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Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia

versão impressa ISSN 0430-5027

Finisterra  no.113 Lisboa abr. 2020

https://doi.org/10.18055/Finis19212 

ARTIGO

Transferência de conhecimento nas actividades culturais e criativas: notas comparativas das regiões do espaço atlântico

Knowledge transfer in the cultural and creative activities: comparative notes from regions of the atlantic area

Le transfert de connaissance dans les activités culturelles et créatives: notes comparatives des régions de l’espace atlantique

Transferencia de conocimiento en las actividades culturales y criativas: notas comparativas de las regiones del espacio atlantico

Rodrigo Nicolau Almeida1, Ana Rita Cruz2, Pedro Costa3, Maria Assunção Gato2, Margarida Perestrelo3

1Assistente de Investigação, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território (DINÂMIA’CET), Av. das Forças Armadas, 1649-026, Lisboa, Portugal. E-mail: rodrigo.almeida@iscte-iul.pt

2Investigadora Auxiliar, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território (DINÂMIA’CET), Lisboa, Portugal. E-mail: ana.rita.cruz@iscte-iul.pt; maria.gato@iscte-iul.pt

3Professor/a Auxiliar, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território (DINÂMIA’CET), Lisboa, Portugal. E-mail: pedro.costa@iscte-iul.pt; margarida.perestrelo@iscte-iul.pt


 

RESUMO

No final do século XX, a importância da “terceira missão” das Instituições de Ensino Superior (IES), de cariz socioeconómico, levou à promoção de diversos mecanismos de transferência de conhecimento em termos políticos e institucionais. Não obstante, muitos destes mecanismos foram desenhados para indústrias que não partilham as especificidades das actividades culturais e criativas (ACC). Este trabalho resulta de um projecto transnacional - 4H-CREAT - que visa analisar de que forma se pode estimular a relação das actividades culturais e criativas com os restantes actores políticos, institucionais e sociais (IES, decisores políticos e sociedade civil). Este artigo procura explorar as formas de transferência de conhecimento nas quais o sector cultural e criativo pode estar envolvido com as IES, focando as sete regiões participantes do projecto 4H-CREAT (Área Metropolitana de Lisboa, Andaluzia, Avilès, Bretagne, Pays de la Loire, Southern and Eastern Ireland, Southwest Scotland). Para isso procedeu-se a uma revisão de literatura sobre a inovação e transferência de conhecimento nas ACC, bem como à análise estatística, entre 2012 e 2015, e à leitura de vários enquadramentos institucionais e políticos acerca deste sector nas várias regiões, entre 2000 e 2017. Um dos objectivos é chegar a medidas concretas passíveis de aplicação pelas IES - promover colaboração no desenvolvimento de currículos, fomentar espaços de discussão, vocacionar o ensino para as práticas profissionais das ACC, entre outras. Apesar do grau de generalidade de tais linhas, considera-se que estas podem contribuir para um debate importante acerca das múltiplas formas passíveis de gerar valor com as actividades culturais e criativas e o modelo de envolvimento dos actores com as IES.

Palavras-chave: Transferência e valorização de conhecimento; actividades culturais e criativas; quádrupla hélice; inovação.


 

ABSTRACT

In the late XXth century, the importance of the “third mission” of Higher Education Institutions (HEI) - their socioeconomic engagement with the social tissue - saw the need to promote several mechanisms of knowledge transfer on a political and institutional level. Nonetheless, many of these mechanisms were designed for industries that share little of the Cultural and Creative Activities (CCA) sector’s specificities. This work stems from a transnational project - 4H-CREAT - that seeks to analyse the way in which cultural and creative activities can be engaged with the remaining political and social actors (HEI, Political Instances and Civil Society). In this article, we seek to explore the ways in which knowledge transfer and valuation can be done within the Cultural and Creative sector, in relation to HEI, narrowing in on the regions participating in 4H-CREAT project (Área Metropolitana de Lisboa, Andaluzia, Avilès, Bretagne, Pays de la Loire, Southern and Eastern Ireland, Southwest Scotland). We sought thus to do a literature review, in order to emphasise the above stated specificities, as well as a statistical analysis, focusing on the period of 2012 to 2015, and a policy analysis, with a focus on the period of 2000 to 2017, of the various regions from Portugal, Spain, France, Ireland and the UK involved in the project. We then discuss specific pathways that can be undertaken by HEI to that effect - promoting collaboration in the development of curricula, fomenting spaces of discussion, as well as directing cultural education to the needs of CCA, amongst others. Despite the level of generality of these measures, we argue they can serve to further an important debate on multiple forms of value generated within the CCA and the forms of involvement of agents with HEI.

Keywords: Knowledge transfer and valuation; cultural and creative activities; quadruple helix; innovation.


 

RÉSUMÉ

A la fin du XXe siècle, l’importance de la «troisième mission» des établissements d’enseignement supérieur (EES), de nature socio-économique, a conduit à la promotion de plusieurs mécanismes de transfert de connaissance en termes politiques et institutionnels. Toutefois, un grand nombre de ces mécanismes ont été conçus pour des secteurs qui ne partagent pas les spécificités des Activités culturelles et créatives (ACC). Ce travail découle d’un projet transnational - 4H-CREAT - qui a pour objectif d’analyser comment les activités culturelles et créatives peuvent être mises en relation avec d’autres acteurs politiques, institutionnels et sociaux (EES, décideurs politiques et société civile). Dans cette étude, on cherche à explorer le formes de transfert de connaissance dans lesquelles le secteur culturel et créatif peut s’impliquer par rapport aux EES, notamment dans les sept régions participantes au projet 4H-CREAT (Área Metropolitana de Lisboa, Andaluzia, Avilès, Bretagne, Pays de la Loire, Southern and Eastern Ireland, Southwest Scotland). À cette fin, on a analysé la littérature sur l’innovation et le transfert de connaissance dans les ACC, ainsi que l’analyse statistique, concentrant sur la période de 2012 à 2015, et la lecture de plusieurs encadrements institutionnels et politiques sur le secteur dans les différentes régions, concentrant sur la période de 2000 à 2017. L’un des objectifs vise à parvenir des mesures concrètes susceptibles d’être mises en Suvre par les EES - encourager la collaboration dans l’élaboration des programmes d’études, promouvoir des espaces pour la discussion, sensibiliser aux pratiques professionnelles dans les ACC, entre autres. Malgré la généralité de ces lignes, on croit qu’elles peuvent contribuer à un important débat sur les multiples formes de valeur qui peuvent se générer avec les activités culturelles et créatives et la forme d’implication des agents avec les EES.

Mots clés: Transfert et valorisation des connaissances; activités culturelles et créatives; quadruple hélix; innovation.


 

RESUMEN

A fines del siglo XX, la importancia de la “tercera misión” de las Instituciones de Educación Superior (IES), de carácter socioeconómico, condujo a la promoción de diversos mecanismos para la transferencia de conocimiento en términos políticos e institucionales. Sin embargo, muchos de estos mecanismos fueron diseñados para industrias que no comparten de las especificidades de las actividades culturales y creativas (ACC). Este trabajo deriva de un proyecto transnacional, 4H-CREAT, que tiene como objetivo analizar cómo las actividades culturales y creativas pueden relacionarse con otros actores políticos, institucionales y sociales (IES, formuladores de políticas y la sociedad civil). En este estudio, buscamos explorar las formas de transferencia de conocimiento en las que puede participar el sector cultural y creativo, centrándonos en las siete regiones que participan en el proyecto 4H-CREAT (Área Metropolitana de Lisboa, Andaluzia, Avilès, Bregane, Pays de la Loire, Southern and Eastern Ireland, Southwest Scotland). Con este fin, llevamos a cabo una revisión de la literatura sobre innovación y transferencia de conocimiento en las CPI, así como un análisis estadístico, centrándonos en el período de 2012 a 2015, y un análisis de varios marcos institucionales y políticos sobre el sector en las diversas regiones, en el período comprendido entre 2000 y 2017. Uno de los objetivos es llegar a medidas concretas que puedan aplicar las IES: promover la colaboración en el desarrollo de planes de estudio, fomentar espacios de discusión, centrar la enseñanza en las prácticas profesionales de las ACC, entre otros. A pesar del grado de generalidad de estas líneas, creemos que pueden contribuir a un debate importante sobre las múltiples formas de valor que se pueden generar con las actividades culturales y creativas y la forma de participación de los agentes con las IES.

Palabras clave: Transferencia de conocimiento y valorización; actividades culturales y creativas; hélice cuádruple; innovación.


 

I. Introdução

O final do século XX trouxe a percepção de que as instituições de Ensino Superior (IES) deveriam assumir uma “terceira missão”. Para além das suas funções de qualificação de recursos humanos e de produção de conhecimento, neste período surge a necessidade das IES se envolverem activamente no contexto socioeconómico, nomeadamente através de práticas de transferência de conhecimento, envolvimento com actores sociais e participação em debates políticos (Pinto, 2012). Em particular, a ideia de transferência e valorização de conhecimento (TVC) - a mobilização e comercialização de conhecimento produzido nas Instituições de Ensino Superior (IES) - ganhou especial ênfase como uma forma de rentabilizar a investigação desenvolvida nas IES, gerando, no modelo americano de “Transferência de Tecnologia”, spin-offs, contratos, patentes e licenças (Pinto, 2012).

A par disto, várias tendências contribuíram para a conceptualização autónoma de um sector industrial “cultural e criativo”: declínio dos modelos de industrialização clássicos (Piore & Sabel, 1984), bem como a emergência de novas formas de organização no capitalismo, marcadas em grande medida pelo peso dado ao conteúdo cultural como gerador de riqueza, com consequências substanciais ao nível da organização das cidades no seu seguimento (Landry, 1995; Scott, 2000; 2014; Caves, 2002; Florida, 2002; 2012), levaram à cristalização de uma preocupação social, académica e especialmente política com estas indústrias e a sua organização no território. Importa clarificar que o termo “Indústrias Culturais e Criativas” tem usos bastante distintos, sendo mais fortemente usado no contexto anglo-saxónico para determinar actividades como o filme e vídeo, o design e a arquitectura (Flew, 2012), ainda que aqui o usemos na sua acepção mais lata, no seguimento de outros autores (Markusen, Wassall, DeNatale, & Cohen, 2008; Mateus, 2010; Cruz, 2016), bem como da classificação adoptada no projeto 4H-CREAT (cf. abaixo). Estas actividades, muitas vezes abarcadas sob a designação de indústrias culturais e criativas - cuja propriedade unificadora se prende precisamente com a utilização da “criatividade” de uma maneira mais intensa e mais profícua do que as restantes actividades económicas - tornaram-se por essa razão foco de intervenção política, especialmente em países como o Reino Unido ou a Austrália, com lógicas bastante diversas e âmbitos políticos variados (Costa, Magalhães, Vasconcelos, & Sugahara, 2008; Markusen & Gadwa, 2010).

O reconhecimento da importância destas actividades fez-se sentir, no final do século XX e início do século XXI, ao nível regional e urbano - considerado um nível privilegiado de intervenção política, especialmente na Europa (Moulert & Sekia, 2003; Asheim, Smith, & Oughton, 2011; Boix, Lazzeretti, Capone, Propis, & Sánchez, 2012). A forte ancoragem na territorialidade das actividades culturais e criativas (ACC) começou a alertar para a imprescindibilidade de considerar o contexto social, cultural e económico e as lógicas de governança territoriais específicas no sucesso alcançado neste campo em muitas cidades e regiões concretas, as quais seriam fundamentais para a sustentabilidade das dinâmicas de inovação e da criatividade. Tal levou igualmente à necessidade de questionar a ideia de transferibilidade de soluções de sucesso, bem como a crença na mera capacidade de geração de atractividade com base em eventos, equipamentos ou operações de maior ou menor escala, pouco enraizadas na realidade territorial específica em causa (Scott, 2000; 2014; Camagni, Maillat, & Matteacciolli, 2004; Costa, 2007; Cooke & Lazzeretti, 2008).

Tendo em conta a convergência temporal destas duas tendências, seria talvez expectável que existisse um conjunto de políticas que focassem a transferência de conhecimento para as ACC, ou que pelo menos esta fosse um ramo claro das políticas e acções de Transferência e Valorização de Conhecimento (TVC). No entanto, as ACC têm permanecido distanciadas das universidades, tendo contactos esparsos ou moderados com as universidades, e poucas colaborações activas com estas (Zukauskaite, 2012; Heidemann Lassen, McKelvey, & Ljungberg, 2018).

Neste contexto, o presente artigo procura analisar as políticas de TVC que têm sido mobilizadas no âmbito das actividades culturais e criativas, colocadas no quadro mais geral de políticas direccionadas para as mesmas, analisando as regiões envolvidas no projecto 4H-CREAT: Área Metropolitana de Lisboa (AML), Pays de la Loire, Andaluzia, Southwestern Scotland (S.W. Scotland), Southern and Eastern Ireland (S.E. Ireland), Bretagne e Astúrias, sete regiões do Espaço Atlântico (delimitação territorial utilizada pela estratégia de coesão europeia). Estas regiões foram enquadradas estatisticamente no período de 2012-2015 e a análise de relatórios, artigos e documentos técnicos foi feita de 2000 a 2017, sensivelmente. Neste sentido, o conceito de transferência e valorização de conhecimento é utilizado no seu sentido amplo, incluindo não só a mobilização de conhecimento de outras áreas de conhecimento produzido nas IES para as ACC, mas também o papel de mediação das IES em subsectores das actividades culturais e criativas, como a partilha de recursos humanos, entre outras formas.

Dada a natureza preliminar desta investigação, este artigo encontra-se estruturado em cinco secções: uma primeira dedicada às especificidades das indústrias culturais e criativas identificadas na literatura, tentando sublinhar a necessidade de modelos de TVC próprios, focando o tipo de conhecimento utilizado, a estrutura subsectorial das actividades culturais e criativas e a actual relação das universidades com o sector. Uma segunda secção onde se discute brevemente as especificidades regionais das sete regiões em estudo, tanto em termos estatísticos, como de enquadramento político-institucional, bem como os subsectores priorizados por cada região. Por fim, uma secção onde se identificam caminhos gerais e preliminares que resultam como promissores para a política de TVC nas regiões em estudo, enquadrados em três linhas centrais: aumentar a transferência de conhecimento para o empreendedorismo e acção social do sector cultural e criativo; incrementar a partilha de conhecimento intra e inter-subsectorial nas actividades culturais e criativas, bem como com sectores da indústria em geral; e fomentar a criatividade criando mecanismos de envolvimento da academia na acção das actividades culturais e criativas mais explícitos. O artigo termina com algumas notas conclusivas.

II. O Conhecimento e a Inovação nas Actividades Culturais e Criativas

É um facto que aquilo que cai sobre a égide de “indústria criativa” ou “sector criativo” é matéria de debate aceso e interminável em termos políticos e académicos, não se verificando grande consistência entre as várias discussões (UNCTD, 2008; Cruz, 2016). Não querendo os autores entrar nesta discussão, a classificação de subsectores que, pragmaticamente foi seleccionada para os propósitos deste texto foi a que se encontra descrita no quadro IV (em Anexo). Aqui foram pois incluídos não só actividades associadas às indústrias criativas (como a arquitectura, o filme e vídeo, ou o multimédia), mas também actividades consideradas de novos media (como as artes digitais, o desenvolvimento de software e apps e produção de videojogos), bem como actividades culturais nucleares (como as belas artes, museus e galerias, escrita e publicação), ou actividades com uma vertente mista entre o envolvimento social e cultural (como conservatórios e orquestras, ou algumas formas de teatro). Para os propósitos deste artigo, quando se fala de actividades culturais e criativas (ACC) referimo-nos genericamente a todos estes subsectores. É igualmente de notar que a análise estatística elaborada, como sublinha o quadro IV, possui um elevado nível de desagregação e exclui alguns subsectores com interesse (como eventos e festivais). Como tal, estas limitações devem ser tidas em conta, servindo os valores apresentados como uma indicação de tendências.

Tendo em conta esta realidade, a primeira linha de clivagem encontrada face às restantes indústrias é relativamente intuitiva: trata-se do facto de existir mais conteúdo cultural e cognitivo-social nos produtos e serviços produzidos nas ACC do que no geral das restantes indústrias. Esta característica é fundamental para perceber as especificidades da inovação no campo das actividades culturais e criativas: a análise da inovação nas ACC deve ter em conta o modo como estas actividades mobilizam conteúdo informacional e conhecimento específico de cada território em contextos de relação local-global, não podendo ainda descurar as lógicas de regulação e governança específicas que garantem a capacidade de gerar e manter a sustentabilidade dessas dinâmicas (Camagni et al., 2004; Costa, 2013; Kebir, Crevoisier, Costa, & Peyrache-Gadeau, 2017).

É, no entanto, necessário olhar para mais três aspectos das ACC que as diferenciam substancialmente: 1) a estrutura empresarial e organizativa dos agentes económicos envolvidos nas ACC; 2) a inovação produzida, motivações e tipo de conhecimento que entidades das ACC mobilizam e a forma como esse conhecimento é transformado em várias formas de inovação; e 3) o papel que as IES têm no desenvolvimento das suas actividades.

1. Estrutura empresarial e organizativa das actividades culturais e criativas

O tecido empresarial das ACC, independentemente de subsectores, é marcado maioritariamente por pequenas e médias organizações (empresas ou outras) (Hearn, Cunningham, & Ordoñez, 2004), sendo comum encontrar elevadas percentagens de micro-empresas, bem como trabalho independente. Os dados dos Quadros de Pessoal de 2015 indicam uma realidade bastante desequilibrada (fig. 1) com mais de 80% das empresas tendo menos de 10 trabalhadores. Isto contrasta com sectores como os da produção industrial, onde apesar das micro-empresas continuarem a ser as mais abundantes, a proporção ronda 60% de empresas com menos de 10 trabalhadores. Ao nível do Espaço Atlântico, as tendências são semelhantes (Indecon, 2011; Région de Bretagne, 2013; Agence d’Urbanisme de la Région Nantaise, 2014; Sanchéz & Vega, 2014; Consejería de Empleo, Cultura y Turismo, 2017; Creative Scotland, 2017a).

 

 

 

À semelhança de muitas outras indústrias (Lopes, 2001; Boschma, 2005), os laços informais e territoriais constituem uma marca do funcionamento das ACC, tanto nas relações entre actores de dentro do sector, como nas relações com actores de outros sectores (Holden, 2015). Este factor leva a que muita da prática de utilização de conhecimento formal tenha menos relevância do que o contacto com os “meios” no processo de perceber quais os caminhos de produção a tomar (Costa, Vasconcelos, & Sugahara, 2011). Isto traduz-se em três características específicas: (i) organização da actividade centrada maioritariamente no “projecto” e não na ligação profissional permanente a uma entidade (Scott, 2000; Caves, 2002); (ii) maior importância dos factores simbólicos em propiciar a aglomeração (Asheim, Grillitsch, & Trippl, 2016); (iii) e consequentemente, a circulação do conhecimento tácito em ambientes de grande informalidade, marcados pela forte convivialidade e por lógicas de sociabilidade específicas (Florida, 2002; Costa et al., 2011). Estas questões são determinantes, associando-se a uma crescente necessidade de articulação simbólica entre a reputação de artistas, obras e territórios ou “meios” onde esse conhecimento e esses valores simbólicos são produzidos ou socializados (Costa, 2007).

Perante estes factores não será de estranhar que as ACC não tendam para lógicas de empreendedorismo bem definidas, existindo alguma ambiguidade em termos de tarefas, bem como uma falta de conhecimento empresarial passível de conduzir a ineficiências económicas e sociais (Hearn et al., 2004; Crossick, 2006; Heidemann Lassen et al., 2018).

2. Inovação, tipo de conhecimento e motivações nas actividades culturais e criativas

Como notam McKelvey e Lassen (2018), as inovações produzidas pelas ACC são de cariz social, ou seja, satisfazem uma necessidade de um grupo de referência, como uma população local e cultural, tendo como foco aspectos como a inclusão social e a capacitação de actores (André & Abreu, 2012). Estes diversos tipos de inovação estão intimamente ligados às diferentes motivações subjacentes às empresas, como sublinharam Bruno Frey (1997) ou David Throsby (2006), as motivações dos actores para produzirem produtos artísticos pode partir de uma satisfação pessoal, sem ter directamente subjacente o retorno económico; e de igual forma, quando se fala de empresas de cariz social, a melhoria das condições sociais e o envolvimento colectivo de actores é em muitos casos o objectivo central (Moulaert, Martinelli, Swyngedouw, & Gonzalez, 2005). Apesar de não ser de forma alguma estanque, tais distinções podem ser vistas em termos dos subsectores das ACC (fig. 3) - onde se observa, por exemplo, as actividades associadas às belas artes a serem conduzidas por uma combinação de motivações com maior preponderância das motivações de tipo “estético”, a publicidade com maiores motivações económicas e subsectores como as orquestras ou o circo associando maioritariamente motivações sociais (André & Reis, 2012).

 

 

A questão do tipo de conhecimento utilizado não é de modo algum linear. O tipo de conhecimento é, em geral, apropriado de forma diferente pelos diversos intervenientes nos processos de produção, mediação e consumo, munidos de capitais culturais diferenciados, e é acumulado por um conhecimento específico de elementos culturais e uma combinação metafórica que tenta evocar determinadas reacções estéticas que levem os consumidores/utilizadores a apreciarem o produto e eventualmente a consumi-lo.

A associação entre as actividades culturais e criativas e o conhecimento simbólico é íntima, mas de forma alguma exaustiva. Pelo contrário, o que parece afigurar-se é que muitas destas entidades requerem tanto conhecimento analítico como técnico e simbólico, desde que tomando em conta as suas particularidades. Como tal, a adequação de ferramentas técnicas, como software e aparelhos às necessidades das ACC, constitui uma prioridade em subsectores como os “novos media”, onde a criação de tais ferramentas dedicadas está na base de muitas ligações entre indústria e universidades, tendo impactos económicos substanciais (Zukauskaite, 2012).

3. As actividades culturais e criativas e a ligação às instituições de ensino superior

A forma como se estabelece a relação com as IES, e a estrutura de funcionamento das IES nessa relação, constitui um aspecto crucial quando se discute transferência e valorização de conhecimento (Vale, 2012; Hoareau, Ritzen, & Marconi, 2013). Essas ligações passam não só pelo envolvimento ou associação de empresas em algum ponto com incubadoras e aceleradoras de empresas instaladas nas universidades, pelo número de spin-offs universitárias, ou pela colaboração em patentes, designs ou marcas (Pinto, 2012), mas também pela existência de colaboração em termos de partilha de recursos humanos, pelos níveis de escolarização superior de elementos das indústrias ou pela existência de projectos de colaboração de outra natureza.

Dada a sua pequena dimensão e os elevados níveis de formação entre trabalhadores envolvidos no sector (McKelvey & Lassen, 2018), seria talvez de esperar que as ACC mantivessem uma relação próxima com as IES, potencialmente marcada por uma actuação directa destas últimas com os seus meios envolventes. Embora essa situação se verifique em alguns subsectores específicos (Zukauskaite, 2012), a maior parte dos subsectores das ACC parecem estar mais distantes das IES do que as restantes indústrias (Heidemann Lassen et al., 2018). Não sendo imediatamente óbvio qual a causa deste fenómeno, autores como Roberta Comunian (Comunian, Taylor, & Smith, 2014; Comunian, Gilmore, & Jacobi, 2015) têm investigado as disposições institucionais e individuais que podem estar na sua origem: falta de envolvimento de académicos na prática artística, e contrariamente, falta de envolvimento de artistas e praticantes nas actividades das IES; falta de ligação das universidades com o meio empresarial das ACC, dificultando assim a existência de laços duradouros de graduados com as IES; e de maneira associada, falta de profissionalização dos alunos no sentido de os sensibilizar para o seu posicionamento no mercado das ACC, bem como o seu papel social e cultural.

III. Enquadramentos Políticos e Estatísticos das Regiões Atlânticas

O Espaço Atlântico surge definido pelo INTERREG 2014-2020 como compreendendo 36 regiões de França, Irlanda, Portugal, Espanha e Reino Unido. Delimita um conjunto de regiões política, social e culturalmente bastante diversas, apesar de partilharem a proximidade ao Oceano Atlântico. Por essa razão, não fará sentido procurar soluções que abarquem todas as regiões, mas sim perceber quais as especificidades regionais que marcam, estatística e politicamente a acção junto das ACC, de forma a poder pensar mecanismos de incremento que sejam territorialmente situados e que vão no sentido de formular linhas políticas de relação entre as ACC e as IES, em linha com os objectivos de aumentar a competitividade e inovação multidimensional nas regiões - como entendido no projecto 4H-CREAT.

Em termos puramente estatísticos, a análise realizada procurou caracterizar socioeconomicamente e tendencialmente a inovação das diferentes regiões com base nos dados do Eurostat e do Regional Innovation Scoreboard. Nestas bases utilizámos os indicadores sociais e económicos disponíveis, bem como índices de desempenho em termos de inovação e desenvolvimento, comparando as regiões com a média do total de regiões europeias, como se pode ver no quadro I.

 

 

Como mostram estes dados, em termos sociais existe uma proximidade geográfica que parece associar as regiões ibéricas, francesas e as regiões escocesa e irlandesa. O mesmo poderá ser dito para quase todos os indicadores, sendo possível falar de um determinado tipo de região quanto às suas relações com as ACC. Focando em particular os aspectos relacionados com as ACC, e as suas relações de conhecimento, verifica-se que este tipo de actividades têm contribuições variadas para o PIB das regiões, de tal forma que as regiões da Irlanda e da Escócia têm contribuições muito elevadas, mesmo mantendo valores médios relativos ao emprego produzido pelo sector. Já em termos de desemprego, as regiões ibéricas atingem os valores mais elevados, ultrapassando várias vezes a média europeia. As regiões francesas mantêm nestes indicadores valores próximos da média, indicando que funcionam, estatisticamente falando, como um “meio termo” entre o caso da Escócia e da Irlanda e o caso ibérico. Os indicadores de inovação apresentam uma situação semelhante, na medida em que as regiões ibéricas se colocam abaixo da média europeia (com a AML a registar uma descida nos últimos anos) ao contrário das regiões da Irlanda e da Escócia, que assumem valores acima da média.

Este panorama é ainda reforçado com algumas nuances, quando se olha para os enquadramentos políticos e institucionais relativos às ACC em todas as regiões. Para este propósito procurou-se analisar a estrutura de governo do sector a nível nacional e regional, de forma a entender quais as instâncias de poder que têm tido maior relevo na tomada de decisões, tendo-se considerado para o efeito vários relatórios técnicos, artigos científicos e policy papers sobre as formas de governança das ACC nas sete regiões, num total de 55 documentosi. Estes documentos foram recolhidos de entre as sete regiões em análise, tendo em foco: 1) planos estratégicos e políticos da região acerca das ACC, bem como relatórios oficiais; 2) documentos de monitorização e suporte à decisão (livros brancos e artigos semelhantes); 3) artigos científicos de cariz empírico com análises detalhadas sobre os sistemas regionais. Os documentos consultados encontram-se detalhados no quadro V (em Anexo). A análise focou quatro linhas centrais: disponibilização de informação estatística relativa a cada região; focos políticos de acção nas ACC e administração e coordenação de actividades neste sector; objectivos e acções políticas declaradas nos documentos; e ligações apontadas entre universidades e o sector. Paralelamente, produziu-se uma categorização sobre a importância dada aos vários subsectores por cada região, tentando entender as prioridades políticas que guiam a organização subsectorial - com particular utilidade para se poder desenhar intervenções finas ao nível de priorizar estes subsectores, bem como favorecer ou promover aqueles que tenham maior impacto, quer económico quer social.

Como é perceptível através do quadro II, o perfil tipológico das regiões confirma-se em termos de políticas e instituições. Apesar de terem um compromisso activo e discursivamente forte para com as ACC, as regiões ibéricas não afirmam uma política coesa ao longo do tempo, ao que acresce ainda a inexistência de dados estatísticos consistentes e bem delimitados. Existindo algumas menções ao carácter excepcional das ACC, quanto à sua estrutura e às suas necessidades de conhecimento, tal não parece traduzir-se no desenho de mecanismos específicos (pese embora a existência de relatórios que apontam as necessidades de linhas de financiamento e de projectos de incu;bação e aceleração próprios). Em termos das ligações com as IES e as necessidades de conhecimento, a carência de maior disseminação de competências relacionadas com o empreendedorismo aparece de forma bastante clara, não existindo, porém, uma menção ao modo como as instituições de ensino superior devem estabelecer tais contactos. Olhando ainda para o quadro III, verifica-se que não havendo um foco muito específico em nenhum dos subsectores, é dada maior ênfase àqueles que agregam actividades culturais nucleares - museus, galerias, escrita e publicação - bem como a subsectores como a animação e os jogos, nos quais, notavelmente, as restantes regiões surgem com um forte posicionamento.

 

 

 

O caso francês, por seu turno, caracteriza-se por uma forte aposta em tecnopolos e associações profissionais como mediadores da relação das ACC com o governo e com as Universidades. Tendo tecidos associativos relativamente sólidos, especialmente vinculados a subsectores em que a economia francesa é historicamente robusta (a moda, as belas artes e a publicação), existe uma preocupação acompanhada de uma tendência para as artes digitais, que tem vindo a ser experienciada nos últimos anos (quadro III).

Para além disso, o reconhecimento da importância das ACC manifestou-se na sua incorporação como um domínio de análise estatística específica, apesar de não ter sido possível aferir de que forma isto se traduz numa mobilização concreta dos dados produzidos pelos observatórios regionais. Em particular, convém notar o modelo de gestão adoptado por estas regiões - estando patente nas Estratégias Regionais de Especialização Inteligente (EREI) tanto da Bretanha como do País do Loire a importância da gestão regional, que parece ser executada tanto por associações de municípios, como por organizações regionais, como pelo Estado, alternadamente e de forma por vezes sobreposta. Por fim, em termos das relações com as IES, sendo reconhecida a necessidade de envolver os actores do sector com a indústria - promovendo o empreendedorismo, profissionalizando os estudantes e reconhecendo a diversidade de outputs do sector - isto não se traduz em medidas políticas claras.

O caso da Irlanda e da Escócia - apesar das visíveis diferenças em termos de duração e de extensividade da acção política entre os dois países, nomeadamente na relação com as IES - é particularmente marcado pela existência de organizações de apoio, com autonomia hierárquica face à organização burocrática dos governos, sendo por isso mais flexíveis na sua intervenção, desenho e implementação de planos (os projectos acompanham grosso modo a política de coesão Europeia), existindo maior relação com a lógica de política nacional do que local. Estas regiões adoptam várias ACC como subsectores muito relevantes (quadro III), com especificidades concretas e necessidades ao nível de subsectores e do envolvimento dos actores da indústria, do governo e da educação para o desenho de políticas. Esta adopção tem particular relevo junto de subsectores das actividades culturais nucleares, no caso da Escócia, e em subsectores digitais e de alta tecnologia na Irlanda, existindo ainda assim um balanço bastante elevado dos vários subsectores enquanto prioridades políticas. Não obstante, a articulação entre as instituições de gestão (Creative Scotland e Creative Ireland), o tecido associativo e as universidades aparece identificada como uma das dificuldades ainda por resolver.

Com base no descrito e de uma forma simplificada podem ser apontadas algumas prioridades, facilidades e dificuldades dadas por alguns elementos do sector. Em primeiro lugar, é perceptível que as falhas de comunicação intra e inter sectoriais nas regiões ibéricas se juntam a debilidades ao nível da direcção estratégica, ausência de dados e dificuldade de especificação de sectores prioritários. Esta situação requer políticas que intervenham mais estruturalmente, estimulando os actores culturais e criativos a assumirem uma posição mais empreendedora e mobilizando as universidades enquanto mediadores sectoriais.

Nas regiões francesas, para além de questões de gestão e organização de poder, o incremento do subsector digital (como complemento e em estreita ligação com os subsectores das actividades culturais nucleares) aparece identificado como uma forma relevante de intervenção, junto com o desenho de políticas que envolvam os stakeholders e fortaleçam as lógicas associativas já presentes.

Por fim, as regiões da Irlanda e da Escócia revelam um potencial associado aos subsectores das actividades culturais nucleares nos quais têm particular incidência, a par de uma continuidade em políticas de profissionalização do ensino já existentes. Para além disto, as colaborações entre todas estas regiões, a nível transnacional, podem promover a troca de boas-práticas e de recursos humanos e materiais, de forma a garantir um desenvolvimento territorial mais equilibrado.

IV. Possíveis Caminhos de Políticas Públicas para as Actividades culturais e criativas

Retomando a questão inicial, numa tentativa de enquadrar caminhos para a definição de políticas regionais: quais as relações de conhecimento entre as IES e as ACC num contexto territorial? E quais as especificidades subsectoriais e regionais, em termos sociais e políticos que condicionam essas relações? Constituindo notas preliminares, estes resultados não procuram oferecer soluções concretas para as questões levantadas acima, mas tão somente estimular o debate sobre a política existente sobre actividades culturais e criativas e o papel das universidades enquanto mediadores.

As medidas identificadas agrupam-se em três grandes categorias, em qualquer dos casos dizendo respeito a Transferência e Valorização de Conhecimento com aplicações às ACC.

1. Promoção de transferência e valorização de conhecimento das instituições de ensino superior para as actividades culturais e criativas

O primeiro conjunto de medidas que se apresenta é talvez o mais intuitivo em termos de TVC e refere-se directamente à discussão sobre a estrutura empresarial, tipo de conhecimento e inovação usado pelas ACC, bem como as falhas identificadas nos relatórios. O aspecto menos controverso será, certamente, a promoção de um “espírito empreendedor” mobilizando conhecimento técnico importante para a acção das ACC, nomeadamente em questões relacionadas com a gestão, financiamento e contabilidade, mas em consonância com a realidade estrutural das micro e pequenas empresas, a volatilidade de produtos específicos deste sector e o dispêndio de tempo associado a aceder a tal conhecimento.

É de salientar que em todas estas instâncias, a existência de investigação concreta sobre os mecanismos empresariais das ACC, a sua forma de actuação e o seu impacto - não limitado ao domínio económico - constituiriam um corpo de informação relevante para que os agentes das ACC pudessem adequar a sua acção aos objectivos traçados. Isto seria especialmente útil no contexto de subsectores como as artes visuais, o design de moda, ou em instituições como orquestras e filarmónicas, que pela sua lógica de funcionamento, enraizamento territorial e foco de acção, podem revelar uma maior dificuldade em beneficiar de conhecimento orientado para uma gestão com vista a ganhos económicos.

Em termos regionais, este tipo de actividade será particularmente interessante em regiões com poucas conexões entre as IES e as ACC (como nas regiões ibéricas e francesas, em geral), uma vez que pode servir como um mecanismo de aproximação, tal como em contextos nos quais existe desconexão entre o valor económico das ACC e o emprego produzido (como nas Astúrias, onde uma elevada percentagem da população está empregada nas ACC, mas o VAB situa-se abaixo da média).

2. Promoção de transferência e valorização de conhecimento dentro das actividades culturais e criativas

O segundo aspecto relevante pode sucintamente ser capturado pela ideia de “partilha de conhecimento especializado”. A ideia central prende-se com a percepção de que existe uma perda de inovação derivada do relativo isolamento dos agentes dentro de visões específicas e que as IES podem assumir um papel de fomento em termos da colaboração entre actores e em termos da troca de experiências e de práticas, para incrementar a produção de inovações sociais e culturais. Naturalmente, tais estruturas reticulares não serão igualmente vantajosas para todos os tipos de subsectores. Nalguns deles, como as artes cinematográficas, visuais, a música ou o teatro, que têm estruturas de vanguarda e de produção comercial relativamente bem delineadas, poderão existir dificuldades de integração devido às diferenças internas dos subsectores. Por outro lado, subsectores com foco em aspectos sociais ou com uma estrutura empresarial dispersa e desencaixada de cadeias de valor, como a produção de artesanato, poderão beneficiar especialmente destas estruturas. Indo mais longe, a criação de espaços de discussão mediados pelas IES pode permitir a estas últimas criar formas de diagnosticar a organização das ACC.

Ainda que exista falta de associação em alguns subsectores em todas as regiões (como nas regiões ibéricas, e de uma forma menos sentida, nas regiões da Irlanda e da Escócia), o papel das colaborações empresariais na inovação é especialmente importante onde exista menor tendência para a inovação. Se em regiões como a AML ou a Irlanda isto parece fazer sentido, torna-se mais pertinente para regiões como a Andaluzia ou Astúrias. Note-se, no entanto, que em todo este campo de actuação, a necessidade de atenção especial à gestão dos aspectos simbólicos e das reputações (autorais, institucionais e artísticas) que estruturam os campos artísticos onde grande parte destes produtos são produzidos, mediados e consumidos, não poderão ser descuradas pelas IES nestes processos de transferência e valorização de conhecimento, sob risco dos resultados da sua actuação se perderem facilmente por insuficiente conhecimento e descodificação das lógicas de funcionamento e de criação reputacional nos campos culturais e artísticos em causa, mesmo dentro da sua própria região.

3. Promoção de transferência e valorização de conhecimento dentro das instituições de ensino superior

Por fim, um conjunto de medidas mais próximas da comercialização de conhecimento, ainda que com uma componente colaborativa muito forte, partem da acção que as Instituições de Ensino Superior devem fazer internamente. Em termos de gestão de alunos, tendo em conta a realidade das ACC, será mais fácil perceber quais as necessidades sentidas pelo sector em termos de recursos humanos a um nível territorial, bem como colaborar em regimes de contratação com os actores culturais e criativos. Isto permite ainda a adaptação de programas e de formações a lógicas de empreendedorismo e de criação de empresas, bem como a lógicas de acção social e cultural, potenciando uma perspectiva mais vasta sobre as opções apresentadas aos estudantes de cursos relacionados com as ACC. Iguais benefícios poderiam ser obtidos no desenvolvimento de ofertas curriculares a nível pós-graduado, orientadas em colaboração e com intuito de desenvolvimento de soluções criativas para as empresas. Isto poderia passar em primeira instância pelo alargamento de mestrados e doutoramentos mistos a actividades que tradicionalmente não têm optado por estas soluções, como é o caso de muitos subsectores das actividades culturais nucleares, tais como as artes visuais, algumas áreas de design e, em alguns casos, a arquitectura, bem como o fortalecimento de estágios de licenciatura realizados em empresas das ACC de pequena e micro dimensão. Mas mais ainda, isto poderia passar pela criação de mecanismos de interesse junto das ACC na contribuição para que o ensino pós-graduado servisse para o desenvolvimento de produtos, serviços e ideias com potencial criativo e cultural.

O tradicional foco na promoção de patentes, de designs e de marcas, bem como na geração de spin-offs, continua a fazer sentido nas IES, desde que adequado à realidade empresarial das ACC (dada a informalidade das suas ligações, a facilitação de processos de acesso a financiamentos e desenvolvimento de projectos, bem como a produção de conhecimentos como os que temos vindo a discutir). A criação de programas dedicados às ACC teria como vantagem uma maior sensibilização para as especificidades do sector, sem prejuízo do apoio a programas mais genéricos. Focar tais estruturas tanto no desenvolvimento de soluções de mercado, como na intervenção social em geral (na qual se inclui a produção de rentabilidade económica), permitiria atrair também agentes com motivações distintas, o que por seu turno, levaria a mais intersecções produtivas.

Tais acções parecem fazer particular sentido em regiões que já têm ligações desenvolvidas e um papel claramente definido para as ACC, como a da Escócia e da Irlanda. A necessidade de grelhas de institucionalização muito ágeis e flexíveis (que muitas vezes não são facilmente alcançáveis face aos espartilhos institucionais, financeiros ou regulamentares que enquadram a actuação das IES) é um requisito fundamental nesta actuação, sob o risco de comprometer o sucesso das próprias acções com soluções rígidas e desadequadas aos mecanismos, necessidades e expectativas de funcionamento das ACC.

V. Notas Conclusivas

O presente artigo apresenta uma incursão de um âmbito muito específico da intersecção entre as actividades culturais e criativas (ACC) e as instituições de ensino superior (IES), no contexto da hélice quádrupla, focando-se concretamente numa análise institucional baseada em relatórios e pareceres elaborados por diversas entidades nacionais e internacionais. Em paralelo, o artigo apresenta e discute as especificidades das ACC, sublinhando a importância de as considerar no processo de definição de políticas públicas direccionadas para este sector específico: a estrutura empresarial, os tipos de conhecimento usados e produzidos e a relação com universidades estabelecidas por estes actores.

A análise conduzida permitiu a identificação de três tipologias de regiões de entre as estudadas, que se apresentam não só geográfica, como também social e politicamente bastante diversas e distantes: as regiões ibéricas, as regiões da Irlanda e da Escócia e as regiões francesas. Procurou-se caracterizar as políticas e abordagens às ACC dentro destas regiões, concluindo sem grandes surpresas, que nas regiões da Escócia e da Irlanda há uma preocupação maior com o sector das ACC, embora seja na Escócia que se verifica uma acção mais concreta. A existência de políticas públicas e estruturas organizacionais independentes e dedicadas levou a que as ACC nestas regiões tivessem desenvolvimentos mais intensos dos seus subsectores. De forma contrastante, apesar de se identificar uma presença discursiva bastante vincada sobre as ACC em regiões como a AML e a Anda;luzia, tal não se traduz na definição de políticas activas. Esta realidade é mais clara no contexto das políticas de transferência e valorização de conhecimento (TVC), as quais parecem praticamente ausentes nestas últimas duas regiões, tendo sido parcelarmente desenvolvidas na Escócia, na Irlanda e nas regiões francesas.

Estas constatações excluem vários aspectos que teriam sido importantes para analisar o sucesso das políticas adoptadas: desde logo os efeitos no mercado de trabalho dos subsectores culturais e criativos, a evolução da estruturação do ensino universitário em torno desta aposta, bem como os custos implícitos em tais envolvimentos. Simultaneamente, a análise carece de um enquadramento mais profundo junto da política de ensino superior seguida nas várias regiões, bem como das formas como a transferência e valorização de conhecimento se processa institucionalmente em diferentes regiões, constituindo estas vias de pesquisa que poderão nortear o debate em torno da TVC aplicada às ACC em futuros trabalhos.

As três linhas de intervenção apresentadas - promoção de Transferência e Valorização de Conhecimento entre Actividades Culturais e Criativas e Instituições de Ensino Superior, bem como internamente em cada uma delas - surgem como passos estruturais para se poder gerar contextos que estimulem a inovação e o desenvolvimento económico, ainda que não sejam, de forma nenhuma, suficientes. Sublinha-se, igualmente, a necessidade de uma leitura mais aprofundada dos subsectores para permitir formular campos de trabalho mais concretos, ainda que esta análise tenha procurado oferecer algumas pistas de clivagem entre as diferentes vias de abordagem e a sua aplicabilidade a diferentes subsectores.

Estes resultados sugerem a importância de avaliar a eficácia das intervenções propostas sob a forma de projectos-piloto: quer na criação de conteúdos especializados para serem administrados a actores das ACC, quer na organização de espaços de contacto, essas actividades aparecem contempladas no contexto do projecto e serão parte da sua acção. Paralelamente, o prosseguimento da investigação sobre estas relações aprofundando o conhecimento específico sobre cada território a uma escala infra-regional, e o entendimento de cada “meio” territorial concreto - económico, social, cultural, institucional - e dos seus actores, práticas e expectativas, é fulcral para entender a cada vez mais complexa lógica de desenvolvimento territorial e politico e através desse entendimento ajustar as acções adoptadas e definir as acções a adoptar.

 

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Agradecimentos

Este artigo é inspirado pelo 4H-CREAT (EAPA_486/2016), projecto de cooperação europeia em implementação entre 2017 e 2020, co-financiado pelo INTERREG Espaço Atlântico, através do FEDER.

 

Recebido: janeiro 2020. Aceite: março 2020.

 

Notas

(i)Apesar de ter sido feito um esforço nesse sentido, não foi possível encontrar um número semelhante de documentos para todas as regiões, o que limita a possibilidade de extrapolação dos dados.

(ii)Agence d’Urbanisme de la Région Nantaise, 2014; Aguiar Losada, 2014; André & Vale, 2012; CCDR-LVT, 2015; Consejería de Cultura y Turismo, 2009; Costa et al., 2017, 2011; Costa & Lopes, 2013; Creative Ireland, 2017; Creative Scotland, 2013, 2014a, 2014b, 2014c, 2015, 2016, 2017b, 2017a, 2012; Cruz, 2016; Cunningham, Dolan, Kelly, & Young, 2015;Consejería de Empleo, Industria y Turismo, 2017; DKM, 2009; Expert Group on Future Skills Needs, 2017; Federación Andaluza de Municipios y Provincias, 2010; Fundación Municipal de Cultura del Ayuntamiento de Avilés, 2013; GANEC - Gabinete de Análise Económica, 2014; Harvey, 2016; ICS-UL, 2014; Indecon, 2011; Instituto de Desarollo Económico del Principado de Asturias, 2014; Instituto de Estadística y Cartografia de Andalucia, 2016; Mateus & Associados, 2010, 2013; MEGALOCI, 2014; Million+, 2008; Ministerio de Educación Cultura y Deporte, 2016, 2017; Muñoz, 2012; OECD, 2010; Région de Bretagne, 2011, 2013, 2014, 2017, 2018, Région de Pays de la Loire, 2008, 2014, 2017; Sanchéz & Vega, 2014; Scottish Affairs Committee, 2009, 2016; Universities Scotland, 2011.

 

Anexo

 

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