SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22 número2Auto-avaliação da atuação da tutoria no curso de licenciatura em pedagogia a distância de uma universidade brasileira índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187

Rev. Port. de Educação v.22 n.2 Braga  2009

 

Desvendando o fenômeno bullying nas escolas públicas de Porto Alegre, RS, Brazil

 

Patrícia Krieger Grossi & Andréia Mendes dos Santos

Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

 

Resumo

Bullying é uma palavra inglesa que foi adotada em diversos países para se referir à intimidação. Brigas, ofensas, comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, repressão são tipos de violência geralmente associados à infância. Estudos indicam que brincadeiras de mau gosto podem gerar conseqüências sérias como baixa auto-estima, novas fontes de violência e, inclusive, casos de suicídio. Este estudo vem sendo desenvolvido desde julho de 2007 em quatro escolas públicas da cidade de Porto Alegre – RS, totalizando 192 alunos participantes.  Através de questionário e grupos focais observou-se que mais de 70% dos alunos percebem a existência de preconceitos no ambiente escolar e quase 40% consideram regular/ruim/ péssimo as relações na escola, refletindo o mal-estar do estudante em relação à escola. Essa dinâmica vem levando cada vez mais jovens ao isolamento e a exclusão.

Palavras-chave

Bullying; Violência; Escolas públicas

 

Unveiling the phenomenon bullying in public schools in Porto Alegre, RS, Brazil

Abstract

Bullying is an English expression which was adopted in several countries to refer to intimidation. Fights, offenses, mean commentaries, physical and psychological aggressions, and repression are types of violence generally associated to childhood. Studies indicate that bad manners childhood play could generate serious consequences such as  low self-esteem, new sources of violence, and, inclusively, suicide matters. This study is developed since July 2007 in four public schools in the city of Porto Alegre, RS, with 192 student’s participants. Through questionnaire and focal groups, it was observed that more than 70% of the students perceive the existence of prejudice in the school environment and almost 40% consider it regular/bad or horrible the relations in schools, reflecting the discomfort of students concerning the school. This dynamic is leading to more exclusion and isolation among teenagers.

Keywords

Bullying, Violence; Public schools

 

Desvelando el  fenómeno Bullying en los colegios  públicos de Porto Alegre, RS, Brasil

Resumen

Bullying es una palabra inglesa que fue adoptada en diversos países para referirse a intimidación. Peleas, ofensas, comentarios maldosos, agresiones  físicas y sicológicas, represión son tipos de violencia generalmente asociados a infancia. Estudios indican que juegos de mal gusto pueden generar  consecuencias serias como baja auto-estima, nuevas fuentes de violencia e, incluso, casos de suicidio. Este estudio viene siendo desarrollado desde julio de 2007 en cuatro colegios públicos de la ciudad de Porto Alegre – RS, totalizando 192 alumnos participantes. A través de cuestionario y grupos focales se observó que mas de  70% de los alumnos perciben la existencia de perjurios en el ambiente escolar y casi 40% consideran regular/ malo/ pésimo las relaciones en la colegio, reflejando el mal-estar del estudiante en relación a la colegio. Esta dinámica viene llevando cada vez más jóvenes al aislamiento y a la exclusión

Palabras-clave

Bullying; Violencia; Colegios públicos

 

 

Introdução à problemática

Apesar da ocorrência diária de casos, mas considerada nada normal, a violência vem sendo abordada em programas de televisão e reportagens em revistas e jornais que além de relatarem fatos, propõem discussões sobre o assunto. Mais recentemente as escolas vêm participando desta luta abordando situações que ocorrem fora e dentro do ambiente de aprendizagem. São identificados diversos tipos de violência, como a física, a doméstica, a psicológica, a sexual, o bullying, que não são mutuamente exclusivos; e nem sempre estes são praticados por pessoas estranhas à vítima. No caso das crianças e jovens, o fato de serem mais vulneráveis que os adultos, contribuem para as cifras de casos que, na grande maioria das vezes, não é denunciado. A violência pode ser velada, quase sutil, mas não menos traumática. Brigas, ofensas, intimidações, comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, repressão são tipos de violência geralmente associados à infância. Estudos indicam que a ocorrência destas situações pode gerar conseqüências sérias, incluindo-se casos de suicídio, baixa auto-estima e novas fontes de violência.

Bullying é uma palavra inglesa que foi adotada em outros países e que se refere à intimidação. É definida como o "desejo consciente e deliberado de maltratar uma pessoa e colocá-la sob tensão" (Tattum & Herbert, 1997 apud Debarbieux & Blaya, 2002:72). No Brasil, a ABRAPIA, Associação Multiprofissional de Proteção à Infância, em parceria com o Programa Petrobrás Social, está desenvolvendo, desde setembro de 2002, um projeto piloto destinado à identificação e prevalência de bullying entre estudantes e implantação de políticas anti-bullying em 11 escolas de 1º grau no Rio de Janeiro, sendo 9 municipais e duas particulares. Bullying é definido por Nancy Day (1996: 44-45) como abuso físico ou psicológico contra alguém que não é capaz de se defender. Ela comenta que quatro fatores contribuem para o desenvolvimento de um comportamento de bullying:

1    uma atitude negativa pelos pais ou por quem cuida da criança ou adolescente;

2    uma atitude tolerante ou permissiva quanto ao comportamento agressivo da criança ou do adolescente;

3    um estilo de paternidade que utiliza o poder e a violência para controlar a criança ou adolescente; e 

4    uma tendência natural da criança ou do adolescente a ser arrogante.

O bullying, como é denominado o fenômeno, é um problema mundial, e vem ocorrendo em todos os estratos sociais, assumindo proporções na contemporaneidade e expressando-se nas refrações e agudização da questão social. Portanto, faz-se necessário buscar compreender este momento, marcado pelas repercussões para a vida de todos. Partindo-se da premissa de que o Serviço Social atua na perspectiva da efetivação dos direitos da população em segmentos como infância e juventude, justifica-se a possibilidade de um estudo aprofundado em relação ao bullying. A adoção da doutrina de proteção integral à infância e à juventude, através do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, — é a base legal que fundamenta e estimula estudos que possam contribuir para a garantia da atenção integral à criança e ao adolescente. O artigo 7º do capítulo I deste Estatuto disserta sobre o direito à vida e à saúde, efetivados através de políticas sociais públicas que permitem um desenvolvimento em condições dignas de existência.

Os objectivos da pesquisa que aqui se apresenta foram: a) Conhecer e analisar o fenômeno bullying entre os jovens nas escolas públicas de Porto Alegre, a partir dos tipos de preconceito, intimidações, sentimentos e conseqüências da experiência; b) — Identificar a prevalência do bullying nas escolas públicas de Porto Alegre; c) — Analisar os mecanismos utilizados pelas crianças e suas famílias para prevenir e enfrentar o fenômeno bullying nas escolas; d) — Verificar as estratégias de prevenção adotadas pelas escolas em relação ao bullying; e) — Identificar o perfil da vitima e do autor do bullying, considerando-se gênero, faixa etária, entre outros; f) — Mapear as situações que vem gerando o fenômeno bullying e os motivos das discriminações; g) — Identificar as conseqüências físicas, psicológicas e sociais do bullying nas pessoas afetadas.

Este estudo vem sendo desenvolvido desde julho de 2007 nas escolas públicas da cidade de Porto Alegre — RS.  Segundo a Secretaria de Educação do Estado, a rede de ensino pública corresponde a 49.9% das instituições disponíveis, atendendo cerca de 263.430 alunos, de acordo com o site da Secretaria (http://www.educacao.rs.gov.br). Somadas, escolas municipais e estaduais atingem 350 unidades distribuídas pelas diversas regiões da cidade. 

A pesquisa teve a abrangência de 1, 14% das escolas da rede.  Foram selecionadas turmas do ensino fundamental (4ª e 7ª série) e do ensino médio (1º ano) para responderem a questionário padronizado, elaborado pela equipe e previamente testado. Somente participaram do estudo aqueles alunos que concordaram e cujos pais autorizaram tal procedimento. Também foram utilizados grupos focais para identificar a vivência dos conflitos nas escolas e formas de enfrentamento pelos alunos. Os depoimentos foram gravados e transcritos posteriormente e submetidos à análise de conteúdo de Bardin (1979).

 

O processo da pesquisa

Participaram da pesquisa 4 escolas da rede estadual de ensino da cidade de Porto Alegre — RS, obtendo 192 questionários. Destas escolas, 80% possuíam turmas de 4ª série, 60% atendiam a 7ª série e 40% ofereciam o 1º ano do ensino médio à população. O número de alunos que participaram da pesquisa, de acordo com gênero, corresponde:

Tabela I - Perfil das escolas participantes da pesquisa sobre prevalência do bullying nas escolas públicas de Porto Alegre, 2008

 

A primeira questão do questionário indagava sobre a opinião dos alunos em relação ao convívio na escola. Dos 192 respondentes, 108 (56,3%) consideraram ótima ou boa a convivência. Dos demais, (39,6%), 55 responderam regular, 12 julgaram ruim e nove consideraram péssimo. Apenas um sujeito eximiu-se da resposta. Destaca-se que 39,6% indicam dificuldades nas escolas. A existência de preconceitos nas escolas foi percebida por 76% dos entrevistados. Abaixo se apresenta a figura 1, correspondente aos tipos de preconceitos identificados nas escolas estudadas:

Figura I - Tipos de preconceitos identificados nas escolas da amostra de Porto Alegre, 2007

 

Destaca-se que estes dados se referem à observação dos jovens, não correspondendo a situações vivenciadas pelos mesmos, mas fornecendo indicativos em relação ao clima escolar. Outros preconceitos que foram adicionados pelos alunos, 64 informações, correspondem a apelidos, aparência física, inteligência, em relação a doenças, estilo musical, peso, altura, educação, fome e religião.

Atitudes do bullying foram identificadas nas escolas. É normal que em toda escola ocorram brigas, inimizades, desavenças, etc. Porém, a repetição destes atos aponta a eleição de uma vítima que poderá sofrer conseqüências emocionais de sua vida escolar. Neste estudo, apenas 30% dos alunos acreditam não terem se envolvido em situações de bullying (na condição de autor ou vítima). Observou-se que a grande maioria das situações envolve xingamentos, discussões, fofocas, ameaças, apelidos pejorativos e/ou maldosos e outras situações orais. Brigas, empurrões, roubos, destruição de materiais ocorrem em mais de 40% dos conflitos, mas sempre precedidos de discussões. 

Apesar dos alunos considerarem a sala de aula um ambiente melhor que o restante da escola, cerca de 52,7% dos fatos de bullying ocorrem neste espaço menor.  Abaixo se apresenta a tabela 2, descritiva dos locais com maior incidência de atitudes bullying e suas relativas freqüências, de acordo com aqueles que vivenciaram estas situações em 2007:

Simmons (2004) apresenta, num livro dirigido especificamente ao bullying entre meninas, a preocupação em relação ao silêncio e a dissimulação que envolve os conflitos do tipo bullying. Sendo assim, a sala de aula configura-se no espaço de maior intimidade do grupo e, por isso, mais propenso ao reconhecimento das diferenças entre as pessoas. Confundir fatos do tipo bullying com brincadeiras é muito usual. Isso mascara a intervenção da escola e da família – na relação entre os envolvidos e torna por agravar as cicatrizes do fenômeno. O sujeito vítima desenvolve um processo de raiva (cerca de 56,6% dos entrevistados vitimas referiram este sentimento), sente medo e fica assustado (37,9%), fica preocupado com o que os outros vão pensar em relação a ele (24%) e cerca de 12% referiram não querer mais freqüentar a escola. As escolas e as famílias têm dificuldades em identificar esse processo entre seus jovens. Aquilo que é tratado como 'brincadeira' possui uma conotação agressiva por parte de quem a faz ou, também, bate no sujeito a que recebe derrubando sua auto-estima, favorecendo o surgimento de características frágeis e vulneráveis.

Tabela 2 - Locais e freqüências de ocorrência de atitudes bullying nas escolas, Porto Alegre – 2007

 

Violência gera violência! Cerca de 48% dos jovens que interpretam já terem sido vitimas de bullying na escola defenderam-se aos socos, pontapés e brigas. O fenômeno é um ato solitário, silencioso. Em mais de 50% dos casos, os professores não tinham conhecimento do que seus alunos estavam enfrentando na escola. Cabe ressaltar que foi observada a tentativa de intervenção dos professores nas situações bullying quando estas chegam a seu conhecimento. Cerca de 8% dos alunos referem que os professores sabiam e nada fizeram para cessar a violência. A dificuldade apontada refere-se à ação do professor, que muitas vezes (14%) acentua as atitudes bullying, piorando a situação. 

Mais de 40% dos entrevistados que se envolveram em situações do tipo bullying não conversaram com ninguém em relação ao que estavam vivenciando. Entre os escolhidos para dividirem este problema, despontam a família e os próprios colegas de aula em detrimento do quadro funcional da escola.

Em relação a esta solidariedade dos colegas em relação a um membro vítimas de bullying, os sentimentos mais presentes são os mal-estares (29,6%) e de pena (27,2%). O temor de que a situação acabe por envolver o observador também é presente: (8,6%) sentiram medo de que isso pudesse acontecer com eles e outros 9,9% declararam bem-estar, dar razão ao agressor ou indiferença em relação à cena.

O bullying é, na maioria das vezes, praticado por colegas da escola (70,5%). Segundo a percepção dos jovens, os funcionários também têm atitudes do tipo bullying (15,2%) e na própria família essa violência – às vezes velada – já se desenvolve (18,2%). A maior justificativa tenta fugir da agressão e aparece mascarada na forma de brincadeira. Mas machuca, fragiliza e deixa seqüelas permanentes para toda a vida.  Também, os jovens das escolas públicas de Porto Alegre não identificam diferença entre os sexos para a incidência das agressões, mas admitem que a formação de grupos facilitam as ações deste tipo.

Compreende-se a violência como um fenômeno com sérias conseqüências individuais e sociais particularmente para os jovens, que aparecem nas estatísticas como os que mais estão envolvidos com a problemática.  Contemporaneamente, é consenso que a violência pode ser evitada, seu impacto minimizado e os fatores que contribuem para respostas violentas mudados. Segundo Debarbieux & Blaya (2002), não se trata de uma questão de fé, mas de uma afirmação baseada em evidências. Exemplos bem sucedidos podem ser encontrados em todo o mundo, desde trabalhos individuais e comunitários em pequena escala, até políticas nacionais e iniciativas legislativas.

Uma das formas mais visíveis da violência na sociedade é a chamada violência juvenil, assim denominada, segundo Debarbieux & Blaya (2002), por ser cometida por pessoas com idades entre 10 e 21 anos. Grupos em que o comportamento violento é percebido antes da puberdade tendem a adotar atitudes cada vez mais agressivas, culminando em graves ações na adolescência e na persistência da violência na fase adulta.

Quando se aborda a violência contra crianças e adolescentes e se vincula aos ambientes onde ela ocorre, a escola surge como um espaço significativo, principalmente com relação ao comportamento agressivo existente entre os próprios estudantes. Neto & Saavedra (2004) definem a violência nas escolas como sendo um problema social grave e complexo e, provavelmente, o tipo mais freqüente e visível da violência juvenil. Os autores complementam:

O termo violência escolar diz respeito a todos os comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos, cujas intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus funcionários. Porém, para um sem número delas, a solução possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar (Neto & Saavedra, 2004: 19).

Entende-se que o comportamento violento, que causa tanta preocupação e temor, resulta da interação entre o desenvolvimento individual e os contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade. Constata-se que, infelizmente, o modelo do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que essas instituições deixem de ser ambientes seguros, modulados pela disciplina, amizade e cooperação, e se transformem em espaços onde há violência, sofrimento e medo.

Através da realização dos grupos focais nas escolas procurou-se diagnosticar quais eram os principais conflitos vivenciados pelos alunos, assim como as maneiras que utilizam para resolvê-los junto dos demais. Foram entrevistados grupos de alunos entre a 4º série do ensino fundamental e o 1º ano do ensino médio. Os grupos focais foram realizados em momentos distintos, com os alunos reunidos por proximidade de faixa etária.

Procurando-se entender os motivos que levam a existência de conflitos, observou-se uma significativa importância atribuída às questões de bullying. Por definição, explicam Neto & Saavedra (2004), bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser conseqüencia da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais estudantes. Em diferentes falas, notam-se tais questões, tais como:

Tinha um cara que ficava me chamando de 'Gordo'. Eu não gosto disso (sujeito 3).

Este grupo de meninos fazem brincadeira de briga, são chamados de 'mongolões'1 por alguns de seus colegas, que dizem que por causa de um grupo da turma todos ficam com fama e acabam não participando de passeios da escola com outras turmas (sujeito 1 -7ª série).

O conceito de violência escolar tem sido caracterizado, por diferentes autores, como um fenômeno multifacetado, abrangendo uma variedade de manifestações, desde comportamentos anti-sociais, delinqüência, vandalismo, comportamentos de oposição, entre outros (Vale & Costa, 1998). Constata-se que a grande maioria dos comportamentos agressivos que ocorrem nas escolas passam a ser admitidos como naturais, sendo habitualmente ignorados ou não valorizados, tanto por professores quanto pelos pais. Na própria fala dos adolescentes, os mesmos não reconheciam muitas vezes, como expressões que agrediam os demais:

... ela tem 'fama' na escola (sujeito 3).

Chamamos ela (a professora) de batuqueira2, esse é o apelido dela (sujeito 4).

a gente coloca apelido, mas todo mundo gosta e também coloca (sujeito 1).

Compreende-se que a escola se constitui como um espaço de grande significância para as crianças e adolescentes, e os que não gostam dela têm maior probabilidade de apresentar desempenhos insatisfatórios, comprometimentos físicos e emocionais à sua saúde ou sentimentos de insatisfação com a vida. Os relacionamentos interpessoais positivos e o desenvolvimento acadêmico estabelecem uma relação direta, onde os estudantes que perceberem esse apoio terão maiores possibilidades de alcançar um melhor nível de aprendizado. Portanto, a aceitação pelos companheiros é fundamental para o desenvolvimento da saúde de crianças e adolescentes, aprimorando suas habilidades sociais e fortalecendo a capacidade de reação diante de situações de tensão. Quando as situações de bullying se fazem presente, inúmeros conflitos passam a existir entre os jovens, conforme seus próprios relatos.

Além do bullying, outro ponto destacado pelos alunos foi a questão de gênero. Dentre as falas, destaca-se:

As gurias3 é que implicam mais (sujeito 3).

Geralmente as brigas são por causa dos namorados (sujeito 3).

Uma quer ser mais que a outra (sujeito 3).

que os guris4 e as gurias costumam não se misturar (sujeito 1- 4ª série)

E entre as gurias existe grupinhos também, mais do que com os meninos (sujeito 1).

Outra causa relacionada ao conflito, lembrada pelos jovens, foi a questão das provocações que existe entre os diferentes grupos, tais como se observa:

Geralmente um provoca o outro (sujeito 3).

bagunçam5 na sala de aula e no recreio fazem corredor polonês6 (sujeito 1).

A construção de um clima escolar em que todos se sintam seguros e confiantes, onde haja espaço para o desenvolvimento de boas relações humanas, onde haja espaço para ensinar e para aprender, é e continuará a ser cada vez mais uma preocupação dos administradores escolares, dos professores e dos pais. Na fala dos adolescentes, pode-se observar que a grande maioria naturaliza a questão da violência existente no âmbito escolar, tal como se observa:

Estava até legal assistir a cena! (sujeito 3).

A gente se diverte vendo duas gurias brigando, pelo menos saímos da rotina (sujeito 3).

Discussão é normal (sujeito 3).

um 'cascudo'7 não faz mal a ninguém (sujeito 3).

Briga, xingamento8, implicância é 'briga de brincadeira', 'é normal em nós' (sujeito 1).

Se os conflitos acabassem eles não teriam o que fazer no recreio, porque na maioria do tempo as meninas da turma ficam brigando com os meninos da outra turma (sujeito 1).

A violência, na grande maioria das situações, é utilizada como forma de resolver conflitos, conforme se observa nos relatos:

Fui para cima de uns babacas9 que estavam me provocando (sujeito 3).

Ele deu uma risadinha, e eu bati nele (sujeito 3).

Acho que brigaria de novo. Deu resultado (sujeito 3).

Às vezes tem que ser assim para resolver (sujeito 3).

Com a agressão ele parou de sofrer humilhações (sujeito 3).

Dando soco, ou a Diretora fica no pátio (em horários de entrada e saída e no recreio), se não a gente quebra eles a pau, por isso que a gente está sempre em grupo, em 'bando' (sujeito 4).

Aqui (na sala de aula) tem duas facções, que se protegem; A nossa Facção é para a gente se defender dos maiores (sujeito 4).

O guri tocou uma pedra no rosto da guria e. a guria veio trazer a irmã dela e ficou esperando a irmã dela (sujeito 2).

O pai da guria deu no pai do guri (sujeito 2).

Aí eles começaram a se desentender, quando vê um não aceitou pro outro e começaram a brigar (sujeito 2).

Amontuou três brigas, a filha do pai e mais dois guris ainda (sujeito 2).

Baixou o pau10, todo mundo ficou sem aula (sujeito 2).

Os problemas eles resolvem se batendo (sujeito 1).

Para Rosário Ortega Ruiz (2006), uma das soluções para a resolução não violenta de conflitos é a construção de um modelo de convivência na escola com a finalidade de ajudar os discentes a construir uma mentalidade democrática e hábitos de respeito às normas comuns, constituindo-se assim um caminho para enriquecer práticas democráticas, pois o sentido do trabalho escolar é orientar os alunos a aprender a ser e estar, aprender a pensar e compreender, aprender a fazer e a sentir-se útil e aprender a relacionar-se com os demais. Para Rosário Ortega Ruiz, a violência é um fenômeno em que as pessoas, individualmente ou em grupo, restringem o "livre acesso ao gozo dos direitos humanos, desde os direitos mais básicos, como o direito ao bem-estar físico e à segurança até ao direito à cultura, por exemplo". E é esta a violência que se apresenta na fala dos entrevistados, onde, em muitos casos, é utilizada como forma de impor respeito. Assim se relata:

Ah, ele passou a me respeitar (sujeito 3).

Hoje quando ele me vê, diz que está tudo bem (sujeito 3).

Agora outros me respeitam! Não me chamaram mais de gordo! (sujeito 3).

Ela apanhou hoje por causa que ela tava pichando11, mas na verdade ela não pincha.. na verdade ela não riscou... não, na verdade ela não riscou mesmo. As gurias que queriam dar nela e não tinham motivo pra dar nela (sujeito 2).

Na fala dos jovens, nota-se como é reiterante, a utilização dos poderes institucionais como forma de controle. Assim se descreve:

Elas foram para a secretaria e então prometeram não brigar mais (sujeito 3).

Nos mandam para a direção, e tudo está resolvido (sujeito 3).

Pessoas de fora invadem e depredam a escola, e daí os outros levam eles para direção para falar com a Diretora (sujeito 4).

Tirar o recreio (sujeito 2).

Os adolescentes destacam a importância do poder, e o uso que os atores institucionais fazem dele, para fazer valer o controle sobre os diferentes conflitos que aparecem:

Para eles é fácil mandar. Eles tem o poder (sujeito 3).

Sempre o aluno é o culpado, o errado (sujeito 3).

Eles querem parar com as discussões. Aí nos repreendem e mandam ou para a Secretaria ou para o Soe (sujeito 3).

Ele não queria nos ouvir. Queria somente que a gente aprendesse o conteúdo... e deu! (sujeito 3).

Uns dois dias atrás, eu assinei no caderno da minha professora que ela pediu pra eu assinar minha pichação no caderno dela, quando vê eu assinei e ela assim: ah pode apagando as pichação no colégio, pode apagando.. senão eu vou chamar a tua mãe pra vir apagar (sujeito 2)

E um dia que o guardinha saiu de arma atrás de nós de noite que eu tinha que subir pra minha casa e o guardinha ficou esperando nós, daí ele me trouxe até aqui a ponta e eu subi. Se o guardinha puxasse a arma.. bah, ele ia descarregar... ia tomar com as duas (sujeito 2).

Os problemas de brigas e conflito não são resolvidos com os professores (sujeito 1 – 1º ano)

Alguns meninos falaram que sentem medo da cara [expressão facial] da professora assistente (sujeito 1-4ª série).

Alguns dos alunos destacaram a comunicação como processo importante na resolução dos conflitos escolares. Segundo eles, esta seria uma estratégia viável de solucionar as problemáticas existentes:

É resolvido falando, mas sem agressão (sujeito 3).

Com as conversas, se pode evitar a violência (sujeito 3).

Um 'meio de campo' para evitar as brigas (sujeito 3).

Eu teria conversado (sujeito 3).

Me senti saindo bem da situação através do diálogo (sujeito 3).

Muitas vezes temos que pensar melhor antes de querer resolver tudo com brigas (sujeito 3).

Aprendi que temos que pensar antes de partir para a violência (sujeito 3).

Acho que o dialogo é o mais importante (sujeito 3).

Outros entrevistados relataram a dificuldade em propor a solução dos conflitos através do diálogo. Segundo eles:

É difícil resolver assim (sujeito 3).

Difícil é pensar 10 vezes antes de bater no cara que tá te provocando e humilhando (sujeito 3).

Destacam-se nas falas dos adolescentes, o medo que muitos possuem em sofrer represálias, em razão dos conflitos, tais como se relata:

Imagina o que poderia ter acontecido se o outro rapaz resolvesse revidar!12 (sujeito 3).

Os (alunos) grandes nos ameaçam (sujeito 4).

A indiferença também é usada por muitos alunos como estratégia de resolução dos conflitos.

Para mim foi indiferente (sujeito 3).

A indiferença para mim é a melhor coisa nessas horas. Quanto mais mostrar que tu te incomoda, mais eles vão fazer. E não adiante nem bater! (sujeito 3).

As razões para tais comportamentos por parte dos alunos são diversas e relacionam-se com as vivências informais que crianças e adolescentes experimentam no dia-a-dia escolar, quer com os colegas de turma, quer com os outros quando se encontram no recreio, nos corredores, nos espaços de lazer, dentre outros. Muitas crianças e adolescentes vêem-se confrontados freqüentemente, no seu cotidiano escolar, com situações de agressividade (quer enquanto vítimas quer como observadores) com as quais não sabem lidar e que, por vezes, afetam de forma significativa, no seu desenvolvimento escolar, o seu bem-estar e o seu processo de desenvolvimento pessoal e social. As testemunhas, representadas pela grande maioria dos alunos, convivem com a violência e se calam em razão do temor de se tornarem as 'próximas vítimas'. Apesar de não sofrerem as agressões diretamente, muitas delas podem se sentir incomodadas com o que vêem e inseguras sobre o que fazer. Algumas reagem negativamente diante da violação de seu direito a aprender em um ambiente seguro, solidário e sem temores. Tudo isso pode influenciar negativamente sobre sua capacidade de progredir acadêmica e socialmente (Constantini, 2004; Fante, 2005).

Quando questionados da possibilidade de repararem os conflitos, através de formas alternativas de resolução, enfatizando o diálogo, a comunicação, no contato com o ofensor, ou vitima, a maioria assim respondeu:

Nem pensar. Não quero mais vê-lo nem pintado na minha frente (sujeito 3).

É complicado pensar assim, dessa forma. Acho que já resolvemos como tinha que ser. Não tem porque ficar conversando (sujeito 3).

Finalizando, contemporaneamente, face ao fenômeno da globalização, cresce em todo o mundo a preocupação com a paz mundial e com o respeito pelos direitos humanos e deposita-se nos educadores a esperança de que com a sua ação contribuir para que as novas gerações sejam educadas numa cultura de não-violência, formando cidadãos capazes de promover a paz. Na compreensão dos alunos, esta concepção de paz está relacionada:

Tipo uma campanha, sei lá... mas acredito que o grande problema aqui é mesmo em relação aos professores. Eles teriam de nos escutar, muito mais (sujeito 2).

Espaço de dialogo e comunicação entre os alunos é importante (sujeito 3).

Por que paz gera a paz, e violência gera violência (sujeito 4).

 

Considerações Finais

O fenômeno bullying é uma epidemia mundial retratada em jogos de computador, filmes, páginas de jornal e noticiários de televisão.  O jovem estudante de hoje convive com diversas formas de violência, bem como uma variedade de locais e freqüência aonde o fato ocorre, o que tem possibilitado certa banalização em relação ao fato em si. Principalmente entre os jovens, corre-se o risco de confundir brincadeiras, indisciplina e violência.

Aceleradamente desde a década de 80, a população juvenil vem ocupando mais espaço na mídia pelo seu envolvimento em situações violentas. Há tempos a violência era relacionada à população menos privilegiada, mas hoje se sabe que adolescentes de classe mais favorecidas economicamente cometem crimes, muitas vezes, com rituais de crueldade muito mais severos. A violência não pode ser justificada pela pobreza.

No meio escolar, a situação se expressa ainda mais complexa: o pseudo-diagnóstico em relação à indisciplina mascara situações da interferência do cotidiano social gerando situações claras de violência no meio escolar. Assim, podemos afirmar que a violência escolar é decorrente da violência social, mas que dentro de um âmbito pedagógico, merece destaque.

A pesquisa sobre bullying escolar em escolas públicas de Porto Alegre demonstrou que o problema é freqüente em nossas escolas. O primeiro indicativo surge quando quase 40% dos alunos consideram regular/ruim/ péssimo as relações na escola. Aqui não se trata de gostar ou não da escola ou de estudar, mas de sentir-se bem neste ambiente. O contexto escolar está carregado de preconceitos – assim como a vida cotidiana – e essa dinâmica vem levando cada vez mais jovens ao isolamento e à exclusão. As razões para ser banido do grupo social se justificam por qualquer desgosto.

Há muito já se tem preocupado com a violência, mas a do tipo bullying – silenciosa, tirania, opressora – se configura num modelo contemporâneo de agressividade.  As crianças já não brincam na rua devido à violência das grandes cidades e nas escolas, as brincadeiras tornaram-se apedrejamento público de um sujeito com alguma característica diferente. Isso sugere a intolerância social de uma comunidade.

A vitima do bullying, segundo a literatura, possui características que podem colaborar para tal situação, mas isso não suaviza o seu sofrimento.  Historicamente, os meninos são mais brigões, mas nas situações de bullying, nossos jovens não identificam esta diferença de gênero. Segundo Simmons, o tipo de agressão é que se diferencia: menos física.

Autores, vítimas, testemunhas e todo ambiente escolar sofrem com a prática de bullying. O convívio num ambiente de ansiedade, medo e agressividade, afeta os processos de aprendizagem; incentiva comportamentos agressivos e/ou depressivos; provoca o adoecimento dos envolvidos e aumenta os riscos para comportamentos delinqüentes, violentos e de abuso de drogas no futuro (diganãoaobullying.com.br).

Certas atitudes dos jovens em relação à escola devem ser observadas. Caso elas se repitam, podem ser indicativos da prática bullying. Esses indicativos são apresentados no projeto "diga não ao bullying", no site americano stop bullying now, entre outros. Entre elas, merecem destaque: sentir-se mal perto da hora de ir à escola; revelar medo de ir ou voltar da escola; isolar-se do grupo ou ficar próximo do professor ou de um adulto, durante os intervalos; manifestar sintomas como: cefaléia, enjôos, vômitos, dores de estômago, tontura, etc; apresentar machucados inexplicáveis e/ou roupas e materiais danificados; 'perder' repetidamente pertences e dinheiro; demonstrar mudança de comportamento/ansioso, arredio e deprimido, baixa auto-estima; evitar falar sobre o que se passa ou dar desculpas pouco convincentes; apresentar baixo rendimento escolar, faltas excessivas e pedidos de troca de escola.

O fato merece intervenção imediata da escola e da família. Não será rápido o processo de mudança deste tipo de comportamento que há muito ocorre nas escolas. Reafirmamos que brigas, discussões e desavenças são comuns, mas que o constrangimento, de caráter agressivo e rotineiro levando ao isolamento deve ser banido.  Assim, sugerem-se às escolas a capacitação continuada aos professores e funcionários a fim de cultivarem atitudes de respeito e tolerância entre os alunos; estarem preparados para ouvir as queixas das crianças e jovens e ajudar as crianças e jovens a buscarem soluções não violentas a fim de estimular o convívio com outros grupos.

Além disso, é necessário que os pais (famílias) tenham intimidade com o ambiente escolar, que sejam próximos de seus filhos para abordarem e serem capazes de identificar esse processo. É necessário que os pais venham a buscar auxílio profissional  para a intervenção nas situações do tipo bullying, reforçando a auto-estima e orientando os jovens a enfrentarem a dificuldade ao invés de trocá-los de escola, o que muitas vezes ocorre.

 

 

Notas

1    Termo que equivale a idiotas.

2    Batuqueira é uma expressão do léxico brasileiro que significa feiticeira.

3    Guria é um termo típico do Estado do Rio Grande do Sul utilizado para designar menina.

4    Guri é um termo típico do Rio Grande do Sul, sinônimo de menino.

5    Bagunçar é um termo que significa desorganizar, incomodar, etc.

6    Corredor polonês é uma brincadeira em que as crianças fazem duas bichas e chutam e dão murros às demais crianças que atravessam no meio das bichas, podendo causar lesões físicas.

7    Cascudo é uma agressão física contra a cabeça da vítima.

8    Xingamento é um termo local, utilizado como sinônimo de ofensa verbal.

9    Babaca é uma ofensa verbal correspondente a “bobo”.

10  Baixou o pau é  terminologia utilizada entre os jovens brasileiros e corresponde a iniciar a briga.

11 Pichar significa riscar móveis, paredes. Significa depredar o patrimônio alheio.

12  Revidar significa retribuir a agressão sofrida.

 

 

Referências

BARDIN, Lawrence (1979). Análise de Conteúdo. Lisboa-Portugal: Edições 70.

BEAUDOIN, Marie-Natalie (2006). Bullying e Desrespeito: como Acabar com essa Cultura na Escola. Trad. Sandra Regina Netz. Porto Alegre: Artmed.

CONSTANTINI, Alessandro (2004). Bullying, como Combatê-lo?: Prevenir e Enfrentar a Violência entre Jovens. SP: Itália Nova editora.

DAY, Nancy (1996). Violence in Schools – Learning in Fear. Berkeley Heights, NJ: Enslow Publishers.

DEBARBIEX, Eric & BLAYA, Catherine (2002). Violência nas Escolas e Políticas Públicas. Brasília: UNESCO.

FANTE, Cléo (2005). Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz. 2. ed.rev. Campinas, SP: Veras editora.

LOPES NETO, Antônio (2005). Bullying — comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, v. 81, n. 5. Porto Alegre.         [ Links ]

MARTINELLI, Maria Lúcia (1994). O Uso de Abordagens Qualitativas na Pesquisa em Serviço Social: um Instigante Desafio. Seminário sobre Metodologias Qualitativas de Pesquisa. PUCSP – NEPI.

NETO, Antônio & SAAVEDRA, L. H. (2004). Diga não para o Bullying. Rio de Janeiro: ABRAPI.

ORTEGA, Rosário Ruiz (2006). Educar la convivência: Via regia de prevenir la violência. Idea 24. Consejo Escolar de Navarra.

TATTUM, Delwyn & HERBERT, Graham (1997). Bullying: Home, School and Community. London: David Fulton Publisher.

SIMMONS, Rachel (2004). Garota Fora do Jogo: a Cultura da Agressão nas Meninas. Trad: T. M. Rodrigues Rio de Janeiro: Rocco.

COSTA, M. E. & VALE, Dulce (1998). Violência nas Escolas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.

 

Endereços eletrônicos consultados

1. Site oficial da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul

http://www.educacao.rs.gov.br

 

2. Sites sobre o fenômeno bullying

www.bullying.com.br

www.abrapia.org.br

www.stopbullyingnow.com

 

Recebido em Julho/2008

Aceite para publicação em Maio/2009