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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.36 no.3 Lisboa jul. 2013

 

Desenvolvimento de mudas de mangabeira provenientes de frutos de diferentes localidades do Estado de Goiás

Development mangaba seedlings from fruits of different locations in the State of Goiás

Muza do Carmo Vieira1, Ronaldo V. Naves2, Eli Regina B. Souza2, Ana Paula M. Belo2 e Yanuzi M.V. Camilo2

 

1 Instituto Federal Goiano – IFGoiano, Campus Urutaí, Rodovia Geraldo Silva Nascimento Km 2,5. CEP 75790-000 - Urutaí - Goiás - Brasil. Email: mcvmuza@bol.com.br.

2 Universidade Federal de Goiás – UFG, Campus Samambaia, Rodovia Goiânia / Nova Veneza, Km 0 - Caixa Postal 131, CEP 74690-900, Goiânia, GO, Brasil. Emails: ronaldo@agro.ufg.br, eliregina1@gmail.com; anapaulambelo@hotmail.com, yanuzimvc@gmail.com,author for correspondence

 

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar, em viveiro, o desenvolvimento de mudas de H. speciosa oriundas de diferentes áreas do Estado de Goiás. Nestas áreas foram selecionadas 116 plantas, coletando-se 12 frutos por planta para obtenção das sementes. Uma amostra de 16 sementes representadas por cada matriz teve duas sementes semeadas por tubete e mantidas em viveiro; e destas, as que originaram plântulas, foram submetidas a avaliações de comprimento (cm) e número de par de folhas (NPF). Os dados foram coletados mensalmente para cada progênie até a décima (10ª) avaliação. Foram realizadas análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. As mudas praticamente estabilizam seu crescimento entre maio e setembro. A taxa média mensal de crescimento variou de 0,1 cm a 6,1 cm, com taxa média final de 2,19 cm. É oportuno pesquisar alternativas de produção de mudas em períodos menores.

Palavras-chave – crescimento, Hancornia speciosa Gomes, frutos nativos.

 

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate, in nursery, seedling development of H. speciosa from different areas of the State of Goiás. In these areas 116 plants from 10 areas from selected, collecting 12 fruits per plant to obtain the seeds. From a sample of 16 seeds representing each mother plant two seeds per pot were sown and kept in the nursery. Those seeds that originate seedlings were analyzed for length (cm) and number of leaf pair (NPF). Data were collected mon- thly for each progeny until the tenth (10th) evaluation. Analysis of variance was performed and means were compared by Tukey test at 5% probability. Seedlings growth stopped between May and September. The average monthly growth ranged from 0.1 cm to 6.1 cm, with an average rate of 2.19 cm end. It is worth researching alternatives of seedling production for shorter periods.

Keywords: growth, Hancornia speciosa, native fruits.

 

Introdução

A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma frutífera arbórea de porte médio, da família das Apocináceas, e que atinge de 5 a 10 metros de altura. Nativa do Brasil é encontrada vegetando espontaneamente em várias regiões do país, desde os tabuleiros costeiros e baixadas litorâneas do Nordeste, onde é mais abundante, até as áreas sob Cerrado da Região Centro-Oeste; verifica-se ainda sua ocorrência nas Regiões Norte e Sudeste (Vieira Neto e Veigas, 2002). É uma planta de clima tropical, ocorrendo, sobretudo, em áreas de vegetação aberta. Apresenta, na região dos cerrados, floração de agosto a novembro, com pico em outubro. A frutificação concentra-se principalmente outubro a dezembro (Vieira Neto e Veigas, 2002).

A propagação da mangabeira, realizada por sementes, apresenta menor custo e contribui para a manutenção da diversidade genética da espécie, uma vez que as plantas resultantes não apresentam características uniformes. Esta particularidade também pode ser considerada como desvantagem, para aqueles produtores que desejam plantas com características específicas, semelhantes às de determinadas matrizes ou cultivares (Silva Júnior et al., 2011). As plantas em viveiros, sob condições controladas ou semicontroladas, tendem a apresentar características morfofisiológicas nem sempre representativas daquelas cultivadas em campo (Lobo et al., 2010). Aspectos relacionados à produção em viveiro de mangaba ainda são escassos, especialmente as mangabeiras do Cerrado (Ganga et al., 2009). Os estudos com essa espécie ainda são recentes. Trabalhos avaliando a taxa de crescimento são escassos, mas existem alguns caracterizando populações adultas quanto a diversos caracteres, como emergência, altura da planta, circunferência do caule, diâmetro de copa, produção e parâmetros genéticos (Almeida et al., 1998; Rezende et al., 2002; Barreiro Neto, 2003; Moura, 2003; Moreira et al., 2004; Moura, 2005; Silva, 2005; Capinan, 2007; Silva Junior et al., 2007; Silva et al., 2009).

Entender o desenvolvimento torna-se relevante, para que se possa desenvolver mecanismos de manejo para essa cultura em sua região de origem, uma vez que existem materiais de mangabeira com características potenciais para serem incorporadas ao processo produtivo, principalmente, considerando sua rusticidade em relação ao solo e tolerância a pragas e doenças. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o desenvolvimento, em viveiro, de mudas de H. speciosa oriundas de diferentes áreas do Estado de Goiás.

 

Material e métodos

O trabalho de prospecção, para identificação de áre- as de coleta, foi realizado de agosto a dezembro de 2008, sendo selecionadas 10 áreas de ocorrência natural da mangabeira no Cerrado do Estado de Goiás, a saber: 1 - Serra da Mesa, 2 - Serra do Aranha, 3 - Rio das Almas, 4 - Serra de Jaraguá, 5 - Serra dos Pirineus, 6 - Roncador, 7 - Serra Dourada, 8 - Orizona, 9 - Silvânia I (Quilombo), 10 - Silvânia II (Estrada de Ferro). Nestas áreas encontraram-se duas variedades botânicas de mangabeira; Hancornia speciosa var. gardneri e Hancornia speciosa var. pubescens.

Em outubro de 2009 realizou-se uma pré-seleção de plantas para a coleta de frutos, amostrando-se árvores consideradas adultas, com diâmetro de caule a 10 cm do solo, maior que 3 cm e que apresentavam bom aspecto fitossanitário. Foram selecionadas plantas em áreas de formação natural de Cerrado, bem como, aquelas que se encontravam isoladas em áreas de pastagens. As plantas escolhidas foram aquelas que se apresentavam saudáveis e com frutos para a coleta. Assim, 116 plantas das 10 áreas de mangabeira, foram selecionadas para a coleta.

Os frutos foram coletados em outubro de 2009, época de maturação natural da mangabeira na região. Preferencialmente coletaram-se frutos recém caídos no solo, (frutos de caída, conforme se denomina no Nordeste) ou então frutos ainda na planta (com sinais de maturação, ou seja, baixa resistência da polpa), sendo acondicionados em embalagens de isopor, mantendo-se a identificação do fruto por planta. Foram coletados até doze frutos por planta.

Os frutos, ao chegarem ao Laboratório de Fitotecnia da EA/UFG, foram numerados e colocados em bandejas transparentes. Aqueles coletados na planta ficaram armazenados por dois dias, para avaliação de processo de maturação, sendo descartados os frutos não amadurecidos após o terceiro dia de armazenamento (Gouvêa, 2007; Moura, 2005).

O experimento foi instalado e conduzido no período de janeiro a outubro de 2010, em viveiiro, com 100% de luminosidade, na Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal de Goiás (EA/UFG), em Goiânia-GO.

Sabendo-se que as sementes do fruto de mangabeira são recalcitrantes, os frutos foram prontamente despolpados de forma manual e lavados em água corrente até a completa remoção da polpa. Após esta etapa, as sementes foram colocadas em papel toalha por quatro horas e depositadas em copos de plásticos, cobertas com chumaços de algodão umedecidos com água. As sementes ficaram armazenadas pelo período de sete dias, em temperatura de 8,3ºC, na parte inferior da geladeira. Tal procedimento foi adotado apenas para as sementes dos frutos coletados na primeira etapa, para que a semeadura fosse realizada em um único dia. Desta forma os frutos coletados na segunda etapa foram semeados logo após a despolpa.

A semeadura ocorreu ainda no mês de outubro sendo que as sementes de mangaba foram colocadas em tubetes com substrato, a 1 cm de profundidade.

Os tubetes foram preenchidos com areia grossa lavada, Plantimax® e terriço de mata, na proporção de 1:1:1, acrescidos de 4 kg m-3 de Osmocot, e 600g m-3 superfosfato simples (SSP). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 116 tratamentos (representados por cada matriz de origem) e oito repetições (8 tubetes = 16 sementes). Os tubetes contendo as sementes ficaram sob sombrite 50% e irrigação por microaspersão, até atingir a capacidade de campo.

No viveiro, aos 70 dias após semeadura (DAS) foi realizada a primeira avaliação das mudas e aos 75 DAS, fez-se o transplante para sacos plásticos perfurados e sanfonados, próprios para a produção de mudas, preenchidos com areia grossa lavada, Plantimax® e terriço de mata na proporção de 2:1:1, acrescidos de 4 kg m-3 de Osmocot, e 600 g m-3 superfosfato simples (SSP). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 116 tratamentos (representados por cada matriz de origem) e oito repetições (8 tubetes = 16 sementes). Após o transplante as mudas foram transportadas para viveiro sem cobertura, ficando expostas a sol pleno.

As avaliações das progênies foram realizadas levado em consideração as variáveis comprimento (cm) e número de par de folhas (NPF), ocorrendo durante o período de janeiro a outubro de 2010, totalizando 10 leituras. Para a medição da altura, os dados foram obtidos mediante a utilização de uma régua milimétrica de 100 cm obtendo-se as medidas das mudas a partir do solo de onde se emitiu o caule até o ápice caulinar (inserção das últimas folhas); para o nº de par de folhas foram efetuadas as contagens, a partir das folhas cotiledonares, periodicamente; e conforme a necessidade, foram realizados os tratos culturais (irrigação, adubação, capinas, aplicação de fungicidas e/ou inseticidas).

Os dados biométricos das mudas foram analisados com o auxílio de estatística descritiva, estimando-se a média, o coeficiente e o intervalo de variação. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 116 tratamentos (representados por cada matriz de origem) e oito repetições (8 embalagens = 16 sementes). Realizou-se a análise de variância para verificar possíveis diferenças entre as áreas. Entre matrizes realizou-se, a fim de verificar diferenças, o teste de média, o máximo, o mínimo e o coeficiente de variação. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados foram coletados mensalmente para cada progênie até a décima (10ª) avaliação.

Procedeu-se assim, a análise de variância, para os dados biométricos das mudas e calculadas correlações de Pearson entre esses dados, para verificar a proporção da variabilidade fenotípica entre níveis de áreas e mudas. As análises de variância e as estimativas de parâmetros foram obtidas com o auxílio do programa estatístico, Statistical Analysis System (SAS) versão 9.1, (SAS Institute, 2011) por meio do procedimento proc anova.

 

Resultados e discussão

A análise de variância de crescimento em altura das plantas, assim como àqueles referentes ao número de par de folhas (NPF) avaliados mensalmente em 10 leituras (Quadro 1), permitiram verificar a existência de variação significativa entre progênies avaliadas, em todas as leituras e para todos os parâmetros analisados, levando em consideração as épocas de avaliação, excetuando-se a variável NPF, na quarta (4ª) leitura, onde não apresentou esta característica.

 

 

Essas estimativas reportam-se ao fato da possibilidade de seleção de progênies que apresentem um crescimento mais rápido e a manutenção de um maior número de folhas, como indicativo de escolha para programas de melhoramento, ao mesmo tempo em que proporcionam dados que permitem inferir sobre a produção em viveiro de H. speciosa do Cerrado.

A média geral da altura, entre as áreas na primeira leitura foi de 7,4 cm (Quadro 1), a maior média para altura das mudas obtida na primeira leitura ocorreu na Área 7 (9,4 cm) e a menor foi obtida na Área 9 (5,5 cm), com amplitude de 3,9 cm, entre as áreas citadas. Percebe-se também diferenças altamente significativa entre as áreas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 com as áreas 8, 9 e 10, para a variável altura de plantas.

Quanto ao número de par de folhas (NPF), a área que obteve o maior desempenho com 5,2, foi constatado na área 5, podendo serem observadas diferenças altamente significativas entre esta e as demais áreas (2, 7, 8, 9 e 10). A média geral de NPF na segunda leitura foi de 4,7, diferença de 0,2, com relação a leitura anterior.

Estudos têm sido realizados com intuito de elucidar as variações significativas existentes entre e dentro de populações e progênies de espécies arbóreas nativas. Contudo estudos sobre a variabilidade genética de populações de mangabeira no Cerrado ainda são incipientes (Ganga, 2008), assim como as metodologias de produção de mudas em viveiro.

Da 3ª a 10ª leitura realizada quanto a altura (Quadro 1), as maiores médias foram obtidas na área 5 com 15,3 cm; 23,2 cm; 24,1 cm; 24,5 cm; 24,5 cm; 25,8 cm; 26,1 cm e 33,2 cm respectivamente, observa-se um incremento de 17,9 cm entre a terceira e a última leitura para a área 5 (Serra dos Pirineus). Essa diferença corresponde ao percentual de 36,90%. Em uma observação mais acurada de proporcionalidade de médias para esta área (5); a partir da primeira leitura constata-se um ganho em altura de 25,3 cm quando comparada com a leitura de número 10.

Quanto à área que obteve a melhor média em altura nas duas primeiras leituras, a área 7 (Serra Dourada) pode-se observar uma amplitude de 9,4 cm a 28,9 cm, com incremento de 19,5 cm entre a primeira e a última leitura. Em percentual, esses dados correspondem a 66,21%, ao passo que a diferença das médias para a área 5 entre a primeira e a última leitura corresponde a 61,54%.

Pereira e Pereira (2003), abordam que as mudas produzidas no Nordeste, entre 4 a 6 meses de viveiro, possuem altura variando de 20 cm a 25 cm. Este dado corrobora com os encontrados neste estu- do para a área 5, na quarta leitura, ou seja, no sexto mês após a semeadura onde obteve-se uma média de 23,2 cm/muda.

No presente estudo, pode-se observar que a área que obteve a menor média geral em altura (área 9) na sexta leitura (18,3 cm) (Quadro 1), estão acima dos encontrados em avaliação de progênies de H. speciosa do Cerrado em Ipameri-GO, por Peixoto et al. (2005), que averiguaram no sexto mês de leitura, médias para altura variando entre 6,49 cm, 7,88 cm e 7,92 cm para as progênies Gameleira 01, Gameleira 02, Gameleira 03, respectivamente.

Para o NPF, observa-se nível de significância entre todas as áreas, em todas as leituras, excetuando-se a leitura de número 4. As maiores médias (Quadro 1) podem ser observadas para as áreas 5 (1ª, 2ª 3ª, 4ª, 5ª e 8ª leituras), 6 ( 6ª, 7ª, 8ª e 10ª leituras) e 7 (9ª leitura) com 5,2; 8,3; 7,0; 7,6; 7,7; 7,4; 6,0; 5,5 e 7,2, respectivamente.

O mínimo e máximo em NPF para a 1ª leitura esteve entre 1,0 e 6,3 (mês de janeiro), já na última leitura (mês outubro) este índice manteve uma amplitude de 6,4 a 11,0 NPF, em média. Depreende-se para essa característica uma manutenção das médias entre a 6ª e 7ª leituras (meses de 06-07/2010), com 22,0 NPF. A planta troca a folhagem durante o período mais seco do ano. No ápice dos ramos das plantas adultas surgem brotações contendo flores e folhas novas, fato que leva a tendência de maior floração e maior produção de frutos em plantas mais ramificadas naturalmente (Aguiar Filho et al., 1998).

Lima (2008), em levantamento etnobotânico com H. speciosa em Minas Gerais, observou as plantas mantidas em viveiro após seis meses de avaliação, possuíam em média 12,55 cm de altura, 0,27 cm de diâmetro basal e 15,6 folhas. Os dados para o NPF da autora estão acima dos encontrados no presente estudo, cuja maior média geral (3ª avaliação), esteve em 7,3 (Quadro 1). Contudo, deve ser levado em consideração o número de áreas de coleta, o número de matrizes e o número de sementes e de progênies/ área, além de aspecto agrometereológicos em que o presente estudo foi realizado.

As médias de NPF (Quadro 1), das áreas estudadas oscilaram entre 4,7 (1ª leitura), a 7,3 (3ª avaliação) cuja média geral obtida foi a maior em todas as leituras. Perpassando em 4,7 (2ª leitura), a variação de -0,2 e -0,3 nas 5ª, 6ª e 7ª leituras (6,9, 6,8, 6,5), respectivamente. O período (junho, julho) em que se observou a mesma média de taxa de crescimento (22,0 cm). Observa-se também que a de perda de folhas (Quadro 1), inicia-se na quarta leitura (mês de abril), com o início do outono período em que, na região, os dias são mais curtos e noites mais longas e mais frias (termoperiodicidade). Percebe-se um declínio crescente para o NPF, até a 9ª leitura (mês de setembro), com percentual de 17,42% (NPF=6,4/4ª leitura; NPF= 4,5/9ª leitura), voltando a se estabilizar em 6,4 na 10ª leitura, período da estação primaveril, com proximidade do verão (dias mais longos, quentes e úmidos, bem como, noites mais curtas e quentes).

Quanto à proporcionalidade entre altura e NPF, na 1ª leitura percebe-se (altura 7,4 e NPF 4,7) que a cada 1,57 cm, tem-se um par de folhas. Na 10ª leitura (mês de outubro) observa-se uma altura em média/ área de 28,9 cm para um NPF = 6,4, o que corresponde a uma inserção de pares de folhas a cada 4,6 cm de altura, o que corresponde a 29,64%, de variação entre o altura/NPF da 1ª e da 10ª leituras.

A folha é um órgão, geralmente laminar, cuja principal função é a fotossíntese, para a manutenção da planta, embora possa apresentar outras funções, como a transpiração, o armazenamento de água, proteção e atração de polinizadores (Raven et al., 1996). Esse fato concorda com que argumenta Lobo et al. (2010) em que as folhas são os órgãos responsáveis pelo intercâmbio gasoso nas plantas. Por essa razão, os estudos relacionados com a assimilação do carbono e os seus efeitos no crescimento e na ontogenia foliar dependem da quantificação da área foliar como subsídio fundamental para a análise dos dados. Os dados aqui abordados corroboram para denotar a relevância sobre o levantamento da incidência e/ou permanência das folhas para as espécies nativas.

Na população da área - 1 os intervalos de variação para a altura e NPF na 1ª leitura, estiveram entre 6,1 cm e 11,8 cm (variação de 31%); de 6,3 e 4,3 (19,43%) a 36,6 cm a 24,6 cm (variação de 19,22%); 8,7 e 5,6 (21,68%), na 10ª leitura, respectivamente. Observa-se que a matriz que obteve o melhor desempenho nesta área foi a de número 10. Já os valores mínimos obtidos foram averiguados com as progênies da matriz de número 4.

Ganga et al. (2009) observaram uma altura de 1,2 cm quando da variância genética entre progênies dentro da população analisada. A autora averiguou entre populações, uma taxa de variação de 56,4% (1,52 cm2) na taxa de crescimento e 72,05% na altura final, e que 48,9% e 48,4%, respectivamente, referem-se a variação das progênies dentro da população. Ainda conforme Ganga et al. (2009), esse fato se explica, por ser o objeto de estudo da referida autora, a diferença entre variedades.

Na área 2 o percentual para o intervalo de variação na 1ª leitura, nos quesitos altura e NPF foi de 69,9% e 61,0% enquanto na 10ª leitura de 41,5% e 24,0%, respectivamente; as matrizes com o melhor desempenho em altura e NPF foram as de número 11 e 12. Na área 3, observa-se que a diferença entre a altura máxima e a mínima em 1ª leitura, corresponde a 18,3% (8,4 cm e 5,8 cm, respectivamente), quanto ao NPF oscilou entre 5,6 e 4,3 (13,13%), na 10ª leitura esse percentual situa-se 21,24% e 34,3% (altura: 37,1 cm a 23,6 cm e NPF: 8,7 a 4,5). A matriz com maior probabilidade de seleção na área 3, seria a matriz 30. Em avaliação sobre crescimento em viveiro de mudas de mangabeira em diferentes substratos, Pereira et al. (2010), obtiveram uma média em altura de 10,95 cm e NPF de 5,9 aos 160 dias após a semeadura. Rosa et al. (2005), em avaliação de H. especiosa aos 130 dias, constataram uma média de altura variando entre 5,70 cm a 19, 60 cm e NPF oscilando entre 2,80 a 8,52.

Para a área 5, área que obteve as melhores médias (Quadro 1), constata-se que o intervalo de variação na primeira leitura para altura e NPF oscila entre 24,08% e 10,0% a 21,10% e 37,50% na décima leitura, respectivamente. A matriz de melhor desempenho para as variáveis em questão foi a de número 44. Silva et al. (2008), avaliando a produção de mudas de H. speciosa em tubetes sob diferentes substratos, verificaram que aos 160 dias o número de folhas e altura variaram entre 6,02 a 9,96 e 5,36 cm a 9,35 cm. Estes dados estão abaixo dos encontrados no presente estudo na 3ª avaliação, áreas 9 e 1 (menor média aos 150 DAS), com altura de 5,4 cm a 15,7 cm e NPF com 6,08 a 8,3 (pares de folhas: 8,3 x 2 = 16,6 folhas), respectivamente. Nas demais áreas os valores entre máximo e mínimo percentual giraram em torno de 21,0 + 3,0% com relação a altura e 11,0% + 3,0% quando se compara o NPF.

A variabilidade genética segundo Ganga (2008), em estudo com mangabeiras, estimam os coeficientes de variação tanto para taxa de crescimento em altura (23,13%) e diâmetro (26,64%) quanto no diâmetro (23,10%) e altura (24,80%), finais que se mostraram elevados se comparados com outras espécies (cabreúva), a autora salienta o fato de as progênies terem suas origens em populações naturais distintas, incrementando-se assim a variabilidade genética.

Em caracterização genética de populações naturais de mangabeira do Cerrado, levando em consideração a análise de polimorfismo de cpDNA (Silva, 2006), constatou elevados níveis de diversidade genética nas populações avaliadas, sendo que nesses níveis, 7% a 9% referem-se a variação entre populações, sugerindo a amostragem de elevado número de populações naturais em coletas destinadas à conservação genética da espécie. Moura (2003) observou variação significativa entre populações, quando em estudo sobre a estrutura genética de populações com marcadores moleculares RAPD.

Conhecer os níveis de variabilidade morfológica possibilita a seleção de materiais com melhores possibilidades de domesticação, promove a preservação através de banco de germoplasmas, além de evitar perdas adicionais de diversidade genética em populações que estão ameaçadas pelo desmatamento e fragmentação de habitat.

A correlação existente entre os caracteres permite uma orientação na seleção e favorece o aprimoramento dos genótipos para um conjunto de caracteres e não para os mesmos de forma isolada, tornando possível a seleção indireta de caracteres desejáveis correlacionados positivamente (Vencovsky e Barriga, 1992).

Observou-se correlação positiva e elevada para os caracteres avaliados, associados ou não à época de leitura. Correlações positivas indicam que as duas características são beneficiadas ou prejudicadas pelas mesmas causas de variação. Merecem destaque as correlações positivas e elevadas observadas entre o número de par de folhas, NPF1 e NPF2 (Figura 1), o que corresponde a 7,4 NPF, existentes nas duas épocas de leitura. O conhecimento prévio das relações existentes entre caracteres de planta, como estimados pelas correlações, tem sido de grande importância nos trabalhos de melhoramento genético (Cruz e Regazzi, 1997).

 

 

Para a variável altura, observa-se a ocorrência de correlação positiva e de magnitude elevada entre A1 (8,0 cm) e A4 (21,0 cm), o que corresponde a um incremento de 13,0 cm entre ambas as leituras; A6 e A5; A7 e A5; e também, entre A9 e A5, A6, A7 e A8 (Figura 2). Quanto ao número de par de folhas (NPF 9), houve correlação negativa para todas as variáveis analisadas, excetuando-se para o NPF 5, 6, 7 e 8, sendo o de maior expressão a correlação ocorrida com a 5ª leitura ( - 0,32). Este fato salienta uma característica que a mangabeira apresenta de ser semidecidua, ou seja, apresenta perda consecutiva e parcial das folhas. A planta, no entanto, atinge 28,9 cm de altura e 6,4 pares de folhas retomando seu desenvolvimento no mês de outubro (10ª leitura), período em que na região onde o estudo foi realizado, segundo Köppen enquadram-se no tipo AW (inverno seco e frio, verão úmido e quente). Quando as correlações são positivas e de alta magnitude, os caracteres podem ser considerados uma única unidade de seleção. Por sua vez, as correlações negativas geralmente dificultam a seleção simultânea dos caracteres superiores nos programas de melhoramento (Sousa, 2007).

 

 

Através da análise abordada, observa-se que as progênies apresentaram correlações positivas e significativas entre os caracteres neles mensurados. Esses dados corroboram com Ganga et al., (2009), que salienta a necessidade de levar plantas para o campo com maior vigor juvenil, pois assim crescerão mais rapidamente e alcançarão porte mais elevado do que as demais, significando produção maior e mais precoce. Observa-se no trabalho realizado, que grandes partes das correlações, embora positivas, não foram elevadas.

Cabe ainda reiterar que no presente estudo, pode-se observar que para as mudas de H. speciosa, deve-se evitar o transplante destas do viveiro para o campo, em período com baixa umidade e temperatura, para que as plantas tenham possibilidade de melhor e maior desenvolvimento no campo.

 

Conclusões

As mudas praticamente estabilizam seu crescimento a partir do 7° mês até e o 11° mês (maio a setembro); A taxa média mensal para crescimento da mangaba variou de 0,1 cm (janeiro a fevereiro) a 6,1 cm (setembro a outubro), com taxa média final de 2,19 cm; É oportuno pesquisar alternativas de produção de mudas em períodos menores.

 

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Recebido/Received: 2013.04.04

Aceitação/Accepted: 2013.06.15

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