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Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187versão On-line ISSN 2183-0452

Rev. Port. de Educação vol.36 no.2 Braga dez. 2023  Epub 22-Dez-2023

https://doi.org/10.21814/rpe.34081 

Editorial

Diversidade nas Ciências da Educação

Íris Susana Pires Pereirai 
http://orcid.org/0000-0003-0647-2319

Maria Helena Martinhoi 
http://orcid.org/0000-0001-5697-1568

Maria João Gomesi 
http://orcid.org/0000-0001-5927-0601

i Centro de Investigação em Educação, Instituto da Educação, Universidade do Minho, Portugal


Com a publicação do nº 2 do Volume 36, encerramos o primeiro ano de edição da Revista Portuguesa de Educação (RPE) na modalidade de fluxo contínuo.

Este número inclui dezasseis artigos, a maioria dos quais apresenta estudos sobre perspetivas de estudantes, professores e diretores de agrupamentos de escolas sobre diferentes dimensões do processo educativo formal e informal. Apesar de também se recorrer a outras abordagens metodológicas, dominam os estudos descritivo-interpretativos, com contributos para a construção de conhecimento sobre práticas pedagógicas, desenvolvimento profissional de professores e gestão e administração escolar.

Entre os quatro estudos incidentes nas perspetivas de estudantes, três envolvem estudantes do ensino superior da área da saúde. Num dos artigos, descreve-se a variação no perfil semiótico dos textos escritos por estudantes chilenos de diferentes cursos; noutro, analisam-se as perspetivas de estudantes de medicina brasileiros sobre metodologias ativas de ensino e aprendizagem; e num terceiro, as perceções de estudantes de enfermagem portugueses sobre as estratégias pedagógicas adotadas em consequência da pandemia causada pela Covid-19. Um quarto estudo reporta a construção de conhecimento em estudantes portugueses do final do ensino básico envolvidos numa atividade STEM.

Os estudos envolvendo professores descrevem diferentes tipos de perspetivas: sobre as (des)vantagens da existência de diferentes níveis educativos em contextos de monodocência nos primeiros anos de escolaridade na Galiza, Espanha; sobre o uso de telemóveis pelos professores portugueses fora e dentro da sala de aula; sobre as limitações na prática reflexiva numa escola brasileira; sobre aprendizagens para uma educação básica decolonial construídas num contexto de formação contínua no Brasil; e sobre processos, fatores críticos e resultados de planeamento estratégico para a mudança nas escolas em Portugal. Um outro artigo analisa as perspetivas de professores e de diretores de escolas portugueses sobre a qualidade do ensino, aprendizagem, ambiente na sala de aula e condições de trabalho do 3º Ciclo do Ensino Básico, tal como revelados pelo estudo TALIS (Teaching and Learning International Survey) 2018. Há também um texto que descreve perspetivas de cuidadores informais portugueses sobre o seu trabalho, colocando em evidência a necessidade da implementação de processos, recursos e serviços educativos capazes de suprir as necessidades de aprendizagem destes agentes sociais.

Este número inclui ainda dois artigos de validação de escalas psicométricas, dois estudos documentais e um ensaio. As escalas, uma sobre a motivação dos professores para o trabalho e a outra sobre o clima ético do trabalho universitário, ambas com origem em estudos realizados no Brasil, apresentam-se como recursos para a avaliação de diferentes âmbitos do processo educativo. As análises documentais incidem sobre diferentes géneros textuais - textos divulgados por um jornal difusor de ideologia racial no Brasil, e cartas que Almeida Garrett dirigiu à sua filha, procurando, respetivamente, problematizar o conceito de educação eugénica e identificar conceções de educação assumidas pelo escritor-pedagogo no seio da sua vida familiar. Por seu lado, o ensaio propõe uma reflexão sobre o conceito de protagonismo infantojuvenil, reivindicando a valorização do diálogo como estratégia de visibilização das crianças e jovens no contexto escolar.

Este número inclui também duas recensões que apresentam obras de caráter diferente, uma intitulada The Education Systems of the Americas, e a outra, Práticas letradas na cibercultura: Possibilidades e reflexões em múltiplos contextos.

No seu conjunto, o volume 36 da RPE reúne trinta e nove artigos e quatro recensões. A diversidade de temáticas, de abordagens metodológicas e de proveniência dos autores desses textos consolida a identidade da RPE como plataforma de divulgação de conhecimento muito diverso no campo das Ciências da Educação. Particularmente relevante para nós tem sido a perceção da convergência existente entre a abertura e diversidade editorial da RPE e a agenda da investigação em educação, ampla e multifacetada, proposta no relatório Reimagining our futures together: a new social contract for education (International Commission on the Futures of Education, 2021).

Nesse relatório assume-se frontalmente a necessidade de reimaginar a educação de modo a capacitar as sociedades humanas para enfrentar os grandes desafios comuns ao direito à educação e à educação de qualidade. Apresentam-se cinco propostas de ação para a renovação da educação, cada uma das quais definida a partir de dimensões-chave no processo educativo, nomeadamente pedagogia, currículo, ensino, escola e aprendizagem ao longo da vida. É neste contexto que se faz um apelo à renovação da agenda de investigação para que se possa avançar na construção de conhecimento sobre as preocupações sociais e propostas para renovação da educação. Afirma-se que essa agenda de investigação:

(…) deve-se preocupar principalmente com o direito à educação, questionando todas as barreiras à educação de qualidade e equitativa para todos. A pesquisa também deve traçar como os vetores de mudança (...) se cruzarão com a educação - nosso clima e nosso meio ambiente em mudança, acelerando as transformações tecnológicas, aprofundando as fraturas do corpo político e os futuros incertos do trabalho e dos meios de subsistência - nos próximos anos. A pesquisa também deve ir além da mera medição e crítica para explorar a renovação da educação segundo os princípios operacionais descritos (...) - pedagogias baseadas na solidariedade e cooperação, conexão dos currículos com os saberes comuns, o empoderamento dos professores, a reimaginação das escolas, e o entrelaçamento da aprendizagem com todos os tempos e espaços da vida. A aprendizagem, ideias e experiências geradas a partir de uma agenda de pesquisa tão abrangente serão catalisadores para preparar juntos um novo contrato social para a educação. (International Commission on the Futures of Education, 2021, p. 121)

Parece-nos que a RPE está atualmente posicionada para dar o seu contributo para a consecução desta agenda, ao mesmo tempo que esta agenda (na verdade, todo o relatório) contribui indiscutivelmente para dar um maior sentido e coerência ao labor editorial da revista.

Referência

International Commission on the Futures of Education (2021). Reimaginar nossos futuros juntos: Um novo contrato social para a educação. UNESCO. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000381115Links ]

Recebido: 22 de Dezembro de 2023; Aceito: 22 de Dezembro de 2023; Publicado: 22 de Dezembro de 2023

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