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Sociologia, Problemas e Práticas

versão impressa ISSN 0873-6529

Sociologia, Problemas e Práticas  no.81 Lisboa jun. 2016

https://doi.org/10.7458/SPP2016817617 

ARTIGO ORIGINAL

 

O regresso dos exames do 4.º ano: escola, crianças e dinâmicas familiares na blogosfera

The return of year-4 exams: school, children and family dynamics in the blogosphere

Le retour des examens de fin d’études primaires : école, enfants et dynamiques familiales dans la blogosphère

El regreso de los exámenes de cuarto año de primaria: escuela, niños y dinámicas familiares en la blogosfera

 

Benedita Portugal e Melo*, Ana Matias Diogo**, Manuela Ferreira***

* Professora auxiliar, Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Alameda da Universidade, 1649-004 Lisboa. Portugal. E-mail: mbmelo@ie.ulisboa.pt

** Professora auxiliar, Universidade dos Açores. Campus de Ponta Delgada, Apartado 1422, 9501-801 Ponta Delgada, Açores, Portugal. E-mail: ana.is.diogo@uac.pt

*** Professora associada, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto. Portugal. E-mail: manuela@fpce.up.pt

 

RESUMO

Este texto analisa os discursos que circularam na blogosfera, de 2012 a 2015, a propósito dos exames do 4.º ano de escolaridade, com o objetivo de compreender as conceções de escola e de criança ali difundidas e desvendar as dinâmicas familiares que tendem a ser realizadas na sequência desta medida política. Os dados apresentados resultam da análise de conteúdo de 159 posts publicados em 50 blogues. As nossas conclusões salientam a emergência de uma “parentocracia”, liderada pelas mães, exercida em processos de escolarização cada vez mais precoces, sujeita a tensões e sustentada em conceções compósitas da criança enquanto ator educativo.

Palavras-chave exames nacionais do 4.º ano, crianças, dinâmicas familiares.

 

ABSTRACT

This text looks at the discourses on year-4 school exams that circulated in the blogosphere in 2012-2015. Its goal is to understand the concepts of school and child within those discourses and to uncover the family dynamics that are tending to occur in the wake of the political decision to bring back those exams. The presented data are derived from an analysis of 159 posts published in 50 blogs. The authors’ conclusions point to the emergence of a “parentocracy” that is led by mothers, is exercised in schooling / school attendance processes that are taking place ever earlier in children’s lives, is subject to tensions and is underpinned by composite concepts of the child as an educational actor.

Keywords national year-4 exams, children, family dynamics.

 

RÉSUMÉ

Ce texte analyse les discours qui ont circulé dans la blogosphère, de 2012 à 2015, à propos des examens de fin d’études primaires, afin de comprendre les conceptions d’école et d’enfant qui y étaient diffusées et de déceler les dynamiques familiales qui se sont formées à la suite de cette mesure politique. Les données présentées résultent de l’analyse de contenu de 159 billets publiés dans 50 blogs. Nos conclusions soulignent l’émergence d’une “parentocratie”, dirigée par les mères, exercée dans des processus de scolarisation de plus en plus précoces, soumise à des tensions et fondée sur des conceptions composites de l’enfant en tant qu’acteur éducatif.

Mots-clés examens nationaux de fin d’études primaires, enfants, dynamiques familiales.

 

RESUMEN

Este texto analiza los discursos que circularon en la blogosfera, de 2012 a 2015, relacionados con los exámenes de cuarto año de escolaridad primaria, con el objetivo de comprender el concepto de escuela y niñez ahí difundidas y revelar las dinámicas familiares que tienden a ser realizadas en la secuencia de esta medida política. Los datos presentados resultan del análisis del contenido de 159 posts publicados en 50 blogs. Nuestras conclusiones destacan la emergencia de una “parentocracia”, liderada por las madres, ejercida en procesos de escolarización cada vez más precoces, sujeta a tensiones y sustentada en conceptos compuestos del niño como actor educativo.

Palabras-clave exámenes nacionales de cuarto año de primaria, niños, dinámicas familiares.

 

Exames do 4.º ano na blogosfera: introdução a um campo de pesquisa

No ano letivo de 2012/2013 Portugal reintroduziu os exames nacionais no 4.º ano de escolaridade (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho; Despacho Normativo n.º 24-A/2012), 39 anos depois de estes terem sido extintos no sistema educativo português.

Agora presentes nas rotinas dos atores escolares de todos os níveis de ensino, os exames alimentam, por um lado, a indústria dos média tradicionais, através da fabricação anual dos rankings de escolas e, por outro, um conjunto crescente de serviços comerciais que anunciam nos novos média explicações, técnicas de treino, enunciados, resoluções e horas de apoio para preparar os alunos para estas provas (Neto-Mendes, 2014).

Entendidos por muitos estados da Europa como relevantes instrumentos “de medição e controlo da qualidade do ensino e de planeamento dos sistemas educativos” (Eurydice, 2010), a reintrodução dos exames numa fase de escolarização tão precoce em Portugal terá certamente contribuído para a difusão da ideologia da competição e do empreendedorismo em voga, dando corpo aos objetivos políticos de rigor, exigência e excelência no sistema educativo nacional, amplamente proclamados pelo ministro da Educação, Nuno Crato, mas já enunciados por anteriores governos, desde que a qualidade na educação entrou na agenda política europeia em meados dos anos 90 (Afonso, 1998; Antunes, 2001; Magalhães e Stoer, 2002; Teodoro, 2001). Parecendo justificar-se por possibilitar a comparação internacional de resultados neste nível de ensino, constata-se que Portugal é, afinal, um dos poucos países europeus onde existem exames nacionais no 4.º ano, tornando-se, por isso, particularmente relevante analisar o impacto desta medida.

Se há já um conjunto de pesquisas que têm estudado os efeitos da implementação dos exames nas práticas letivas dos professores do ensino secundário (Martins, 2011; Neves, Pereira e Nata, 2014), nas estratégias familiares de investimento no sucesso escolar dos filhos (Van Zanten, 1996; Antunes e Sá, 2010) e no relacionamento dos jovens com a escola (Torres, 2014; Palhares, 2014), nada se sabe acerca das consequências da introdução dos exames no quotidiano dos docentes, das famílias e das crianças do 1.º ciclo. Este nível de ensino tem sido, aliás, bastante descurado do ponto de vista científico e, no entanto, é nele que se começam a construir as desigualdades escolares e os percursos de insucesso e abandono escolar (Justino et al., 2014).

As consequências desta medida política no percurso escolar das crianças não são, portanto, ainda conhecidas cientificamente, mas isso não inviabilizou que fosse alvo de um forte debate público e contestação nos média, à semelhança do que sucedeu no início da década de 2000, após a realização do primeiro ranking de escolas baseado nas classificações dos exames nacionais do 12.º ano de escolaridade (Melo, 2005). Todavia, do ponto de vista da expressão de opinião mediatizada, a contenda sobre os exames do 4.º ano apresenta como característica inovadora o facto de se ter expandido aos novos média (ao invés do ocorrido no início da década de 2000) e ter vindo a ser alimentada nas redes sociais e na blogosfera desde 2012.

Pressupondo que os exames nacionais no 4.º ano de escolaridade poderão ter introduzido no 1.º ciclo fenómenos idênticos aos ocorridos no ensino secundário, ao nível dos processos de ensino-aprendizagem, provocando efeitos significativos em termos das desigualdades de escolarização, desenvolvemos uma pesquisa com o objetivo de analisar o impacto da introdução dos exames nacionais no 4.º ano de escolaridade nas dinâmicas familiares, a partir dos discursos dos agentes sociais que participaram na blogosfera.1

A recolha de dados incidiu nos novos média e circunscreveu-se à blogosfera, por reconhecermos: (a) os limites da produção de opinião nos média tradicionais relativamente a uma participação social democratizada do ponto de vista sociodemográfico e cultural (Melo, 2005, 2009); (b) as desvantagens das técnicas de investigação clássicas, concretamente das entrevistas, na obtenção de opiniões isentas de filtros sociais e cognitivos que deem conta das atitudes efetivamente desenvolvidas pelos atores sociais (Bourdieu, 1993; Kaufmann, 1996). Na blogosfera, a expressão de opinião individual e coletiva não se encontra ainda sujeita a muitas das lógicas organizacionais e rotinas de produção noticiosa que caracterizam os média tradicionais (Wolf, 1995; Saperas, 1993). Assim, a análise de blogues poderia permitir a captação de registos discursivos mais livres e espontâneos, dificilmente expressos em contextos de difusão de opinião muito regulamentados ou em contextos mais formais, como o das entrevistas realizadas no âmbito de investigações científicas. Campo mediático ainda pouco explorado pela Sociologia, a análise da blogosfera apresentaria, em suma, como vantagem a possibilidade de captarmos um leque mais alargado de opiniões e descrições mais fidedignas das subjetividades e das práticas educativas dos atores sociais relativamente aos exames do 4.º ano, expressas por intervenientes muito diferenciados em termos socioculturais e demográficos.

Partindo destes pressupostos, este estudo procurou compreender as conceções de escola e de crianças veiculadas na blogosfera, a propósito dos exames do 4.º ano, e desvendar as dinâmicas familiares que tenderão a ser realizadas em consequência daquela medida.

A pesquisa empírica desenvolvida, limitada a páginas de Portugal escritas em português, abrangeu os motores de busca Google, Yahoo e Bing e os portais de informação Sapo e Clix. As expressões utilizadas foram “exames nacionais do 4.º ano”, “exames nacionais do 4.º ano blogs” e “provas finais do 4.º ano”. Recolheram-se 159 posts, publicados entre 26 de março de 2012 e 10 de maio de 2015, em 50 blogues. A fim de procedermos à caracterização geral do perfil sociográfico de todos os blogers que participaram no debate sobre os exames do 4.º ano, começámos por realizar uma análise de conteúdo exploratória, de caráter quantitativo e qualitativo, aos 50 blogues (veja-se o ponto seguinte). Pretendíamos, seguidamente, proceder a uma análise qualitativa mais fina dos conteúdos dos posts publicados naqueles blogues. Porém, o elevado volume de informação aliado ao facto de o campo de análise ter uma natureza muito dinâmica e em permanente construção — mesmo após maio de 2015 continuavam a surgir posts sobre os exames já realizados no corpus de blogues identificado, bem como novos comentários aos posts anteriores — levaram-nos a optar por centrar e aprofundar a análise de conteúdo qualitativa numa amostra estabilizada de posts, sendo esta composta por todos os publicados apenas entre 2012 e 2014 (111 posts em 37 blogues).

Será, assim, com base na análise de conteúdo detalhada a 111 posts que procuraremos depois responder às questões: (i) quais os posicionamentos dos blogers relativamente à existência destes exames?; (ii) que conceções de escola, crianças e educação familiar revelaram na sua argumentação?; (iii) que tipo de efeitos nas práticas educativas é possível vislumbrar-se através dos seus registos discursivos?

 

Universo dos blogues: radiografia sociográfica

Quem participa na blogosfera?

Um olhar radiográfico sobre o universo dos blogers que se dedicaram à questão dos exames do 4.º ano permitiu-nos identificar algumas das suas características — sexo, origem geográfica e estatuto socioprofissional — e mapear os principais temas sobre os quais escrevem regularmente.

A distribuição por sexo poderia levar-nos a pensar que o mundo da blogosfera se encontra relativamente dominado pelas mulheres, já que 24 pertencem ao sexo feminino, 20 ao masculino e 6 são mistos (assinados por ambos os sexos) (quadro 1). Todavia, se há mais blogues femininos nos quais se reflete sobre os exames do 4.º ano, são os homens que escrevem mais regularmente sobre o tema e se encarregam de o manter na agenda da blogosfera: dos 159 posts publicados nestes blogues entre 26 de março de 2012 (primeiro post encontrado na pesquisa sobre os exames do 4.º ano) e 10 de maio de 2015 (data em que terminámos a primeira etapa da pesquisa empírica), 104 foram escritos por homens e 55 por mulheres.

 

 

Nesta radiografia sociográfica dos blogers salienta-se o peso de autores localizados na área metropolitana de Lisboa e o facto de a maioria serem professores. E se estes lecionam em vários níveis de ensino, não deixa de ser muito curioso constatar a reduzida participação dos docentes do 1.º ciclo do ensino básico, afinal os principais afetados pelos exames do 4.º ano, em comparação com os dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, secundário e superior.

Os restantes blogers, na sua generalidade mulheres, também exercem atividades bastante qualificadas do ponto de vista intelectual e científico (deputadas, jornalistas, psicólogas), sendo muito pouco expressivo o número dos que estão integrados nas profissões semiqualificadas (assistentes administrativas e empresárias em nome individual com o 12.º ano).

Concluímos, assim, que a diversidade sociodemográfica e cultural dos participantes no debate produzido na blogosfera a propósito dos exames do 4.º ano de escolaridade é bem menor do que havíamos pensado. Tal como os opinion makers dos média tradicionais, também estes blogers são indivíduos pertencentes às classes médias urbanas qualificadas, não sendo, portanto, representativos da população portuguesa, nem concretamente dos principais atores educativos alvo deste estudo: professores do 1.º ciclo do ensino básico, famílias e crianças. Neste sentido, chamamos a atenção para o facto de os resultados deste estudo não poderem ser generalizados à população portuguesa, devendo antes ser entendidos como o produto de um estudo de caso realizado junto de um grupo social bastante circunscrito: blogers muito escolarizados, com um estatuto socioeconómico elevado.

Se as posições sociais dos blogers e dos jornalistas da imprensa de referência são semelhantes, já as temáticas que ocupam os primeiros são bastante mais abrangentes do que as agendadas nos média impressos. Além dos temas da atualidade analisados, i.e., os do domínio da “política, economia, educação, cultura e sociedade”, e dos blogers que se dedicam exclusivamente às questões da “educação” respetivamente em 18 e 4 blogues —, encontrámos outros assuntos que não costumam integrar a agenda dos opinion makers “tradicionais”, sendo estes respeitantes aos temas do “quotidiano, família e maternidade/paternidade” (quadro 2). O destaque que lhes é atribuído por muitos blogers é, inclusivamente, superior aos anteriores, já que ocupam totalmente o conteúdo de 18 blogues e estão presentes noutros 10.

 

 

Estes últimos, para além de fornecerem orientações do domínio da “psicologia e da educação especial”, também escrevem sobre o “quotidiano, a família e a maternidade” ou associam a estas questões análises sobre “educação, política e sociedade”. Regista-se, pois, a presença de um conjunto de temas, conotados habitualmente com “interesses femininos”, que antecipam a importância das vozes das mulheres na blogosfera.

Contornos de um debate marcado pelo género

O cruzamento das variáveis sexo, estatuto socioprofissional, proveniência geográfica e temáticas analisadas nos blogues, através de uma análise ACM (análise de correspondências múltiplas — figura 1), permitiu-nos identificar três perfis distintos de blogues e confirmar a importância das blogers femininas neste universo. Identificámos, assim, um perfil composto por blogues masculinos, escritos por professores de vários níveis de ensino (excetuando o 1.º ciclo), dedicados aos temas “educação, política, sociedade, economia e cultura”; um segundo perfil integrado por blogues femininos, cujas autoras sobre as quais conseguimos obter informações pertencem ao grupo dos outros profissionais intelectuais e científicos e ao grupo do pessoal semiqualificado, que privilegiam temas do “quotidiano, família, maternidade/paternidade”e temas da “psicologia e educação especial”; e um terceiro perfil onde se incluem os blogues de professores do 1.º ciclo que se ocupam exclusivamente da temática “educação”.

 

 

Não obstante as vantagens da ACM na identificação dos três perfis anteriores, a análise qualitativa exploratória dos conteúdos dos 50 blogues possibilitou-nos, ainda, definir um quarto perfil, onde se encontram blogues maioritariamente femininos, assinados por professoras dos diferentes níveis de ensino ou mulheres que desempenham outras profissões intelectuais e científicas, que escrevem sobre temas do “quotidiano, família e educação” e simultaneamente sobre “política e sociedade”.

No cruzamento da ACM com a análise de conteúdo qualitativa é possível constatar que as mulheres têm mais blogues do que os homens, dedicam-se essencialmente às questões do “quotidiano, família, maternidade/paternidade” (i.e., aos cuidados de beleza, culinária, moda, assuntos domésticos, articulação família-atividade profissional e bem-estar dos filhos) e nunca escrevem exclusivamente centradas nos temas da “educação, política, sociedade e cultura”. Quando se referem a estas últimas temáticas, relacionam-nas invariavelmente com as suas preocupações pessoais sobre o seu dia a dia e/ou o da sua família.

Por seu lado, os autores masculinos focam-se somente em temas alusivos à educação e/ou de índole política, económica, cultural ou social. Só encontramos dois homens que escrevem a propósito do seu quotidiano e/ou da sua família, abordando questões alusivas à parentalidade, mas a sua participação inscreve-se em blogues mistos de natureza familiar, ou seja, em blogues do casal e da autoria de ambos os cônjuges.

Mais informados relativamente às novidades legislativas aplicadas ao sistema educativo, por serem, na sua esmagadora maioria, professores, e por se revelarem atentos participantes em discussões políticas sobre a atualidade, compreende-se, por outro lado, que quem tenha lançado o debate sobre a existência de exames no 4.º ano tenham sido precisamente os blogers do perfil 1 — durante o ano de 2012 apenas surgiram posts com reações à notícia “vão ser introduzidos exames no 4.º ano” em blogues do perfil 1 (excetuando um blogue do perfil 4), tendo alguns reagido somente naquele ano.

Igualmente digna de nota é a constatação de alguns blogers do perfil 2, mulheres que escrevem essencialmente a partir da sua condição social de mães, só se terem manifestado sobre o tema dos exames quando os seus filhos atingiram o 4.º ano de escolaridade e foram diretamente afetados por eles. Justamente por isso, na amostra de blogues publicados entre 2012 e 2014 desaparecem essencialmente blogues do perfil 2 (quadro 3). De resto, nos restantes perfis não se verificam diferenças significativas.

 

 

A genderização do debate

Tons, formas e conteúdos

Na análise de conteúdo da amostra de 37 blogues e 111 posts encontramos as oposições de género anteriormente assinaladas e aprofundamos a sua substância. Enquanto os homens se identificam através do seu estatuto socioprofissional e raramente revelam a sua condição de pais, as mulheres apresentam-se, em primeiro lugar, como mães, só depois descrevendo a sua profissão, sendo muitas as que não o fazem sequer.

Os autores masculinos revelam-se bastante distanciados e resguardados relativamente ao seu quotidiano, à sua esfera pessoal e à sua intimidade. As suas apreciações, de caráter generalista e abstrato, prendem-se com o sistema político, as medidas educativas, os calendários letivos, o estado da educação em geral. Raramente relatam experiências concretas como docentes e praticamente não mencionam as vivências dos alunos. Já nas mulheres, as expressões das suas preocupações com os exames, diretamente ligadas à experiência da maternidade, têm mais a ver com o bem ou mal-estar que provocam nos filhos e os seus efeitos em termos de sucessos educativos individuais do que com a qualidade do sistema educativo ou a justiça escolar. Nas mulheres, a escolarização aparece, pois, como um elemento relativo à educação dos filhos e não como um tema genérico sobre o qual valerá a pena refletir em abstrato; nos homens sucede o inverso.

A exceção corresponde aos blogues assinados por professores do 4.º ano de escolaridade (perfil 3), em que estes parecem revelar uma forma de exercer a profissão com forte pendor paternalista. Os seus posts, de conteúdo muito mais afetivo do que analítico — “boa sorte”, “o enunciado do exame de português não era muito difícil”; “os alunos estavam tão nervosos mas não havia razão para isso”; “correu bem” — parecem aproximar-se mais dos blogues do perfil 2 do que dos blogues do perfil 1.

O tom em que os posts são escritos varia, mas a diversidade é maior entre os homens do que nas mulheres. Pretendendo sobretudo prestar informações que consideram ser do interesse público ou realizar uma análise das políticas educativas, alguns blogers masculinos escrevem num tom moderado, apresentando uma perspetiva muito racional, baseada numa argumentação relativamente complexa:

Algumas notas telegráficas sobre o resultado dos exames do 4.º e do 6.º ano. (…). Um dos grandes problemas que, do meu ponto de vista, aflige a educação em Portugal é a captura dos interesses gerais pelos interesses da “partidocracia”, isto é, a educação é um território privilegiado da gestão político-partidária. Neste contexto, os exames desempenham um papel importante nesta gestão através da “modulação”, por assim dizer, da sua dificuldade, levando a que (…). Este entendimento minimiza o impacto das análises comparativas. (…) Veja-se ainda a interessante perspetiva da Associação de Professores de Matemática sobre a existência dos próprios exames (…). No entanto, é possível atentar em algumas tendências. (…) Importa, evidentemente, proceder a uma análise mais fina deste conjunto de resultados mas creio que vale a pena considerar o efeito de alguns fatores (…). (Perfil 1/blogue 4, post 12)

Outros blogers elaboram registos muito críticos num tom mais inflamado ou irónico:

Os últimos estudos que indicam a exaustão dos professores portugueses (…) referem a maior debilidade em quem leciona no primeiro ciclo (…). O atual ministro da Educação propõe antecipar os exames do 4.º ano e prolongar em mais quatro semanas as aulas para os alunos com mais dificuldades, acompanhando assim o desmiolo dos prolongamentos nos CEF´s, (…) e as reposições de aulas (…), mais ou menos estapafúrdias que tentam limpar as consciências dos maus burocratas do MEC e das suas ramificações. Mas será que Nuno Crato pôs alguma vez os pés numa escola (sem ser em registo VIP, claro) ou que pelo menos lê o que se vai estudando sobre a exaustão de alunos e professores? (…) (Perfil 1/blogue 8, post 2)

As mulheres, concentradas essencialmente nos seus problemas de índole pessoal ou familiar, apresentam uma argumentação sentimental e expressam-se num tom intimista, em jeito de confidência ou desabafo:

E é hoje!!! É hoje o tão ansiado dia por todos os pais e algumas (espero que poucas) crianças de 9/10 anos e seus professores! (…) Pois eu sou uma mãe de uma criança de 9 anos que hoje também faz o exame de Português do 4.º ano… Não estou nervosa, ou melhor, sinto uma borboleta na barriga por senti-la (à minha filha) crescida, só isso! (…) Não há motivos para nervosismo!!! Apenas que a minha filha pequenina está a ficar grande, e isso é bom!!!! Tenham um bom dia de exame do 4.º ano, pais! E façam uma meditação! (Perfil 2/blogue 21, post 1)

Estou que nem posso! A minha filha mais velha recebeu hoje as notas dos Exames Finais do 4.º ano de Português e Matemática e teve 5 a cada uma das disciplinas! Este é o resultado de muito trabalho pois começou o ano com um suficiente. Por agora tenho um sorriso de orelha a orelha e vou ficar a digerir esta felicidade! (Perfil 2/blogue 30, post 3)

Assim, enquanto os blogues das mulheres se assemelham bastante a diários pessoais, tanto no conteúdo como na forma — grafismo — os blogues masculinos apresentam um aspeto mais sóbrio e um registo próximo dos editorais, crónicas ou artigos de opinião da imprensa de referência.

A proximidade dos blogues masculinos à imprensa “nobre” é também visível no facto de muitos posts comentarem entrevistas políticas previamente apresentadas na televisão, ou notícias e acontecimentos divulgados em jornais de referência. Neste sentido, poderemos afirmar que os circuitos de reflexividade produzidos pelos homens a propósito dos exames do 4.º ano de escolaridade se encontram agora alargados à blogosfera, é certo, mas parecem ser construídos em termos equivalentes aos discursos publicados na imprensa de referência (Melo, 2009).

Mesmo circunscrita a um conjunto de indivíduos pertencentes às classes médias urbanas altamente escolarizadas, é possível concluir que a blogosfera abrange um leque mais diversificado de intervenientes do que os média tradicionais, sublinhando-se a presença de outros agentes educativos habitualmente excluídos dos debates públicos sobre educação: os pais e, muito visivelmente, as mães.

Protagonistas de um debate essencialmente genderizado (temáticas, conteúdos, tom e grafismo) e dicotomizado a propósito das vantagens e desvantagens dos exames nacionais do 4.º ano, as mulheres/mães revelam-se como novas “criadoras culturais”. Expressando de forma criativa as suas emoções e pensamentos, alimentaram a construção de novas formas de sociabilidade feminina e contribuíram para que o debate sobre os exames tenha adquirido contornos inusitadamente intimistas.

Deste ponto de vista, a blogosfera parece constituir não só um espaço mais alargado de participação política como um meio de comunicação contemporâneo que possibilita expressões subjetivas de género, a afirmação identitária das mulheres e a autorreflexividade sobre modelos educativos.

Posicionamentos face aos exames do 4.º ano de escolaridade

O discurso sobre os exames do 4.º ano de escolaridade mediatizado na blogosfera, forçosamente simplificado na argumentação para poder ser recebido por um número alargado de indivíduos, também possui características distintas quando assinado por homens ou por mulheres. Ainda que a linguagem utilizada por todos seja acessível, os posts femininos, ao contrário dos masculinos, apresentam menos a estrutura de um texto clássico — apresentação, desenvolvimento e conclusão — e mais a configuração de pequenos relatos ou notas soltas. Mais ou menos desenvolvidos, mas nunca excessivamente longos, porque destinados a ser consumidos rapidamente, estes registos discursivos parecem dirigir-se preferencialmente a leitores que possuem um conhecimento prévio dos gostos, atitudes e opiniões da autora, sendo, portanto, menos óbvios em termos da clarificação das suas posições ideológicas.

Os posicionamentos relativamente aos exames, ao contrário do que se poderia pensar, não se apresentam, deste modo, apenas em tons de preto e branco, i.e., “a favor” ou “contra”, havendo uma diversidade de nuances entre ambos (quadro 4).

 

 

Constata-se, então, que é mais elevado o número dos posicionamentos com reservas à existência dos exames do que aqueles que lhes são favoráveis ou tendem para isso. Se descontarmos os 18% de posts que não se posicionaram “nem a favor nem contra”, uma vez que apenas respeitam a informações sobre os exames (datas dos exames, enunciados e critérios de correção) sem quaisquer comentários, verificamos que no debate da blogosfera estes posicionamentos desfavoráveis atingem os 50%, ao passo que os defensores rondam os 32%.

Professores e mães: a ideologia contra o pragmatismo?

O cruzamento do posicionamento ideológico dos posts com o perfil do blogue e o tipo de ator educativo em causa (quadro 5) evidenciou que são essencialmente os homens, na qualidade de professores ou especialistas da educação, que claramente se manifestam contra a existência de exames, enquanto as mulheres, na sua condição de mães, se expressam tendencialmente a favor.

 

 

A ideia de que muitos professores poderiam concordar com a introdução dos exames enquanto instrumentos de promoção da qualidade, rigor e exigência dos processos de ensino-aprendizagem, tal como tem vindo a ser defendido pela tutela política, não só não encontra eco nos que participam na blogosfera, como é vivamente rebatida:

Uma criança de 9 anos aprende melhor porque vai fazer um exame? Há alguém que tenha estudado, investigado a sério, que sustente que um aluno aprende melhor porque no final do ano irá realizar um exame nacional? Não me parece. (…) Serve essencialmente para medir, por referência a uma norma, a quantidade (mais que a qualidade) dos conhecimentos que um aluno tem num determinado momento da sua vida. Será isto o mais importante para estas crianças? (…) É para mim evidente que há uma intenção por trás desta realidade. (Perfil 1/blogue 16, post 1)

Em contrapartida, e igualmente ao contrário do que se poderia esperar, apesar de as famílias denunciarem as pressões acrescidas que sentem para ajudar as crianças a desempenharem de forma mais eficaz o seu ofício de aluno, estas apresentam-se maioritariamente a favor dos exames:

Se a criança fica traumatizada por ser avaliada? (…) Oh, por favor, minha gente, as crianças são avaliadas desde que nascem (“Já tem nove meses e ainda não canta o Frère Jacques?”), o mundo é assim, nunca ninguém morreu por testar os seus conhecimentos. (Perfil 2/blogue 23, post 1)

Mais preocupadas com a garantia de que os filhos tenham bons resultados e lidem positivamente com o seu processo de escolarização, a maioria das mulheres/mães toma, no entanto, posições mais complexas emocionalmente e menos claramente definidas:

os exames nacionais são importantes, sim, mas também acho que não devemos focar toda a nossa atenção apenas num momento letivo nem devemos transmitir às nossas crianças que o resultado final depende apenas desse momento. (Perfil 2/ blogue 28, post 1)

O que parece ser importante não é tanto discutir se os exames devem ou não existir, mas saber como atuar perante esta realidade e como conseguir que os seus filhos obtenham os melhores resultados possíveis perante um facto político consumado.

Já os docentes do ensino secundário e superior mostram-se sobretudo atentos à necessidade de a escola apostar na formação integral dos indivíduos e nas diferentes dimensões do processo de ensino-aprendizagem, recusando, por isso, admitir que os resultados da complexidade do processo educativo se possam resumir à quantificação de um conjunto de conhecimentos de caráter meramente cognitivo.

Curiosamente, os professores do 1.º ciclo de ensino (perfil 3) denotam ter uma atitude aparentemente resignada com a implementação dos exames no 4.º ano de escolaridade, não avançando argumentos ou não se pronunciando a esse respeito, pois limitam-se a postar algumas informações que dão conta do funcionamento normal da escola no dia em que os alunos efetuaram os exames.

Finalmente, quanto às autoras dos blogues do perfil 4, há um menor número das que se posicionam a favor do que das que criticam os exames e “parecem ser” desfavoráveis a esta medida política.

Conceções sobre escola, crianças e dinâmicas familiares

Que escola pública?

Os principais argumentos invocados pelos blogers para defenderem os exames ou para os criticarem enquadram-se num pano de fundo ideológico que alimenta esta contenda e poderá resumir-se, em termos simples, aos valores que cada agente educativo (políticos, professores e pais) defende para se promover uma “escola justa e eficaz” (Dubet, 2005; Crahay, 2000).

Partindo da ideia de que a “escola pública está em crise”, por estar sujeita a “contínuas mudanças legislativas”, os blogers opositores aos exames denunciam a “sobrelotação das turmas”, a existência de “metas curriculares desadequadas”, os efeitos de “políticas educativas desastrosas no desânimo dos professores, alunos e famílias”, a “inexistência de políticas educativas dirigidas às crianças com necessidades educativas especiais” e a “necessidade de apoios ao longo de todo o ano letivo e não apenas perto dos exames”, insurgindo-se, assim, contra os exames. Entendendo que estes “não são garantia de qualidade dos resultados” porque tratam a escolarização como se esta fosse equivalente a uma “competição desportiva”, “estão centrados em produtos e numa avaliação sumativa que é redutora”, vieram “perturbar o funcionamento regular das escolas” e revelam um “despesismo supérfluo e inútil”, estes produtores de opinião parecem valorizar essencialmente o princípio da “justiça corretiva” (Crahay, 2000) ou “igualdade distributiva de oportunidades” (Dubet, 2005).

Os defensores dos exames contrapõem a conceção de que “é fundamental garantir-se uma aquisição mínima e obrigatória de conhecimentos a todos os alunos”, vendo-os como um bom instrumento para o efeito porque “permitem aferir os conteúdos que os alunos devem possuir”. Advogam que é essencial “garantir-se uma avaliação igual para todos” e que “os exames garantem a melhoria e qualidade das aprendizagens”. Considerando, ainda, que potenciam “o rigor, exigência e responsabilidade” e dão a possibilidade de “recuperar alunos com insucesso”, entendem que são “um momento de avaliação como qualquer outro na vida curricular de um estudante”. Parecem, assim, privilegiar o princípio da “igualdade meritocrática de oportunidades” (Dubet, 2005) no processo de construção de um sistema educativo mais justo.

Neste debate de princípios filosóficos estão, pois, em causa, distintas conceções sobre o papel da escola pública e diferentes crenças sobre as (des)vantagens de se praticar uma avaliação mensurável baseada em exames finais, idênticas às que têm vindo a acompanhar o surgimento e desenvolvimento da escola pública moderna democrática.

Que crianças?

Estreitamente associados ao processo de escolarização dos alunos, circularam na blogosfera outros argumentos que se prendem com os modos como cada ator social conceptualiza as crianças no seu processo educativo.

A propósito das condições de realização dos exames — o uso obrigatório de canetas pretas e a assinatura obrigatória de um compromisso relativamente à utilização de telemóveis —, os pontos de vista voltaram a polarizar-se entre quem evidencia uma forte nostalgia sobre a sua própria experiência escolar, baseada em memórias de infância gratificantes, não compreendendo o “alarido” feito em torno desta regulamentação e vendo-a como positiva, e aqueles que consideram que esta evoca os tempos nefastos do “salazarismo”, condenando a utilização destes símbolos e a imposição “absurda” destas regras.

Subjazem a esta discussão duas visões distintas sobre as crianças: (a) a criança como um ser “competente, autónomo e responsável” (Corsaro, 1997) no seu “ofício de aluno” (Perrenoud, 1995), em contraposição à ideia de “criança-rei” (Singly, 2004); (b) a criança como um ser “inocente, vulnerável e dependente” (Ariès, 1978) que, não deixando de ser uma “criança-aluno”, deve ser tratada preferencialmente como uma “criança-criança” (Sirota, 2006).

Os que advogam a primeira conceção, lamentam a “ausência de regras e falta de autoridade” na educação dos petizes, argumentando que as crianças não só “têm de ser educadas com responsabilidade”, como devem aprender a “valorizar da noção de honra e compromisso”. Criticam também o excessivo paternalismo e ansiedade paternal. A ironia relativamente aos possíveis traumas que os exames possam causar nas crianças constitui o tom dominante:

Desde que chegou a casa mantive-me atento e vigilante. Até ver, nada. Será esta aparente normalidade um sinal de que algo de muito grave se passa? Se isto continuar assim, sem que nada aconteça, levo-a ao médico. Afinal de contas, já passaram mais de vinte e quatro horas desde que a Leonor fez o exame de Matemática do 4.º ano. E todos sabemos que isso só pode ter provocado sequelas traumáticas. (Perfil 2/ blogue 9, post 2)

Os defensores da segunda conceção de criança privilegiam a atenção e o afeto a que estas têm direito, invocando os efeitos maléficos dos exames no seu desenvolvimento, o “desfasamento entre o que sabem e o que é avaliado” e a pressão psicológica excessiva e precoce a que são submetidas por serem expostas a uma experiência excessivamente impessoal, formal e estranha:

Pobres crianças, do tamanho do chão, a serem submetidas a provas, muitas vezes longe das suas escolas de origem, em ambiente totalmente estranho, com professores desconhecidos… tratadas como se fossem pequenos adultos, homens pequenos e mulheres pequenas. (Perfil 1/ blogue 1, post 3)

Que dinâmicas familiares?

Tal como as visões de infância apresentam diversas nuances, as práticas educativas familiares refletidas pelas famílias, sobretudo pelas mães que participaram na blogosfera, revelam variações.

A maioria dos posts publicados pelas mães evidencia que os exames “contaminam” a vida das suas famílias, pedagogizando (Vieira, 2005) e curricularizando (Erickson e Larsen, 2002) o quotidiano destes núcleos familiares urbanos e muito escolarizados, traduzindo uma “boa vontade escolar”, eventualmente muito próxima do ethos profissional da classe docente. Porém, longe de ser vivida de forma pacífica, esta situação parece ser potencialmente geradora de tensões para as próprias mães, entre estas e os filhos ou entre o casal.

Nos discursos das mães difundidos na blogosfera permanece latente uma forte ambiguidade: parece estar em causa uma dissonância entre, por um lado, a conceção de que as crianças, num “mundo ideal” enquanto seres autónomos com capacidade para se “autodisciplinar e autorregular”, deveriam permanecer num estado de inocência relativamente ao mundo competitivo dos adultos e, por outro, a constatação de que na “vida real” é importante prepará-las “para a vida” de modo “rigoroso e exigente”. Entre protegerem os seus filhos das agruras de um ofício que pode ser precocemente pesado, deixando-os experienciar “livremente” a sua condição de “crianças-crianças” ou forçarem-nos a ser essencialmente “alunos-crianças” para conseguirem atingir bons resultados académicos, as mães (e alguns pais) da blogosfera parecem, na prática, fazer pender o fio da balança para as atitudes educativas que valorizam esta última vertente, ainda que a contragosto.

Por outro lado, a alegria e o entusiamo que evidenciam nos seus posts, ao anunciarem os bons resultados escolares obtidos pelos filhos, parecem ser reveladores de como esta aposta numa escolarização bem-sucedida dos filhos decorre de um árduo processo, no qual se envolvem bastante:

Este final de ano foi dose, aliás são todos, mas este em particular custou-me muito. Parecia não mais ter fim. (…) por um lado o puto no 4.º ano teve exames nacionais que implicaram trabalhos dobrados e muito estudo (…) tal como era de esperar teve muito boas notas, passando (…) para o 5.º ano com distinção. (Perfil 2/ blogue 25, post 5)

De facto, as mencionadas elevadas classificações escolares parecem dever-se não apenas ao esforço, empenho e trabalho realizado pelas crianças, como ao esforço, empenho e trabalho das próprias mães e, nessa medida, compreende-se bem por que motivo as classificações dos exames do 4.º ano lhes provocam “um turbilhão de emoções” e as fazem sentir uma “ENORME felicidade” (Perfil 2/ blogue 30, post 4).

De acordo com os posts das blogers, a receita para estes finais de ano felizes incide na valorização da existência de regras e na criação de hábitos de estudo e de trabalho regulares, mas o ingrediente que parece ser essencial assenta no grande esforço coletivo em torno das atividades escolares, que toda a família, liderada pelas mães, efetua ao longo de todo o ano, ou seja, períodos letivos, fins de semana e, nalguns casos, até nas férias. Ora, na prática, isso significa que estas progenitoras prescindiram do seu próprio tempo livre e da sua própria vontade de serem “apenas” mães de “crianças-crianças”, muitas vezes contra a opinião do próprio cônjuge, que aparenta, em contrapartida, uma atitude bastante menos interventiva face ao desempenho no estudo por parte dos filhos. Dada esta dimensão de esforço e trabalho intenso desenvolvido pelas próprias mães, não estaremos perante um processo que as transforma também, e não apenas às crianças, em verdadeiras “operárias da escolarização”?

O intenso ritmo de trabalho quotidiano a que as crianças são atualmente condenadas, que não é objeto de questionamento por ser justificado como “escolarmente útil” (Vieira, 2005: 538), implica por parte destas mães vigiar e acompanhar contínua e atentamente os tempos escolares dos filhos e preencher grande parte dos seus tempos livres com atividades pedagógicas e curriculares. No entanto, isto também gera tensões: nalgumas famílias tal decorre de um “excesso de zelo” dos progenitores, noutras serão os próprios filhos que vivenciam a sua condição de alunos de forma ansiosa e perfecionista.

Esta “boa vontade escolar” poderá revelar-se penosa para algumas mães que, prescindindo conscienciosamente dos tempos livres familiares, em nome do bem-estar emocional e escolar dos filhos, não deixam de se lamentar:

Há umas semanas comecei a notá-lo nervoso, preocupado e até ansioso com o assunto. Resultado, a pedido do Manuel e com o meu acordo para o ajudar a sentir mais confiança, acabei por comprar mais um manual de preparação que ele já completou quase na totalidade e sem grandes dificuldades. O fim de semana foi de muito estudo. (…) Custa-me tanto estes fins de semana em que não podemos aproveitar mais o solinho e o tempo bom que faz lá fora. (Perfil 2/ blogue 25, post 1)

Este processo de contaminação do quotidiano familiar pode, porém, ser vivido de forma diferente noutros casos, sendo aí determinante o papel dos pais para assegurar que os filhos, desejosos de ocupar os seus tempos com atividades lúdicas e recreativas próprias das “crianças-crianças”, assumam o trabalho escolar como a sua principal preocupação e aprendam a desempenhar um ofício que (ainda) não os seduz.

Os modos como é exercida esta vigilância atenta dos pais apresentam, ainda assim, variações. Nalgumas situações, a forte atenção concedida aos estudos das crianças será efetuada por pais que não hesitam em assumir o seu papel de “treinadores de filhos-alunos”, mesmo que isso signifique tornar os seus filhos menos “crianças-crianças”:

(…) . Pusemo-la a trabalhar muito. Ajudámos nos estudos. Explicámos e exigimos. Com muita conversa, explicações e por fim chantagem: se não estudasse não ia às festas de aniversário dos amigos do colégio, para as quais ainda era convidada. Lá conseguimos que cedesse (…) (Perfil 2/ blogue 30, post 4)

Noutras, essa atenção parece ser mais marcada por uma “boa vontade cultural” (Bourdieu, 1979), dadas as preocupações com a cultura escolar e com a cultura erudita em geral — a criança é tida como um “sujeito cultural” (Chamboredon e Prévot, 1982) —, o que requer o compromisso entre ser mãe de “criança-aluno” e mãe de “criança-criança”. A vigilância e a orientação escolar dos filhos são acompanhadas por uma forte estimulação cultural nos tempos de lazer, havendo também lugar a experienciar somente os sentidos e as possibilidades de serem “crianças-crianças”:

Há que suar as estopinhas (…), não só no estudo acompanhado, mas utilizando os momentos em família para jogos e discussões interessantes sobre os mais variados assuntos. Como é que os miúdos hão de formar um imaginário rico o suficiente para escreverem composições criativas se não leem livros variados, não vão a museus, não falam com pessoas de diferentes idades e contextos sociais, não rebolam na erva e exploram matas e florestas, não conhecem ambientes bucólicos e cosmopolitas? (Perfil 2/ blogue 26, post 5)

Em grande medida, estes modelos educativos, muito colados à cultura escolar, podem ser justificados pelo facto de termos analisado representações de um conjunto muito específico da população, famílias das classes médias urbanas muito escolarizadas, que tradicionalmente têm apostado na escolarização dos seus descendentes, através de múltiplas estratégias, como meio de garantir a sua posição social (Bourdieu e Passeron, 1985; Diogo, 1998; 2008; Dubet, 2005; Nogueira, 2000; Sebastião, 2007/2008; Van Zanten, 2009, Vieira, 2003). Neste sentido, poderão constituir sinais claros da emergência da “parentocracia” educacional (Brown, 1990; Van Zanten, 2007; Nogueira, 2012), em processos de escolarização cada vez mais precoces.

No entanto, o facto de as mães nem sempre se posicionarem de forma clara e unívoca relativamente aos modelos ideais tipo “criança-criança” e “criança-aluno”, construindo lógicas compósitas de justificação das suas conceções e ações, demonstra como o exercício desta parentocracia poderá albergar tensões e está longe de se basear num modelo educativo “escorreito” e, supostamente, realizado por “osmose” (Bourdieu e Passeron, 1985). Se, por um lado, reconhecem o poder da escola para definir o destino social dos filhos e assumem a necessidade de se obterem elevadas performances escolares, estas mães não deixam de evidenciar receios acrescidos relativamente aos efeitos dos exames no desenvolvimento dos seus filhos. Conscientes de que as suas crianças deveriam ser mais protegidas e desenvolvidas enquanto “crianças-inocência”, lamentam como a omnipresença da escola no seu quotidiano as impele a desempenharem essencialmente o papel de educadoras (treinadoras?) de crianças-alunos:

(…) Os exames vieram (…) limitar, e muito, a liberdade e a criatividade dos nossos miúdos. Haveria outras maneiras, porventura mais divertidas (…) de pôr estas crianças a ler e a compreender textos (…). Claro que haveria. Mas não adianta (…). Os putos têm 10 anos. (…) Aprender devia ser divertido e não uma seca de fichas que é preciso fazer. Os putos têm 10 anos. Há uns que sabem mais matemática, há outros que sabem mais história, há uns que gostam de pintar, há outros que são ótimos a tocar flauta. Devíamos estar a explorar estas várias valências. Aproveitar aquilo em que eles são melhores. (…) Posto isto. Não há como escapar. Os miúdos têm que fazer os exames. (…) Procurar aquele difícil equilíbrio entre o garantir que eles estão à altura e o não fazer disto um bicho de sete cabeças. Ando à procura deste equilíbrio. Uns dias consigo, outros nem por isso. Mas ando à procura. (…) (Perfil 2/ blogue 19, post 2)

A ideologia antiautoritária do Maio de 68, reforçada pela difusão das ideias psicológicas sobre o desenvolvimento da criança, destituiu os pais da legitimidade de fazerem uso das ferramentas tradicionais de educação; sem estas, o imperativo da aquisição de capital escolar, cada vez mais forte, deve agora ser cumprido respeitando a personalidade da criança (Singly, 2000). A atenção dada ao desenvolvimento integral e ao equilíbrio psicológico da criança, por um lado, e ao seu sucesso escolar, por outro, como explica Singly (2000), constituem duas expectativas sociais essenciais em relação à infância, radicadas em princípios contraditórios (cooperação e concorrência), que se impõem hoje como as duas normas, em permanente tensão, nas quais assenta o papel dos pais, procurando estes conciliá-las de formas variáveis: uns privilegiam a dimensão pessoal, outros a escolar, sem excluírem nenhuma. Esta dualidade antecipa e articula-se com a complexidade do conceito de indivíduo nas sociedades contemporâneas, assente em duas formas de individualidade: o “indivíduo que se forjou pelo seu mérito” e o “indivíduo que é ele próprio” (Singly, 2000: 183). Num contexto de crescente “parentocracia”, em que a mobilização das famílias em relação ao sucesso escolar se intensifica, na sequência da desvalorização dos diplomas e das dificuldades inerentes à transição da escola para o emprego, a tensão entre os dois princípios coloca-se de forma mais acutilante e bem cedo na educação familiar.

 

Considerações finais

A introdução de exames no 4.º ano de escolaridade em Portugal gerou um debate na blogosfera que tem permanecido desde que a medida foi anunciada em 2012. Embora a discussão se tenha revelado circunscrita do ponto de vista sociocultural, só nela participando indivíduos que desempenham profissões intelectuais e científicas, na maioria professores, ela abrangeu um leque mais alargado de intervenientes do que aconteceria nos média tradicionais, e permitiu aceder às vozes dos pais, particularmente das mães.

A análise do perfil dos blogues revelou contornos essencialmente genderizados, assentes em oposições de tons, formas e temáticas que se refletiram em posicionamentos distintos face aos exames do 4.º ano de escolaridade. A grande maioria dos professores manifestou-se contra os exames, enquanto os pais, particularmente as mães, eram favoráveis. A estes posicionamentos subjazem diferentes conceções acerca das crianças — “criança competente, autónoma e responsável”, “criança inocente, vulnerável e dependente” e “criança-rei” — nas quais se combinam diversamente os ofícios de criança-criança e criança-aluno.

A análise dos blogues sugere ainda que, nas dinâmicas familiares das classes médias urbanas escolarizadas que participam na blogosfera, a apropriação dos exames se tem traduzido numa maternalização deste fenómeno: as mulheres, porta-vozes de uma parentocracia exercida em processos de escolarização cada vez mais precoces, parecem ter naturalizado a existência dos exames e incorporando como seu o dever de garantirem o sucesso escolar e o bem-estar emocional dos filhos.

Esta maternalização expressa-se numa intensificação da pedagogização e curricularização do quotidiano familiar, desencadeada mais por força das mães ou mais por iniciativa das próprias crianças, através de atitudes mais próximas de um modelo de “boa vontade escolar” ou “boa vontade cultural”.

Independentemente das tensões acerca do papel determinante das mães (ser mãe de criança-aluno ou ser mãe de criança-criança) e/ou das crianças, os momentos que antecedem a preparação para os exames contaminam totalmente a vida familiar, sendo vividos por todos com uma elevada carga emocional que sublinha a importância que a escola e o sucesso escolar atingiram na contemporaneidade.

 

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Agradecimentos

As autoras agradecem os contributos dos avaliadores para o aperfeiçoamento deste artigo.

 

Receção: 04 de novembro de 2015 Aprovação: 23 de março de 2016

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