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Revista de Ciências Agrárias

Print version ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.40 no.1 Lisboa Mar. 2017

https://doi.org/10.19084/RCA16041 

ARTIGO

Biomassa e atividade microbiana do solo em diferentes sistemas de cultivo do cafeeiro

Biomass and soil microbial activity in different systems of coffee cultivation

Nathalia de F. Guimarães1,*, Anderson de S. Gallo1, Anastácia Fontanetti2, Silvana P. Meneghin2, Maicon D. B. de Souza3, Kátia P. G. Morinigo3 e Rogério F. da Silva 4

 

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 23.897-970, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil; *E-mail: n.fguimaraes@hotmail.com

2 Universidade Federal de São Carlos – Centro de Ciências Agrárias, 13.560-970, Araras, São Paulo, Brasil;

3 Universidade Federal de São Carlos – Centro de Ciências Agrárias, 13.560-970, Araras, São Paulo, Brasil;

4 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidade de Glória de Dourados, 79.730-000, Glória de Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil.

 

RESUMO

O trabalho teve como objetivo avaliar a influência dos diferentes sistemas de cultivo do cafeeiro na biomassa e atividade microbiana do solo. O delineamento experimental consistiu em blocos casualizados, com cinco repetições. A primeira avaliação foi realizada no mês de abril e a segunda no mês de julho de 2015. Os tratamentos foram constituídos por três sistemas de cultivo do cafeeiro e duas áreas testemunhas: 1) Cafeeiro em consociação com espécies arbóreas e Urochloa cv. decumbens; 2) Cafeeiro em consociação com Urochloa cv. decumbens; 3) Cafeeiro em monocultura; 4) Área com solo em pousio e 5) Fragmento de vegetação nativa. A biomassa e atividade microbiana foram avaliadas em amostras de solo colhidas à profundidade de 0,0-0,10 m. As variáveis avaliadas foram: carbono da biomassa microbiana, respiração basal, quociente metabólico, quociente microbiano e carbono orgânico do solo. Avaliou-se também o acúmulo de manta morta (t ha-1) e a humidade do solo (kg kg-1). Os sistemas Fragmento de vegetação nativa, Cafeeiro em consociação com espécies arbóreas e U. cv. decumbens e Cafeeiro consociado com U. cv. decumbens favorecem a biomassa e a atividade microbiana do solo, independente da época de amostragem.

Palavras-chave: bioindicadores, Coffea arabica, espécies arbóreas, Urochloa cv. decumbens

 

ABSTRACT

The work aimed to evaluate the influence of different coffee farming systems in soil microbial biomass and activity. The experimental design consisted in randomized blocks in split plot, with five repetitions. Two seasons were evaluated, the first in April and the second in July 2015. The treatments consisted of three coffee cultivation systems and two control areas: 1) Coffee intercropped with trees species and Urochloa cv. decumbens; 2) Coffee intercropped with Urochloa cv. decumbens; 3) Coffee in monoculture; 4) ground fallow and 5) native vegetation fragment. The soil microbial biomass and activity were assessed in soil samples collected at 0.0-0.10 m depth. The following variables were evaluated: microbial biomass carbon, basal respiration, metabolic quotient, microbial quotient and soil organic carbon. Litter accumulation (t ha-1) and soil moisture (kg kg-1) were also evaluated. The systems fragment of native vegetation, Coffee in consortium with tree species and U. cv. decumbens and Coffee intercropped with U. cv. decumbens favour soil microbial biomass and activity, regardless the sampling time.

Keywords: bioindicators, Coffea arabica, tree species, Urochloa cv. decumbens

 

INTRODUÇÃO

A conservação dos recursos naturais tem-se tornado uma preocupação constante, principalmente quando se refere ao setor agropecuário (Gomes et al., 2015). Para reduzir a degradação dos solos agrícolas, a utilização de técnicas que possuem como premissa a manutenção da qualidade do solo e a sustentabilidade dos sistemas produtivos tem ganhado importância (Almeida et al., 2008).

Seguindo esta tendência, o cafeeiro arborizado vem ganhando destaque tanto no âmbito nacional como global. A arborização do cafeeiro é uma técnica antiga, muito utilizada no Brasil e no mundo. Este sistema de cultivo tem sido estudado como forma de proteção da lavoura contra intempéries climáticas e também para a promoção da sustentabilidade da cultura (Guimarães et al., 2015).

O sombreamento reduz os efeitos da bienalidade na produção de grãos, aumenta a longevidade do cafeeiro e uniformiza a maturação dos frutos, melhorando a qualidade da bebida (Morais et al., 2007). Além disso, contribui para a manutenção da humidade e redução da amplitude térmica do solo, com implicações indiretas nos atributos físicos, químicos e biológicos do mesmo (Jaramillo-Botero et al., 2010).

Assim como a arborização, o uso de plantas de cobertura é uma importante prática conservacionista, pois protege a superfície dos solos contra os agentes erosivos, melhora a estabilidade da estrutura e promove a formação e manutenção de agregados no solo (Resck et al., 2008).

Entre as plantas de cobertura comumente consociadas com o cafeeiro destacam-se as do gênero Urochloa, que por se tratar de uma espécie perene reduz a necessidade de revolvimento anual do solo para o semeio. Além disso, promove alterações nos atributos físico-hídricos do solo, resultando no aumento de água prontamente disponível, devido à ação agregante do seu sistema radicular (Rocha et al., 2014).

As práticas mencionadas influenciam positivamente a biota do solo, atuando na melhoria e manutenção da sua qualidade. Em geral, áreas produtivas com maior diversidade vegetal favorecem o desenvolvimento da biomassa microbiana e aumentam o teor de C-orgânico no solo (Silva et al., 2012). Os organismos do solo, por estarem intimamente relacionados ao funcionamento deste, apresentando estreita inter-relação com os componentes físicos e químicos, podem ser utilizados como bioindicadores da qualidade do solo (Baretta, 2007). Dentre os mais utilizados para caracterizar o componente biológico, destacam-se as medidas de biomassa e atividade microbiana (Mendes e Reis Junior, 2004). Alterações na comunidade microbiana e na sua atividade interferem diretamente nos processos biológicos e bioquímicos do solo, na produtividade agrícola e, consequentemente, na sustentabilidade dos agroecossistemas (Matsuoka et al., 2003).

Nesse contexto, é de fundamental importância a avaliação dos indicadores mais sensíveis às práticas de gestão, visando a monitorização dos impactos positivos ou negativos sobre o solo (Xavier et al., 2006).

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência dos diferentes sistemas de cultivo do cafeeiro na biomassa e atividade microbiana do solo.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área de estudo

O estudo foi conduzido nos meses de abril e julho de 2015, na Fazenda Retiro Santo Antônio (FRSA), localizada no município de Santo Antônio do Jardim, estado de São Paulo (22º06'57" S e 46º40'48 W, 850 m de altitude). O solo do local é classificado como Argissolo Vermelho-amarelo (Embrapa Solos, 2006) e as características químicas e físicas (granulometria) estão descritas no Quadro 1.

O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é o Cwb, caracterizado pela ocorrência de verões com temperaturas amenas para as regiões serranas limítrofes com o estado de Minas Gerais (onde se localiza a propriedade). A sua vegetação é formada por florestas latifoliadas tropicais, variando de decídua a perenifólia. Os dados climáticos verificados durante a condução do estudo estão sumarizados no Quadro 2.

Delineamento experimental e caracterização do experimento

O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, em esquema de parcelas com cinco repetições e duas épocas de amostragem. Cinco áreas experimentais foram selecionadas e delimitadas, com 52,0 m de comprimento e 47,0 m de largura (2.444 m2). Os tratamentos foram constituídos por três sistemas de cultivo do cafeeiro:

1) Cafeeiro em consociação com espécies arbóreas e Urochloa cv. decumbens (CAU): a variedade cultivada é a Obatã, implantada em 2007, com espaçamento de 3,5 m entrelinha e 0,8 m linha (3.571 plantas ha-1), consociada com as espécies arbóreas Persea americana (abacateiro), Senegalia polyphylla (monjoleiro), Hymenaea sp. (jatobá), Carica papaya (mamão), Anadenanthera colubrina (angico-branco), Peltophorum dubium (canafístula) e Cassia grandis (cássia-rosa), implantadas em 2009, com espaçamento de 14 m entrelinha e 16 m linha (44 plantas ha-1). Em 2014, na entrelinha do cafeeiro foi semeada U. cv. decumbens, cuja gestão é realizada por corte a cada três meses, em média. A adubação do café é realizada com aplicação de ureia (quatro vezes ao ano), cloreto de potássio (duas vezes ao ano), fosfato reativo, boro e composto à base de esterco bovino, estrume de galinha e palha de café (uma vez ao ano). A aplicação de produtos fitossanitários é realizada em média a cada três meses, utilizando os seguintes produtos: Boveril®, Natur’l óleo®, melaço, Supera®, Zapp QI 620®, Metiltiofan®, Aurora 400 EC® e Triona®. Consta o uso de máquinas e alfaias agrícolas para a mobilização do solo, aplicação de produtos fitossanitários e colheita;

2) Cafeeiro em consorciação com Urochloa cv. decumbens (CUD): a variedade cultivada é a Mundo Novo, implantada em 2012, com espaçamento de 3,5 m entrelinha e 0,8 m linha (3.571 plantas ha-1), em consociação com Urochloa cv. decumbens, semeada em 2014. A gestão é realizada por corte a cada três meses, em média. A adubação, os produtos fitossanitários e as máquinas e alfaias agrícolas utilizados são os mesmos descritos para CAU.

3) Cafeeiro em monocultura (CM): a variedade cultivada é a Obatã, implantada em 2007, com espaçamento de 3,5 m entrelinha e 0,8 m linha (3.571 plantas ha-1). A adubação, produtos fitossanitários e máquinas e alfaias agrícolas são os mesmos descritos para CAU.

Duas áreas foram utilizadas como testemunha para a qualidade do solo: 4) Pousio (P): área que permanece em pousio há três anos, havendo somente o crescimento de vegetação espontânea herbácea, cultivada anteriormente com cafeeiro que permaneceu na área por aproximadamente 50 anos; 5) Fragmento florestal nativo (FF), em estádio sucessional intermediário, localizado a 800 m das áreas de estudo. No fragmento florestal há uma trilha ecológica desde 1994.

Condução do ensaio

>Acumulação de manta morta

Foi avaliada a acumulação de manta morta (t ha-1) próxima aos pontos de amostragem do solo, com o auxílio de uma quadrícula de madeira de 0,25 × 0,25 m. O material colhido foi acondicionado em sacos de papel devidamente identificados e transportados para estufa de secagem com circulação de ar forçada (65º C), até atingirem massa constante, quando foram pesados. Os dados obtidos foram transformados em toneladas por hectare.

Humidade do solo

Para a determinação da humidade do solo foram realizadas amostragens, com o auxílio de sonda holandesa, à profundidade de 0,0-0,10 m. Nas áreas com cafeeiro, foram colhidas amostras sob a copa das plantas de café. As amostras foram submetidas ao método termogravimétrico, conforme Claessen (1997), que consiste em pesar a massa de solo húmido e em seguida secá-lo em estufa a 105–110º C por 24 horas e, após esse período, determinar sua massa seca. A humidade foi calculada pela equação: U (kg kg-1) = Mu-Ms / Mu x 100. Onde: U = humidade do solo (kg kg-1); Mu = massa de solo húmido (g); Ms = massa de solo seco em estufa (g).

Biomassa microbiana do solo

Para avaliação da biomassa microbiana do solo, em cada parcela, foi realizada a amostragem de solo na camada de 0,0–0,10 m de profundidade. Nas áreas com cafeeiro, foram colhidas amostras sob a copa das plantas de café. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos medindo 35 cm × 45 cm, transportadas para o laboratório em caixa térmica e posteriormente armazenado em câmara fria (4° C). O carbono da biomassa microbiana (C-BMS) foi avaliado pelo método da fumigação-extração, de acordo com Vance et al. (1987). Determinou-se ainda a respiração basal (C-CO2), obtida pela incubação das amostras com captura de CO2 em NaOH, durante sete dias, pela adaptação do método da fumigação-incubação proposto por Jenkinson e Powlson (1976). O quociente metabólico (qCO2) foi obtido a partir da relação C-CO2/C-BMS (Anderson e Domsch, 1990) e o quociente microbiano (qMIC) pela relação C-BMS/ C-orgânico. O conteúdo do carbono orgânico foi determinado, conforme a metodologia descrita por Claessen (1997).

Análises estatísticas

Os dados de C-BMS, C-CO2, qCO2 e qMIC (X) foram transformados de acordo com a expressão ??=vX. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas no software Assistat (Silva, 2012).

Os parâmetros microbiológicos também foram submetidos à análise de agrupamento (“cluster analysis”), adotando-se o método do vizinho mais distante (“complete linkage”), a partir da Distância Euclidiana, para avaliar a dissimilaridade entre os sistemas estudados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Acumulação de manta morta e humidade do solo

Para as variáveis acumulação de manta morta e humidade do solo, não houve interação significativa entre os sistemas de gestão e as épocas de avaliação (Quadro 3).

Contudo, houve diferença significativa para acumulação de manta morta entre os sistemas avaliados (Quadro 3). A maior acumulação verificou-se nos sistemas FF, CAU e CUD, que não diferiram entre si e foram superiores ao CM. Guimarães et al. (2015), avaliando a acumulação de manta morta em diferentes sistemas de cafeeiro orgânico arborizado no Mato Grosso do Sul, também não verificaram diferença significativa entre a vegetação nativa e os sistemas de cafeeiro em consociação com espécies florestais e frutíferas.

Ao analisar as épocas, verifica-se que a maior acumulação ocorreu no mês de julho (Quadro 3). Este resultado está relacionado, provavelmente, com a maior queda das folhas nesta época do ano devido ao défice hídrico, fenómeno este considerado natural. A maior deposição em períodos secos pode ser uma resposta da vegetação, que com a queda das folhas reduziria a perda de água por transpiração (Silva et al., 2007).

No que se refere à humidade do solo, o maior valor foi verificado no FF em comparação aos demais sistemas e não houve diferença entre as épocas de amostragem (Quadro 3). Tal constatação pode estar associada a maior acumulação de manta morta no fragmento florestal, apesar de não ter sido verificada diferença estatística entre a área e os sistemas CAU e CUD. A cobertura vegetal reduz a incidência da radiação solar direta e, consequentemente, favorece a manutenção da humidade do solo (Jaramillo-Botero et al., 2008).

Oliveira et al. (2005), avaliando a humidade do solo em resposta à cobertura vegetal em um Argissolo, verificaram que a cobertura e o nível de ensombramento influenciam diretamente as flutuações de humidade. Silva et al. (2011), avaliando atributos do solo em sistemas agroflorestais, cultivo convencional e floresta nativa, verificaram maior humidade na floresta nativa, seguido do sistema agroflorestal com espécies frutíferas e adubação orgânica e do cultivo convencional de mamoeiro irrigado. Outros autores também verificaram maior armazenamento de água no solo em função da cobertura vegetal (Dalmago et al., 2009; Seki et al., 2015). A proteção por meio de resíduos vegetais reduz a evaporação, aumenta a infiltração da água no solo (Fabrizzi et al., 2005), diminui a amplitude térmica da superfície do solo e, consequentemente, conserva a humidade (Almeida et al., 2011).

Biomassa microbiana do solo

Para as variáveis carbono da biomassa microbiana, respiração basal, quociente metabólico, quociente microbiano e carbono orgânico do solo não houve interação significativa entre os sistemas de cultivo e as épocas de avaliação (Quadro 4).

Este resultado pode estar relacionado à adaptação gradual da microbiota do solo às mudanças do ambiente podendo ter havido mudanças na composição da população microbiana ao longo dos meses que separaram as coletas, o que não é possível determinar pelos métodos de avaliação utilizados neste estudo (Reis Junior e Mendes, 2007). Glaeser et al. (2010), avaliando a biomassa microbiana do solo em diferentes sistemas de cultivo orgânico do cafeeiro no Cerrado brasileiro, também não verificaram interação entre as épocas de avaliação e os diferentes sistemas avaliados.

Os maiores valores de carbono da biomassa microbiana (C-BMS) foram verificados nos sistemas CAU, CUD, P e FF em comparação ao sistema CM (Quadro 4). Valores elevados de C-BMS indicam que os nutrientes ficam imobilizados temporariamente, o que resulta em menores perdas dos nutrientes no sistema solo-planta (Roscoe et al., 2006). Os resultados encontrados no presente estudo indicam que a maior diversificação vegetal em sistemas agrícolas estimula positivamente a biomassa microbiana, provavelmente por esses sistemas proporcionarem condições favoráveis ao seu desenvolvimento, gerando micro habitats favoráveis e sítios de refúgio, além do facto dos resíduos vegetais servirem como fonte de energia e nutrientes para os organismos do solo (Badejo et al., 2002; Merlim et al., 2005).

Almeida et al. (2007), avaliando a influência de um sistema agroflorestal desenvolvido na Zona da Mata Mineira na biomassa microbiana do solo, verificaram que os maiores teores de C-BMS foram encontrados em áreas de cultivo de café em sistema agroflorestal e sob mata nativa, relativamente a áreas de cultivo de café não arborizadas. O mesmo foi observado por Glaeser et al. (2010), que avaliando os atributos microbiológicos do solo na região Centro-oeste do país não verificaram diferenças entre a vegetação nativa e o cafeeiro em consórcio com a Musa spp. (bananeira) e Acacia sp. (acácia).

Para a respiração basal (C-CO2), os maiores valores foram verificados no FF, CAU e CUD, que não diferiram entre si e foram superiores ao CM e P (Quadro 4). Este índice é expresso pela taxa de respiração dos microrganismos e, conforme Reis Junior e Mendes (2007), uma taxa superior de respiração pode significar, em curto prazo, libertação de nutrientes, considerando que a decomposição do material vegetal poderá disponibilizar nutrientes para as plantas. O resultado observado nesta variável indica que o aporte de resíduos vegetais advindo da queda das folhas da arborização e dos resíduos da Urochloa cv. decumbens estimulou a atividade dos microrganismos no solo. Este estímulo deve-se ao enriquecimento do solo (Xavier et al., 2003) por meio do aumento da biodiversidade vegetal (Murgueitio, 2007) e consequentemente maior disponibilidade de alimento para a microbiota, sendo essa a principal fonte de energia para a atividade desses organismos (Pinto Neto et al., 2014). Além disso, a deposição da manta morta propicia maior proteção da superfície do solo, mantendo a humidade e reduzindo a amplitude térmica do mesmo (Xavier et al., 2006), promovendo um ambiente propício ao desenvolvimento das populações microbianas. Souza et al. (2013), avaliando a biomassa e a atividade microbiana de solo em consociações de plantas de cobertura, verificaram que os sistemas consociados foram superiores aos sistemas em monocultura e ao pousio. Já Glaeser et al. (2010), avaliando a biomassa e a atividade da microbiota em diferentes sistemas de cultivo do cafeeiro, verificaram que o cafeeiro em consociação com Musa spp. (bananeira) e Acacia sp. (acácia), cafeeiro em consociação com Tabebuia sp. (ipê) e a vegetação nativa obtiveram valores semelhantes e foram superiores ao sistema de monocultura do cafeeiro.

Para a variável quociente metabólico (qCO2) não houve diferença significativa entre os sistemas avaliados (Quadro 4). Porém, elevados valores de qCO2, como os observados neste estudo, indicam que pode estar ocorrendo maior gasto de energia para a manutenção da comunidade microbiana, ou seja, devido a uma situação de estresse ou distúrbio, possivelmente determinada pelo manejo intensivo do solo e pelo frequente uso de agrotóxicos, os microrganismos poderão ter que consumir mais substrato para sua sobrevivência (Carneiro et al., 2008; Silva et al., 2010; Gomide et al., 2011). Outra explicação para este resultado pode estar associada ao fato de que quocientes metabólicos elevados são um indicativo de comunidades microbianas em estágios iniciais de desenvolvimento e com maior proporção de microrganismos ativos em relação aos inativos (Roscoe et al., 2006).

No que se refere ao quociente microbiano (qMIC), que expressa a quantidade de carbono orgânico do solo que está imobilizado na biomassa microbiana (Duarte et al., 2014), observou-se, neste trabalho, o menor valor para o sistema CM quando comparado aos demais sistemas avaliados (Quadro 4). Este índice, quando elevado, indica elevados valores de carbono no solo, enquanto que valores reduzidos indicam perda de carbono no solo (Mercante et al., 2004). Este quociente é influenciado por diversos fatores, como o grau de estabilização do C-orgânico e o histórico de gestão do solo na área (Silva et al., 2010).

Destaca-se que o CM não apresenta cobertura do solo, além da fornecida pelo próprio cafeeiro e de poucas plantas espontâneas, ou seja, possui menor diversidade vegetal e, provavelmente, condições menos favoráveis para os organismos do solo. Ambientes menos complexos acarretam variações negativas na microbiota do solo, pois estão diretamente ligadas ao regime hídrico, à estrutura e à gestão do solo, e à quantidade e a qualidade dos resíduos vegetais aportados (Rogers e Tate III, 2001; Tiedje et al., 2001). Um solo com heterogeneidade das fontes de carbono tende a manter a população microbiana mais estável, provavelmente em resultado da riqueza de nichos ecológicos (De Fede et al., 2001; Grayston et al., 2001).

O alto valor do quociente microbiano (qMIC) observado na área em pousio (P) pode ser atribuído ao facto de que esta área permaneceu sem atividade antrópica por aproximadamente três anos, o que pode ter favorecido a imobilização do carbono orgânico na biomassa microbiana do solo. Ressalta-se que nestas áreas não há aplicação de agroquímicos e trânsito de máquinas agrícolas.

O teor do carbono orgânico (C-orgânico) encontrado no FF foi superior aos demais sistemas avaliados (Quadro 4). Este resultado corrobora com os obtidos por Ribeiro (2011) que, avaliando a matéria orgânica em solo de tabuleiros costeiros, sob diferentes coberturas vegetais, verificou que os maiores valores de carbono orgânico total foram encontrados na vegetação nativa em comparação com o cafeeiro e Theobroma cacao L. (cacau) em consociação com o Cedrella fissilis (cedro). Os maiores valores de C-orgânico no FF devem-se, provavelmente, às condições de ecossistemas naturais, onde há fornecimento constante de material orgânico mais susceptível à decomposição, permanecendo o solo coberto, com menor variação e níveis mais adequados de temperatura e humidade (Santos et al., 2004).

Entre os sistemas agrícolas (CAU, CUD, CM e P) avaliados neste estudo não houve diferença para os valores de C-orgânico (Quadro 4). Apesar do C-orgânico ser considerado um indicador sensível, as alterações promovidas no solo não foram suficientes para promover modificações na sua concentração (Assis et al., 2003). Em geral, as alterações no conteúdo do C-orgânico do solo ocorrem em médio ou longo prazo, requerendo maior tempo para ser quantificada (Oliveira et al., 2001; Roscoe et al., 2006).

Com base na análise de agrupamento, cujo propósito consistiu em agrupar sistemas de gestão baseando-se nas características similares que estes possuem, observou-se a formação de dois grandes grupos distintos no que concerne aos indicadores microbiológicos (Figura 1).

Observa-se que o CM se isolou das demais áreas, com 100% de dissimilaridade. Este isolamento ocorreu devido ao facto deste sistema de produção se apresentar como o menos diversificado entre os observados neste estudo. Sistemas simplificados como este apresentam menor capacidade de auto regulação e suficiência, e isto reflete-se diretamente no ambiente (Balsan, 2006). Portanto, esse sistema mostra-se desfavorável à manutenção dos microrganismos do solo, devido a sua menor complexidade vegetal.

No outro grupo constata-se a formação de dois níveis independentes e longínquos. Analisando os níveis, verificou-se uma dissimilaridade de 46% entre o FF e os sistemas CUD, P e CAU, que se mostraram próximos entre si, com 76% de semelhança. Ainda neste mesmo nível observou-se a similaridade de 94% entre os sistemas CAU e P.

O distanciamento do FF dos sistemas CUD, P e CAU justifica-se pela sua maior estabilidade, complexidade ecológica e estrutural (Martins et al., 2011), quando comparado a sistemas agrícolas, que são mais simplificados e que sofrem constante perturbação por práticas agrícolas.

O agrupamento dos sistemas CUD, P e CAU deve-se ao fato de a utilização de espécies arbóreas e de plantas de cobertura como a Urochloa cv. decumbens em consociação com o cafeeiro oferecer maior sustentabilidade a esses sistemas produtivos, provavelmente por meio da adição regular de resíduos vegetais, menor revolvimento do solo, maior permeabilidade e estruturação do solo (Chioderoli et al., 2012).

 

CONCLUSÕES

1. Os fatores climáticos relacionados com as épocas de amostragem não influenciaram a biomassa e atividade dos microrganismos do solo.

2. Os sistemas FF, CAU e CUD favorecem a biomassa e a atividade microbiana do solo.

3. O sistema FF oferece maior complexidade vegetal e, portanto, favorece o desenvolvimento da comunidade dos microrganismos do solo, seguido por CUD, P e CM.

 

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao senhor Jefferson Rissato Adorno, família e funcionários da Fazenda Retiro Santo Antônio, por autorizarem a realização deste estudo em sua propriedade e por toda ajuda disponibilizada ao longo da realização desta pesquisa.

 

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Recebido/received: 2016.03.30

Recebido em versão revista/Received in revised form: 2016.06.02

Aceite/accepted: 2016.06.03

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