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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.39 no.1 Lisboa mar. 2016

https://doi.org/10.19084/RCA15065 

ARTIGO

Agronegócio brasileiro no comércio internacional

Brazilian agribusiness in international trade

Leandro Pereira dos Santos1,*, João Marcos BorgesAvelar2, Pery Francisco Assis Shikida3 e Maria Auxiliadora de Carvalho4

 

1IFPR - Instituto Federal do Paraná. Avenida Cívica, 475, CEP 85935-000, Centro Cívico, Assis Chateaubriand – PR, Brasil. E-mail: leandro.santos@ifpr.edu.br;

2 FECILCAM – Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. Campo Mourão – PR, Brasil;

3 UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Toledo – PR, Brasil;

4 Faculdades Metropolitanas Unidas. Departamento de Economia. São Paulo – SP, Brasil.

 

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar a inserção do agronegócio brasileiro no comércio internacional de produtos agrícolas, buscando verificar o posicionamento geral do país e também dos produtos exportados, considerando o período compreendido entre o triênio 1999-2001 e o triênio 2009-2011. O desempenho é avaliado por meio da participação do país e de seus produtos nas importações mundiais. A Metodologia de análise é o modelo apresentado por Fajnzylber (1991). Os resultados mostram que o agronegócio brasileiro tem um posicionamento positivo, pois tanto a classificação global como também de parte significativa dos produtos de sua pauta de exportações se encontram em situação ótima, de acordo com o enfoque metodológico adotado.

Palavras-chave: agronegócio, comércio internacional, competitividade.

 

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the insertion of Brazilian agribusiness in the international scenario of agricultural products, in an attempt to point out the country's general position and also its exported products, considering the periods between 1999-2001 and 2009-2011. The performance is evaluated based on both the country's and its products' participation in world imports. The methodological approach used is the model presented by Fajnzylber (1991). Results show that the Brazilian agribusiness has a positive position since both the country's global rating and a significant part of its export products are in excellent condition, according to the methodological approach adopted.

Key words: agribusiness, competitiveness, international trade.

 

Introdução

Embora aproximadamente 12,5% da população mundial (cerca de 870 milhões de pessoas, no período de 2010 a 2012) ainda sofram de desnutrição, a demanda mundial por alimentos vem apresentando crescimento sistemático nos últimos anos. Este cenário tem influenciado diretamente o comércio internacional de produtos agrícolas, do qual o Brasil é participante ativo, ocupando posição de destaque no que se refere à questão da segurança alimentar no mundo (FAO, 2012; Buainain et al., 2014).

O agronegócio brasileiro sempre contribuiu de maneira significativa para o equilíbrio da balança comercial do país, pois apresenta saldos positivos frequentes se considerados separadamente. O setor contribui dessa forma com o desenvolvimento econômico do país em vários aspectos, começando pela oferta de produtos para a demanda interna, passando pela absorção de contingente significativo de mão de obra, e de maneira importante na geração de divisas provenientes das exportações (Martha Júnior e Ferreira Filho, 2012). Entretanto, o problema da dependência nos produtos básicos nessa pauta e a elevada concentração das exportações agrícolas em poucas commodities, figuram como obstáculos ao desenvolvimento que o modelo de substituição de importações no Brasil tentou superar (Carvalho e Silva, 2005).

É incontroversa a importância econômica do agronegócio brasileiro, seja na produção de commodities, seja na geração de divisas, derivada da elevada competitividade desse segmento produtivo no país (Gasques et al., 2010; Conceição e Conceição, 2014). Contudo, generalizar este contexto não é apropriado, sendo necessário classificar o posicionamento dos produtos do agronegócio de acordo com as suas performances e ver, com uma medida de competitividade, qual é a participação das exportações brasileiras nas importações mundiais.

Isto posto, este trabalho tem como objetivo analisar a inserção do agronegócio brasileiro no comércio internacional de produtos agrícolas, considerando seu posicionamento agregado, bem como dos produtos que integram sua pauta de exportações. Para isto, será utilizado como metodologia o enfoque sugerido por Fajnzylber (1991), que classifica o posicionamento do país e de seus produtos nas seguintes situações: ótima; de vulnerabilidade; oportunidade perdida; e em retrocesso.

O período de análise é compreendido entre os triênios 1999-2001 e 2009-2011. Comparações são feitas com as conclusões do trabalho realizado por Carvalho (2002), que utilizou a mesma metodologia para uma década anterior. Desta forma, pode-se dar continuidade ao estudo, sendo 2011 o último ano de atualização de dados disponível.

Além desta parte introdutória, o artigo está dividido em mais quatro seções. A segunda busca contextualizar concisamente o agronegócio brasileiro. Na terceira seção é apresentada a metodologia de análise bem como a base de dados utilizada. A quarta seção traz as análises dos resultados obtidos, seguida da última seção com as considerações finais.

O agronegócio brasileiro: breves notas

O agronegócio brasileiro tem demonstrado ao longo dos ciclos econômicos ser de fundamental importância para o desenvolvimento do país, exercendo destacado papel na dinâmica econômica e social (Buainain et al., 2014).

No processo de desenvolvimento brasileiro, a industrialização quase sempre tem sido sinônimo de modernização, em uma concepção que escala corriqueiramente a agricultura como coadjuvante. Com efeito, uma das implicações do desenvolvimento econômico é a diminuição da importância relativa da agricultura na atividade econômica. Apesar da forte presença do Estado oferecendo incentivos ao setor industrial, a agricultura, que por vezes também foi compensada com políticas setoriais, ao incorporar tecnologia e explorar economias de escala, vem se tornando, ela própria um vetor industrial, com elevada relação capital/trabalho (Barros, 2014).

A relação entre comércio internacional e crescimento econômico é foco de análise da teoria econômica desde que Adam Smith publicou sua obra seminal em 1776 (vide Smith, 1983). A economia brasileira, desde a época colonial, sempre dependeu da agricultura como fonte de divisas. Mesmo na etapa de substituição de importações e estímulo à industrialização a agricultura constituiu a principal fonte de divisas para garantir os pagamentos dos débitos assumidos no exterior. Mais recentemente, com a liberalização comercial, a participação do setor industrial nas exportações declinou e a agricultura brasileira demonstrou, mais uma vez, suas vantagens comparativas (Szmrecsányi, 1990; Spolador e Roe, 2013).

No período recente o setor agrícola brasileiro tem exercido papel importante ao garantir, além do abastecimento interno, valores recordes nas exportações, o que contribui fortemente para a geração de divisas. Desta forma, a dinâmica da economia nacional continua dependente do aumento das exportações do agronegócio e da conquista de novos mercados internacionais (Contini, 2014).

Uma breve análise da balança comercial nos últimos anos permite observar a importância das exportações dos produtos do agronegócio. Historicamente o Brasil tem baixo volume de importações de produtos agrícolas e as exportações são elevadas resultando em saldos comerciais significativos. De 1998 a 2013, o agronegócio apresentou sistematicamente saldos positivos e crescentes na balança comercial, fechando a série com um valor recorde de US$ 82,9 bilhões (Figura 1).

 

 

O crescimento dos saldos comerciais do agronegócio foi mais acentuado após o ano de 2004. Conforme Barros (2014), o aumento nos preços dos produtos do agronegócio e a elevação de sua demanda pela China nesse período foram fatores que contribuíram para o crescimento das exportações brasileiras. Schwantes et al. (2010) e também Kich et al. (2012) apontam como variável positiva relevante o crescimento das importações agrícolas mundiais. Nesse caso, a renda externa se apresenta relevante como variável explicativa para o aumento das exportações.

Observe-se que a exclusão do agronegócio torna o total do saldo comercial brasileiro predominantemente deficitário, com exceção dos anos 2005 e 2006. Isto significa que as importações dos demais setores da economia brasileira são muito superiores às exportações, resultando em um processo no qual o país depende, mormente, das divisas geradas pela agricultura para honrar os compromissos externos.

Destaque-se que os ganhos em produtividade também tiveram papel relevante para tornar os produtos do Brasil mais competitivos internacionalmente, colaborando para o aumento nas exportações. Ao comparar as estimativas de Fuglie (2012) para o mundo e alguns países selecionados, se conclui que na década de 1970 a produtividade total dos fatores da agropecuária brasileira não diferia da média mundial, com crescimento da ordem de 0,6% a.a., enquanto a China apresentava produtividade pouco acima desse percentual. Nas décadas seguintes a produtividade da agricultura mundial cresceu, mas a performance do Brasil e da China seguramente foram determinantes nesse crescimento. Entre 2001-2009 a agricultura brasileira assumiu a liderança, com produtividade total dos fatores da ordem de 4,03% a.a. seguida pela China, com 3,05% a.a. (Quadro 1).

 

 

Observa-se que, embora com variações, a agricultura de todos os países analisados por Fuglie (2012) tiveram aumento de produtividade total dos fatores, com exceção de Austrália e Nova Zelândia. O que destaca a China e o Brasil é a diferença entre o período inicial e final. A China teve a produtividade da agricultura multiplicada por 4,5 e o Brasil por 6,7, enquanto Europa, Estados Unidos e Canadá, que lideravam a produtividade na década de 1970, tiveram crescimento menor do que 40%, considerando o mesmo período.

As vicissitudes e a evolução pelas quais passaram o heterogêneo agronegócio no Brasil, mesmo com algumas políticas erráticas, tem proporcionado uma destacada desenvoltura econômica e produtiva; mas existem desafios e encruzilhadas (como o desequilíbrio entre a agricultura de larga escala, de alta eficiência produtiva e tecnológica, e a agricultura familiar) que precisam ser ultrapassados para que este papel social e econômico seja mantido (Bacha, 2012; Buainain et al., 2014).

 

Metodologia e base de dados

O modelo utilizado neste trabalho para análise da competitividade do Brasil no mercado internacional é o modelo apresentado por Fajnzylber (1991) e Mandeng (1991), no qual a participação das exportações de um país nas importações mundiais é considerada como uma medida de competitividade do mesmo. Estes autores avaliaram a participação nas importações da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de países da América Latina, Europa Oriental e do Sudeste Asiático (para outros trabalhos que utilizam o mesmo método, consultar: Dussel, 2001; Carvalho, 2002; Carvalho e Silva, 2005).

Neste modelo, para a análise do desempenho das exportações são considerados os conceitos de posicionamento e eficiência. Denomina-se si à participação das importações mundiais do produto i (Mi) nas importações mundiais totais. O posicionamento de i é favorável se Δsi ³ 0 entre dois períodos, o que significa que o produto i manteve ou aumentou sua participação nas importações mundiais. Caso Δsi < 0, o posicionamento é desfavorável (Carvalho, 2002).

Já a eficiência está relacionada com a participação relativa do país no comércio mundial de determinado produto. Denominando sij à participação das exportações do produto i pelo país j (Xij) nas importações mundiais do produto i (Mi). Se Dsij ³0, o país tornou-se mais competitivo, isto é, apresentou alta eficiência no mercado de i. Se Dsij < 0 o país j teve baixa eficiência nesse mercado (Carvalho, 2002).

A eficiência de um país no mercado internacional enquanto exportador é determinada pelo dinamismo relativo dos produtos que exporta, sendo considerado eficiente se exportar produtos com bom posicionamento. As combinações de posicionamento dos produtos e eficiência do país levam a quatro possibilidades de inserção do país no mercado mundial (Figura 2).

 

 

a)Δsi < 0 e Δsij > 0, situação de vulnerabilidade. O produto diminui sua participação nas importações mundiais, enquanto aumenta a participação do país no seu comércio.

b)Δsi < 0 e Δsij < 0, situação de retrocesso. O produto diminui sua participação nas importações mundiais, enquanto diminui a participação do país no seu comércio.

c)Δsi > 0 e Δsij < 0, situação de oportunidades perdidas. O produto aumenta sua participação nas importações mundiais, enquanto diminui a participação do país no seu comércio.

d)Δsi > 0 e Δsij > 0, situação ótima. O produto aumenta sua participação nas importações mundiais, enquanto aumenta a participação do país no seu comércio.

Os dados utilizados no trabalho referentes ao comércio mundial de produtos foram obtidos na base da de dados da Food and Agriculture Organization, FAOSTAT.

 

Análise dos resultados

A análise dos dados referentes ao comércio mundial de produtos do agronegócio permite observar inicialmente que a agricultura, que vinha perdendo importância nas importações mundiais, interrompeu esta trajetória a partir de 1999 (Figura 3).

 

 

Considerando-se os triênios das viradas das últimas décadas, observa-se que a agricultura no Brasil contribuiu com 12,79% das importações mundiais no triênio 1979-81, 9,93% entre 1989-91, caiu para 7,10% no triênio 1999-2001 e se recuperou para 7,41% no triênio 2009-2011 (Quadro 2).

A análise do desempenho na última década indica que a agricultura brasileira no agregado está em situação ótima pela classificação de Fajnzylber (1991) uma vez que o setor registrou expansão no comércio mundial e as exportações do país tiveram aumento de participação nesse comércio. Isto pode ser constatado por meio da comparação da participação das exportações brasileiras nas importações mundiais, que passaram de 3,23% na média em 1999-2001 para uma participação de 5,66% na média em 2009-2011. Como a agricultura também aumentou sua participação nas importações mundiais, passando de 7,10% para 7,41% entre esses triênios, pode-se afirmar que o país aumentou sua eficiência em um mercado em expansão (Quadro 2).

Na análise quanto ao posicionamento dos produtos agrícolas no mercado internacional utilizou-se como referência a taxa média anual de crescimento das importações totais mundiais, que foi de 9,60% entre os triênios 1999-2001 e 2009-2011 (Quadro 2). Dessa forma, produtos que tiveram taxa média anual de crescimento das exportações superiores a este percentual foram classificados como produtos em expansão, produtos com taxa de crescimento menor do que 9,60% foram classificados como produtos em declínio. Logo a agricultura brasileira no agregado registrou posicionamento muito bom, pois registrou taxa de crescimento das exportações de 16,40% a.a., percentual 70% acima do crescimento do comércio mundial.

Dos 401 produtos listados pela FAO e utilizados para este trabalho, 168 apresentaram taxas de crescimento anual maiores do que 9,60% e foram classificados como produtos em expansão, sendo responsáveis pelo aumento da participação da agricultura no comércio mundial total. Este grupo de produtos passou de uma representação conjunta de 47,26% sobre o valor total de produtos da agricultura comercializados em 1999-2001 para 57,89% em 2009-2011 (Quadro 3).

Destaca-se entre os produtos em expansão a soja em grão, que é um dos principais produtos da pauta de exportações brasileira, sendo que em 2009-2011 este produto representou 3,81% do valor das importações agrícolas mundiais, resultado de uma taxa anual de crescimento de 15,41%. Neste mesmo segmento, a torta de soja apresentou uma taxa anual de crescimento de 12,50%, resultando em uma participação de 2,21% no valor das importações mundiais (Quadro 3). Apesar disto, o Brasil diminuiu sua participação nas importações mundiais deste produto, de 22,32% no triênio 1999-2001, para uma participação de 19,77% em 2009-2011, aumentando a concentração na soja em grão, produto com menor valor agregado (Quadro 7).

 

 

 

 

 

 

Dentre os principais motivos do aumento na demanda e produção por soja no mundo, citam-se: o desenvolvimento e estruturação de um sólido mercado internacional; a consolidação da soja como importante fonte de proteína vegetal; a demanda crescente dos setores ligados à produção de produtos de origem animal; e a geração de oferta de tecnologias, que viabiliza a expansão da produção (Hirakuri e Lazzarotto, 2014).

Com relação aos produtos em declínio, dos 401 produtos listados pela FAO, 233 receberam tal classificação. A participação conjunta destes produtos no comércio agrícola mundial baixou de 52,74% no triênio 1999-2001 para 42,11% em 2009-2001 (Quadro 4).

Passando-se para a análise do desempenho do Brasil no mercado internacional de produtos agrícolas, verifica-se inicialmente que o País tem uma pauta de exportações dependente de poucos produtos, corroborando o que foi revisitado na literatura especializada. Na média do triênio 2009-2011, mais de 50% do valor das exportações agrícolas foram oriundos de apenas 4 produtos: soja; açúcar; carne de frango; e café verde. Para o mesmo período, 24 produtos correspondem com pouco mais de 93% do valor das exportações agrícolas brasileiras (Quadro 5).

Esta análise inicial poderia sugerir a hipótese de que poucas mudanças no que diz respeito ao desempenho brasileiro no comércio internacional de produtos agrícolas tenham ocorridas em relação ao cenário do final da década de 90. Para o triênio 1997-1999, 4 produtos também concentravam mais de 50% do valor exportado, e os 20 primeiros colocados na pauta de exportações correspondiam a 93% do valor exportado (Carvalho, 2002). Porém, algumas mudanças podem ser percebidas, se não em relação à pauta de exportações, mas principalmente quanto ao posicionamento no comércio internacional.

Os 4 primeiros colocados na pauta de exportações para o triênio 1997-1999 foram, nesta ordem: café verde; soja em grão; torta de soja; e suco de laranja concentrado. Para 2009-2011, os 4 primeiros foram: soja em grão, açúcar demerara, carne de frango e café verde.

Pelo enfoque de Fajnzylber (1991), o país está em situação ótima quando aumenta a participação em um mercado em expansão. É a situação na qual se enquadra o agronegócio do Brasil ao ser avaliado de forma agregada, pois o País aumentou sua participação nas importações agrícolas mundiais, de 3,23% em 1999-2001 para 5,66% em 2009-2011. No mesmo período, o comércio agrícola mundial também aumentou de 7,10% para 7,41% do total comercializado. Também para este período, as importações agrícolas aumentaram no mundo a uma taxa de 10,07% a.a., enquanto o Brasil aumentou suas exportações a uma taxa anual de 16,40%, o que classifica a agricultura nacional em uma situação ótima (Quadro 2).

Em uma análise mais detalhada do desempenho dos produtos brasileiros no mercado internacional, é verificado que alguns produtos têm um papel primordial para a elevada inserção no comércio agrícola mundial. Pode-se citar a soja em grão, que aumentou o Market-share do Brasil nas importações mundiais deste produto de 20,77% para 29,55%, o açúcar bruto com uma evolução de 19,94% para 52,86%, e a carne de frango passando de 15,59% para 31,34% do mercado. Todos estes produtos foram classificados como situação ótima, pelo método de Fajnzylber (1991).

Cabe destacar que os produtos estão organizados de acordo com sua importância na participação das exportações brasileiras no triênio 2009-2011. Ao todo, 71 produtos estão em situação ótima, ou seja, são produtos que o Brasil registrou aumento do Market-share e que estão em expansão no comércio mundial. Importante frisar que o agregado de produtos em situação ótima registrou participação nas exportações do País de 59,89% do total (Quadro 6).

Os principais produtos em situação de oportunidades perdidas podem ser visualizados no Quadro 7. Ao todo são 61 produtos que tiveram aumento nas importações mundiais no período analisado, porém diminuíram o Market-share do Brasil nas importações mundiais. Este grupo representou 10,97% das exportações agrícolas brasileiras. Destarte, este grupo de produtos pode indicar um caminho de oportunidades para que o País possa maximizar seu posicionamento no comércio mundial.

No caso dos produtos em situação de vulnerabilidade, o grupo representa 24,33% do total exportado (Quadro 8). Estes representam produtos que tiveram redução nas importações mundiais, mas que aumentaram o Market-share do Brasil nas importações mundiais, formados por um grupo de 109 produtos. Para este grupo, análises mais detalhadas são necessárias, uma vez que uma redução na participação do produto nas importações mundiais não significa, necessariamente, que o volume de importações deste produto sofreu redução. O café verde, por exemplo, importante item da pauta de exportações brasileira, teve um aumento, em valores absolutos, de US$ 8,56 bilhões em média por ano para o triênio 1999-2001, para US$ 20,54 bilhões em média em 2009-2011. Porém, perdeu participação sobre o total importado, devido ao grande aumento do comércio como um todo.

 

 

Com relação aos produtos em situação de retrocesso, o Quadro 9 mostra que este agregado representa apenas 4,80% das exportações brasileiras. Estes são produtos que tiveram redução nas importações mundiais, e que também reduziram o Market-share do Brasil nas importações mundiais. Ressaltando que o termo retrocesso é sugerido por Fajnzylber (1991), mas que deve ser interpretado como produtos que estão em retrocesso, não significando que o país está em retrocesso, já que é de se esperar que o país busque eficiência ao diminuir exportações de produtos que estejam sofrendo reduções em suas demandas.

 

 

De uma maneira geral, observa-se pelos dados apresentados que o fato mais importante no que diz respeito à inserção do Brasil no comércio internacional é o predomínio de produtos em situação ótima, apesar de continuar a depender de uma pauta concentrada de exportações. Verifica-se, então, que o Brasil vem aproveitando as oportunidades oferecidas pelo comércio mundial na última década, pois passou de uma situação de vulnerabilidade no final de década de 90 (Carvalho, 2002), para uma situação ótima no triênio 2009-2011.

 

Considerações finais

As exportações do agronegócio brasileiro vêm demonstrando significativo vigor nos últimos anos, fortalecendo o País inclusive contra um perigoso déficit na balança comercial.

Este trabalho teve como objetivo analisar a inserção do agronegócio brasileiro no comércio internacional, analisando o desempenho das exportações deste setor no período compreendido entre os triênios 1999-2001 e 2009-2011, comparando os resultados obtidos em período anterior. Como metodologia de análise, foi utilizado o enfoque sugerido por Fajnzylber (1991), que classifica a situação do país, como também de seus produtos, em situação ótima, de vulnerabilidade, oportunidades perdidas e retrocesso.

Considerando o agregado dos produtos exportados do agronegócio, pode-se afirmar que o Brasil se encontra em situação ótima, pois aumentou sua participação nas importações mundiais de produtos agrícolas, passando de 3,23% na média do triênio 1999-2001 para 5,66% em 2009-2011. Considerando-se que o comércio de produtos agrícolas também sofreu aumento no período, passando de uma participação em relação ao comércio total de 7,10% para 7,41%, caracterizando-se dessa forma a classificação situação ótima.

Em uma análise detalhada dos produtos agrícolas exportados, a situação também é positiva, pois 59,89% do valor exportado pelo País no triênio 2009-2011 é formado por um grupo de produtos que está em situação ótima, ou seja, que tiveram aumento nas importações mundiais e que aumentaram a participação do País nas importações mundiais deste produto.

Este resultado contrasta-se com o resultado encontrado por Carvalho (2002), que por meio da mesma metodologia, mas para um período compreendido entre o triênio 1988-1990 e o triênio 1997-1999, concluiu que a situação do país era de vulnerabilidade, se considerados os produtos de forma agregada, e ainda que 63,72% dos produtos, em termos de valor, também se encontravam em situação de vulnerabilidade.

No período analisado neste trabalho houve um cenário favorável à produtividade agrícola brasileira. A Produtividade Total dos Fatores apresentou trajetória, demonstrando um contínuo desenvolvimento da agricultura. Isso permitiu que o Brasil se tornasse competitivo no mercado internacional, mesmo enfrentando sérios problemas com a logística no território nacional (Gasques et al., 2010).

No período analisado também houve um aumento da demanda por alimentos no cenário mundial. Esse aumento é explicado pelo crescimento populacional e pelo aumento da renda dos consumidores. Dessa forma, o incremento populacional e o crescimento econômico dos países resultaram no aumento da demanda de alimentos que o Brasil passou a produzir de forma competitiva, entre estes, os que consomem mais recursos para serem produzidos, como por exemplo, as carnes.

Os trabalhos de pesquisa e de uso intensivo de novas tecnologias também foram de grande importância para a consolidação de novas práticas na agricultura brasileira, contribuindo para o aumento da produtividade e a qualidade dos produtos. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma das instituições que contribuiu de forma significativa para que isso ocorresse. Conforme Alves (2010), a Embrapa trabalha sob a visão de uma agricultura baseada na ciência e tecnologia, sendo que seus esforços são focados para obter resultados úteis e que contribuam para ampliar a competitividade do setor.

Como cita Jank et al. (2005) a ascensão do agronegócio teve seu momento de inflexão a partir da desvalorização do real em 1999 com uma onda de crescimento no setor e um salto na produção de grãos, sendo que além do consumo interno, a União Europeia, a China e outros países asiáticos entraram no mercado comprando grandes volumes de alimentos.

Em síntese, o aumento da produtividade, o uso de novas tecnologias e a o aumento da demanda internacional por produtos agrícolas, aliados à uma gestão eficiente do agronegócio brasileiro, inclusive com a utilização de programas de gestão da qualidade e com processos administrativos profissionalizados, oportunizou que o Brasil abandonasse a situação de vulnerabilidade apresentada na década de 1990.

Uma constatação convergente com os resultados encontrados por Carvalho (2002) é que a pauta de exportações brasileiras se encontra bastante concentrada em poucos produtos, com 4 produtos sendo responsáveis por mais de 50% do valor das exportações, tanto para o triênio 1997-1999, como para o triênio final considerado neste trabalho, 2009-2011.

Para estudos futuros sugere-se a análise mais detalhada dos fatores que podem melhorar a inserção de outros produtos brasileiros nas importações mundiais, aumentando a gama de produtos com maior peso na pauta de exportações, bem como uma análise dos produtos classificados em situação de oportunidades perdidas.

 

Referências

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Recebido/received: 2015.05.28

Aceite/accepted: 2015.07.14

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