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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283

Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.16 Coimbra mar. 2018

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Kelly Graziani Giacchero Vedana*

* Enfermeira. Professora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: kellygiacchero@eerp.usp.br Avenida dos Bandeirantes, 3900. Monte Alegre. Ribeirão Preto, SP. Brasil. CEP: 14.040- 902. Tel: +55 (16) 33153408.

 

Iniciativas estratégicas para a prevenção dos comportamentos suicidários em idosos

A prevenção de comportamentos suicidários é considerada pela Organização Mundial da Saúde uma das prioridades mundiais em políticas de saúde. Todavia, na prática, ainda é necessário maior investimento em iniciativas de prevenção dos comportamentos suicidários. O suicídio encontra-se entre as 10 maiores causas de morte da população em geral e estima-se que, a cada 40 segundos, ocorra um óbito por suicídio no mundo (World Health Organization [WHO], 2014).

Os comportamentos suicidários abrangem um conjunto amplo de comportamentos com variados graus de risco de letalidade. Podem envolver os pensamentos de morte, ideação suicida, planeamento, a tentativa de suicídio e o óbito por suicídio. Frequentemente, esses comportamentos representam um pedido por socorro, ainda que nem sempre seja claramente consciente, nitidamente expresso, reconhecido ou acolhido (Vedana, Alves, Almeida, Moraes, & Di Donato, 2017; WHO, 2014).

Em diferentes contextos no mundo, houve elevação da expectativa de vida e aumento da população idosa, nem sempre acompanhados por iniciativas suficientemente impactantes relacionadas com a atenção à saúde mental do idoso ou para a promoção do envelhecimento saudável e com qualidade de vida. Nesse contexto, são necessárias pesquisas e planos de ação voltados para o cuidado integral ao idoso que incluam a prevenção dos comportamentos suicidários entre os seus objetivos (Lutz & Fiske, 2018; WHO, 2014).

O suicídio entre idosos é um problema particularmente importante, pois as taxas de suicídio em idosos são elevadas, esse grupo etário parece ter maior risco de suicídio e ter tentativas de suicídio com maior letalidade do que outros grupos etários (Lutz & Fiske, 2018).

Diversos fatores de risco estão relacionados com o comportamento suicida entre idosos, entre eles, é possível destacar a presença de transtornos mentais, doenças físicas, comprometimento funcional e perda de autonomia, falta de adaptação às mudanças, stressores, múltiplas perdas, desesperança, o sofrimento emocional insuportável, rigidez de personalidade, estilos cognitivos mal adaptativos (depreciação, culpa, negativismo), impossibilidade de exercer controle sobre aspetos importantes da vida, resposta ao stresse exacerbada, comportamentos de risco, solidão, isolamento social e suporte social insatisfatório (Conwell, Van Orden, & Caine, 2011; Fiske & O'Riley, 2016).

A maioria dos óbitos por suicídio é considerada evitável (WHO, 2014), mas ainda existem importantes desafios relacionados com a prevenção do suicídio entre idosos que requerem pesquisas, políticas públicas e intervenções efetivas, acessíveis e sustentáveis para serem superados. Serão apresentadas a seguir algumas considerações relevantes sobre aspetos que podem ser estratégicos em iniciativas desenvolvidas pela enfermagem na prevenção do comportamento suicida em diferentes contextos assistenciais.

Um desafio importante a ser considerado na prevenção é o suicídio entre idosos do sexo masculino. O suicídio geralmente é mais frequente entre homens do que mulheres e essa diferença tende a ser mais proeminente entre idosos. Homens idosos também parecem menos propensos a procurar ajuda para problemas emocionais e os programas preventivos, na sua maioria, são mais eficientes para as mulheres. Estes dados destacam a importância de planear cuidados em saúde que estejam adaptados às diferentes necessidades relacionadas com cada género (Conwell et al., 2011; Lapierre et al., 2011).

As demandas em saúde mental entre idosos parecem não ser ainda suficientemente identificadas e atendidas de forma eficaz na prática clínica, o que pode estar relacionado com particularidades na manifestação e interpretação dos sintomas nessa população, presença de comorbidades, estigma, falta de procura por ajuda, e barreiras relacionadas com a qualidade da avaliação ou intervenção clínica (Lapierre et al., 2011). Neste contexto, destaca-se a importância de intervenções relacionadas com a formação dos profissionais de diferentes contextos clínicos, educação pública em saúde mental, construção de vínculo terapêutico e acompanhamento proativo, articulação de profissionais com os mass media e outros setores sociais para a prevenção do suicídio (Lapierre et al., 2011; WHO, 2014).

Existe ainda a necessidade de maior aprofundamento no conhecimento e manejo de comportamentos de autodestruição indireta geralmente não classificados como tentativas de suicídio, mas que podem resultar em danos importantes, incluindo o risco de óbitos (Conwell, 2015).

A promoção da saúde integral e a prevenção ou redução do comprometimento funcional ou perda de autonomia funcional são aspetos que merecem especial atenção (Lutz & Fiske, 2018). Os enfermeiros que atuam no cuidado aos idosos podem desenvolver iniciativas criativas, personalizadas, com planeamento adaptado continuamente e metas atingíveis para a superação ou adaptação gradual a tais situações.

Existem ainda fatores de proteção contra os comportamentos suicidários que podem ser abordados por meio de iniciativas abrangentes, acessíveis e sustentáveis. Os enfermeiros podem elaborar e apoiar um amplo repertório de iniciativas comunitárias que promovam a integração dos idosos, o envelhecimento saudável, sensação de pertença, apoio mútuo, desempenho de novos papéis, abertura a novas experiências, esperança, adaptação à aposentadoria e a qualidade de vida entre idosos, aspetos que se constituem como fatores de proteção contra o comportamento suicida (Lapierre et al., 2011).

A manifestação dos comportamentos suicidários pode representar um momento crítico marcado pela fragilidade e instabilidade do cliente. A enfermagem pode implementar iniciativas baseada em evidências, humanizadas e eficazes que podem ser cruciais para pessoas em situação de vulnerabilidade (Vedana et al., 2017).

Destaca-se ainda a importância do engajamento da enfermagem no desenvolvimento e divulgação de pesquisas com elevado rigor metodológico relacionadas com as intervenções para a redução do comportamento suicida, pois há, ainda, uma falta de evidências, suficientemente sólidas, para nortear práticas e políticas relacionadas com a prevenção, realmente capazes de contribuir para a redução do comportamento suicida (Robinson & Pirkis, 2014).

As iniciativas desenvolvidas pela enfermagem na prevenção dos comportamentos suicidários entre idosos podem ser estratégicas para a redução do comportamento suicida, bem como para o alcance de diversos objetivos relacionados com a promoção da vida, com a qualidade, plenitude, dignidade e sentido.

 

Referências bibliográficas

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Vedana, K. G., Alves, A. C., Almeida, A. S., Moraes, S. M., & Di Donato, G. (2017). O cuidado de enfermagem relacionado ao comportamento suicida. In L. A. Silva & I. Santos (Orgs.), Cuidar em enfermagem e saúde mental (Vol. 4). Curitiba, Brasil: Appris.         [ Links ]

World Health Organization (WHO). (2014). Preventing suicide: A global imperative, 92. http://doi.org/10.1002/9780470774120        [ Links ]

Strategic initiatives for preventing suicidal behaviors in older people

According to the World Health Organization, the prevention of suicidal behaviors is a top priority area in health policies worldwide. However, in practice, it is still necessary to invest in initiatives for the prevention of suicidal behaviors. Suicide is among the 10 leading causes of death in the general population and it is estimated that one person dies by suicide every 40 seconds (World Health Organization [WHO], 2014).

Suicidal behaviors cover a wide range of behaviors with different levels of severity. They may involve thoughts of death, suicidal ideation, suicide plans, suicide attempts, and death by suicide. These behaviors are often a call for help, even if not in a conscious or clearly identified way (Vedana, Alves, Almeida, Moraes, & Di Donato, 2017; WHO, 2014).

Despite the worldwide increase in life expectancy and the elderly population, there are not enough initiatives aimed at improving older people's mental health or promoting healthy aging and quality of life. Therefore, more research studies and action plans should be developed to target older people's health in general, and the prevention of suicidal behaviors in particular (Lutz & Fiske, 2018; WHO, 2014).

Suicide is a critical problem among older adults, as can be seen in the high suicide rates among this age group. Older people seem to be at greater risk for suicide and more lethal attempts than other age groups (Lutz & Fiske, 2018).

Several risk factors are associated with suicidal behaviors among older adults, namely mental and physical illness, functional impairment and loss of autonomy, inability to adapt to changes, stressors, multiple losses, feelings of despair, unbearable emotional suffering, rigid personality traits, maladaptive behaviors (depreciation, guilt, negativism), lack of control over important life aspects, inadequate response to stressful events, risk behaviors, loneliness, social isolation, and low social support (Conwell, Van Orden, & Caine, 2011; Fiske & O'Riley, 2016).

Many deaths by suicide are preventable (WHO, 2014). However, further research studies, public policies, and effective, accessible, and sustainable interventions should be implemented to allow overcoming important challenges that still exist in suicide prevention among older people. Below are some significant considerations about potentially strategic nursing initiatives for the prevention of suicidal behaviors in multiple healthcare settings.

An important challenge in prevention is the prevalence of suicide among male older adults. Suicidal behaviors are more common in men than in women, even more so among the elderly. In addition, male older adults tend to seek help for emotional problems less often and most of the prevention programs are more effective in women. These data put into evidence the importance of designing health care plans adapted to the needs of each gender (Conwell et al., 2011; Lapierre et al., 2011).

Older adults' mental health-related needs are still understudied and ineffectively managed in clinical practice, a fact that may be associated with the specificities in symptom manifestation and interpretation in this population, the presence of comorbidities, stigma, the lack of health-seeking behaviors, and the barriers related to a quality clinical assessment and intervention (Lapierre et al., 2011). In this context, important interventions for suicide prevention include the training of professionals from several clinical settings, mental health education in public services, the development of a therapeutic alliance and proactive follow-up, and the collaboration between healthcare professionals and the media and other social sectors (Lapierre et al., 2011; WHO, 2014).

There is also a need to improve the knowledge and management of indirect self-harm behaviors, which are not typically classified as suicidal, but may cause significant harm and even death (Conwell, 2015).

The promotion of health and the prevention or reduction of functional impairment or loss of functional autonomy requires special attention (Lutz & Fiske, 2018). Nurses caring for older people should constantly plan creative, individualized, and adjustable initiatives with achievable targets aimed at overcoming or gradually adapting to those situations.

There are also protective factors against suicidal behaviors that can be addressed through broad, accessible, and sustainable initiatives. Nurses should design and support a wide range of community initiatives aimed at promoting older people's integration, healthy ageing, sense of belonging, mutual support, performance of new roles, openness to new experiences, feelings of hope, adaptation to retirement, and quality of life, which are protective factors against suicidal behaviors (Lapierre et al., 2011).

Suicidal behaviors can emerge in a particular moment of frailty and instability. Therefore, the implementation of evidence-based, humanized, and effective nursing interventions can be essential when people are in a more vulnerable situation (Vedana et al., 2017).

It is also important to involve nurses in the development and dissemination of studies with high methodological rigor. These studies should focus on initiatives aimed at reducing suicidal behaviors, thus building strong evidence to inform the development of preventive practices and policies (Robinson & Pirkis, 2014).

The implementation of strategic nursing initiatives aimed at the prevention of suicidal behaviors among older people can contribute to the reduction of suicidal behaviors and the achievement of multiple objectives related to the promotion of life in all its fullness, with quality, dignity, and meaning.

 

References

Conwell, Y. (2015). Challenges to preventing suicide in later life. Ciência & Saúde Coletiva, 20(6), 1652–1653. doi: 10.1590/1413-81232015206.19962015

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