SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 número1Métodos Estatísticos para o Controlo de Câmaras de Provadores de Vinho índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Ciência e Técnica Vitivinícola

versão impressa ISSN 0254-0223

Ciência Téc. Vitiv. v.15 n.1 Dois Portos  2000

 

Precipitação da Matéria Corante de Vinhos Tintos. Contributo para o Estudo da Composição dos Precipitados

 

Sara Canas, M. Conceição Leandro, M.I. Spranger

 

Estação Vitivinícola Nacional. INIA. 2565-191 DOIS PORTOS. Portugal.

E-mail: inia.evn@mail.telepac.pt

(Manuscrito recebido em 04.04.00. Aceite para publicação em 10.05.00)

 

 

RESUMO

A grande instabilidade da cor de determinados tipos de vinho tinto, em particular dos vinhos de denominação de Origem Vinhos Verdes, tem originado uma acentuada desvalorização deste produto, com importantes repercussões económicas e sociais. De facto, nos últimos anos tem sido observada uma excessiva precipitação de matéria corante nestes vinhos, bem visível no fundo dos depósitos onde são conservados ou mesmo, mais gravemente, na garrafa. Concorrendo com a evolução natural do vinho tinto durante o período de conservação, esta precipitação origina pois uma modificação apreciável da cor do vinho, que constitui um dos aspectos mais importantes na avaliação da sua qualidade.

No presente trabalho apresenta-se o estudo de algumas características dos precipitados de vinhos verdes elementares Vinhão, Espadeiro e Borraçal, e de um vinho Tinta Miúda vinificado com engaço e sem engaço, que se julga estarem mais relacionadas com a estabilidade da matéria corante. O seu conhecimento constitui informação de relevante interesse para a compreensão dos compostos e dos mecanismos envolvidos, podendo pois contribuir, indirectamente, para a definição de soluções para tal problema. Os precipitados são constituidos por uma fracção solúvel e por uma fracção insolúvel. Na primeira encontra-se essencialmente tartaratos e uma ínfima parte de antocianinas monómeras. A última será possivelmente formada por microorganismos, mucilagens ou resíduos das partes sólidas da uva, bem como por polímeros ou pigmentos condensados responsáveis pela sua intensa coloração vermelha. Constata-se que, ao nível das antocianinas, ocorre uma precipitação preferencial de ésteres cinâmicos, sobretudo cumáricos. As antocianinas não esterificadas também são alvo de uma precipitação considerável, especialmente a delfinidina-3-glucósido, a cianidina-3-glucósido e a petunidina-3-glucósido, talvez por se tratar de compostos mais polares. Por outro lado, os resultados obtidos sugerem que a precipitação tartárica pode ter alguma influência na precipitação preferencial de certas antocianinas monómeras, mas o tipo de vinho (a casta) é determinante, tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo.

Palavras-Chave: Vinhos tintos, Precipitação, Matéria corante, Tartaratos, Antocianinas

 

 

SUMMARY

The precipitation of colouring matter in red wines. Contribution to the study of the deposits composition

The colour instability of some red wines, particularly those from the Delimited Region of Vinhos Verdes, has caused a great depreciation of these products, with heavy economics and social effects. In fact, in recent years an excessive precipitation of colouring matter has been observed at the bottom of the storage tanks and even in bottled wines. This precipitation occurs along with the natural evolution of red wine during the storage period, and origins a considerable modification of its colour, that is one of the most important aspects for the evaluation of its quality. In this work is presented the study of some characteristics of the deposits of Vinhos Verdes Vinhão, Espadeiro and Borraçal, as well as the characteristics of the deposits of a Tinta Miúda wine with stem and without stem, that seems to be closely related with colouring matter stability. Their knowledge is of considerable interest to better understand the compounds and the mechanisms involved in that precipitation. Thus, it can contribute to find any solution to this problem. The deposits are constituted by a soluble fraction and an insoluble fraction. The former is mainly formed by tartrates, while monomeric anthocyanins only represent a small part of it. The latter is possibly constituted by micro-organisms, mucilages or the remaining solid part of the grape, as well as polymers or condensed pigments that are responsible for its red coloration. Among the anthocyanins there are a preferential precipitation of the cinnamic esters, mainly the cumaric ones. The non esterified anthocyanins have also an important precipitation, especially delphinidin-3-glucoside, cyanidin-3-glucoside and petunidin-3-glucoside, probably due to their higher polarity. The results also suggest that the preferential precipitation of some monomeric anthocyanins may be due to the tartaric precipitation, but the type of wine (the grape cultivar) is the most determining factor.

Key words: Red wines, Precipitation, Colouring matter, Tartrate, Anthocyanins

 

 

RÉSUMÉ

La precipitation de la matiére colorante des vins rouges. Contribution pour l’étude de la composition des précipités

La grande instabilité de la couleur de certains types de vin rouge, tout particulièrement ceux de la dénomination d’Origine “Vinhos Verdes”, a donné origine a une dépréciation du produit, avec importantes répercussions économiques et sociaux. En effet, dans les dernières années il est observé une excessive précipitation de la matière colorante dans ces vins, bien visible dans le fond des cuves de conservation ou même dans les bouteilles. En parallèle avec l’évolution naturel du vin rouge, cette précipitation donne lieu a une modification appréciable de la couleur du vin, ce qui constitue un des facteurs plus importants dans l’évaluation de sa qualité.

Dans ce travail ont présent l’étude de quelques caractéristiques des précipités de “vinhos verdes” de cépage “Vinhão”, “Espadeiro” et “Borraçal”, et un vin de “Tinta Miúda” vinifié avec les rafles et sans les rafles, qu’on pense être plus rapporté avec la stabilisation de la matière colorante. Sa connaissance est une information d’intérêt important pour la compréhension des composés et des mécanismes concernés, pouvant contribuer indirectement pour la définition de solutions pour tel problème. Les précipités sont constitués par une fraction soluble et une autre insoluble. Dans la première se trouvent surtout des tartrates et une part très petite des anthocyanines monomères. La dernière probablement sera composé par microorganismes, mucilages ou des déchets des parties solides du raisin, bien que par des polimères ou pigments condensés responsables par l’intense couleur rouge de cette fraction. On vérifie qu’au niveau des anthocyanines a lieu une précipitation préférentiel d’estères cynamiques, surtout cumariques. Les anthocyanines pas sterifiées sont aussi siège d’une précipitation considérable, spécialement la delphinidine-3- glucoside, la cyanidine-3-glucoside et la pétunidine-3-glucoside, peut être par ce qu’ils sont des composés plus polaires. D’autre part, les résultats suggèrent que la précipitation tartrique peu avoir quelque influence dans la précipitation préférentielle de certaines anthocyanines monomères, mais le type de vin (le cépage) étant déterminant, tant du point de vue quantitatif que qualitatif.

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Anónimo, 1977. Caracterisation des troubles et des depots. Cahier de travaux pratiques. Université de Bordeaux II. Institut d’Oenologie.

CT83, 1992. Bebidas alcoólicas e espirituosas. Projecto de Norma Portuguesa prNP 4236, Direcção Geral da Qualidade, Lisboa.

Curvelo-Garcia A.S., Godinho M.C., 1990. Doseamento do ácido tartárico dos vinhos, por fluxo continuo segmentado. Ciência Téc. Vitiv., 9, 115-120.         [ Links ]

Gaillard M., Ratsimba B., Favarel J.L, 1990. Stabilité tartrique des vins: comparasion de différents tests, mesure de l’influence des polyphénols. Rev. franc. Oenol., 123, 7-13.

Galhano A., 1986. Uma Região Demarcada. Uma Denominação de Origem. O vinho verde. 94 p. Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.

García-Ruíz J.M., Alcántara R., Martín J., 1995. Effects of reutilized potassium bitartrate seeds on the stabilization of dry sherry wine. Am. J. Enol. Vitic., 46, 525-528.

Glories Y., 1978. Recherches sur la matière colorante des vins rouges. 195 p. Thèse doctorat d’Etat, Université de Bordeaux II.

Glories Y., 1979. Le froid et la matiére colorante des vins rouges. Rev. Franc. Oenol., 73, 37-39.

Guittard A., Mas J., Roques J., Brugirard A., 1982. Techniques de stabilisations tartriques appliquées aux vins du Roussillon. Rev. Franc. Oenol., 87, 29-34.

Ribéreau-Gayon P., 1982. The anthocyanins of grapes and wines. In: Anthocyanins as food colors. 209-244. Markakis P. (ed.), Academic press, New York.

Ribéreau-Gayon J., Peynaud E., Ribéreau-Gayon P., Sudraud P., 1976. Traité d’oenologie. Sciences et techniques du vin. Tome III. 719 p. Dunod (ed.), Paris.

Ribéreau-Gayon, J., Peynaud, E., Ribéreau-Gayon, P., Sudraud, P., 1977. Traité d’oenologie. Sciences et techniques du vin. Tome IV. 643 p. Dunod (ed.), Paris.

Rodriguez-Clemente R., Correa-Gorospe I., 1988. Structural, morphological and kinetic aspects of potassium hydrogen tartrate precipitation from wines and ethanolic solutions. Am. J. Enol. Vitic., 39, 169-179.

Roggero J.P., Coen S., 1987. Étude par CPLH de la reaction glucoside de malvidine - acetaldeyde -Composé phénolique. Conn. Vigne Vin, 21, 163-168.

Rohlf, F., 1993. NTSYS -pc. Numerical taxonomy and multivariate analysis system, version 1.80. Exeter software. New York.

Salgues M., Heitz F., Bidan P., 1982. Réflexions sur la cristallisation du tartre dans les vins. Bull. OIV, 55, 229-238.

Spranger-Garcia M.I., 1988. Pigmentos vermelhos de bagaço de uva. Estudo da tecnologia de recuperação. Contribuição para o estudo de parâmetros definidores de estabilidade. 222 p. Dissertação apresentada às provas de acesso à categoria de Investigador Auxiliar, Instituto Nacional de Investigação Agrária -EVN (ed.), Dois Portos.

Sudraud M.P., 1970. Utilisation de la gomme arabique et des alginates en Oenologie. Rev. Franc. Oenol., 39, 22-26.

Tang H.-R., Hancock R.A., Covington A.D., 1992. Complexation between polyphenols and aluminium salts. In: Plant polyphenols.Synthesis, properties, significance. 437-445. Hemingway R.W. e Laks P.E. (ed.), Plenum press, New York.

Usseglio-Tomasset L., Di Stefano R., 1980. Osservazioni sull’evoluzione del colore dei vini rossi. Vini d’italia, 22, 118-122.

Waters E.J., Peng Z., Pocock K.F., Jones G.P., Clarke P., Williams P.J., 1994. Solid-state 13C NMR investigation into insoluble deposits adhering to the inner glass surface of bottled red wine. J. Agric. Food Chem., 42, 1761-1766.