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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.21 no.1 Lisboa abr. 2020

https://doi.org/10.15309/20psd210105 

Clínica do trabalho com professores readaptados na abordagem da psicodinâmica do trabalho

Workplace clinic with readjusted teachers in the psychodynamics of work approach

Maria Luiza Schmidt1, Larissa Freitas2, Camila Querubin2, Venâncio Tonon2, & Tainara Menezes2

1Departamento de Psicologia Experimental e do Trabalho, Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Assis, SP, mlschmidt@uol.com.br

2Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Assis, SP.


 

RESUMO

A readaptação profissional resulta da situação de perdas de capacidades do trabalhador para desenvolver atividades laborais devido às limitações decorrentes de acidentes ou adoecimento. É um processo complexo permeado por múltiplos aspectos psicológicos que podem desencadear reações diversificadas caracterizadas pelos estados subjetivos do trabalhador. Objetivo: Este trabalho visa o desenvolvimento de um espaço grupal de escuta para professores readaptados. Método: As sessões ocorrem mensalmente com duração de três horas cada, são realizadas pelo Núcleo de Atenção à Saúde do Trabalhador - Unesp, Campus de Assis - SP. Os sujeitos são professores do Ensino Fundamental e Médio do Estado de São Paulo que adoeceram e estão readaptados. A análise dos discursos está embasada na técnica da escuta clínica, tomando como referência a Psicodinâmica do Trabalho descrita por Cristophe Dejours. Resultados: Tem sido possível identificar e compreender os aspectos da dinâmica enfrentada pelos participantes em seus contextos laborais, a fim de contribuir com a promoção e construção de uma escuta sensível visando dar voz às queixas suplantadas relativas ao retorno ao trabalho. Conclusões: O espaço grupal tem se revelado um lugar de acolhimento diante da sensação de desamparo e solidão bem como das fragilidades e ressignificação dos participantes com o trabalho.

Palavras-chave: Clínica do trabalho, Psicodinâmica do trabalho, Professores, Readaptação profissional


 

ABSTRACT

Occupational rehabilitation results from situations in which the worker loses the ability to perform work activities due to limitations arising from accidents or illness. It is a complex process permeated by multiple psychological aspects that can trigger diversified reactions characterized by subjective conditions of the worker. Objective: This work aims to develop a listening group space for readjusted teachers. Method: Three-hour sessions take place monthly and are held by the Worker´s Health Care Center - UNESP, Assis Campus - SP. The subjects are Elementary and High School teachers from the State of São Paulo who have become ill and are now readjusted. The speech analysis is based on the technique of clinical listening, using the Psychodynamics of Work described by Christophe Dejours as reference. Results: It has been possible to identify and understand the aspects of the dynamics faced by participants in their work contexts in order to contribute to the promotion and construction of sensitive listening to give voice to supplanted complaints regarding the return to work. Conclusions: Group space has demonstrated to be an embracing place in face of helplessness and loneliness feelings as well as fragilities and resignification of work by the participants.

Keywords: Workplace clinic, Psychodynamics of work, Teachers, Occupational readjustment.


 

A readaptação profissional decorre da reorganização após uma situação de perdas de capacidades do trabalhador para desenvolver atividades laborais, devido às limitações decorrentes de acidentes ou adoecimento. Nas situações em que o grau da incapacidade laborativa é considerado parcial, o trabalhador pode retornar ao trabalho na mesma função/cargo ou em atividades diferentes; em ambos os casos há um novo modus operandi que requer adaptações às novas atribuições, além dos desafios cotidianos presentes no contexto de trabalho. Portanto, é um processo permeado por múltiplos aspectos psicológicos que podem desencadear reações diversificadas caracterizadas pelos estados subjetivos do trabalhador. “As perdas inerentes à deficiência, independentemente da sua maior ou menor gravidade, [...] podem originar respostas emocionais mais ou menos previsíveis” (Oliveira, 2000, p. 438).

A incapacidade laboral, tanto física como mental, provoca alterações nos modos de ser do indivíduo, ultrapassando a esfera objetiva e impactando em sua identidade profissional, devido às dificuldades em lidar com as perdas funcionais, produzindo a emergência de insatisfação e sofrimento psíquico (Barbosa, & Schmidt, 2014). Pois, “[...] executar uma tarefa sem investimento material ou afetivo exige a produção de esforço e de vontade, em outras circunstâncias apoiada pelo jogo da motivação e do desejo” (Dejours, 1992, p. 49).

O objetivo geral desta atividade visa o desenvolvimento de um espaço grupal de escuta para trabalhadores que se afastaram do trabalho, por acidentes ou adoecimento, e retornaram às atividades laborais após serem readaptados. Os objetivos específicos buscam propiciar ao trabalhador a percepção de si mesmo, bem como dos aspectos psicodinâmicos do retorno ao contexto de trabalho, e também promover a mobilização subjetiva em prol da promoção da saúde dos participantes.

Método

Participantes

Em 2019, do total de doze professores que participaram em 2018, cinco continuaram e outros seis começaram a participar, perfazendo novamente um total de doze. Dos doze, onze são do sexo feminino e um masculino. O tempo de atuação como professores antes do afastamento é de 5 a 25 anos, ministrando disciplinas nas áreas de Ciências Humanas, Ciências Biológicas e Matemática, para alunos matriculados no Professor da Educação Básica II (PEB II), ou seja, nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Material

A metodologia escolhida foi atividade grupal, embasada na Clínica do Trabalho na Abordagem da Psicodinâmica do Trabalho. Nesta abordagem a escuta se dá em grupo, sendo este entendido como uma ampliação do espaço público de discussão, o que possibilita a transformação de compreensões individuais em reflexões coletivas (Dejours, 1995) além de permitir “[...] que os indivíduos sejam capazes de se reapropriar de seu trabalho e a relação com sua saúde” (Lancman, Toldrá, & Santos, 2014, p. 108).

Procedimentos

As sessões grupais foram iniciadas no ano de 2018, em uma das salas de atendimento do Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada da Unesp, campus de Assis, SP. O contato com os sujeitos foi realizado mediante divulgação da atividade às empresas públicas e de iniciativa privada. Neste ano, doze trabalhadores readaptados após afastamento do trabalho participaram espontaneamente das sessões. Todos possuíam vínculos com instituição pública, atuantes como professores na rede estadual de ensino. Foram realizados seis encontros com duração de duas horas cada um, os quais aconteceram mensalmente, sendo três no primeiro semestre e três no segundo.

Os afastamentos do trabalho de todos foram devido a conflitos com alunos na sala de aula, que evoluíram para algum transtorno mental que gerou a necessidade de readaptação após o retorno ao trabalho. O tempo médio que estão readaptados variou de um mês a treze anos. Nenhum deles trabalha atualmente como professor. Foram readaptados em outras funções administrativas e realizam atividades em secretarias de escolas e Diretoria de Ensino, sala de leitura na biblioteca e cantina. Segundo eles, a readaptação para outros setores foi necessária para não ficarem expostos aos estressores psicossociais, sobretudo os conflitos interpessoais com os alunos.

Resultados

Mediante os discursos tem sido possível identificar e compreender os aspectos da dinâmica enfrentada pelos participantes em seus contextos laborais, bem como suas queixas relativas ao afastamento e retorno ao trabalho.

Vivências do adoecimento e afastamento

No decorrer das sessões, os participantes expuseram sobre os motivos que levaram ao afastamento. Nos relatos, ficou evidenciado que a ocorrência do adoecimento está vinculada às precárias condições e organização do trabalho. As falas sobre as situações vividas que levaram ao adoecimento e afastamento foram sempre acompanhadas de choro e sofrimento. Eis alguns exemplos: “Eu caí na escola, cai e bati a cabeça. Fui agredida por aluno. Então hoje tenho problema psicológico. [...] A partir do tombo eu sinto dor, eu ando torta, eu não tenho mais alegria pra nada”. Neste caso, o sofrimento emerge do reconhecimento das fragilidades e limitações corporais ocasionadas pela agressão.

Outra participante relatou: “Ingressei na escola em 2000 e sofri três ameaças de morte lá por aluno da sétima série, de um traficante e outro usuário de droga. Um aluno tirou a calça, subiu na carteira pra expor sua genitália e quando eu cheguei ele pulou e eu não tive respaldo nenhum. Isso aconteceu logo que eu entrei, no segundo ou terceiro ano que eu estava trabalhando, falaram pra não fazer boletim de ocorrência porque a imagem da escola já era meio ruim”.

Em seu discurso a participante expõe as pressões cotidianas da sala de aula, a violência sofrida e a necessidade de se manter calada diante do fato como forma de preservar a imagem da escola. Mesmo sendo vítima, ela se depara com um processo de privação de seus direitos civis. Não obstante, é útil considerar aqui a omissão institucional perante o fato, o que corrobora para a continuidade e fortalecimento neste contexto laboral do psicoterror, conforme denominado por Leymann (1996) e Piñuel (2002).

Os estigmas cotidianos relativos ao adoecimento também foram verbalizados durante as sessões. Seguem alguns relatos: “Fui diagnosticada com depressão, eu levo a vida com a barriga na verdade, porque eu não sou feliz, e isso é difícil, porque eu não conseguia entrar na sala de aula. E as pessoas olham por fora e acham que eu estou linda, maravilhosa”. Nesta fala, o desgastado estado de saúde torna insustentável sua presença no ambiente de trabalho. Somado a isto ainda precisa enfrentar as observações preconceituosas e hostilização advindas de pessoas de seu convívio.

Outros discursos também revelam a estigmatização sofrida devido ao adoecimento: “Uma médica falou pra mim que eu táva com faniquito quando eu táva com uma crise”. “As pessoas falam que é frescura, que sou nova e não tenho nada”. Estes relatos mostram o quanto são estigmatizados mediante as observações feitas por pessoas, até mesmo profissionais da saúde. Para Goffman (2008), o estigma é um conjunto de atitudes negativas, crenças, pensamentos e comportamentos que influenciam a pessoa ou o público em geral ao medo, à rejeição e à discriminação.

Em relação a como as pessoas as percebem, fica evidenciado que compreendem “[...] que a sociedade tem uma percepção errônea sobre o transtorno mental; que as julgam incapazes de dizer a verdade, perigosas, estranhas ou espertas demais por fazerem valer seus direitos em diversas situações” (Nascimento, Brêda, & Albuquerque, 2015, p. 486). “Compreende-se então, que a dor é uma condição real e invisível aos olhos dos outros e rodeada de complexidades que interferem em especial a vida do doente, mas que depende da compreensão dos outros” (Farias, & Miguel, 2019, p. 305).

As percepções relativas ao adoecimento apresentaram formas singulares de sentimentos. O fato comum é que “[...] a doença surge quando se rompe o equilíbrio e o sofrimento não é mais suportável” (Lancman, Toldrá, & Santos, 2014, p. 108). Seguem exemplos nos discursos: “No início da depressão parece que você está de longe olhando para tudo isso, a escola é distante, a gente sofre com tudo isso e você morre pra vida profissional e pro mundo”. “A partir da agressão, acabou cor, acabou estímulo, quando fiquei em casa só queria dormir e chorar”. “Quando começou a fase difícil tentei suicídio, perdi identidade, vontade de dormir, desânimo, quem sou eu, não sei, fobia, me sentia inútil sozinha, vontade de morrer, depressão não tem cura, mania de perseguição, penso em sumir, tenho pânico de alunos”.

De acordo com Ramos, Tittoni, e Nardi (2008), “[...] a experiência de afastamento do trabalho por adoecimento profissional está marcada social e historicamente pela incapacidade para o trabalho e pela insegurança” (p. 212). Esta experiência também é produtora de angústia: “Estar afastada foi angustiante porque era cama, remédio, sem valor, sem vida, me sentindo morta”. É por meio do conceito psicanalítico de angústia que Dejours (1992) irá pensar a gênese do sofrimento na relação com o trabalho.

Vivências no processo de readaptação

Para alguns, a “[...] ideia de voltar ao contexto de trabalho depois de um afastamento por motivo de saúde, de voltar a experimentar as pressões que o levaram ao seu estado atual, tende a converter-se em algo aterrorizante” (Bernal, 2010, p. 189). Vide o relato: “Depois que retornei senti medo de ter que voltar pra escola”.

Nas atividades grupais, ao se falar sobre as possibilidades de retorno ao mesmo local de trabalho após serem avaliados por médico perito, essas tensões também ficavam visíveis devido a certa insegurança quanto à duração do processo de readaptação. Por sua vez, retornar ao trabalho mediante readaptação é um processo caracterizado para alguns como fonte de sofrimento e para outros como fonte de satisfação/prazer. Estes sentimentos emergem das pressões sentidas pelos sujeitos, tanto no mundo externo (o ambiente em que vivem e as relações que estabelecem, sobretudo no que concerne às relações interpessoais no trabalho) ou no mundo interno (a contradição entre seus desejos e sentimentos e o que lhe é exigido na realidade), ou seja, a luta constante da subjetividade para retornar ao equilíbrio de suas rotinas laborais com as limitações e sequelas decorrentes do adoecimento. Dentre os depoimentos dos participantes, destacaram por vezes alguns fatores que facilitaram ou dificultaram a adaptação ao novo trabalho.

Como aspecto facilitador evidenciou-se o apoio social: “Na readaptação não, eu fui acolhida, reconhecida, foram solidários comigo, fui respeitada, me sinto realizada, comprometida, grata, com fé, sou feliz, sou produtiva, tenho amor e tenho paz”. Para Barrios (1999), ao ter apoio social a pessoa se sente cuidada, amada, querida e estimada, o que favorece a autoestima de cada um, propiciando uma rede social de situações, sentimentos e comportamentos bilaterais.

Em outro discurso, outra participante diz: “Na readaptação eu fui convidada pra ir pra diretoria, de início já falei sim, porque minha experiência com aluno foi muito desgastante. Tive um AVC dentro da escola, depois vieram vários problemas, problemas na família, muito julgamento, gente falando que você é vagabunda, muita crítica da sociedade, e quando me ofereceram este lugar eu já aceitei porque disse que na escola eu sabia que não ia funcionar. Antes de me readaptar nenhum calmante fazia mais efeito, eu não tinha sono, ficava deitada na cama mas não dormia, psiquiatra me passou uma dose de calmante que a farmácia achou estranho porque estava muito alta, eu tomei a medicação e mesmo assim não dormia; depois que fui pra diretoria eu tô dormindo a noite sem calmante”.

O processo de readaptação em si “[...] produz um ‘entre-lugar/não-lugar’, pois existe a ideia de um presente incapaz e de um futuro incerto, que aponta para outra atividade ou para a mesma com restrições” (Ramos, Tittoni, & Nardi, 2008, p. 216). Eis um exemplo: “A escola me colocou na biblioteca, eu ainda me sinto perdida, um vazio, eu não tenho sentimento de pertencimento a esse lugar e eu espero que o futuro me dê um presente”.

Percepções sobre o espaço de grupo

O espaço de grupo tem sido promissor para auxiliar na composição de uma dinâmica saudável dos participantes com suas relações laborais, ajudando-os a ressignificar o sofrimento vivido nestes contextos, como pode ser observado nos relatos que seguem:

“O grupo foi muito bom, por isso pedimos pra continuar esse ano. É aqui que a gente sente liberdade de falar o que está passando, o projeto é nossa saúde, o que está acontecendo com a gente, como a gente está sendo acolhida, porque o readaptado é discriminado, em muitas escolas”. “Essa ferida vai cicatrizar, e esse grupo ajuda”. “Quando os colegas perguntam sobre o grupo eu respondo que é muito bom, é um momento de relaxamento, de terapia para melhorar nossa cabeça. Aí me perguntaram se estavam querendo mudar minha cabeça, se estavam me botando contra a parede, eu disse que não, que lá (no grupo) nós, os doidinhos, nos sentimos em casa.”. “Pude partilhar muitas coisas no grupo e sobretudo, superar várias questões, porque quando a gente se readapta não nos tratam como professor e nesse grupo pude superar isso, não ligo mais pra essa questão”. “A participação no grupo é maravilhosa, um diferencial pra mim poder pensar meu papel como professor, porque o readaptado é um professor, não na sala de aula, mas por meio de outras atividades”. “Vi que o problema não é só meu, tem problemas iguais aos meus, tem gente lutando, a cada dia uma consequência pra se sentir vitorioso, essa é a parte importante, sentir que conseguiu alguma coisa. Voltar pra trás ninguém quer, pensar em suicídio como eu [...]”. “Uma porta abriu, naquele escuro que eu estava estou vendo uma fresta de luz”. “Eu não sei, eu acho que cada um tem um jeito de encarar a vida, eu sei que não dou conta mais de dar aula, mas eu tenho uma visão positiva, sempre procura ter uma visão positiva. Daqui do grupo hoje estou me sentindo mais aliviada, os problemas que foram falados hoje eu vivi e ainda vivo. Estou sentindo que estou sendo ouvida, podemos falar. Eu tenho uma característica que sempre vou expor mesmo, mas eu estou feliz de estar aqui, hoje eu achei que nem ia conseguir estar aqui com problema de crise asmática, mas me tranquilizei e estou até me sentindo bem”. “Pra mim também, é um alívio poder falar e ver que não só sou eu, é um lugar de refúgio”. “A importância de ver que você faz parte do todo, esperança e gratidão de estar aqui”. “Toda vez que venho aqui saio aliviada, porque um ajuda o outro, então a gente sai mais fortalecido, eu acho que a gente não pode falar amém, porque se a gente pensar ‘eu faço isso’, você faz porque você quer, a gente não pode bater de frente, mas se não estiver se sentindo bem tem que chegar e falar de uma maneira sem bater de frente”. “Eu sempre saio muito feliz, o grupo me faz muito bem, é uma forma de exercitar a empatia”. “Pude partilhar muitas coisas no grupo e sobretudo, superar várias questões, porque quando a gente se readapta não nos tratam como professor e nesse grupo pude superar isso, não ligo mais pra essa questão”. “A participação no grupo é maravilhosa, um diferencial pra mim poder pensar meu papel como professor, porque o readaptado é um professor, não na sala de aula, mas por meio de outras atividades”. “Isso aqui é uma porta que se abriu pra nós e não deve ser nunca fechada”.

Os discursos que descrevem as experiências destes participantes no grupo confirmam que a readaptação profissional “[...] é um processo complexo, que compromete a vida das pessoas. Portanto, faz-se necessário compreender o sentido do afastamento do trabalho levando-se em conta os efeitos do processo de ruptura sofrido pelo trabalhador” (Arbex, Souza, & Mendonça, 2013, p. 268).

O grupo criado na proposta da Clínica do Trabalho na vertente dejouriana tem se revelado um espaço promissor para diminuir, nos trabalhadores readaptados, a sensação de desamparo e solidão, bem como para o acolhimento de suas fragilidades e ressignificação deles com o trabalho.

Constitui-se também num contexto propício para fortalecer, nestes trabalhadores, enfrentamentos necessários, no tocante às relações destes com as novas atribuições que lhes são delegadas, na condição de readaptados, bem como possibilita externalizar suas posições, suas dores e estigmas de “doente” ou “incapaz”, frequentemente vivenciadas no ambiente laboral.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 15 de Novembro de 2019

Aceite em 29 de Janeiro de 2020

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