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Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187versão On-line ISSN 2183-0452

Rev. Port. de Educação vol.33 no.2 Braga dez. 2020  Epub 31-Dez-2020

https://doi.org/10.21814/rpe.20472 

Editorial

Editorial

José António Fernandes1 

Íris Susana Pires Pereira2 

Maria Helena Martinho3 

1Instituto de Educação, Universidade do Minho

2Instituto de Educação, Universidade do Minho

3Instituto de Educação, Universidade do Minho


É com grande satisfação que anunciamos a publicação do número 2 do volume 33 da Revista Portuguesa de Educação (RPE). Especialmente nestes tempos de pandemia que constituem um desafio acrescido relativamente ao normal labor associado ao ensino, à investigação e à publicação de qualquer revista.

Para além das dificuldades experimentadas no desenvolvimento da investigação, houve necessidade de estabelecer sistematicamente uma comunicação virtual, o que, por vezes, obrigou a distender no tempo os variados processos editoriais. Em consequência, nestas circunstâncias, a elaboração do presente número da RPE assumiu um maior desafio que nos congratulamos por ter cumprido.

Simultaneamente as restrições e o confinamento em que nos encontramos constituem uma boa oportunidade de leitura e de reflexão, donde convidamos todos os leitores a consultarem o índice do número da RPE agora publicado e a lerem os artigos que sejam do seu interesse. Na revista poderá encontrar uma diversidade de textos centrados em variadas problemáticas da Educação, sejam de natureza teórica ou empírica, que certamente corresponderão aos seus interesses de leitura neste domínio científico.

No presente número da revista são publicados 11 artigos, relativos a vários subdomínios da Educação e que serão apresentados resumidamente a seguir, mais seis artigos de um núcleo temático sobre investigação biográfica em Educação.

O artigo que abre este número da RPE intitula-se Educação Transformadora: As interconexões das teorias de Freire e Morin, da autoria de Edna Liz Prigol e Marilda Aparecida Behrens, ambas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Brasil. Nele apresenta-se um estudo de natureza quantiqualitativa, crítica e reflexiva, de um subconjunto das obras dos dois pensadores. A análise permitiu a identificação de convergências e de complementaridades nas teorias, emergindo a visão ética, a reforma de pensamento, a contextualização, o diálogo e a religação de saberes como pilares epistemológicos de uma nova prática pedagógica complexa e transformadora, cuja relevância as autoras também reclamam para a formação dos professores.

Os três artigos seguintes têm a aprendizagem da escrita como objeto de indagação. O artigo de Mari Mar Boillos Pereira e Garbiñe Bereziartua Etxeberriai, da Universidade do País Basco, Espanha, intitula-se Propuesta didáctica para una primera aproximación a la escritura del artículo científico en euskera. Apresenta uma estratégia didática para a aprendizagem da escrita académica, que foi desenvolvida e aplicada no âmbito de um projeto de investigação com alunos do ensino superior no País Basco. O artigo incide especificamente no ‘artigo científico’, identificando as suas principais caraterísticas, discutindo o processo da aprendizagem deste género textual e a sua importância como passaporte para a participação na comunidade discursiva académica.

O artigo seguinte também assume a aprendizagem da escrita académica como contexto de indagação. Trata-se de Escrita, mediação e reescrita na universidade: Os bilhetes orientadores como estratégia pedagógica para a reflexão linguístico-textual, de Rodrigo Albuquerque, Ana Paula Mota e Karine Oliveira, da Universidade de Brasília, Brasil. O estudo procura analisar o papel mediador de um género textual escrito, o do ‘bilhete orientador’, na reescrita de um outro, o das ‘notas de leitura’. Os resultados da investigação apontam para o potencial do género mediador na aprendizagem metalinguística dos processos de (re)escrita das notas de leitura, revelando também a necessidade e a complexidade da mediação interativa do professor, construída a partir dos bilhetes orientadores.

O terceiro artigo sobre a aprendizagem da escrita intitula-se Os títulos no processo de escrita de histórias por alunos do 2.º ano de escolaridade. Trata-se, neste caso, da apresentação de um estudo do processo de produção escrita de alunos dos anos iniciais da escolarização, que envolveu a análise de produções e de interações estabelecidas entre professor e alunos e entre os próprios alunos. Os resultados do estudo, de Luís Filipe Barbeiro, do Instituto Politécnico de Leiria, Luísa Álvares Pereira e Rosa Lídia Coimbra, da Universidade de Aveiro, Portugal, e Eduardo Calil, da Universidade Federal de Alagoas, Brasil, revelam caraterísticas da génese do processo de escrita dos títulos, de que se destacam a sua relativa autonomia no processo de escrita assim como a projeção no título de um elemento nuclear da narrativa escrita.

Os dois artigos seguintes apresentam estudos realizados com base na revisão sistemática de literatura. O desenvolvimento da competência comunicativa oral: Uma revisão sistemática de programas de intervenção didática, de Carla Cristina Fernandes Monteiro, da Universidade do Minho, Portugal, apresenta uma revisão de estudos sobre o efeito de intervenções pedagógicas que usaram um instrumento padronizado com o objetivo de aperfeiçoar a competência comunicativa oral de crianças de 11 a 14 anos. Os resultados da análise permitiram a identificação de intervenções destinadas a melhorar os resultados ao nível da expressão oral, mas também da leitura e da escrita, com base na prática de estratégias de metacognição e metacomunicação em sala de aula, apontando também para a escassez desse tipo de estudos.

No artigo Contributo da formação musical no desempenho académico e cognitivo de crianças e adolescentes: Uma revisão sistemática, da autoria de Susana Azevedo, Joana Rato e Alexandre Castro Caldas, todos da Universidade Católica Portuguesa, Portugal, realiza-se uma revisão sistemática tendo em vista analisar a literatura recente acerca da influência que o estudo da música pode exercer no desempenho académico em geral e na matemática, nas funções cognitivas e na plasticidade cerebral. Analisando estudos publicados entre 2007 e 2018, em várias bases de dados, os autores concluíram existir benefícios cognitivos e evidências para a plasticidade cerebral estrutural, induzida pelo treino musical na primeira infância, tendo em consideração as diferenças encontradas no volume de massa cinzenta.

Os dois artigos seguintes reportam estudos em que recorre a tecnologias digitais. No artigo Manifestações discursivas de contradições internas na produção de cartoons matemáticos digitais, das autoras Poliana de Oliveira da Silva e Daise Lago Pereira Souto, ambas da Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil, discutem-se manifestações discursivas de contradições internas que emergiram durante o trabalho de futuros professores com a produção de cartoons matemáticos usando tecnologias digitais. Recorrendo a conceitos da Teoria da Atividade e a dados obtidos através de questionários, entrevistas e observação participante, verificou-se que os principais tipos de manifestações discursivas de contradições internas foram dilema e duplo vínculo, que surgiram quando os futuros professores escolheram o conteúdo matemático para desenvolver o cartoon e também quando passaram a estudá-lo.

Em Adição à internet e caraterísticas de personalidade: Um estudo com estudantes universitários portugueses Ana Paula Monteiro, Manuel Catalão e Elisete Correia, todos da Universidade de Trás-os-Montes e o último também do Centro de Matemática Computacional e Estocástica, Portugal, estudam o uso problemático da internet, pretendendo conhecer a relação entre a dependência da internet e as caraterísticas de personalidade. Aplicando um teste, validado para a população portuguesa, os autores concluíram que os estudantes universitários mais neuróticos, mais extrovertidos, menos amáveis e menos conscienciosos revelam um grau de dependência da internet mais elevado, e os estudantes mais jovens e do sexo masculino são tendencialmente mais dependentes da internet.

Os três últimos artigos abordam aspetos relativos a constructos psicológicos. O artigo intitulado Impacto da dinâmica emocional na aprendizagem em cursos a distância no Ensino Superior: O papel da presença emocional e das microlideranças assume particular atualidade no contexto da adaptação das práticas letivas do Ensino Superior em resposta à pandemia associada à Covid-19. Este artigo, da autoria de Teresa Oliveira e Lina Morgado, da Universidade Aberta, Portugal, discute a problemática das emoções em contextos de aprendizagem online. Os resultados do estudo, envolvendo diversos tipos de situações, identificam o papel da presença emocional do professor e das microlideranças estudantis para a qualidade da aprendizagem e o bem-estar do grupo, apontando para a relevância do seu reforço.

Num caminho similar, mas de distinto âmbito e foco, o artigo Elementos da didática para a juventude: Entre a dimensão relacional e a construção de sentidos, de Silvana Mesquita, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil, sublinha o papel motivador do professor e a importância do elemento relacional na prática pedagógica. O artigo é sustentado por um trabalho de campo continuado envolvendo alunos de uma escola pública de ensino médio na periferia do Rio de Janeiro. Os resultados são construídos a partir da análise das perspetivas dos próprios jovens sobre a escola e a prática docente.

O artigo La actividad artística como regulador de los procesos de ansiedad y agresividad en niños, da autoria de María Esther Pérez Peláez, da Universidad Internacional de Valencia, e Amador Cernuda Lago, da Universidad Rey Juan Carlos, Espanha, analisa formas de expressão não verbal, nomeadamente a dança e o exercício físico, como reguladores de stress e redutores da ansiedade em crianças. A dança emerge neste estudo como uma ferramenta poderosa na consolidação desses objetivos.

Conforme referido, o número corrente da RPE conclui com um núcleo temático intitulado A relação entre o investigador e sujeito-participante na investigação biográfica em educação. Nele se analisa a biografização enquanto instrumento de interpretação e (re)elaboração da experiência própria e de construção da identidade pessoal. O núcleo temático é organizado por Carmen Cavaco, da Universidade de Lisboa, e Anne Dizerbo, da Université Sorbonne Paris Nord, reunindo seis contribuições, com origem no Brasil, França e Portugal, a partir de investigações diversificadas envolvendo crianças, jovens e adultos.

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