SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.21 número1Crise da escola ou na escola? Uma análise da crise de sentido dos sistemas públicos de escolarização obrigatóriaInteligência e rendimento escolar: análise da sua relação ao longo da escolaridade índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Educação

versão impressa ISSN 0871-9187

Rev. Port. de Educação v.21 n.1 Braga  2008

 

A escola como entreposto cultural: o cultural e o simbólico no desenvolvimento democrático da escola

Leonor Lima Torres

Universidade do Minho, Portugal

 

Resumo

Sujeita a uma multiplicidade de condicionamentos externos de grau e natureza distintos, a escola pública nunca, como nos dias de hoje, se viu confrontada com tantas diversidades culturais, sociais, politicas e ideológicas, que tanto a desafiam à assunção de lógicas de reconfiguração e mudança, como igualmente a colocam numa permanente tensão face à necessidade de preservar a sua matriz identitária, historicamente sedimentada. E é justamente perante este dilema estabelecido entre os factores de ordem externa que quotidianamente invadem as escolas (administração central e periférica, comunidades locais, entre outros) e os factores de natureza interna à escola (sociabilidades, práticas de convívio, rituais, costumes, tradições) que se jogam novas possibilidades de repensar o desenvolvimento democrático das escolas. Neste artigo retomámos a ideia de escola como entreposto cultural (Torres, 2004) — um espaço de cruzamento de culturas, de metamorfoses quotidianas de poder e de conflito, de relações diferenciadas entre actores escolares e educativos —, com o propósito de clarificar a relevância das dimensões culturais e simbólicas da organização escolar no desenvolvimento de processos de inovação e mudança e na exploração de (possíveis) vínculos de assessoria educativa. A nossa reflexão não deixará, por isso, de interrogar criticamente as temporalidades e as lógicas de acção num suposto novo espaço escolar, questionando o papel que os consequentes inputs culturais e políticos assumem na construção da autonomia e da escola democrática.

Palavras-chave: Cultura escolar; Cultura organizacional escolar; Autonomia democrática da escola

 

 

School as a Cultural Tradepost: The Cultural and the Symbolic in the Democratic Development of School

Exposed to a wide range of external regulating factors of varying degree and nature, the public school has never been faced with so many cultural, social, political, and ideological diversities as it is today. These diversities not only challenge the school to adopt logics of change and reconfiguration, but also create a state of permanent tension with regard to the need to safeguard it’s historically grounded identity matrix. And it is precisely within this dilemma created between factors which are external in nature and invade schools on a daily basis (central and peripheral administration, local communities, just to name a few) and factors which are internal in nature (sociabilities, socializing practices, rituals, customs, traditions) that lie new possibilities to rethink the democratic development of schools. In this article, we take up the idea of school as a cultural tradepost (Torres, 2004) — a place where cultures cross, of daily metamorphoses of power and of conflict, of differentiated relations between school and educational actors (players) — , with the purpose of making clearer the relevance of the cultural and symbolic dimensions of the school organization in the development of processes of innovation and change and in the exploration of (possible) educative assessorial bonds. Our reflections will not, therefore, turn away from the critical questioning of the temporalities and the logics of action in the proclaimed new school arena, examining the role that the consequential cultural and political inputs play in the creation of autonomy and the democratic school.

Keywords: School culture; School organizational culture; Democratic autonomy of the school

 

 

L'école Comme Entrepôt Culturel: Le Culturel et le Symbolic dans le Développement Démocratique de L'école

Sujet à une multiplicité de conditionnements externes de degré et nature distinct, l'école publique jamais comme de nos jours s'est vue confrontée à autant diversités culturelles, sociales, politiques et idéologiques, que de telle façon ils la défient à l'assomption des logiques de reconfiguration et de changement, comme également ils la placent dans une permanente tension face à la nécessité de préserver sa matrice identitaire, historiquement sédimentée. Et c'est exactement devant ce dilemme établi entre les facteurs d'ordre externe qui quotidiennement envahissent les écoles (administration centrale et périphérique, les communautés locales, entre autres) et les facteurs de nature interne à l'école (sociabilités, pratiques de convivialité, cérémonials, habitudes, traditions) que se jouent de nouvelles possibilités de repenser le développement démocratique des écoles. Dans cet article, nous avons repris l'idée d'école comme entrepôt culturel (Torres, 2004) — un espace de croisement de cultures, de métamorphoses quotidiennes de pouvoir et de conflit, de relations différenciées entre des acteurs scolaires et éducatifs —, avec l'intention de clarifier l'importance des dimensions culturelles et symboliques de l'organisation scolaire dans le développement de processus d'innovation et le changement et dans l'exploration (possibles) de liens d'assessorat éducative. Notre réflexion ne laissera pas, donc, d'interroger les temporalités et les logiques d'actions dans une présomption nouvelle espace scolaire, en interrogeant le rôle que les conséquents inputs culturels et politiques assument dans la construction de l'autonomie et de l'école démocratique.

Mots-clé: Culture scolaire; Culture organisationnelle d’école; Autonomie démocratique de l'école

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

Referências

ALVESSON, Mats (2002). Understanding Organizational Culture. London: Sage Publications.         [ Links ]

BARROSO, João (1996). Para o Desenvolvimento de uma Cultura de Participação na Escola. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.

BARROSO, João (1998). Descentralização e autonomia: devolver o sentido cívico e comunitário à escola pública. Revista Colóquio/Educação e Sociedade, nº 4 (nova série), pp. 32-58.

BATES, Richard J. (1987). Corporate culture, schooling, and educational administration. Educational Administration Quarterly, Vol. 23, nº 4, pp. 79-115.

BOLMAN, Lee G. & DEAL, Terrence E. (1994). Becoming a Teacher Leader. From Isolation to Collaboration. Thousand Oaks: Corwin Press, Inc.

BOLTANSKI, Luc & THÉVENOT, Laurent (1991). De la Justification. Les Économies de la Grandeur. Paris: Gallimard.

CANÁRIO, Rui (1996). Os estudos sobre a escola: problemas e perspectivas. In J. Barroso (Org.), O Estudo da Escola. Porto: Porto Editora, pp. 121-149.

CLEGG, Stewart (1998). As Organizações Modernas. Oeiras: Celta Editora.

CORREIA, José A.; STOLEROFF, Alan D. & STOER, Stephen (1993). A ideologia da modernização no sistema educativo em Portugal. Cadernos de Ciências Sociais, nº 12/13, pp. 25-51.

CUNNINGHAM, William G. & GRESSO, Donn W. (1993). Cultural Leadership: The Culture of Excellence in Education. Boston: Allyn and Bacon.

DEAL, Terrence (1988). The symbolism of effective schools. In A. Westoby, Culture and Power in Educational Organizations. Milton Keynes: Open University Press, pp. 198-222.

DEROUET, Jean-Louis (2000). L'École dans Plusieurs Mondes. Bruxelles: De Boeck e Larcier.

ELMORE, Richard F. (1987). Reform and the culture of authority in schools. Educational Administration Quarterly, Vol. 23, nº 4, pp. 60-78.

ENTEMAN, Willard E. (1993). Managerialism The Emergence of a New Ideology. Madison: The University of Wisconsin Press.

FERGUSSON, Ross (1994). Managerialism in education. In J. Clarke; A. Cochrane & E. McLaughlin (Orgs.), Managing Social Policy. London: Sage Publications, pp. 93- 114.

FROST, Peter J.; MOORE, Larry F.; LOUIS, Meryl R.; LUNDBERG, Craig C. & MARTIN, Joanne (Eds.) (1991). Reframing Organizational Culture. London: Sage Publications.

HARGREAVES, Andy (1996). Profesorado, Cultura Y Postmodernidade (Cambian los Tiempos, Cambia el profesorado). Madrid: Ediciones Morata, S. L.

JAMES, Chris (1999). Institutional transformation and educational management. In T. Bush; L. A. Bell; R. Bolam; R. Glatter & P. M. Ribbins (Eds.), Educational Management. Redefining Theory, Policy and Practice. London: Paul Chapman Publishing Ltd., pp. 142-154.

LIMA, Licínio C. (1994). Modernização, racionalização e optimização: perspectivas neotaylorianas na organização e administração da educação. Cadernos de Ciências Sociais, nº 14, pp. 119-139.

LIMA, Licínio C. (1996). Construindo um objecto: para uma análise crítica da investigação portuguesa sobre a escola. In J. Barroso (Org.), O Estudo da Escola. Porto: Porto Editora, pp. 17-39.

LIMA, Licínio C. (1997). O paradigma da educação contábil — políticas educativas e perspectivas gerencialistas no Ensino Superior em Portugal. Revista Brasileira de Educação, nº 4, pp. 43-59.

MARTIN, Joanne (1992). Cultures in Organizations. Three Perspectives. New York, Oxford: Oxford University Press.London: Sage Publications, pp. 58-76.

MARTIN, Joanne (2002). Organizational Culture. Mapping the Terrain. London: Sage Publications.

OSBORN, David & GAEBLER, Ted (1992). Reinventing Governement: How the Entrepreneurial Spirit is Transformating the Public Sector. Reading MA: Addison-Wesley.

PÉREZ GÓMEZ, Ángel I. (1998). La Cultura Escolar en la Sociedad Neoliberal. Madrid: Ediciones Morata, S. L.

PROSSER, Jon (Ed.) (1999). School Culture. London: Sage Publications.

SALLÁN, Joaquín (2000). Cambio de cultura y organizaciones que aprenden. Educar, nº 27, pp. 31-85.

SELF, Peter (1993). Government by the Market? The Politics of Public Choice. London: Macmillan.

SPARKES, Andrew C. & BLOOMER, Martin (1993). Teaching cultures and school-Based management: towards a collaborative reconstruction. In J. Smyth (Ed.), A Socially Critical View of the Self Management School. London: The Palmer Press, pp. 171-189.

ST-GERMAIN, Michel (2001). Une conséquence de la nouvelle gestion publique: l'émergence d'une pensée comptable en Éducation. Éducation et Francophonie, Vol. XXIX, nº 2, pp. 1-23 [Disponível em www.acelf.ca/revue].

TEIXEIRA, Lúcia (2001). A cultura organizacional e o impacto das propostas de mudança em escolas estaduais de Minas Gerais. In L. F. Dourado & V. H. Paro (Orgs.), Políticas Públicas e Educação Básica. São Paulo: Xamã.

THURLER, Monica Gather (1994). Relations profissionnelles et culture des établissements scolaires: au-delà du culte de líndividualisme?. Revue Française de Pédagogie, nº 109, pp. 19-39.

TORRES, Leonor (1997). Cultura Organizacional Escolar: Representações dos Professores Numa Escola Portuguesa. Oeiras: Celta Editora.

TORRES, Leonor (2004). Cultura Organizacional em Contexto Educativo. Sedimentos Culturais e Processos de Construção do Simbólico Numa Escola Secundária. Braga: Centro de Investigação em Educação e Psicologia da Universidade do Minho.

URIO, Paolo (1998). La gestion publique au service du marche. In M. Huffy (Dir.), La Pensée Comptable. Paris: PUF, pp. 91-124. A escola como entreposto cultural 79

 

 

Recebido em Março, 2007

Aceite para publicação em Novembro, 2007