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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.24 no.3 Lisboa dez. 2023  Epub 31-Dez-2023

https://doi.org/10.15309/23psd240330 

Artigo

“Prazer na dor do outro?”: relação entre sadismo, personalidade e valores humanos

“Pleasure in the pain of another?”: relationship between sadism, personality and human values

1Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, Brasil.

2Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil.

3Universidade Federal do Piauí (UFPI), Parnaíba, Brasil.


Resumo

IO presente estudo teve por objetivo geral avaliar a relação entre o sadismo, os valores humanos e os traços de personalidade (sombrios e virtuosos). Especificamente, buscou-se identificar em que medida e direção essas variáveis se relacionam e o papel dos traços de personalidade e dos valores humanos como preditores do sadismo. Contou-se com a participação de 351 pessoas, com idade média de 32 anos (DP= 7,70), a maioria do sexo feminino (63,8%). Estas responderam as medidas de Avaliação da Personalidade Sádica, Questionário dos Valores Básicos, Inventário de Personalidade Virtuosa, Dark Triad Dirty Dozen e Questões demográficas. Os achados indicaram que o sadismo se relacionou com diferentes traços de personalidade e com valores interativos e de experimentação, mas foi predito apenas pelo traço sóbrio de maquiavelismo e pelos traços virtuosos de beneficência e inexpressividade e pelos valores normativos. Estima-se que os achados reforçam o papel da personalidade e dos valores na compreensão do sadismo.

Palavras-Chave: Sadismo; Personalidade; Valores humanos; Virtuosa; Dark triad

Abstract

The present study had aimed to evaluate the relationship between sadism, human values and personality traits (dark and bright). Specifically, we sought to identify to what extent and direction these variables are related and the role of personality traits and human values as predictors of sadism. There was the participation of 351 people, with a mean age of 32 years (SD=7.70), most of them female (63.8%). These answered the measures of Assessment of Sadistic Personality, Basic Value Survey, Prosocial Personality Inventory, Dark Triad Dirty Dozen and demographic questions. The findings indicated that sadism was related to different personality traits and interactive and normative values, but it was predicted only by the dark trait of machiavellianism and by the virtuous traits of beneficence and inexpressiveness and normative values. It is estimated that the findings reinforce the role of personality and values in understanding sadism.

Keywords: Sadism; Personality; Human values; Bright; Dark triad

O sadismo pode ser compreendido como o ato de obter prazer no sofrimento de outras pessoas (Baumeister & Campbell, 1999). Consiste em um fenômeno complexo que pode não apresentar características sexuais ou criminosas como popularmente conhecido, mas envolve comportamentos que contemplam crueldade, humilhação e agressão para com os outros por satisfação ou subjugação (Plouffe et al., 2017). Mesmo que usualmente a mensuração do sadismo esteja voltada majoritariamente para fetiches sexuais ou ações criminosas, é fundamental frisar que este fenômeno pode ser encontrado em condutas diariamente verificadas, implicando em um estágio subclínico (não patológico) conhecido como sadismo cotidiano (everyday sadism; Buckels, 2018; Buckels et al., 2013).

O sadismo subclínico pode ser compreendido como uma tendência disposicional de se envolver em atos cruéis ou comportamentos considerados antagônicos em busca de prazer ou subjugação (O'Meara et al., 2011). Assim, os “sádicos cotidianos” podem ser identificados tanto em grupo de população geral, quanto em grupos clínicos, em diferentes níveis e intensidades, geralmente associado a comportamentos considerados antiéticos e antissociais (Paulhus & Dutton, 2016).

No que se trata especificamente ao sádico cotidiano, este busca oportunidades para se envolver ou ver ações cruéis, que podem estar relacionadas a comportamentos como bullying (física, relacional ou verbal e cyberbullying), assistir/praticar esportes violentos e brutais, onde a luta chega a ferimentos sangrentos ou mesmo a prática de procurar ocasiões para prejudicar vítimas inocentes, sendo o prazer a motivação principal (Gonzalez & Greitemeyer, 2018; Paulhus & Dutton, 2016; Van Geel et al., 2017). Visto que os comportamentos atrelados ao sadismo cotidiano estão vinculados a procura pelo prazer e pelo sofrimento infligido a si mesmo(a) ou a outrem, diferentes estudos (e.g. Johnson et al., 2019; Plouffe et al., 2019; Tran et al., 2018) têm investigado sua relação com os traços sombrios da personalidade (Dark Triad - maquiavelismo, narcisismo e psicopatia; Paulhus & Williams, 2002).

O narcisismo é caracterizado pela grandiosidade, dominância, superioridade, convicção de ser merecedor de algo e admiração egocêntrica (Nowak et al., 2020); o maquiavelismo pode ser descrito como uma personalidade manipuladora, onde há o desrespeito a moralidade e o foco em ganhos pessoais (Muris et al., 2017); já indivíduos com traços psicopáticos anseiam por novas experiências, apresentam comportamentos impulsivos e antissociais, bem como não demonstram empatia ou remorso (Dinić et al., 2021; Stiff, 2019).

Apesar de apresentar semelhanças no que diz respeito ao caráter emocionalmente frio, insensível e desonesto, cada traço de personalidade sombria apresenta diferença para com o sadismo em virtude das diversidades motivacionais e circunstanciais. Neste sentido, Johnson et al. (2019) indicam que indivíduos com pontuações altas em sadismo envolvem-se em situações violentas por puro prazer; enquanto aqueles que pontuam mais alto em psicopatia são violentos quando provocados. Por sua vez, os narcisistas, quando sentem que seu ego está ameaçado, tornam-se agressivos ou violentos ao passo que as pessoas com altos escores em maquiavelismo são mais cautelosas a não ser que sejam beneficiadas da forma que desejam (Johnson et al., 2019).

A proposta da Dark Triad (traços sombrios) é recorrentemente concebida como o lado negativo da personalidade, mesmo que estes aspectos não possam ser considerados como dimensões básicas da personalidade humana, tal como no modelo dos cinco grandes fatores da personalidade (BIG-5; Costa & McCrae, 1992). Entretanto, nos últimos anos, as pesquisas em psicologia buscam ampliar a compreensão sobre os aspectos positivos da natureza humana, incluindo as dimensões positivas de personalidade (Fergunson et al., 2014; Kaufman et al., 2019).

Efetivamente, é possível observar achados desta natureza dentro dos estudos tradicionais sobre personalidade que fizeram uso da teoria do BIG-5, a partir da análise dos traços de extroversão e agradabilidade (Coelho et al., 2021) ou de modelos específicos, dentre os quais destaca-se a Teoria da Personalidade Virtuosa (Bright Side of Personality;Fergunson et al., 2014; Kaufman et al., 2019) que contempla dimensões (e.g., extroversão/agradabilidade do BIG-5; honestidade/humildade do HEXAGO) constituídas por facetas positivas com orientação próssocial motivando pensamentos e ações pautadas no respeito mútuo e na reciprocidade, são eles: o altruísmo, a gratidão e o perdão (Gouveia et al., 2021).

O altruísmo implica em um comportamento em prol de uma ou mais pessoas que requer certo custo para o benfeitor (Moura & Mendes, 2020), seja no que tange a tempo, dinheiro ou disposição pessoal (Rodrigues et al., 2009), sendo constituído pelos fatores de beneficência (prática de ato voluntário de autos sacrifício) e egotismo (sem expectativas de recompensas externas) (Oliveira, 2017). A gratidão representa um estado afetivo-cognitivo resultante da avaliação de um auxílio externo recebido e das consequências positivas deste, estando alicerçada na empatia da pessoa beneficiada (Jans-Beken et al., 2019), sendo representada na teoria pelas dimensões de reconhecimento (percepção da uma ação generosa de outro) e inexpressividade (atribuição expressa de valor positivo a tal ação) (Gouveia et al., 2021). Já o perdão consiste na diminuição de pensamentos e comportamentos negativos, assim como no aumento de motivações benevolentes para com o perpetrador (Webb et al., 2012), caracterizada pelos fatores remissão (abdicação de sentimentos negativos) e incriminação (ausentes de críticas ou julgamentos) (Oliveira, 2017).

Os modelos de personalidade sombrios e virtuosos, estão relacionados a dimensões de bem-estar subjetivo (Anglim et al., 2020; Strickhouser et al., 2017), expressões comportamentais (Blagov, 2021) e orientação valorativa, sendo este último um elemento psicossocial que auxilia consistentemente a compreensão de objetos atitudinais e comportamentais (Vilar et al., 2021). Dentre os diferentes modelos teóricos (e.g., teoria dos tipos motivacionais deSchwartz; valores terminais e instrumentais de Rokeach; e valores materialistas de Inglehart) identificados na literatura para compreender valores humanos, destaca-se a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos (Gouveia, 2013), que consiste em uma teoria genuinamente brasileira que busca explicar o fenômeno de forma parcimoniosa e integradora, apresentando evidências empíricas que corroboram sua adequação em mais de 50 países (Soares, 2015).

Para teoria de Gouveia (2013) os valores compreendem a aspectos psicológicos que representam cognitivamente as necessidades humanas e guiam os comportamentos (Gouveia, 2013). A função de guiar os comportamentos (tipos de orientação) divide-se em três critérios de orientação: valores pessoais (o indivíduo por si mesmo), centrais (o propósito geral da vida) e sociais (o indivíduo na comunidade). Enquanto a função de expressão cognitiva das necessidades (tipo de motivador) está dividida nos tipos motivadores materialista (vida como fonte de ameaças) e humanitária/idealista (vida como fonte de oportunidades).

O cruzamento destas duas funções origina as seis subfunções valorativas: experimentação (ligada a valores emocionais de prazer e de sexualidade); realização (valores relacionados ao êxito, poder e prestígio); suprapessoal (envolve necessidades de estéticas, cognição e autorrealização); existência (abarca necessidades fisiológicas e de segurança); interativa (relaciona-se a sentimento de pertencimento); e normativa (representa a importância da cultura e das normas convencionais) (Gouveia, 2013; Soares, 2015).

Em busca realizada na literatura, não foram identificados estudos empíricos com amostra de brasileiros que avaliassem simultaneamente os construtos (sadismo, personalidade e valores). No contexto internacional, apesar de pesquisas envolvendo o sadismo e traços gerais e sombrios da personalidade serem identificados (e.g., Dinić et al., 2021; Johnson et al., 2019; Stiff, 2019), pesquisas com traços virtuosos e com valores humanos são escassos.

Nesta direção, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar a relação entre o sadismo (cotidiano/subclínico), os valores humanos e os traços de personalidade (sombrios e virtuosos). Especificamente, buscou-se identificar em que medida e direção essas variáveis se relacionam e o papel dos traços de personalidade e dos valores humanos como preditores do sadismo.

Método

Participantes

Participaram 351 pessoas da população geral, com idade média de 32 anos (variando entre 18 e 58 anos; DP = 7,70), sendo a maioria do sexo feminino (63,8%), provenientes do estado do Paraná (49%) e com ensino superior incompleto (34,8%).

Material

Os participantes receberam um questionário no formato on-line contendo os seguintes instrumentos:

Avaliação da Personalidade Sádica (ASP). Elaborada por Plouffe et al. (2017), essa medida é originalmente constituída por 20 itens (e.g. Item 5. Eu machucaria alguém se isso significasse que eu estou no controle) que avaliam comportamentos comuns manifestados por pessoas sádicas. É respondida em uma escala de resposta do tipo Likert de cinco pontos, variando entre 1 (Discordo fortemente) e 5 (Concordo fortemente). Neste estudo, procedeu-se uma análise fatorial exploratória (Unweighted Least Squares-ULS) resultando em uma estrutura unifatorial (13 itens) e indicadores satisfatórios de consistência interna [alpha de Cronbach (α = 0,71) e Ômega (ω = 0,68)].

Questionário dos Valores Básicos (QVB). Elaborado por Gouveia (2013), esse questionário conta com 18 itens ou valores específicos, os quais estão compreendidos em dois descritores cada (e.g. Item 7. Afetividade. Ter uma relação de afeto profunda e duradoura; ter alguém para compartilhar meus êxitos e fracasso). O referido instrumento apresenta os seis fatores previamente descritos (experimentação, realização, existência, suprapessoal, interativa e normativa) e possui escala de resposta Likert de sete pontos, variando entre 1 (Totalmente não importante) e 7 (Totalmente importante). Nesta pesquisa os indicadores de consistência interna foram na mesma direção dos identificados na literatura [experimentação (α = 0,69; ω = 0,70), realização (α = 0,67; ω = 0,73), existência (α = 0,78; ω = 0,79), suprapessoal (α = 0,60; ω = 0,63), interativa (α = 0,64; ω = 0,65) e normativa (α = 0,74; ω = 0,76)].

Inventário de Personalidade Virtuosa (Prosocial Personality Inventory). Elaborado por Gouveia et al. (2021), este instrumento é composto por 18 itens ou valores específicos (e.g. Item 18. Colaboro com as pessoas, ainda que a situação envolva perigo), os quais estão distribuídos nas três dimensões anteriormente mencionadas (perdão, gratidão e altruísmo) avaliando seis critérios: remissão, incriminação, reconhecimento, inexpressividade, beneficência e egotismo. O mesmo possui uma escala de resposta do tipo Likert de cinco pontos, variando entre 1 (Não me descreve) e 5 (Descreve-me totalmente). Nesta pesquisa foram identificados indicadores satisfatórios de consistência interna [remissão (α = 0,86; ω = 0,86), incriminação (α = 0,78; ω = 0,79), reconhecimento (α = 0,87; ω = 0,87), inexpressividade (α = 0,71; ω = 0,73), beneficência (α = 0,87; ω = 0,88) e egotismo (α = 0,80; ω = 0,81)].

Dark Triad Dirty Dozen (DTDD). Elaborada por Jonason e Webster (2010) e validada para o contexto brasileiro por Gouveia et al. (2016), essa medida é composta por 12 itens (e.g., Item 7. Eu tendo a ser insensível ou indiferente) distribuídos equitativamente em três dimensões: maquiavelismo (e.g., Costumo explorar outras pessoas para meu próprio benefício), psicopatia (e.g., Eu tendo a ser insensível ou indiferente) e narcisismo (e.g., Eu tendo a querer que os outros me admirem), respondidos em uma escala de resposta de cinco pontos, variando entre 1 (discordo totalmente) e 5 (concordo totalmente). Os três fatores apresentaram indicadores satisfatórios de consistência interna [maquiavelismo (α = 0,73; ω = 0,74), psicopatia (α = 0,68; ω = 0,70) e narcisismo (α = 0,77; ω = 0,79)].

Questões demográficas: Para caracterização da amostra foram solicitadas informações sobre idade, sexo, escolaridade e estado em que reside.

Procedimento

Os questionários foram respondidos de forma individual por meio de computador, tablet ou celular. Os sujeitos receberam todas as informações e instruções necessárias para respondê-los. O processo de coleta de dados aconteceu de forma on-line, com a divulgação do link da pesquisa em redes sociais (e.g. Facebook, Instagram, Twitter) por meio de um survey elaborado na plataforma Google Forms, durante o período de fevereiro a abril de 2021. Os participantes informados que a pesquisa era destinada ao público em geral, maiores de 18 anos, bem como foi solicitada a informação referente ao acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) na página inicial da pesquisa.

Enfatizou-se que o estudo teria caráter voluntário, não acarretaria qualquer dano físico, material ou psicológico e garantiria a cada participante o sigilo de suas identidades, conforme preconiza as diretrizes e normas reguladoras de pesquisa com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde, Resoluções Nº 466/2012 e 510/2016. Por fim, é fundamental dizer que a decorrente pesquisa obteve parecer de aprovação do Comitê de Ética (CAAE: 40562920.4.0000.0021).

Resultados

Os resultados foram organizados em duas partes principais relativas aos objetivos do estudo: (a) relação entre sadismo, valores humanos e traços de personalidade e (b) avaliar o papel preditivo dos valores e dos traços de personalidade no sadismo.

Correlação entre as variáveis

Inicialmente, calcularam-se as correlações (r de Pearson) entre o sadismo e os fatores dos valores humanos (experimentação, realização, suprapessoal, existência, interativa e normativa), personalidade sombria (maquiavelismo, psicopatia e narcisismo) e virtuosa (perdão, remissão, incriminação, gratidão, reconhecimento, inexpressividade, altruísmo, beneficência e egotismo). Tais resultados podem ser vistos na Quadro 1.

Quadro 1 Correlação entre as variáveis 

Construto M (DP) Sadismo (r) Construto M (DP) Sadismo (r)
Maquiavelismo 1,38 (0,48) 0,41** Altruísmo 2,93 (0,11) 0,03
Psicopatia 1,60 (0,63) 0,27** Beneficência 1,10 (0,24) 0,63**
Narcisismo 2,15 (0,82) 0,18** Egotismo 1,47 (0,66) 0,20**
Perdão 2,99 (0,25) -0,14** Experimentação 5,01 (0,92) -0,08
Remissão 2,59 (0,92) -0,08 Realização 4,89 (1,00) -0,04
Incriminação 2,64 (0,91) 0,17** Suprapessoal 5,53 (0,80) -0,03
Gratidão 3,40 (0,19) -0,25** Existência 6,16 (0,83) -0,10
Reconhecimento 3,90 (0,81) -0,17** Interativa 5,67 (0,88) -0,11*
Inexpressividade 1,48 (0,62) 0,24** Normativa 5,50 (1,08) -0,22**

Nota. * p< 0,001; **p< 0,05.

No que tange a relação do sadismo com os traços sombrios de personalidade, observou-se relação positiva e significativa com maquiavelismo (r= 0,41), psicopatia (r= 0,27) e narcisismo (r = 0,18). Ao avaliar a relação com os traços virtuosos, o sadismo se relacionou negativa e significativamente com perdão (r= -0,29), gratidão (r = -0,25) e reconhecimento (r= -0,17). Enquanto observou-se relação positiva com os traços de incriminação (r = 0,17), inexpressividade (r= 0,24), beneficência (r= 0,63) e egotismo (r = 0,17). Com respeito aos valores humanos, foram identificadas correlações negativas significativas com interativa (r = -0,11) e normativa (r = -0,22).

Preditores do sadismo

Posteriormente, optou-se por testar em que medida o sadismo é predito pelos valores humanos e pelos traços de personalidade. Nessa direção, procedeu-se uma análise de regressão múltipla, considerando cada fator das medidas de valores humanos e de traços de personalidade que apresentaram correlação significativa na análise anterior, como variáveis preditoras do sadismo. Adotou-se o método de estimação stepwise visto que minimiza o efeito de multicolinearidade e seleciona objetivamente as variáveis, potencializando o poder preditivo e sendo mais parcimonioso na seleção do modelo de forma a adequar-se à natureza exploratória do estudo (Hair et al., 2009). Os resultados são apresentados na Quadro 2 a seguir.

Quadro 2 Regressão linear do sadismo (valores humanos e traços de personalidade como preditores) 

R R 2 DR 2 B Beta t
Beneficência 0,634 0,400 - 0,42 0,57 14,65*
Maquiavelismo 0,691 0,474 0,076 0,08 0,23 5,65*
Normativa 0,717 0,510 0,037 -0,03 -0,18 -4,76*
Inexpressividade 0,723 0,517 0,008 0,03 0,09 2,37**

Nota. * p< 0,001; **p< 0,05.

Como observado na Tabela 2, o sadismo foi predito pela personalidade e valores humanos (F(4, 330) = 90,30, p < 0,001; R2ajustado = 0,517). Especificamente, foi explicado satisfatoriamente pelos traços de personalidade beneficência (β = 0,57), maquiavelismo (β = 0,23) e inexpressividade (β = 0,09) e pela subfunção valorativa de normativa (β = -0,18). Conforme identificado, a variável que mais fortemente impactou os níveis de sadismo foi beneficência, explicando 40% do desfecho. Por sua vez, o maquiavelismo, os valores normativos e a inexpressividade estiveram relacionadas com 12% da variância do sadismo.

Discussão

É possível observar na literatura estudos que relacionam o sadismo aos traços de personalidade sombria (Buckels, 2018; Johnson et al., 2019). Entretanto, são escassos os empreendimentos científicos que tomam em conta sua relação com atributos positivos da personalidade (e.g. personalidade virtuosa; Gouveia et al., 2021) e/ou com aspectos psicossociais dos indivíduos (e.g. valores humanos; Gouveia, 2013).

Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo geral avaliar a relação entre o sadismo (cotidiano/subclínico), os valores humanos e os traços de personalidade (sombrios e virtuosos). Especificamente, visou-se conhecer em que medida e direção essas variáveis se relacionam e o papel dos traços de personalidade e dos valores humanos como preditores do sadismo. Diante dos achados, estima-se que esses objetivos tenham sido alcançados, demonstrando a possibilidade da personalidade e as prioridades valorativas explicarem o sadismo (cotidiano/subclínico).

Assim, foi possível verificar que maiores níveis de sadismo estão associados com os traços de personalidade sombria, resultados plausíveis já que apresentam características parecidas em virtude de todos os traços partilharem a frieza emocional, a insensibilidade e desonestidade (Johnson et al., 2019). Além disso, identificou-se relações de menor grau com o narcisismo e maiores com psicopatia e maquiavelismo, semelhante aos achados de outros estudos (Pajevic et al., 2018; Plouffe et al., 2017).

Assim, estima-se que os sujeitos sádicos pontuem altamente em maquiavelismo já que anseiam obter ganhos próprios explorando de forma cínica a outras pessoas (Paulhus & Williams, 2002). Já as ações vinculadas a psicopatia são em decorrência da busca por prazer frente ao infortúnio ou sofrimento de outrem (Schimmenti et al., 2019). Destacando-se o fato de que indivíduos com altos indicadores nas duas dimensões estão propensos a agredir vítimas inocentes, mas apenas aqueles com alto sadismo realizariam a agressão quando fosse necessário maior esforço. Além disto, a busca por dominância e senso de superioridade (Dinić et al., 2021), auxilia na compreensão da relação para com o narcisismo.

Ao relacionar o sadismo as dimensões de personalidade virtuosa, os achados consideraram que altos níveis de sadismo subclínico sugerem maiores escores de incriminação, traço que consiste em fomentar sentimentos negativos sobre as pessoas que lhe fizeram algum mal, avaliando-os de modo negativo e torcendo por sua infelicidade (Oliveira, 2017), semelhante ao sentimento do sádico que sente prazer em ver outra pessoa em dificuldade (O'Meara et al., 2011).

O sadismo também se relacionou positivamente a outros traços virtuosos, tais como o fator inexpressividade (característico de pessoas que possuem dificuldade de expressar ou demonstrar agradecimento a ajuda recebida) que relaciona-se ao indivíduo sádico que é emocionalmente frio e indiferente (Johnson et al., 2019). O mesmo ocorre com o traço de egotismo, que envolve a busca por ganhos pessoais ou benefícios da prática de comportamentos de ajuda (Gouveia et al., 2021), e assemelha-se aos sádicos que buscam satisfação e prazer na dor do outro tendo a si como centro de suas atenções.

Por fim, observa-se a maior relação (maior escore de correlação) com a beneficência, traço relacionado a comportamentos de ajuda que envolvem riscos, sacrifícios ou perigo (Gouveia et al., 2021). Os sádicos sentem prazer em causar ou testemunhar atos de crueldade, e apenas a visão do sofrimento alheio já é considerado recompensador (Plouffe et al., 2017). Por isso, a disposição para ajudar em situações adversas pode ser compreendida pelo sádico como uma oportunidade de visualizar pessoas em situações de dificuldade e assim gerar o sentimento de satisfação.

Em contraste, o sadismo relaciona-se negativamente com os traços virtuosos de perdão, gratidão e reconhecimento. Ou seja, pessoas sádicas apresentam perdão em menor medida uma vez que este atributo demanda compreender a perspectiva do outro, o que acaba sendo afetado devido a debilidade da habilidade empática (Mellor et al., 2012). Assim como, tendem a realizar menos ações positivas ou generosas praticadas diante de quem os ajuda (são menos gratos). E reconhecem menos as ações positivas realizadas por outras pessoas para com eles (Oliveira, 2017).

Assim, confia-se que indivíduos sádicos pontuem baixo em perdão e gratidão haja vista que estes construtos demandam consciência emocional (Eyring et al., 2021), o que conota certa implicação sobre a forma como a outra pessoa vai se sentir diante das expressões emocionais/comportamentais expressas por alguém.

Além da relação para com a personalidade, identifica-se a relação entre o sadismo e bases valorativas. Deste modo, a partir dos resultados, constatou-se que a dimensão sádica está vinculada a menores índices das prioridades axiológicas sociais (normativa e interativa). Tais resultados indicam que estas pessoas atribuem pouca importância a convivência social e ao respeito às normas e tradições sociais (Gouveia, 2013).

Em sua busca de satisfação, pessoas sádicas acabam por dar reduzido valor a necessidades de afiliação e manutenção das relações interpessoais, comum em comportamentos sádicos que envolvem ações de quem não se preocupa com o bem-estar dos outros (e.g., humilhar e zombar; subjugação e sentir prazer em ferir outras pessoas) (Johnson et al., 2019; Shafqat et al., 2019).

Posteriormente, buscou-se verificar o papel preditivo da personalidade e dos valores humanos na explicação do sadismo. Os achados indicaram que a dimensão do sadismo foi predita positivamente pela beneficência, maquiavelismo e inexpressividade, e negativamente pelos valores normativos. A beneficência se destaca como o traço de personalidade mais preditor sadismo, sendo responsável por explicar a maior parte da relação com o construto. Esse achado pode ocorrer em virtude do fator beneficência referir-se a ações voltadas ao benefício de terceiros, desde que envolvam riscos ou periculosidade, podendo assim trazer prazer por meio apenas da observação ou fantasia de violência, um ponto cultivado pelas pessoas que possuem mais traços de sadismo (Plouffe et al., 2017).

Outra variável preditora foi o fator de inexpressividade, considerada a dimensão negativa da gratidão por refletir a dificuldade da pessoa de expressar ou demonstrar gratidão aos outros (Gouveia et al., 2021). Neste sentido, pessoas com maiores níveis deste traço de personalidade, apresentam maiores níveis de sadismo já que é comum observar nesses indivíduos a buscar por controle para que as outras pessoas façam o que eles desejam, não sendo assim gratos por nada que recebem (Gonzalez & Greitemeyer, 2018; Plouffe et al., 2019). Assim, o fato do sadismo ter se mostrado positivamente predito por traços virtuosos da personalidade (beneficência e inexpressividade), pode-se partir da premissa de que o desenvolvimento a ações mais positivas podem se dar por motivações egoístas, favorecendo a relação com as características sádicas (Moura & Mendes, 2020).

No que tange aos valores normativos predizerem negativamente o sadismo, ao que parece, indivíduos sádicos em sua busca por fazer valer suas vontades acabam por desconsiderar princípios morais em favor de possíveis ganhos pessoais que tal conduta subjugadora possa acarretar (Plouffe et al., 2017), explicando assim o fato de pessoas com mais escores de sadismo terem menores níveis de valores normativos, isto é, priorizarem menos em suas vidas regras sociais, atribuindo menor importância a obediência e respeito aos outros (Soares, 2015; Vilar et al., 2021).

Esses resultados estão em consonância com o que pode ser verificado na literatura, uma vez que o sadismo tem se mostrado vinculado aos traços de personalidade sombria, havendo inclusive estudiosos que defendem sua inclusão nos traços sombrios (Book et al., 2016) em detrimento de comportamentos e ações mais próssociais ou positivas (Dinić et al., 2021), como é o caso dos traços virtuosos e valores humanos.

Entretanto, apesar das contribuições trazidas pela presente pesquisa, tal como todo empreendimento científico a mesma não está isenta de potenciais limitações. Por exemplo, destacam-se a natureza da amostra (não probabilística/conveniência), a qual não permite a generalização dos achados a contexto externo ao do estudo. Ademais, o tipo de delineamento adotado (ex post facto), não possibilita estabelecer afirmações de causa e efeito (Pereira et al. 2013), de modo que não se pode assegurar que as pessoas com traços de personalidade sombrios/virtuosos ou que endossam valores normativos sejam ou não sádicas.

Outros aspectos envolvem a temática da pesquisa (característica evitada pelas pessoas no geral) e o tipo de instrumento (medida de autorrelato). No primeiro, possibilita os participantes serem influenciados pela desejabilidade social, que consiste na tendência de respostas em virtude do que o respondente considera desejável pelo contexto social (Soares et al., 2016). No segundo, abre a possibilidade dos respondentes falsearem intencionalmente suas respostas (medidas explícitas).

Entretanto, estas limitações não invalidam os achados, que corroboram os pressupostos teóricos de que a personalidade é um fator importante na predição do sadismo (Pajevic et al., 2018; Plouffe et al., 2017), seguido pelas dimensões valorativas que auxiliam na compreensão de diferentes tipos de atitudes e comportamentos (Soares, 2015).

Quanto a estudos futuros, indica-se que empreendimentos científicos posteriores contemplem o sadismo em diferentes grupos brasileiros, a exemplo de indivíduos privados de liberdade ou mesmo torcedores de torcida organizada, uma vez que a literatura internacional tem indicado que a personalidade sádica tem se mostrado relacionada com comportamentos violentos de prisioneiros (Shafqat, et al., 2019), bem como tem atuado como mediadora da inserção em grupos de torcida e da expressão de atitudes criminosas desses fãs de esportes (Međedović & Kovačević, 2021). Alternativamente, recomenda-se conhecer em que medida esse fenômeno pode estar relacionado com outros construtos, como por exemplo, a moralidade, a trapaça ou mesmo a xenofobia.

Contribuição dos autores

Ana Soares: Concetualização; Análise formal; Investigação; Metodologia; Administração do projeto; Supervisão; Redação do rascunho original e Redação - revisão e edição.

Winne Silva: Concetualização; Análise formal; Investigação; Metodologia; Administração do projeto; Redação do rascunho original e Redação - revisão e edição.

Hysla Moura: Análise formal; Visualização; Redação - revisão e edição.

Sandra Freire: Análise formal; Visualização; Redação - revisão e edição.

Adriano Vargas: Análise formal; Visualização; Redação - revisão e edição.

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Recebido: 26 de Setembro de 2021; Aceito: 26 de Novembro de 2023

Autor de Correspondência: Ana Soares (akssoares@gmail.com)

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