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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. v.18 n.4 Lisboa jul. 2011

 

Megacólon Tóxico como Manifestação Inaugural de Colite Ulcerosa

Toxic Megacolon as an Inaugural Manifestation of Ulcerative Colitis

 

Frederico Ferreira, Andreia Albuquerque, Susana Rodrigues, Pedro Pereira, Fernando Magro, Guilherme Macedo

Serviço de Gastrenterologia - Hospital de São João

Correspondência

 

INTRODUÇÃO

O megacólon tóxico é caracterizado por dilatação cólica não obstrutiva, segmentar ou total, associada a toxicidade sistémica. Os critérios diagnósticos incluem, para além da distensão cólica ( > 6 cm) na radiografia abdominal, pelo menos 3 de 4 condições: temperatura corporal > 38,5° C, taquicardia > 120 bpm, leucocitose > 10,500/mm3 e anemia (Hb < 60% do valor normal); deverá ainda estar presente uma das seguintes condições: alterações mentais, desidratação, distúrbios electrolíticos ou hipotensão1.

Embora a colite ulcerosa seja uma das causas mais frequentes de megacólon tóxico, a incidência desta complicação não é bem conhecida, variando entre 1 e 5 %2,3. Nos últimos anos, a sua incidência parece estar a diminuir, possivelmente devido à detecção mais precoce da exacerbação e/ou à terapêutica médica mais eficaz3,4. Sendo, no entanto, responsável por 50% das mortes atribuídas à colite ulcerosa3,5.

 

CASO CLÍNICO

Doente de 53 anos do sexo feminino, sem antecedentes patológicos relevantes, apresentando história familiar de doença inflamatória intestinal. Iniciou quadro clínico de desconforto abdominal e diarreia (> 6 dejecções/dia, por vezes com sangue); um mês após início da sintomatologia, por agravamento clínico foi referenciada à consulta de Gastrenterologia, tendo realizado ileocolonoscopia que revelou íleon sem lesões e ao longo de todo o cólon mucosa com edema, friabilidade e úlceras profundas pleomórficas (fig. 1 e 2), aspecto endoscópico compatível com pancolite ulcerosa, pelo que foi proposto internamento. À admissão encontrava-se febril, com mucosas descoradas, desidratadas e abdómen doloroso à palpação, sem sinais de irritação peritoneu. Analiticamente, apresentava anemia (Hb - 10,8g/dl; referência 12 - 16g/dL), trombocitose (726 x 109/L; referência 180 – 500 x 109/L), hipoalbuminémia (22,4 g/L; referência 38 – 51 g/L) hipocaliémia (2,9 mEq/L; referência 3,5 - 5,1 mEq/L) e PCR de 347 mg/L (referência < 3 mg/L).

 

 

Fig. 1 e 2. Ileocolonoscopia mostrando ao longo de todo cólon ulceração profunda de morfologia pleomórfica.

                                                                                                               

 

A radiografia abdominal simples em pé revelou dilatação cólica com calibre máximo de 87 mm, preenchendo os critérios de megacólon tóxico (três condições major: febre, leucocitose, anemia; duas condições minor: desidratação e desequilíbrios electrolíticos). A TC abdomino-pélvico confirmou a distensão cólica, excluindo-se perfuração sub-clínica ou abcesso intra-abdominal (fig. 3). Iniciou perfusão contínua de prednisolona 1 mg/Kg/dia e antibioterapia de largo espectro, sendo avaliada diariamente por equipa médico-cirúrgica.

 

Fig. 3. TC abdomino-pélvico mostrando distensão cólica e hipercaptação difusa da mucosa.

 

O exame anatomo-patológico das biópsias cólicas revelou microabcessos crípticos, desorganização arquitectural e ulceração; a polymerase chain reaction para citomegalovírus e Mycobacterium tuberculosis e a imunohistoquimica nas biópsias cólicas foram negativas. O exame parasitológico e bacteriológico de fezes e a pesquisa da toxina de Clostridium difficille foram negativas; a prova tuberculinica foi negativa (0 mm) e a radiografia pulmonar não mostrou alterações.

Com a terapêutica instituída, ao 3º dia de internamento, apresentava-se sem queixas álgicas, apirética, com 2 dejecções por dia sem sangue, e descida acentuada dos marcadores inflamatórios (PCR - 110 mg/L). Ao 16º dia de internamento iniciou inunossupressão com azatioprina, tendo alta ao 19º dia.

Após 6 meses de follow-up mantêm-se em remissão clínica, apresentando cicatrização completa da mucosa cólica; medicada com azatioprina (2mg/Kg/dia) e messalazina (3g/dia).

Devido a esta forma de apresentação da colite ulcerosa apresentar elevada mortalidade e os doentes que respondem à terapêutica médica possuírem elevado risco de recidiva grave e de colectomia4, sugere-se uma atenta vigilância clínica e introdução precoce de imunossupressão, tal como sucedeu neste caso.

 

REFERÊNCIAS

1. Jalan KN, Circus W, Cord W, et al. An experience with ulcerative colitis: toxic dilatation in 55 cases. Gastroenterology 1969;57:68-82.        [ Links ]

2. Dunckley P, Jewell DP. Management of acute severe colitis. Best Pract Res Clin Gastroenterol 2003;17:89-103.        [ Links ]

3. Gan SI, Beck PL. A new look at toxic megacolon: an uptodate and review of incidence, etiology, pathogenesis and management. Am J Gastroenterol 2003;98:2363-2371.        [ Links ]

4. Travis SPL, Stange EF, Lémann M, et al. European evidence-based consensus on the management of ulcerative colitis: current management. Journal of Crohn's and Colitis 2008;2:24-62.        [ Links ]

5. Grant CS, Dozois RR. Toxic megacolon: Ultimate fate of patients after successful medical management. Am J Surg 1984;147:106-108.        [ Links ]

 

Correspondência: Frederico Ferreira; Serviço de Gastrenterologia do Hospital de São João; Alameda Professor Hernâni Monteiro, 4200-319 Porto – Portugal; Telemóvel: 916071443; E-mail: fredericoferreira2@hotmail.com;

 

Recebido para publicação: 22/08/2010 e Aceite para publicação: 15/11/2010