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Revista Portuguesa de Imunoalergologia

versão impressa ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.31 no.4 Lisboa dez. 2023  Epub 30-Dez-2023

https://doi.org/10.32932/rpia.2023.12.123 

EDITORIAL

Comunicação científica e o futuro da publicação: Desafios e oportunidades

1 Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar de São João, EPE, Porto, Portugal

2 Serviço de Imunologia Básica e Clínica, Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto, Portugal


O progresso científico assenta na comunicação. A publicação científica é uma das principais formas de comunicação, sendo que a sua evolução tem tido um exponencial crescimento na quantidade, mas também na acessibilidade a informação. Para melhorar este aspeto o formato em acesso aberto, open access, permite abrir as portas para a reprodutibilidade dos estudos, bem como para a inovação 1.

Este foi um dos principais motivos para que este ano, a Revista Portuguesa de Imunoalergologia, permitir o acesso aos artigos em formato de pré-publicação através do seu site. Outro aspeto essencial no adequado acesso à informação é a possibilidade de a obtermos de forma rápida, sumária e com qualidade e, neste contexto, as revisões sistemáticas e meta-análises pelo seu rigor metodológico podem ser das mais importantes fontes de evidência. Neste número temos o exemplo de uma revisão sistemática que aborda o impacto de uma das mais frequentes medidas terapêuticas que instituímos aos nossos doentes com alergia à proteína de leite de vaca, a evicção aos produtos lácteos, e qual o seu impacto no crescimento da criança e nos potenciais riscos nutricionais. Recentemente, o futuro do acesso à informação e das novas formas de comunicação começa a basear-se em modelos de algoritmos de inteligência artificial 2, que se alimentam da nossa informação de forma muito mais rápida e tornam-se um veículo de comunicação.

Como é que esse futuro vai mudar a publicação científica é algo em discussão, mas a necessidade de rigor científico será sempre uma necessidade transversal. Temos de assumir que a inteligência artificial será cada vez mais usada e útil para melhorar a fluência dos manuscritos, a sua estrutura, corrigir erros gramaticais, mas esta dependerá dos dados/informação a que tem acesso e a resposta obtida na IA pode não se adequar a todas as realidades.

Neste número, João Pires et al., traz um ponto de vista específico dos nossos cuidados primários, a análise da qualidade de prescrição de terapêutica de alívio na asma. Ao verificarmos que esta fica aquém do recomendado nas guidelines e que a asma é ainda uma patologia que necessita de maior atenção na primeira linha de cuidados permite-nos agir sobre esta problemática. A comunicação é aqui essencial para conseguirmos focar-nos nas áreas que de forma real e na nossa proximidade necessitam de maior atenção. Em continuidade com este objetivo, neste número todos os nossos artigos comentados se dedicam à asma, na perspetiva da sua evolução e previsão das suas trajetórias ou na procura de novas ferramentas para avaliarmos fatores importantes na asma como a disfunção das pequenas vias aéreas. Trazer estes temas à reflexão permite sensibilizar a comunidade científica e médica para estes desafios. O papel dos grupos de interesse da Sociedade Portuguesa de Imunoalergologia, neste caso o Grupo de Interesse de Asma, que nos desafiou com a partilha de artigos nesta área visa exatamente esse objetivo: fazer-nos refletir, alertar e por fim levar-nos a agir. A inteligência artificial, apesar de melhorar a comunicação científica, não substitui esta necessidade de partilha; as questões que nos surgem têm por base não só o conhecimento científico, mas a experiência clínica, as discussões entre pares, a nossa empatia na prática clínica, e esta é que justifica no fundo a nossa busca por melhorar os cuidados de saúde.

A implementação da inteligência artificial tanto na prática clínica, como na publicação científica, implica regulamentação e transparência na sua utilização 3. Outro desafio no futuro da publicação científica é uma abordagem inovadora de peer-review, no sentido de valorizar o trabalho dos revisores. O exemplo é o atualmente seguido pela eLife(4), em que os autores submetem o seu trabalho que fica disponível em formato pré-impressão e são sujeitos a revisão por pares de forma pública e acessível. Esta discussão promove a transparência e um processo de revisão contínua, em que a simples resposta de aceitar/rejeitar o manuscrito desaparece 4. Esta nova abordagem ainda muito recente necessitará de tempo e avaliação, mas já é possível em outras revistas acedermos ao processo de revisão do manuscrito e sugestões dos revisores.

As novas oportunidades estão nesta comunicação científica que estava escondida no processo de revisão. Apesar dos desafios, da fadiga e da escassez de revisores 5, do conflito do tempo (tão escasso para tudo) a que dedicamos a um processo de revisão, infelizmente pouco reconhecido e insuficientemente valorizado, não há inteligência artificial que substitua a discussão por pares. Apenas ela tornará o futuro da publicação mais nobre e mais rico.

Referências

1. Logullo P, de Beyer JA, Kirtley S, Schlussel MM, Collins GS. Open access journal publication in health and medical research and open science: benefits, challenges and limitations. BMJ Evid Based Med 2023. 10.1136/bmjebm-2022-112126. [ Links ]

2. Zoccali C, Mallamaci F. The changing landscape of scientific communication: open access, predatory journals and the near future. J Nephrol 2023;36(8):2209-12. 10.1007/s40620-023-01702-z. [ Links ]

3. Eigenmann P, Akenroye A, Atanaskovic Markovic M, Candotti F, Ebisawa M, Genuneit J, et al. Pediatric Allergy and Immunology (PAI) is for polishing with artificial intelligence, but careful use. Pediatr Allergy Immunol 2023;34(9):e14023. 10.1111/pai.14023. [ Links ]

4. Eisen MB, Akhmanova A, Behrens TE, Diedrichsen J, Harper DM, Iordanova MD, et al. Peer review without gatekeeping. Elife 2022;11. 10.7554/eLife.83889. [ Links ]

5. Candal-Pedreira C, Rey-Brandariz J, Varela-Lema L, Perez-Rios M, Ruano-Ravina A. Challenges in peer review: how to guarantee the quality and transparency of the editorial process in scientific journals. An Pediatr (Engl Ed) 2023;99(1):54-9. 10.1016/j.anpede.2023.05.006. [ Links ]

Recebido: 30 de Dezembro de 2022; Aceito: 30 de Dezembro de 2023

Autor correspondente Diana Silva E-mail: disolha@gmail.com

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