SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.23 número3Fatores protetores da saúde mental em estudantes do ensino superiorSíndrome de burnout em universitários da área da saúde índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.23 no.3 Lisboa dez. 2022  Epub 31-Dez-2022

https://doi.org/10.15309/22psd230315 

Artigos

Empatia, regulação parental e violência em adolescentes

Empathy, parental regulation and violence in adolescents

1 Universidade de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa, Portugal, r.correa@edu.ulisboa.pt, margarida.gaspardematos@gmail.com, amalmeid@eerp.usp.br

2 Centro Universitário FAG, Cascavel Brasil.

3 Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.

4 Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, isabela.rebessi@hotmail.com, cbneufeld@usp.br

5 Instituto Politécnico de Beja, Escola Superior de Saúde, Beja, Portugal, smsgaspar@gmail.com

6 Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina, Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB), Lisboa, Portugal.


Resumo

Qual a associação entre empatia, regulação parental e violência em adolescentes. Este estudo analisa a associação entre empatia, regulação parental e violência em adolescentes. Estudo transversal realizado com 722 adolescentes de Foz do Iguaçu. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário. Estatística descritiva, teste do qui-quadrado e regressão logística binomial foram utilizados para análise dos dados. A ausência de regulação parental e envolvimento em brigas indicaram uma relação com redução da frequência de empatia pelas meninas. O aumento da dificuldade de empatia foi relacionado à agressão física na família e automutilação para meninos, e para meninas com ausência de regulação parental. Ser intimidado foi relacionado ao aumento da dificuldade de empatia para ambos os sexos. Houve associação entre empatia, regulação parental, agressão física na família e vítima de bullying. Confirma o impacto da regulação parental e da violência no desenvolvimento da empatia em adolescentes e destaca a importância para o desenvolvimento de programas de treinamento em empatia na educação e saúde pública na região de fronteira.

Palavras-chave: Saúde do adolescente; Habilidades sociais; Bullying

Abstract

What is the association between empathy, parental regulation and violence in adolescent? This study analyze the association between empathy, parental regulation and violence in adolescents. Cross-sectional study conducted with 722 adolescents in Foz do Iguaçu. Data collection was carried out through a questionnaire. Descriptive statistics, chi-square test and binomial logistic regression were used for data analysis. The absence of parental regulation and involvement in fights indicated a relationship with reduced frequency of empathy for girls. The increase in empathy difficulty was related to physical aggression in the family and self-injury for boys, and for girls with the absence of parental regulation. Being bullied was related to increased difficulty with empathy for both genders. There was an association between empathy, parental regulation, physical aggression in the family and victim of bullying. It confirms the impact of parental regulation and violence on the development of empathy in adolescents and highlights the importance for the development of empathy training programs in education and public health in the border region.

Keywords: Adolescent health; Social skills; Bullying

Estudos mostram alta prevalência de agressão e violência entre adolescentes brasileiros associada a outros fatores de risco, com aumento nos últimos anos (Malta et al., 2019; Pinto et al., 2018; Yang, et al., 2017). Dados de adolescentes da região da tríplice fronteira entre Brasil, Paraguay e Argentina mostraram uma tendência à regulação parental coercitiva, contribuindo para a manutenção de práticas violentas na adolescência (Priotto et al., 2015). No entanto, pesquisas demonstram uma relação entre os fatores de agressão e violência com empatia reduzida (Campbell-Heider et al., 2009; Silva et al., 2016; Stan & Beldean, 2014).

Um dos comportamentos de risco relacionados à violência na adolescência é a prática de bullying, atuando como vítimas ou agressores-vítimas. O bullying é caracterizado pela violência física ou psicológica em atos sistemáticos de discriminação, intimidação, humilhação ou isolamento social consciente e premeditado (Pigozi & Machado, 2015). A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta o bullying como um problema de saúde pública (WHO, 2016) e, no Brasil, a prevalência de eventos de bullying é de 28% segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) (Brasil, 2016; Silva et al., 2019).

Os adolescentes que sofrem bullying geralmente apresentam déficits nas habilidades sociais e relacionais, timidez e alguma ansiedade social. Além disso, os agressores-vítimas, que também apresentam esses déficits, apresentam pouca capacidade de resolução de problemas, demonstram comportamentos impulsivos e agressivos, além de falta de empatia (Leme et al., 2016; Silva et al., 2017).

Entretanto, Del Prette e Del Prette (2014) apresentam a empatia como uma capacidade de identificar sentimentos e problemas do outro, expressar compreensão e apoio, dividindo esse construto em frequência e dificuldade. A frequência refere-se ao número de vezes que o adolescente expressa o comportamento e a dificuldade está relacionada a ansiedade ou ao medo de expressar esse comportamento. O risco no repertório de empatia é considerado quando a frequência é baixa e a dificuldade é alta, exigindo treinamento em programas de habilidades sociais ou intervenção de um profissional de Psicologia (Del Prette & Del Prette, 2014).

Em uma revisão sistemática que teve como objetivo investigar a relação entre empatia e bullying na adolescência, os resultados mostraram que o bullying se correlacionou negativamente com os componentes cognitivo e emocional da empatia. Os achados desta revisão reforçam a ideia de que são necessárias intervenções que contemplem o desenvolvimento da empatia para adolescentes, uma vez que adolescentes empáticos tendem a praticar menos bullying e atos de violência, porém em níveis menos significativos, sugerindo que intervenções em habilidades sociais com adolescentes aumentariam eficácia se integrassem a escola e a formação parental (van Noorden et al., 2014).

No que diz respeito à regulação parental, esta pode atuar como fator de proteção contra comportamentos violentos quando os adolescentes percebem que os pais são abertos ao diálogo e à expressão emocional e dignos de confiança (de Looze et al., 2018). Uma dimensão importante da relação entre pais e filhos que atua como fator de proteção é o conhecimento dos pais sobre as atividades dos filhos, caracterizando-o como um monitoramento positivo (Jiménez-Iglesias et al., 2012). O conhecimento dos pais sobre as atividades dos adolescentes é mais importante nesta fase do desenvolvimento, uma vez que a supervisão parental é reduzida, enquanto aumentam os comportamentos de risco, que podem mesmo aparecer na relação com os pares.

Compreendendo que a regulação parental no contexto do acompanhamento positivo e o desenvolvimento da empatia podem atuar como fatores protetores contra comportamentos violentos na adolescência, a hipótese do estudo foi de que adolescentes que apresentam alta condição de violência apresentariam menos empatia. Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar a associação entre empatia, regulação parental e violência em adolescentes.

Método

Participantes

A média de idade dos adolescentes foi 16,5 anos (DPD= 0,80), subdivididos em 1˚ano (M = 15,6; DP = 0,78), 2˚ ano (M= 16,1; DP = 0,63) e 3˚ ano (M = 16,9; DP = 0,33) do Ensino Médio e Técnico de escolas publicas em 2016.

O processo de amostragem foi realizado em dois estágios, o primeiro foi denominado Unidade Primária de Análise (UPA), considerou 281 classes presenciais (clusters), nove clusters por escola e 9.720 adolescentes e a Unidade Secundária de Análise (EUA) considerou, uma média de 291 adolescentes por escola. Para obter uma amostra homogênea, esta foi realizada em dois momentos, as turmas de turmas (n=40), a partir de uma amostra probabilística por conglomerados, e uma amostra aleatória simples para adolescentes (n=743), em uma amostra específica para cada grupo. classe, de acordo com a representatividade das salas. Um intervalo amostral foi estipulado por uma quantidade inicial sorteada e, na sequência, a seleção da sequência no conglomerado foi baseada no número acumulado de adolescentes. Uma quota de substituição de 25% da amostra foi estabelecida para adolescentes que não participaram da pesquisa. A amostra final resultou em 722 adolescentes, com base nas faltas e desistências dos adolescentes.

Material

Foram incluídas no estudo variáveis ​​de caracterização sociodemográfica, regulação parental, agressão física na família, envolvimento em brigas, automutilação, vítima e autor de bullying e sentimento de solidão. Todas as variáveis ​​foram recodificadas em sim (1) e não (0) para a variável em questão. Para avaliar a empatia, os indicadores de frequência e dificuldade foram classificados em alto e baixo de acordo com o estudo de Corrêa et al., 2021.

Para coleta de dados foi utilizado o instrumento da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), versão 2015 (Brasil, 2016) foi usado. A PeNSE caracteriza-se como um estudo populacional realizado a cada quatro anos desde 2009, com adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil, com o objetivo de monitorar indicadores de saúde do adolescente. O questionário é estruturado, auto aplicado e apresenta 105 questões que abordam fatores sociodemográficos, fatores de risco e proteção na saúde do adolescente (Oliveira et al., 2017).

A avaliação da empatia foi realizada por meio do Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes (IHSA-Del Prette) (Del Prette & Del Prette, 2014). O inventário avalia o repertório de Habilidades Sociais de adolescentes, caracteriza-se como um instrumento de autorrelato, que contém 38 questões, utilizando uma escala Likert de cinco pontos para frequência e dificuldade. As respostas das alternativas são convertidas em percentis e, a seguir, são calculados os escores de empatia, autocontrole, civilidade, assertividade, abordagem afetiva, desenvoltura social e habilidades sociais totais, de acordo com o manual (Del Prette & Del Prette, 2014). O indicador de empatia possui índice de consistência interna de 0,82 para frequência e 0,86 para dificuldade (Del Prette & Del Prette, 2014).

A interpretação do escore de empatia considera os seguintes valores percentuais para frequência: 76-100, repertório altamente elaborado de habilidades sociais; 66-75, repertório elaborado de habilidades sociais; 36-65, bom repertório de habilidades sociais; 26-35, repertório médio inferior de habilidades sociais; e 01-25 repertório de habilidades sociais abaixo da média. Para dificuldade, são considerados os seguintes valores percentuais: 66-100, alta dificuldade em habilidades sociais; 36-65, dificuldade média em habilidades sociais; e 01-35, baixa dificuldade em habilidades sociais. O risco no repertório de empatia é considerado quando o escore de frequência é baixo e o escore de dificuldade é alto, exigindo treinamento em programas de habilidades sociais ou a intervenção de um profissional de Psicologia (Del Prette & Del Prette, 2014; Sardinha et al., 2018).

Procedimento

Estudo de coorte transversal desenvolvido com adolescentes de escolas públicas do município de Foz do Iguaçu, Brasil. A região faz fronteira com Paraguai e Argentina. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa e utilizou o protocolo Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology - STROBE. A coleta de dados foi precedida do consentimento das instituições, pais ou responsáveis e participantes, respeitando-se a participação voluntária e anônima.

Análise de dados

Para as variáveis foi utilizada estatística descritiva, calculando-se os percentuais. O teste qui-quadrado foi utilizado para analisar a relação entre a empatia e as variáveis do estudo. A análise da influência das variáveis independentes na empatia foi realizada por meio da Regressão logística binomial, utilizando o método “ENTER”. O programa SPSS versão 27 foi utilizado para o processamento dos dados. O nível de significância foi estabelecido em p<0,05.

Resultados

O Quadro 1 apresenta a caracterização sociodemográfica dos participantes. No total, os adolescentes da região de fronteira apresentaram alta frequência e dificuldade de empatia (64,3% e 63,2%). Mais da metade dos participantes relatou ter sido vítima de bullying no último mês, 56,1%. Os meninos apresentaram menos regulação parental (7,6% vs 3,6%, p=0,016), maior envolvimento em brigas (21,3% vs 8,4%, p=<0,001), maior automutilação (29, 3% vs 16,8%, p=0,001) e maior autoria de bullying (21,6% vs 10,7%, p=<0,001) do que as meninas. As meninas apresentaram maior agressão física na família (12,7% vs 7,9%, p=0,038) e maior sentimento de solidão (80,5% vs 61,9%, p=0,001) do que os meninos.

Os Quadros 2 e 3 apresentam os resultados das análises bivariadas. Para as meninas, a redução da frequência de empatia esteve relacionada à ausência de regulação parental e envolvimento em brigas, porém, ter sido vítima de bullying no último mês esteve relacionada ao aumento da frequência de empatia. O aumento da dificuldade de empatia dos meninos esteve relacionado à agressão física na família e ter sido vítima de bullying no último mês. Para as meninas, o aumento da dificuldade de empatia esteve relacionado à falta de regulação parental e ao fato de ter sido vítima e autor de bullying no último mês.

Quadro 1 Distribuição das variáveis sociodemográficas e indicadores do estudo, geral e por gênero 

O Quadro 4 apresenta os resultados da análise de Regressão logística binomial. A análise foi baseada em dois modelos ajustados, em que 4% de frequência (χ2 (9)=22,235, p=0,008, Nagelkerke R2=0,034) e 5% de dificuldade (χ2(9)=26,052, p=0,002, Nagelkerke R2=0,042) na variância da empatia foi explicada pelos indicadores do modelo. Nesse modelo, a condição de ter menor frequência de empatia teve relação positiva com a variável regulação parental (a ausência de regulação parental aumenta em 1,63 vezes a chance de estar neste grupo). O modelo mostra um aumento da dificuldade de empatia na relação positiva com as variáveis ​​vítima de bullying (aumento da vitimização por bullying aumenta em 1,58 vezes a chance de estar neste grupo) e agressão física na família (aumento da agressão física na família), aumenta a chance de estar neste grupo em 1,74 vezes).

Quadro 2 Análise bivariada da frequência em empatia, regulação parental e violência em adolescentes, por gênero, com qui-quadrado. 

Discussão

O estudo demonstra associação entre empatia, regulação parental e violência entre adolescentes da região de fronteira, os resultados são corroborados por outros estudos (Del Rey et al., 2016; Estévez et al., 2016). Entre os adolescentes, a maioria apresentou bom repertório em empatia. Outros estudos identificaram uma predominância de alta frequência de empatia por adolescentes que não estavam envolvidos em comportamento violento, especialmente para meninas (Li et al., 2015; Silva et al., 2018; van Noorden et al., 2014). A dificuldade relatada pelos adolescentes suscita a necessidade de intervenções que abordem esse aspecto, principalmente no ambiente escolar.

Em relação ao aumento da dificuldade de empatia pelos meninos, foram identificados os fatores agressão física na família e automutilação, enquanto para as meninas a relação ocorreu entre o aumento da dificuldade de empatia e a ausência de regulação parental. Em um estudo com dados do Health Behavior in School Age Children (HBSC), os mesmos fatores de diferença de gênero foram identificados para a empatia (Carvalho et al., 2019), com uma associação principalmente para meninas (Kokkinos & Kipritsi, 2018).

Quadro 3 Análise bivariada da dificuldade em empatia, regulação parental e violência em adolescentes, por gênero, com qui-quadrado. 

Quadro 4 Associação entre frequência e dificuldade de empatia e os indicadores do estudo, Regressão logística binomial. 

Houve diferença estatisticamente significativa entre os gêneros para os indicadores do estudo, como regulação parental, envolvimento em brigas, automutilação e bullying, com os meninos apresentando maior risco. Estudos nacionais e internacionais também identificaram maior risco de comportamento violento para os meninos, demonstrando uma tendência crescente nos últimos anos (Gaspar et al., 2019; Pinto et al., 2018; Silva et al., 2019).

Por outro lado, em relação à violência física na família, identificou-se maior prevalência para meninas, confirmado por estudo nacional (Malta, et al., 2019). As meninas apresentaram relação entre a vitimização por bullying e o aumento da frequência de empatia, nesse sentido estudos têm destacado que a empatia não apresenta fortes evidências como fator de proteção para violência na adolescência, porém outras pesquisas têm mostrado essa relação para meninos (Li et al., 2015).

Os prejuízos advindos da regulação parental coercitiva ou da ausência dela, por meio de exigências excessivas, negligência e agressão física aos filhos são amplamente relatados na literatura (de Looze et al., 2018; Jiménez-Iglesias et al., 2017; Priotto et al., 2015). Isso não pode ser confundido, no entanto, com práticas e limites saudáveis de monitoramento. A regulação parental não coercitiva, estilo que engloba a prática do acompanhamento parental e o conhecimento das atividades dos filhos, é vista como um fator de proteção (Rueger et al., 2016).

A investigação de aspectos das interações entre pais e filhos na adolescência torna-se importante porque esta fase, apesar dos muitos riscos ao desenvolvimento, também oferece muitas oportunidades. Em um estudo longitudinal que investigou como a regulação parental influenciava os comportamentos violentos, verificou-se que ela protegia os adolescentes de atos de violência, mas apenas em díades familiares em que os adolescentes percebiam o apoio e a regulação dos pais (Micalizzi et al., 2019), o que corrobora os dados deste estudo.

A regulação parental correlacionou-se negativamente com a empatia, ou seja, quanto menos regulação, maior a dificuldade em ser empático na relação com os pares, além disso, quanto maior a agressão no ambiente familiar, maiores as práticas de bullying e maior a dificuldade em empatia. Considerando que a adolescência é o período de maior expansão social, buscando a identificação com os pares, os adolescentes engajados em práticas violentas reduzem seu círculo social, o que acarreta prejuízos ao desenvolvimento saudável dessa área (Deniz & Ersoy, 2015).

A literatura aponta que as práticas de violência na adolescência, especificamente o bullying, têm os meninos como agressores, enquanto as meninas tendem a assumir o papel de vítimas dessa violência (Carvalho et al., 2019; Kokkinos & Kipritsi, 2018). Em um estudo com 301 adolescentes gregos que buscava avaliar as relações entre empatia e bullying, os meninos que tinham maior dificuldade em demonstrar empatia relataram maior envolvimento em práticas de bullying (Kokkinos & Kipritsi, 2018). Na presente amostra, os meninos relataram praticar mais bullying do que as meninas e isso se correlacionou com maior dificuldade em demonstrar empatia e maior percepção de agressão na família, o que corrobora a literatura e aponta a necessidade de intervenções que contemplem aspectos culturais e sociais. gênero em relação ao desenvolvimento de comportamentos violentos (Carvalho et al., 2019).

Portanto, com base nos dados encontrados neste estudo sobre a dificuldade dos adolescentes com o exercício da empatia e sua associação com práticas de bullying, mais intervenções são necessárias para promover a saúde desse público-alvo. Numa intervenção com 78 adolescentes vítimas de bullying, que teve como foco o desenvolvimento das competências sociais de autocontrolo, expressividade emocional, empatia, assertividade, civilidade e resolução de problemas, observou-se que foi eficaz na redução da vitimização e aumento do repertório de habilidades sociais por um ano após sua ocorrência (Silva et al., 2018).

Além de intervenções voltadas para o desenvolvimento da empatia para reduzir comportamentos violentos, as associações encontradas entre a falta de regulação parental e maiores índices de bullying também apontam para a necessidade de intervenções com famílias e cuidadores (Priotto et al., 2015).

Entende-se que, embora a adolescência seja a fase em que os pares exercem maior influência ao longo do ciclo vital, uma boa relação entre pais e filhos ainda é fundamental para um desenvolvimento saudável e menores comportamentos de risco. Auxiliar os pais no desenvolvimento da regulação parental, além da capacidade de empatia em si, pode contribuir para um desenvolvimento mais saudável dos adolescentes.

Finalmente, este estudo confirma o impacto da regulação parental e da violência no desenvolvimento da empatia em adolescentes e destaca a importância de desenvolver intervenções no desenvolvimento da empatia juntamente com a educação e a saúde pública em uma região de fronteira.

Limitações

A pesquisa foi realizada com uma amostra representativa da população, por meio de uma metodologia estruturada, facilitando o planejamento e execução de programas para a população adolescente da região de fronteira. No entanto, como a pesquisa foi realizada por meio de um questionário autorreferido, isso pode ter sofrido algum viés nas respostas dos adolescentes. Além disso, por ser um estudo transversal, não permitiu uma relação de causa e efeito entre as variáveis. O estudo abordou apenas a empatia dentro de um conjunto de indicadores de habilidades sociais.

Contribuição dos autores

Rafael Corrêa: Concetualização; Curadoria dos dados; Análise formal; Aquisição de financiamento; Investigação; Metodologia; Administração do projeto; Recursos; Software; Redação do rascunho original.

Isabela Rebessi: Concetualização; Redação - revisão e edição.

Susana Gaspar: Curadoria dos dados; Análise formal.

Carmem Neufeld: Redação - revisão e edição.

Margarida Gaspar de Matos: Curadoria dos dados; Análise formal; Software; Supervisão; Validação; Visualização; Redação - revisão e edição.

Ana Almeida: Concetualização; Curadoria dos dados; Aquisição de financiamento; Metodologia; Administração do projeto; Recursos; Supervisão; Validação; Visualização; Redação - revisão e edição.

Financiamento

Este estudo foi financiado em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001.

Referências

Brasil. Ministério da Saúde. (2016). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. [ Links ]

Campbell-Heider, N., Tuttle, J., & Knapp, T. R. (2009). The effect of positive adolescent life skills training on long term outcomes for high-risk teens. Journal of Addictions Nursing, 20(1), 6-15. https://doi.org/10.1080/10884600802693165 [ Links ]

Carvalho, M., Branquinho, C., & Matos, M. (2019). Bullying, ciberbullying e problemas de comportamento: o género e a idade importam? Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente, 10(1), 197-205. [ Links ]

Corrêa, R., Tome, G., Branquinho, C., Neufeld, C. B., Matos, M. G., & Almeida, A. M. (2021). Self-control, consumption indicators and risk factors in brazilian adolescents. Revista Psicologia, Saúde & Doenças, 22, 1027-1035. https://doi.org/10.15309/21psd220321 [ Links ]

de Looze, M. E., Huijts, T., Stevens, G. W. J. M., Torsheim, T., & Vollebergh, W. A. M. (2018). The Happiest Kids on Earth. Gender Equality and Adolescent Life Satisfaction in Europe and North America. Journal of Youth and Adolescence, 47(5), 1073-1085. https://doi.org/10.1007/s10964-017-0756-7 [ Links ]

Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2014). Inventário de habilidades sociais para adolescentes (IHSA-Del-Prette): manual de aplicação, apuração e interpretação. Casa do Psicólogo. [ Links ]

Del Rey, R., Lazuras, L., Casas, J. A., Barkoukis, V., Ortega-Ruiz, R., & Tsorbatzoudis, H. (2016). Does empathy predict (cyber) bullying perpetration, and how do age, gender and nationality affect this relationship? Learning and Individual Differences, 45, 275-281. https://doi.org/10.1016/j.lindif.2015.11.021 [ Links ]

Deniz, M. E. & Ersoy, E. (2015). Examining the Relationship of Social Skills, Problem Solving and Bullying in Adolescents. International Online Journal of Educational Sciences, 8(1), 1-7. https://doi.org/10.15345/iojes.2016.01.001 [ Links ]

Estévez, E., Jiménez, T. I., & Cava, M. J. (2016). A Cross-Cultural Study in Spain and Mexico on School Aggression in Adolescence: Examining the Role of Individual, Family, and School Variables. Cross-Cultural Research, 50(2), 123-153. https://doi.org/10.1177/1069397115625637 [ Links ]

Gaspar, S., Guedes, F. B., Cerqueira, A., Oliveira, R., & Matos, M. G. (2019). Physical Fights Involvement in School Setting and Adolescents’ Behaviours: Highlights from Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC/OMS) - Fights in School Setting and Adolescent’s Behaviours. Primary Care Epidemiology and Global Health, 01-07. https://doi.org/10.33513/pegh/1801-04 [ Links ]

Jiménez-Iglesias, A., García-Moya, I., & Moreno, C. (2017). Parent-child relationships and adolescents’ life satisfaction across the first decade of the new millennium. Family Relations, 66(3), 512-526. https://doi.org/10.1111/fare.12249 [ Links ]

Kokkinos, C. M. & Kipritsi, E. (2018). Bullying, moral disengagement and empathy: exploring the links among early adolescents. Educational Psychology, 38(4), 535-552. https://doi.org/10.1080/01443410.2017.1363376 [ Links ]

Li, X., Bian, C., Chen, Y., Huang, J., Ma, Y., Tang, L., Yan, Q., Ye, X., Tang, J., & Yu, Y. (2015). Indirect aggression and parental attachment in early adolescence: Examining the role of perspective taking and empathetic concern. Personality and Individual Differences, 86, 499-503. https://doi.org/10.1016/j.paid.2015.07.008 [ Links ]

Malta, D. C., Antunes, J. T., Prado, R. R. Do, Assunção, A. Á., & Freitas, M. I. (2019). Factors associated with family violence against adolescents based on the results of the National School Health Survey (PeNSE). Ciência e Saúde Coletiva, 24(4), 1287-1298. https://doi.org/10.1590/1413-81232018244.15552017 [ Links ]

Malta, D. C., Mello, F. C. M. De, Prado, R. R. Do, Nogueira De Sá, A. C. M. G., Marinho, F., Pinto, I. V., Silva, M. M. A. Da, & Silva, M. A. I. (2019). Prevalence of bullying and associated factors among brazilian schoolchildren in 2015. Ciência e Saúde Coletiva, 24(4), 1359-1368. https://doi.org/10.1590/1413-81232018244.15492017 [ Links ]

Micalizzi, L., Sokolovsky, A. W., Janssen, T., & Jackson, K. M. (2019). Parental social support and sources of knowledge interact to predict children’s externalizing behavior over time. Journal of Youth and Adolescence, 48(3), 484-494. https://doi.org/10.1007/s10964-018-0969-4 [ Links ]

Oliveira, M. M. de, Campos, M. O., Andreazzi, M. A. R. de, & Malta, D. C. (2017). Características da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE. Epidemiologia e Servicos de Saúde, 26(3), 605-616. https://doi.org/10.5123/S1679-49742017000300017 [ Links ]

Pigozi, P. L. & Machado, A. L. (2015). Bullying during adolescence in Brazil: An overview. Ciência e Saúde Coletiva, 20(11), 3509-3522. https://doi.org/10.1590/1413-812320152011.05292014 [ Links ]

Pinto, I. V., Barufaldi, L. A., Campos, M. O., Malta, D. C., Souto, R. M. C. V., Freitas, M. G. De, Lima, C. M. De, & Andreazzi, M. A. R. (2018). Trends in violent situations experienced by Brazilian adolescents: National Adolescent Student Health Survey 2009, 2012, and 2015. Revista Brasileira de Epidemiologia, 21(Suppl 1). https://doi.org/10.1590/1980-549720180014.supl.1 [ Links ]

Priotto, E. M. T. P., Ferriani, M. G. C., & Silva, M. A. I. (2015). Práticas educativas na convivência familiar e de adolescentes do Brasil, Paraguay e Argentina. Revista Enfermagem UFPE, 9(11). https://doi.org/10.5205/reuol.8008-72925-1-ED.0911201507 [ Links ]

Romera, E. M., Cano, J.-J., García-Fernández, C. M., & Ortega-Ruiz, R. (2016). Cyberbullying: Social competence, motivation and peer relationships. Comunicar, 24(48), 71-79. http://dx.doi.org/10.3916/C48-2016-07 [ Links ]

Rueger, S. Y., Malecki, C. K., Pyun, Y., Aycock, C., & Coyle, S. (2016). A meta-analytic review of the association between perceived social support and depression in childhood and adolescence. Psychological Bulletin, 142(10), 1017-1067. https://doi.org/10.1037/bul0000058 [ Links ]

Sardinha, A. P. de A., Ferreira, E. A. P., & Moraes, A. J. P. de. (2018). Avaliação de habilidades sociais e adesão ao tratamento em adolescentes com Lupus Eritematoso Sistêmico Juvenil. Pará Research Medical Journal, 1(4), 1-10. https://doi.org/10.4322/prmj.2017.035 [ Links ]

Silva, A. N., Marques, E. S., Peres, M. F. T., & Azeredo, C. M. (2019). Trends in verbal bullying, domestic violence, and involvement in fights with frearms among adolescents in Brazilian state capitals from 2009 to 2015. Cadernos de Saúde Pública, 35(11), 1-16. https://doi.org/10.1590/0102-311X00195118 [ Links ]

Silva, Jorge Luiz da, Oliveira, W. A. de, Carlos, D. M., Lizzi, E. A. da S., Rosário, R., & Silva, M. A. I. (2018). Intervention in social skills and bullying. Revista Brasileira de Enfermagem, 71(3), 1085-1091. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0151 [ Links ]

Silva, J L, Oliveira, W. A., Mello, F. C. M., Andrade, L. S., Bazon, M. R., & Silva, M. A. I. (2016). Anti-bullying interventions in schools: A systematic literature review. Ciência e Saúde Coletiva, 22(7), 2329-2340. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232017227.16242015 [ Links ]

Silva, J. L., Oliveira, W. A., Carlos, D. M., Lizzi, E. A. S., & Rosário, R. S. M. (2016). Intervenções em Habilidades Sociais e bullying. Revista Brasileira de Enfermagem, 24(1), 251-259. https://doi.org/10.9788/TP2016.1-17 [ Links ]

Silva, J. L., Oliveira, W. A., Zequinão, M. A., Lizzi, E. A. S., Pereira, B. O., & Silva, M. A. I. (2018). Resultados de intervenções em habilidades sociais na redução de bullying escolar: revisão sistemática com metanálise. Temas em Psicologia, 26(1), 509-522. https://doi.org/10.9788/tp2018.1-20pt [ Links ]

Stan, C. & Beldean, I. G. (2014). The Development of Social and Emotional Skills of Students-ways to Reduce the Frequency of Bullying-type Events. Experimental Results. Procedia - Social and Behavioral Sciences, 114, 735-743. https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2013.12.777 [ Links ]

van Noorden, T. H. J., Haselager, G. J. T., Cillessen, A. H. N., & Bukowski, W. M. (2014). Empathy and Involvement in Bullying in Children and Adolescents: A Systematic Review. Journal of Youth and Adolescence, 44(3), 637-657. https://doi.org/10.1007/s10964-014-0135-6 [ Links ]

WHO. (2016). Growing up unequal: gender and socioeconomic differences in young people’ s health and well-being. WHO. [ Links ]

Yang, L., Zhang, Y., Xi, B., & Bovet, P. (2017). Physical fighting and associated factors among adolescents aged 13-15 years in six Western Pacific countries. International Journal of Environmental Research and Public Health, 14(11), 8-17. https://doi.org/10.3390/ijerph14111427 [ Links ]

Recebido: 22 de Agosto de 2022; Aceito: 20 de Dezembro de 2022

Morada de Correspondência: Rua Prof. Hélio Lourenço, 3900 - Vila Monte Alegre, Ribeirão Preto, São Paulo, 14040-902, Brasil.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons