresentou diferenças significativas entre os dois sexos e que diversos parâmetros biomecânicos, antropométricos e a performance estão associados a esta variável.

Os valores médios da ηp foram 20,56±10,00%, para o sexo masculino e 20,51±10,41%, para o sexo feminino. Com efeito, os valores obtidos revelam-se bastante inferiores aos descritos na literatura para nadadores de competição, estando estes próximos dos 50% (Toussaint et al., 1988), com recurso ao MAD-system; ou de 61,5 ± 10,2%, para nadadores de longas distâncias, adoptando a cinemetria como metodologia de avaliação (Cappaert et al., 1992b). Comparando estes valores com nadadores de igual idade cronológica, mas de nível competitivo superior, estimados pela mesma metodologia, continuam a ser inferiores (Zamparo et al., 2008). Nadadores de 13 anos e nadadoras de 12 anos apresentaram uma ηp de 33±3% e 32±4%, respectivamente. Com efeito, confirma-se que um dos melhores marcadores do nível competitivo é a ηp, como sugere o estudo “clássico” de Toussaint (1990).

A ηp não apresentou diferenças significativas entre os dois sexos. Este mesmo facto foi descrito no único estudo que incluiu nadadores de idêntica faixa etária (Zamparo, 2006). Ao analisar esta variável numa amostra de nadadores com idades compreendidas entre os 9 e os 59 anos, a ηp não apresentou diferenças significativas até ao momento da puberdade. Dado o reduzido nível competitivo, ambos os sexos apresentaram velocidades de deslocamento muito reduzidas e frequências gestuais semelhantes. Da equação (11) emergem como variáveis independentes da ηp a velocidade de nado, a frequência gestual e o comprimento do membro superior. Ainda assim, a velocidade de nado foi significativamente superior no sexo masculino do que no feminino. Já a FG não apresentou diferenças significativas. Isto sugere que a ηp poderá decorrer da capacidade de gerar apoio na água e de minimizar a transferência de energia cinética para a massa de água. Por outras palavras, existem factores que não foram tomados em consideração e que podem ser explicativos da não existência de diferenças significativas na ηp entre os dois sexos. Isto apesar de duas das principais variáveis independentes tenderem a impor essa diferença. Assim, especula-se que a variável “comprimento do membro superior” poderá conter a capacidade justificativa da ausência de diferenças na ηp.

Todos os parâmetros biomecânicos apresentaram associações elevadas e significativas com a ηp em ambos os sexos. Mais uma vez, dado que a ηp é estimada com base na velocidade de nado e na frequência gestual, é natural que as associações sejam significativas. Mais ainda, como descrito na equação (13), a DC é obtida através dessas mesmas variáveis. Logo, algum cuidado deve ser tido na interpretação destes dados, já que se pode configurar como estando na presença de uma situação de multicoliniaridade. Ainda assim, na literatura, descreve-se de forma sustentada que a <ηp está positivamente associada a níveis superiores de v e de DC (p.e., Toussaint, & Hollander, 1994; Zamparo et al., 2005). Por outro lado, sabe-se que existe uma relação inversa entre o custo energético e a ηp, como expresso na equação (3). Logo, valores superiores de custo energético decorrem de maiores frequências gestuais e/ou menores distâncias de ciclo para uma dada velocidade de nado (Barbosa et al., 2005; 2008).

No caso dos parâmetros antropométricos, não se verificaram associações significativas entre a ηp e a ILmão ou o Lpé no sexo masculino. Já no sexo feminino, não se verificaram associações significativas entre a ηp e a Lmão, o ILmão e o ILpé . Ou seja, a maioria das variáveis antropométricas seleccionadas para o estudo apresentaram associações significativas com a ηp. Com efeito, determinadas dimensões antropométricas estão associadas à performance e à eficiência ou ao custo energético de nado (Grimston, & Hay, 1986; Meira, Reis, Silva, Carneiro, Reis, & Aidar, 2008). Desde logo, sujeitos mais altos tenderão a apresentar uma maior envergadura; esta, por sua vez, impõe uma maior DC para uma mesma v e; consequentemente, um menor C ou uma maior ηp. Mas não só as dimensões têm repercussões no perfil bioenergético. Também as áreas têm uma influência nesse mesmo perfil. A título ilustrativo, verificaram-se associações positivas e significativas entre a ηp e as Apalmar e Aplantar. Ora, partindo de uma análise de escoamentos estáveis, a força propulsiva total é a soma vectorial da força de arrasto propulsivo e da força ascensional. Quer uma, quer outra, são condicionadas pela área de secção transversa na direcção do deslocamento (Marinho et al., 2009; in press). Que é o mesmo que dizer que, considerando as restantes variáveis constantes, o aumento da área propulsiva (no caso, das mãos e pés) induz aumentos da força propulsiva; a qual, considerando, mais uma vez, que o arrasto não apresenta variações significativas, promove o aumento da velocidade de deslocamento do sistema biológico de forma mais eficiente. Na verdade, uma das variáveis antropométricas mais associadas à performance (Grimston, & Hay, 1986) e à resposta hidrodinâmica (Kjendlie & Stallman, 2008) é a estatura. Por exemplo, a estatura é uma factor determinante no número de Froude, no qual o aumento da primeira induz diminuições na segunda e, portanto, reduzindo a intensidade da força de arrasto hidrodinâmico que se opõe ao deslocamento do nadador (neste caso, na sua componente de onda).

Quanto à associação com a performance, as relações foram elevadas, negativas e significavas em todas as situações em ambos os sexos. Zamparo et al. (2005) descreveram a existência de uma relação positiva entre a eficiência total, a qual se relaciona com a ηp, como descrito na equação (3), bem como da própria ηp, com a velocidade de nado, onde aumentos da eficiência imprimiam aumentos na velocidade. Ora, sendo a velocidade um elemento-chave para a consecução da distância da prova no menor intervalo de tempo possível, considera-se que existirá uma relação entre a ηp e a performance. Esta relação positiva entre a ηp e a performance vem reforçar a importância dos aspectos técnicos e do treino técnico na melhoria do rendimento desportivo. Mesmo em nadadores não experts, as melhorias do rendimento desportivo parecem ser fortemente condicionadas pela eficiência de nado e estas decorrem em grande medida do treino técnico. Neste sentido, e sabendo-se da importância que a melhoria do rendimento pode ter no aumento da motivação e adesão à prática desportiva, os técnicos desportivos deverão focalizar a sua atenção também nos aspectos técnicos que influenciam a eficiência propulsiva e, desta forma, a performance em natação (Fernandes, 1999).

 

Conclusões

Pode-se então concluir que a ηp de nadadores não experts é inferior à descrita na literatura para nadadores de outros níveis competitivos e como não havendo diferenças significativas entre os dois sexos. A ηp associa-se de forma significativa e elevada com diversos parâmetros biomecânicos e antropométricos. Elevados valores de ηp estão fortemente associados a melhores performances.

Ainda assim, algumas limitações serão de elencar: (i) o facto de esta abordagem ser uma estimativa e não uma avaliação da eficiência propulsiva; (ii) a impossibilidade de estimar esta variável nas restantes técnicas de nado; (iii) a subestimação da ηp decorrente de não tomar em consideração o contributo da acção dos membros inferiores para a velocidade de deslocamento do centro de massa do nadador; (iv) a necessidade de implementar um estudo semelhante a um grupo substancialmente mais alargado de sujeitos; (v) o controlo de variáveis associadas ao processo ensino-aprendizagem das sessões e sua relação com a ηp.

No futuro, parece ser interessante alargar este estudo a nadadores não experts de outros escalões etários, nomeadamente adultos e jovens adultos que participam regularmente em aulas de natação, tentando-se compreender melhor o tipo de associações que se estabelecem entre a ηp e a performance ; ̄o. Mais em natação. Mais ainda, a utilização da ηp como variável de avaliação do produto de um ou vários programas alternativos de ensino de natação pura desportiva. Por outro lado, a análise da ηp noutras técnicas de nado que não apenas a técnica de crol parece ser um tópico com bastante pertinência para ser estudado em investigações futuras, ainda que com uma metodologia diferente da aqui apresentada.

 

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Submetido: 05.11.2009 | Aceite: 03.12.2009

 

 

1Tiago Barbosa, Erik Mejias, Mário Costa e José Bragada. Departamento de Desporto do Instituto Politécnico de Bragança, Bragança. Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano, Vila Real, Portugal.

2 Vítor Lima. Departamento de Desporto do Instituto Politécnico de Bragança, Bragança.

3Daniel Marinho. Departamento de Ciências do Desporto da Universidade da Beira Interior, Covilhã. Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano, Vila Real, Portugal.

4Nuno Garrido e António Silva. Departamento de Desporto, Exercício e Saúde da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real. Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano, Vila Real, Portugal.

Endereço para correspondência: Tiago Barbosa, Instituto Politécnico de Bragança/CIDESD, Campus Sta Apolónia, Ap. 1101-75, 5300 Bragança – Portugal. E-mail: barbosa@ipb.pt

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