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Forum Sociológico

versão impressa ISSN 0872-8380versão On-line ISSN 2182-7427

Forum Sociológico  no.42 Lisboa jun. 2023  Epub 31-Jul-2023

https://doi.org/10.4000/sociologico.10971 

Artigos

Noites imaginadas em tempos pandêmicos: Entre espaços privilegiados, lugares vazios e sociabilidade supervisionada na cidade do Rio de Janeiro1

Imagined nights in pandemic times: Navigating privileged spaces, empty landscapes, and regulated sociability in Rio de Janeiro

Marcos Paulo Ferreira de Góisi 
http://orcid.org/0000-0003-3197-1566; lattes: 9118859307157754

Leonardo José Iorio Monteiroii 
http://orcid.org/0000-0002-4088-6120; lattes: 3941787304209207

iUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, 21941-916 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: marcospfgois@gmail.com |

iiUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, 21941-916 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: leonardo.iorio@yahoo.com.br


Resumo

Este artigo busca analisar as imagens da sociabilidade noturna no Rio de Janeiro, Brasil, durante a pandemia da covid-19. Apoiados por uma revisão da literatura sobre vida noturna e sociabilidade e pelos atos jurídicos relativos à disseminação e contenção do vírus, discutimos um conjunto de políticas e discursos públicos acerca da covid-19 e analisamos imagens jornalísticas que mostram cenários noturnos entre março de 2020 e o início de 2021. Concluiu-se que a vida social à noite foi um dos temas mais relevantes da imprensa para discutir medidas de contenção do vírus, e sua apresentação compõe um imaginário sobre usos de espaços e tipos de comportamento associados à noite na cidade que convivem com um conjunto de noções criadas sobre a noite ao longo dos anos. Essa estratégia discursiva tratou de cenários específicos de sociabilidade noturna e sua ordenação espacial como exemplos para amplificar essa reivindicação à cidade.

Palavras-chave: imagens; covid-19; vida noturna; sociabilidade

Abstract

The aim of this proposal is to investigate images of sociability at night in Rio de Janeiro, Brazil, during the Covid-19 pandemic. Supported by a review of the specialized literature on nightlife and sociability and by the legal acts relating to the spread and containment of the virus, we discuss a set of policies and public discourses about Covid-19 and analyzed photos created by the media presenting nightlife between March 2020 and the first months of 2021. We concluded that social life at night had been one of the most relevant topics comprised in the press to discuss legal measures to contain the spread of the virus and its presentation in the media composes an imaginary about uses of spaces and behavior patterns, that coexist with a set of notions created about the night over the years. Finally, this discursive strategy dealt with specific scenarios of night sociability and its spatial ordering as examples to amplify this claim to the city.

Keywords: images; Covid-19; nightlife; sociability

Introdução

A disseminação do vírus SARS-CoV-2 no Brasil ativou um conjunto de ações dos governos local, estadual e federal. As primeiras medidas regulavam o distanciamento físico entre pessoas, reconfigurando o uso do espaço urbano. A interação social foi supervisionada por agentes públicos, o comércio teve seu horário de funcionamento restrito e aglomerações foram proibidas, afetando a noite urbana.

Em junho de 2020, a Prefeitura do Rio de Janeiro elaborou um plano de recuperação econômica para o retorno gradual às atividades noturnas (Decreto Rio n.º 47488, de 2 de junho de 2020). Espaços como bares e restaurantes foram autorizados a funcionar em horários especiais, respeitando protocolos de saúde e adaptando as configurações físicas e comportamentais habituais desses espaços. Os conflitos que surgiram foram analisados pela mídia, questionando decisões e transgressões observadas em imagens desses locais, sendo um importante agente na exposição do problema ao exibirem ruas vazias, estabelecimentos fechados e atos de desobediência à lei.

O discurso da mídia continha imagens que ajudaram a enquadrar o problema público do distanciamento social. O “discurso com imagens” mostrou lugares, comportamentos e criou uma narrativa moral para a cidade noturna. Este artigo tem como objetivo compreender os elementos discursivos sobre fechamentos e aberturas a partir da observação de imagens produzidas pela mídia e analisar o enfoque criado sobre a vida noturna carioca como exemplo utilizado para discutir as medidas legais estabelecidas pelo poder público durante o primeiro ano da pandemia no Rio de Janeiro.

Interações sociais e cidades noturnas

Uma análise de imagens e imaginários sobre a sociabilidade é limitada por alguns fatores. O primeiro é o tipo de sociabilidade, relacionada às atividades noturnas que ocorrem quando as pessoas estão longe de casa em condições de interação social. O segundo é o contexto pandêmico e as leis para prevenir o contágio restringindo a sociabilidade e atividades noturnas.

As discussões sobre a sociabilidade são bem estabelecidas nas Ciências Sociais, com diversas perpectivas sobre o problema. Optamos por pensar a sociabilidade pública a partir do diálogo entre as obras de Georg Simmel e Erving Goffman.

A interação social é central na consolidação de sociedades, sendo ainda mais complexa em meios urbanos e metropolitanos. A natureza desses vínculos é guiada por diferentes “estímulos” (Simmel, 1950), compondo o conjunto de relações sociais que moldam o cotidiano urbano. Para Simmel, a interação social pode ocorrer segundo diferentes interesses, o que permite interações para fins específicos. O autor distingue esses encontros interessados de outros que resultam de um encontro social puro e sem estímulos, chamado “sociabilidade”. É uma forma de encontro sem propósitos específicos, motivado pelo desejo de interação social. A sociabilidade é um elemento estruturante de encontros sociais na metrópole, sendo um elemento central da vida urbana.

Muitos lugares de uma metrópole emergem como cenários de sociabilidade. Entre eles, os espaços públicos são aqueles que, em uma sociedade democrática, tendem a reunir a diversidade e a oposição de diferenças. Neles, os problemas urbanos são percebidos e ganham visibilidade (Berdoulay et al., 2004), e “as situações sociais que ocorrem nessas configurações de comportamento sobrepostas apoiam encontros que possuem um tipo especial de desorganização normativa” (Goffman, 1963, p. 20). Tais comportamentos podem ser comentados, avaliados e até julgados por uma audiência. Nesse ponto, as imagens potencializam essa visibilidade pública, expondo as práticas sociais ao escrutínio público.

Os espaços públicos dão visibilidade aos problemas e conflitos que ocorrem na noite, evocando em cada cidade um conjunto de imagens que são usadas para motivar ou restringir a sociabilidade. Tais imaginários são, por vezes, permeados de mitologias (Bureau, 1997), como a oposição entre a noite e o dia (Gallan & Gibson, 2011) ou perspectivas que observaram a noite como um espaço-tempo de transgressão social e quase revolucionário em um contexto de fortes regulamentações sociais (Cresswell, 1998).

A vida noturna tem sido abordada com um interesse ainda maior nos últimos anos, geralmente derivado de considerações sobre a economia urbana em estudos sobre a economia noturna (Bianchini, 1995; Chatterton & Hollands, 2003; Lovatt & O’Connor, 1995; Roberts, 2006; Talbot, 2007). Nesse contexto, o que está em análise são trocas comerciais, leis, processos de reestruturação do lazer urbano, transformações na cultura e, finalmente, sociabilidade urbana (Gwiazdzinski, 2005; Nofre & Eldridge, 2018).

A vida noturna é essa agregação social de interesses difusos que ocupa determinados espaços da cidade e que se estabelece por meio da negociação de condições para a presença mútua de sujeitos e de grupos sociais no mesmo espaço-tempo. Este complexo arranjo social se manifesta em espaços públicos e privados das cidades. Por serem áreas que agregam muitas pessoas, as atividades noturnas receberam atenção da imprensa, sendo utilizadas como exemplos de práticas sociais a serem evitadas pela população. É importante saber, portanto, como os comportamentos sociais foram enquadrados durante o período inicial da pandemia e quais foram os elementos discursivos ativados a partir de imagens de sociabilidade noturna.

Interpretações sobre o enquadramento de problemas públicos

A vida noturna tornou-se objeto de maior interesse público na execução de medidas de distanciamento social. Presentes em quase todos os atos legais que visam orientar os usos dos espaços comerciais e públicos do município do Rio de Janeiro, foram as atividades que permaneceram proibidas por mais tempo (até o Decreto Rio n.º 49692, de 26 de outubro de 2020). A mídia regularmente divulgou práticas que contrariam medidas legais e locais de aglomeração noturna, o que enquadrou a vida noturna como um problema público. As imagens deram visibilidade a esse problema, para dramatizá-lo e torná-lo uma questão moral para a população da cidade.

Quando utilizamos a ideia de uma narrativa moral, estamos aludindo às bases éticas ou moralidades associadas aos comportamentos de pessoas e de grupos em determinados lugares (Smith, 2000). Na verdade, se trata de uma composição de valores e estigmas atribuídos a estes lugares e sua intrínseca relação com comportamentos considerados transgressivos ou desordeiros e pessoas e corpos entendidos como desviantes ou indesejados. No que se refere à vida noturna de uma cidade, veremos que, ao dar visibilidade ao problema da pandemia e das atividades perigosas, a imprensa escolheu representar lugares, pessoas e comportamentos de maneira a construir ou reproduzir um determinado discurso moral por meio de imagens, em geral, utilizando contrastes e comparações entre grupos, lugares e mesmo períodos do dia.

Ao apresentar a discussão social sobre motoristas bêbados, Gusfield (1981) sugere um conjunto de interpretações sobre o que ele chama um problema público. O autor refere-se a situações em que a opinião pública se reúne para encontrar causas, definições e soluções para um problema, muitas vezes utilizando um arcabouço moral, atribuindo papéis aos envolvidos e propondo explicações para ele. Uma situação problemática, seja ela mais específica ou fruto de um evento abrangente, como uma pandemia, torna-se um problema público quando sua organização, definição e avaliação se tornam institucionalmente mediadas (Cefaï, 1996).

A mídia é um agente importante na criação de um ambiente para debates, ajudando a construir uma arena pública para debater assuntos. O seu papel por vezes pode ser questionado, em virtude, sobretudo, dos laços que alguns grupos de mídia possuem com outros agentes sociais e seu caráter político associado à opinião pública. Em alguns casos, a maneira como se noticia tende a orientar os temas, desarticular opiniões divergentes e até mesmo desacreditar pleitos legítimos (Gamson, 1992), mas não se pode ignorar o seu papel na constituição desse ambiente político.

Agentes sociais articulam-se em torno de um problema específico e suas possíveis soluções, abrangendo não apenas os procedimentos utilizados para enfrentar o problema, mas também os meios para definir e orientar a discussão sobre o problema. Daniel Cefaï (1996) define este momento como a fase de elaboração de um ambiente operacional para políticas públicas. Na constituição de um debate público, novos atores são instados a participar dos esforços de resolução do problema. Parece essencial monitorar tais ambientes para entender como os temas são manipulados e organizados para moldar uma definição gerenciável de um problema público.

No caso do lazer noturno há um ajuste das interpretações às práticas. De atividades social e economicamente desejáveis, elas são transformadas em práticas de risco para a saúde da população (Ministério da Saúde, 2020). Na pandemia, essa transição foi acelerada, e a trajetória do problema público muda rapidamente em termos de suas definições e medidas para reprimir comportamentos indesejados. O principal problema a ser gerenciado foram as aglomerações de pessoas em locais abertos e, principalmente, fechados. O “estar junto” é entendido como um risco frente a um vírus que se dissemina no ar (Kucharski et al., 2020; Li & Dai, 2020).

A sociabilidade noturna torna-se prioridade para a discussão de medidas legais de controle do vírus no Brasil. O debate ocorreu em vários países e críticas já foram feitas por especialistas sobre a vida noturna (“REJOIGNEZ-NOUS! - Collectif Culture Bar-Bars Collectif Culture Bar”, 2021). A controvérsia no Brasil também foi alimentada por um forte discurso montado pelo Governo Federal em favor de uma rápida reabertura das atividades comerciais (Soares, 2020). Na definição do problema, foram discutidas medidas legais importantes na mediação e orientação do debate pela mídia nacional e local. A mídia foi responsável pela apresentação dos conflitos e proporcionou uma multiplicidade de textos e imagens para o debate sobre atividades de lazer noturna durante a pandemia.

Materiais e métodos

A análise das imagens jornalísticas parte da discussão trazida por Entman (1993) sobre o enquadramento de temas pela mídia. Neste caso, o enquadramento refere-se às formas pelas quais a imprensa organiza, situa e transmite informações ou debates de interesse público para a população. Enquadramento é uma noção criada por Goffman para estudar formas de explicar um evento social. Na perspectiva de Entman, a noção ajuda a compreender a mediação jornalística na exposição do debate público. É essencial entender como o enquadramento pode ser visual, feito a partir de imagens e criando cenas e descrições dos locais onde as ações ocorrem.

O conceito de cenário também será recuperado das obras de E. Goffman, mas reinterpretado de uma perspectiva geográfica na proposta de Gomes e Fort-Jacques (2010). Trata-se de um esquema metodológico para analisar imagens a partir da descrição e interpretação das composições que estruturam cenários, sendo útil para descrever imagens estáticas, como fotografias de lugares. A análise dos cenários inclui compreender as possíveis relações estabelecidas entre os comportamentos e os locais onde eles ocorrem, devido à sua composição (a posição relativa de um objeto figurado em relação aos outros), buscando extrair um conjunto de significados que nos ajudem a entender o enquadramento da situação problemática pela mídia.

Na geografia humana há um interesse renovado pelas imagens e a interpretação dos significados contidos nas representações do mundo (Cresswell, 2012; Hutta, 2015; Lorimer, 2008; Matless, 2014). Não é trivial que tais preocupações tenham sido sequer enquadradas como questões metodológicas, e um número significativo de autores apoiou uma abordagem crítica às metodologias visuais (Driver, 2003; Rose, 2016). O interesse por imagens geográficas, imaginários e imaginação permanece, mesmo que não estejam ligados a qualquer alegação realista ou suposição de neutralidade. O que alguns desses autores querem apreciar é a tradição da geografia como uma ciência que observa, analisa e interpreta o mundo por meio de imagens (Cosgrove, 2008; Gomes, 2017).

As imagens produzem significados e revelam valores sobre as coisas, como os espaços públicos, por sua grande visibilidade na cidade. As cenas são apresentadas como uma sucessão contínua de imagens que compõem fragmentos narrativos (Gomes, 2017), imaginários orientados no espaço, gerando uma gama de significados associados a ele. O conjunto de cenas formadas pela composição de comportamentos associados aos espaços públicos é o que Gomes designa por “cenário”. O enquadramento de uma cena expressa uma intencionalidade, tornando-a uma forma de narrar um problema público, como o distanciamento social à noite. Ao estudar elementos que compõem uma imagem, nos preocupamos com: a) a posição no espaço, que determina condições de observação; b) a composição de elementos, que são espacialmente articulados; e c) a exposição, que orienta quais lugares e comportamentos devem ser vistos e não vistos. A produção de imagens sobre a pandemia e a vida noturna confere visibilidade a lugares e comportamentos. A decisão sobre o que devia ou não ser exibido constituiria um discurso sobre o problema público e um dos componentes centrais das narrativas sobre a vida noturna durante esse período.

Foi realizada uma pesquisa de palavras-chave no site Google News dos termos isolamento social, distanciamento social, pandemia, covid-19, quarentena, noite, vida noturna, Rio de Janeiro. Os primeiros cinco termos apareceram nos atos legais criados entre março e junho de 2020. Os três últimos referem-se ao período, práticas e área de estudo. No primeiro levantamento, chegamos a um total de 490 publicações jornalísticas que tinham fotografias que acompanhavam os textos, incluindo os principais jornais do país e da cidade do Rio de Janeiro que possuem versões digitais: Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, Extra e O Dia. Os três últimos foram mais representados devido à maior circulação na cidade. Por serem grandes grupos de mídia tradicional, os jornais apresentaram uma linha discursiva bem próxima, orientando a população sobre os riscos da exposição ao vírus, indicando possíveis punições ao descumprimento das leis e discutindo soluções e alternativas para o lazer. Mídias alternativas e mesmo a discussão em redes sociais sobre o problema público da pandemia poderiam enriquecer a análise, mas não foram objeto de investigação para este artigo.

Na segunda etapa, excluímos os artigos que não abordavam alguma atividade noturna ou que não apresentavam pelo menos uma fotografia do Rio de Janeiro à noite; obtivemos um total de 112 fotografias, recolhidas dentre a amostra inicial de 490 publicações. Este conjunto de cenas noturnas exibiu o problema público desencadeado pela pandemia. Para este artigo indicamos algumas imagens de sites de jornais, geralmente produtos do trabalho de fotojornalismo de profissionais contratados pelos periódicos.

A classificação das imagens foi pautada pelos marcos legais, que organizaram fases de maior e de menor restrição da circulação e permanência de pessoas em espaços públicos e espaços privados. Usamos os atos legais criados pelo governo local como normas, pois a mídia usou os decretos, as leis e outras regulações do poder público para enquadrar seu discurso durante a pandemia. Esse recurso tem sido usado para apresentar práticas sociais e atividades econômicas à noite também. Os atos legais constituíram a definição de áreas incluídas na lei, regulamentos sobre o funcionamento das atividades comerciais e sobre o seu arranjo nos espaços públicos, como, por exemplo, a disposição dos móveis e a distância esperada em cada local. As medidas visavam adaptar-se às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de órgãos governamentais nacionais, como o Ministério da Saúde. Em virtude disso, analisamos as imagens a partir desse marco temporal estabelecido pelas medidas de distanciamento social criadas pelo poder público. A linha do tempo (Figura 1) resulta de uma síntese de medidas-chave de contenção do vírus e sua maior relação com as atividades noturnas. Podem ser definidas como medidas que modificaram o padrão espacial e temporal da vida noturna na cidade do Rio de Janeiro. Ela divide-se em dois períodos. O primeiro é associado à declaração de crise de saúde e à criação de leis de contenção do vírus, como o isolamento social ou distanciamento (de março a junho de 2020). O segundo período inicia-se aquando da implementação de medidas de reabertura das atividades econômicas, com o Decreto Rio n.º 47488, de 2 de junho de 2020. Esse período é dividido em duas etapas. A primeira flexibiliza medidas à distância e propõe soluções e inovações para o lazer na cidade, especialmente à noite; e a segunda coincide com o reforço da fiscalização e vigilância policial e relatos de atos transgressivos e clandestinos de lazer noturno.

Fonte: Elaboração própria a partir de leis e decretos publicados por agentes públicos nacionais, estaduais e municipais.

Figura 1 Linha do tempo com a síntese das principais medidas legais decretadas pelo poder público federal, estadual e do município do Rio de Janeiro a partir de fevereiro de 2020, as quais afetaram diretamente a organização da economia noturna da cidade 

O Decreto Rio n.º 47488, de 2 de junho de 2020, norteou a maioria das decisões tomadas nos meses seguintes estipulando o que as autoridades municipais chamaram “regras de ouro”, ou seja, medidas a serem cumpridas pela população de acordo com o nível de risco especificado pelos agentes públicos. A reabertura e a flexibilização dependeriam da redução do risco de transmissão. A Figura 2 mostra as principais restrições aplicadas, de acordo com as regras de ouro. A partir de junho, observa-se na mídia a tensão sobre a reabertura e as ações para conter comportamentos considerados transgressivos. É perceptível o interesse da mídia nesse tipo de ações de controle de comportamento e aplicação da lei no segundo período, especialmente no quarto trimestre de 2020.

Fonte: Elaboração própria a partir de informações publicadas pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro no Decreto n° 47.488/2020.

Figura 2 Síntese do Decreto Municipal que instituiu a reabertura gradual das atividades comerciais na cidade do Rio de Janeiro a partir de junho de 2020 

Resultados e discussão

Confinamento e cidade vazia

Em 3 de fevereiro de 2020, o Governo Federal brasileiro declarou o estado de emergência na saúde pública com as primeiras medidas para reduzir o contágio pela covid-19. Nas semanas seguintes, os impactos da pandemia na cidade do Rio de Janeiro ainda não são enquadrados pela mídia, sendo representada como um problema de outros países. As medidas de isolamento social e quarentena constam no Decreto Rio n.º 46966, de 11 de março de 2020, marcando o encerramento das atividades noturnas. Começamos a ver imagens de ruas vazias e a adaptação da população ao novo contexto, com as novas formas de uso e configuração de espaços e atividades do cotidiano (Figura 3). O uso de máscaras e de álcool para as mãos, a intensificação dos serviços de entrega e os novos protocolos de distanciamento são reforçados por essas imagens.

A vida noturna aparece em narrativas jornalísticas com imagens de espaços vazios. Bares, restaurantes e casas noturnas têm uso limitado, e apenas atividades consideradas essenciais, como mercados, farmácias e serviços de retirada, permaneceram abertas. Diversas atividades migram para a modalidade remota e somente os funcionários que trabalham em serviços imprescindíveis ficam expostos ao atendimento presencial, como definido em decretos municipais e estaduais ao longo dos meses de março e abril de 2020. Algumas pesquisas à época apontam para o efeito da exposição ao vírus na incidência de casos e óbitos de trabalhadores de serviços essenciais, como médicos, enfermeiros, atendentes, entregadores e motoristas (“Disseminação espacial de internações por COVID em bairros de São Paulo”, 2021). Este perfil foi mudando ao longo do tempo, influenciado, talvez, pela reabertura de algumas atividades que expuseram motoristas, vigilantes, porteiros e faxineiros de forma mais marcante a partir do segundo semestre de 2020 (Galindo et al., 2022).

As atividades de lazer e entretenimento foram encerradas em março de 2020. A sociabilidade noturna não poderia continuar ocorrendo nos espaços públicos ou em estabelecimentos de lazer privados. Fiscais da prefeitura municipal e agentes da polícia militar e civil foram mobilizados para evitar a abertura de casas de shows ou de festas em ruas da cidade. Para alguns, a vida noturna se mudaria para os lares. Aqueles que a registravam em redes sociais eram recorrentemente questionados sobre aglomerações em suas casas. Esse monitoramento online foi outra faceta do período inicial, mas nele não atentaremos aqui em virtude de nossos objetivos de momento.

As imagens expostas nos jornais neste período inicial mostram casas noturnas e espaços públicos vazios e o início do confinamento da vida noturna em espaços privados. As novas configurações físicas desses lugares diferem das situações de sociabilidade pré-pandemia. A mídia mostra o contraste com imagens de novas práticas de vida noturna associadas aos ambientes domésticos, numa narrativa da adequação às medidas de isolamento social. A exibição dessas imagens possui efeito educativo para que os leitores adotem essas mesmas práticas. No entanto, apenas uma parcela da população é dotada dos meios de acesso remoto à oferta de lazer virtual disponível. Nesses casos, a casa pode ser reconfigurada como um espaço de lazer noturno, mediado por meio de telas virtuais em salas de conferência online e apresentações artísticas (lives). A reconfiguração desses cenários indica uma ideia de adequação às medidas sanitárias. Aos que não se ajustarem resta, novamente, o julgamento moral nas redes sociais e, posteriormente, nas matérias jornalísticas.

Fonte: Elaboração própria a partir de imagens extraídas dos jornais O Globo, Extra e Folha de São Paulo.

Figura 3 Exemplos de imagens do período inicial da pandemia no Rio de Janeiro 

Shows remotos e festas em casa foram a primeira exposição de lazer noturno reiniciada em novos contextos. Embora houvesse a substituição de lugares tradicionais de vida noturna, a adaptação caseira tentou emular as práticas em formato remoto. Novamente, as imagens sinalizavam que alguns comportamentos mudaram de local, sendo realizados em salas, varandas, terraços e áreas comuns de edifícios e condomínios de classe média. Áreas nobres da cidade, como os bairros da Barra da Tijuca e Copacabana, foram apresentadas como exemplos da constituição de novos ritos de sociabilidade baseados em relações comunitárias, geralmente associados à vizinhança ou às relações familiares. Em muitos aspectos, a ideia de sociabilidade desinteressada, no sentido atribuído por Simmel, praticamente desapareceu durante os três primeiros meses da pandemia. Os novos espaços noturnos aparecem como palcos reorganizados para uma sociabilidade privada ou virtual. No início de abril, com a extensão das medidas de distanciamento, o formato remoto da sociabilidade noturna parecia acabar e as imagens começavam a mostrar pequenas transgressões e censuras nas redes sociais, agora ampliadas para outras parcelas da população que pareciam não aderir à fórmula ideal de distanciamento social promovida pelos governos e divulgadas pela imprensa.

As noites de um novo normal

O Decreto Rio n.º 47488, de 2 de junho de 2020, indica o início da reabertura econômica no Rio de Janeiro, transformando o enquadramento do problema público pela imprensa. As imagens apresentam o retorno a esses espaços com os novos protocolos de segurança (Figura 4) e novas formas de viver em meio a uma pandemia. Trata-se da reconfiguração física dos espaços públicos e privados. Nas primeiras semanas, predominam imagens de espaços do cotidiano aliadas a elementos das regras de distanciamento. A distância física, as máscaras e os desinfetantes para as mãos representam o chamado “novo normal”. Neste caso, a associação entre tipos de espaços e suas funções esperadas permanece, apesar das mudanças em suas práticas.

Fonte: Elaboração própria a partir de imagens extraídas do jornal O Globo, do portal de notícias G1 e da revista Isto é.

Figura 4 Exemplos de imagens do novo normal no período de reabertura econômica no Rio de Janeiro 

A instituição do “novo normal” ocorre com a reconfiguração física dos espaços que, vazios ou geometricamente organizados, representam a ordem e a estabilidade desejadas para o encontro social e o consumo. Os lugares retratados são geralmente aqueles que possuem forte adesão ao imaginário da cidade: as praias, os centros comerciais, as áreas patrimoniais, os shopping centers. São áreas que já eram habitualmente apresentadas na mídia e parecem ter sido escolhidas para criar imagens de contraste entre passado e presente.

A economia noturna também encontrou na ordenação física do espaço a possibilidade de conter as tensões sociais durante a pandemia, sobretudo no segundo semestre de 2020. Bares, restaurantes, casas de espetáculos e outros estabelecimentos de atividade noturna perceberam a reabertura gradual como a oportunidade de criar espaços exclusivos, orientados e organizados para certos perfis de público. O novo arranjo incluiu cercas, recintos, espaços reservados, barreiras sanitárias, marcações de orientação, abrigos privados, entre outros; em muitos casos, privilegiando o acesso para aqueles que possuíam veículos particulares ou que poderiam arcar com os custos da reserva de espaços exclusivos. A volta de cinemas drive-in e a ampliação dos espaços vip eram exemplos apresentados nos jornais e celebrados com certo teor de nostalgia.

As imagens continuam expressando apreço pelas adaptações do espaço físico e o controle de comportamentos na vida noturna. No entanto, esse tipo de representação se torna mais escassa. As cenas de transgressão aos protocolos sanitários aparecem com mais frequência, em oposição ao imaginário da ordenação exposta até aquele momento. A ordenação social por meio da ordenação de espaços físicos é apresentada com base em atividades diurnas, reforçando velhos mitos em torno do imaginário do lazer noturno na cidade, que seria palco de transgressões e desordem.

Noites vigiadas e olhares sobre as transgressões

Os atos de junho de 2020 ampliaram gradualmente as atividades noturnas e flexibilizaram as restrições em vigor. Foi alargado o horário de funcionamento de bares e restaurantes, motivando um maior movimento de pessoas na cidade. A mídia passou a usar as imagens de ambientes lotados, especialmente à noite, para construir uma narrativa de desobediência à lei e aumento de risco, reforçando o imaginário da noite como um momento de transgressão.

As imagens mostram cenas de sociabilidade noturna com maior regularidade, com o público geralmente aglomerado, desrespeitando os protocolos de distanciamento social. Os cenários são apresentados de forma comparativa, como se não fosse possível distingui-los do que tinham sido em um contexto pré-pandemia - exceção feita a cercas, máscaras e presença policial -, parecendo alheios às medidas sanitárias. A maioria das imagens é introduzida em um contexto de exposição de atos de transgressão. A intenção parece ser dramatizar o problema das aglomerações e chamar a atenção das autoridades (Figura 5). Novamente o aparato moral é construído por meio de narrativas de contradição, agora não só pelas imagens, mas nos textos que acompanham as matérias, que relacionam o lazer de uns ao sofrimento de outros hospitalizados.

Fonte: Elaboração própria a partir de imagens extraídas dos jornais O Globo e Extra.

Figura 5 Exemplos de imagens transgressoras no período de reabertura econômica no Rio de Janeiro 

A presença de agentes de segurança pública e de vigilância em saúde se faz recorrente nas imagens, geralmente em primeiro plano, o que contrasta com os ritos de sociabilidade expostos. Aumentam os conflitos entre usuários e agentes, divergindo quanto aos protocolos e formas de uso e organização do espaço. Essa forma de enquadrar o ato de fiscalização também é realizada pela assessoria de imprensa do município como forma de divulgar sua atuação e responder às cenas de aglomeração exibidas na imprensa. Os lugares usualmente expostos são bairros e centros noturnos consolidados, em áreas nobres ou na área central da cidade do Rio de Janeiro. Geralmente as fotografias são produzidas nos locais, com a equipe de reportagem realizando entrevista com os seus frequentadores. Tal atitude muda para outras áreas, públicos e eventos que ocorreram na cidade.

O aumento da fiscalização noturna leva as pessoas a procurarem novos lugares para a sociabilidade, muitos deles clandestinos. Os cenários se diversificam e a subversão envolvida em algumas dessas atividades faz com que as imagens apresentadas pela mídia sejam buscadas em redes sociais, registros amadores ou fotografias aéreas, alterando seu ponto de vista: em bailes funk e festas privadas, os registros são feitos de helicópteros e, por vezes, transmitidos ao vivo pelo noticiário local. É uma nova forma de dar visibilidade às ações clandestinas, expostas de forma semelhante às imagens de atos criminosos, revelando componentes de um olhar enviesado para o problema, o qual focaliza as áreas periféricas e pobres da cidade, especialmente os bailes funk em favelas ou em boates das Zonas Norte e Oeste da cidade.

A narrativa sobre a vida noturna do Rio de Janeiro durante a pandemia da covid-19 é feita não apenas a partir de uma transformação de seus cenários e espaços de realização, mas através da transformação dos instrumentos mobilizados no desenvolvimento desse imaginário. As estratégias de obtenção de imagens, o papel da mídia, os métodos de enquadramento das cenas e os pontos de vista pelos quais os problemas são expostos não permanecem homogêneos ao longo do tempo. As mudanças no que está representado nas imagens refletem, de alguma forma, alterações no comportamento da população e do poder público em relação aos atos legais. A exposição do problema público desencadeada pela pandemia utiliza como exemplos atividades noturnas, apresentando a noite como período de instabilidade, por vezes utilizando atividades diurnas como elemento de comparação na construção de uma narrativa de contrastes. Acreditamos que isso se estabelece como uma estratégia discursiva estruturada em imaginários mais antigos, apoiada por uma narrativa moral sobre o lazer noturno e os seus usuários. O mesmo viés moral está ligado às matrizes sociais presentes no espaço urbano do Rio de Janeiro. Comportamentos indesejados são associados a determinados grupos sociais que habitam, invariavelmente, os mesmos lugares estigmatizados do período anterior à pandemia.

Conclusões

A pandemia transformou a rotina dos cidadãos de muitas maneiras. No Brasil, os efeitos podem ser percebidos não só no cotidiano, mas fundamentalmente pelo número de casos e óbitos nesse período. Os conflitos entre os governos federal, estadual e municipal criaram um ambiente operacional confuso e contraditório. A cidade do Rio de Janeiro foi diretamente afetada por esses dilemas, especialmente no que diz respeito às pressões para o retorno gradual das atividades econômicas. Os atos legais visavam gerenciar os espaços e as formas de sociabilidade que pudessem reunir multidões, e as atividades noturnas receberam atenção especial de legisladores e da fiscalização pública desde o primeiro decreto, permanecendo fechadas por quase todo o primeiro semestre de 2020.

O registro de mudanças da vida noturna foi relatado pela mídia através de vários suportes textuais e imagens. As fotografias serviram sobretudo para enquadrar o problema público do distanciamento social à noite. Elas foram essenciais na criação de uma narrativa relacionada à vida noturna da cidade, sendo possível observar na composição dessas imagens as mudanças que ocorreram ao longo do tempo no comportamento dos cidadãos. Mas elas também demonstram mudanças de enfoque por parte da mídia, o que inclui a reorientação do discurso. A noite foi privilegiada pela mídia como forma de discutir as medidas legais instituídas, nas duas grandes fases, seja como laboratório para inovações, seja como espaço-tempo da transgressão. Isso criou um imaginário sobre a vida noturna da cidade, reforçando sua associação com atos de transgressão e acentuando estigmas sobre a vida noturna como uma região moral que reúne pessoas e comportamentos desviantes.

Por fim, a visibilidade dada pela mídia ao problema público da covid-19 na vida noturna e a criação dessas narrativas estão intimamente relacionadas à composição das cenas noturnas representadas. As imagens que mostram a manutenção dos cenários em suas formas tradicionais de organização - as mesmas do contexto pré-pandêmico -aparecem como um arranjo potencialmente perigoso para a saúde pública. A composição de objetos e comportamentos que ocorrem nos mesmos lugares, mas em um novo contexto, muda completamente o significado das imagens. A noite como um momento de diversão e lazer se torna um momento de tensão e de risco. Por outro lado, quando a reconfiguração desses cenários se torna visível, as imagens parecem transmitir uma sensação de maior segurança sanitária. Novas estruturas de permanência e isolamento (cercas, grades e barreiras), novas direções de deslocamento e novas formas de utilização desse espaço são vistas como sinônimo de segurança e cumprimento de protocolos. A busca pela ordenação social através da ordenação do espaço físico, antigo interesse de gestores urbanos e de parte da mídia tradicional, encontrou um novo enquadramento no contexto da pandemia.

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Notas

1 Texto escrito segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 2009.

Financiamento

Os autores agradecem à FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro pelo apoio e financiamento da pesquisa que resultou neste artigo.

Recebido: 30 de Maio de 2022; Aceito: 05 de Maio de 2023

Não há qualquer tipo de conflito de interesses que envolva este trabalho científico.

Ambos os autores contribuíram para todas as etapas de produção deste artigo, o que inclui a concepção da ideia original, o desenvolvimento da metodologia, o processo de investigação, a escrita e a revisão e aprovação do texto final.

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