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Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.232 Lisboa out. 2019

https://doi.org/10.31447/as00032573.2019232.06 

ARTIGOS

Capital social e redes de vizinhança nas cidades: o caso do bairro de Alvalade

Social capital and neighborhood networks in cities: the case of the Alvalade neighborhood

Romana Xerez*
https://orcid.org/0000-0003-0278-3662

Jaime R. S. Fonseca**
https://orcid.org/0000-0003-2549-5823

* Centro de Administração e Políticas Públicas, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Rua Almerindo Lessa - 1300-663 Lisboa, Portugal. rxerez@iscsp.ulisboa.pt .

** Centro de Administração e Políticas Públicas, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa. Rua Almerindo Lessa - 1300-663 Lisboa, Portugal. jaimefonseca@iscsp.ulisboa.pt.


 

RESUMO

Este artigo analisa a importância do capital social e das redes de vizinhança, através de uma investigação desenvolvida no bairro de Alvalade, em Lisboa. Os autores discutem as diferentes perspetivas teóricas sobre esta temática e descrevem o Plano de Alvalade - paradigma do urbanismo em Portugal. O artigo aplica métodos mistos, desenvolvidos com a integração de dados qualitativos, provenientes da etnografia urbana e de entrevistas, e de dados quantitativos, provenientes do inquérito por questionário. Os resultados respondem a cinco questões de investigação que evidenciam diferenças na estrutura, confiança e reciprocidade, nos recursos e envolvimento, e identificam as características dos residentes, que explicam a dinâmica do capital social e das redes de vizinhança nas cidades.

Palavras-chave: capital social; redes sociais; bairro de Alvalade; comunidade.


 

ABSTRACT

This article analyzes the importance of social capital and neighborhood networks, through research undertaken in the Alvalade neigborhood (bairro), Lisbon. The authors analyze the different theoretical perspectives on this topic and describe the Alvalade master plan - considered an urban planning paradigm in Portugal. The article applies the mixed methods developed with the integration of qualitative data from urban ethnography and interviews, and of quantitative data, derived from the survey. The results respond to five research questions that highlight differences in structure, trust and reciprocity, the resources, and involvement, and we identify the characteristics of the residents that explain the dynamics of the social capital and of the neighborhood in cities.

Keywords: social capital; neighborhood networks; bairro de Alvalade; community.


 

INTRODUÇÃO

Temos assistido, nos últimos anos, ao crescimento do interesse sobre o capital social, o que originou variedade de perspetivas e alguma confusão do conceito. Este artigo analisa, de forma empírica, o conceito de capital social através da discussão da investigação sobre redes de vizinhança em Lisboa. O valor dos recursos sociais das redes de vizinhança tornou-se um assunto importante na investigação, com aplicações relevantes, como a consequente melhoria da vida na cidade e o fortalecimento das suas comunidades. O interesse pelas questões de comunidade e redes de vizinhança surgiu no final do século XIX, a partir dos trabalhos de Ferdinand Tönnies (1955 [1887]). O crescimento das cidades destacou duas formas diferentes de vivência urbana e rural. Até aos anos 60, as comunidades e as redes de vizinhança foram geralmente consideradas incompatíveis com o processo de urbanização, ou seja, eram vistas como características das áreas rurais. No entanto, a evidência científica demonstrou que as redes sociais de vizinhança continuam a existir nas cidades, e que são fundamentais no apoio às pessoas e à própria sustentabilidade dos bairros. O capital social é um recurso para pessoas e comunidades (Small, 2004, 2009; Carmo, 2010), promove a cooperação entre indivíduos (Putnam, 1995; Fukuyama, 1996; Portes, 1998; Briggs, 2003) e sustenta que onde mais prosperam a confiança e as redes sociais, mais progridem os indivíduos, empresas, bairros e, até mesmo, as nações (Putnam, 2000).

A discussão do capital social, a partir da perspetiva das redes sociais, tornou-se recentemente uma área de interesse crescente (Paxton e Moody, 2009; Glanville e Bienenstock, 2009; Browning, 2009). A análise do capital social requer no mínimo três componentes (Glanville e Bienenstock, 2009): (1) estrutura de rede, (2) confiança e reciprocidade, e (3) recursos. A partir do estudo empírico, desenvolvido no bairro de Alvalade, os autores discutem o conceito de capital social na perspetiva da análise de redes sociais, analisando a sua importância na valorização dos bairros, das cidades e das comunidades. O estudo levanta as seguintes questões de investigação:

QI1 Qual é a estrutura da rede de vizinhança?

QI2 O que é a confiança e a reciprocidade entre os vizinhos?

QI3 Quais são os recursos da rede de vizinhança?

QI4 Qual é o envolvimento na comunidade?

QI5 Quais são as características dos residentes que explicam a dinâmica do capital social e das redes sociais no bairro de Alvalade?

A discussão do caso de Alvalade, um bairro no centro da cidade de Lisboa, é uma contribuição teórica e empírica para o debate sobre capital social, para a sua aplicação na dinamização das redes de vizinhança e melhoria das comunidades e bairros.

PERSPETIVAS SOBRE O CAPITAL SOCIAL NAS CIDADES

O capital social é um dos conceitos mais discutidos em ciências sociais, cruzou as fronteiras da Academia e conseguiu o que raramente acontece: veio para a vida quotidiana. A primeira referência ao capital social surgiu em 1916, com Lyda Judson Hanifan, que introduziu a ideia para destacar a importância do envolvimento da comunidade nas escolas bem-sucedidas. No entanto, o conceito de capital social foi amplamente divulgado apenas na década de 80, por Bourdieu; rapidamente se tornou central na sociologia e na ciência política (Burt, 1997), assumindo também grande importância noutras áreas, tais como na organização e gestão de recursos humanos (Burt, 1992, 2000, 2009; Kreb, 2008) ou na política social (Briggs, 2003, 2008; Small, 2004, 2009a, 2009b). Embora não tenha estudado diretamente o capital social, Magalhães (2008) analisa, num dos raros estudos empíricos desenvolvidos em Portugal, a influência das redes sociais numa outra área importante - na participação eleitoral -, e conclui a sua influência sobre a decisão de votar. Em 1998, a socnet, a mailing list da rede internacional para análise das redes sociais (INSNA), despertou o debate sobre a génese deste conceito (Borgatti, 1998; Borgatti, Jones e Everett, 1998), depois do qual ficou estabelecido que as redes sociais nas cidades tinham sido os grandes promotores da discussão que levou à disseminação do conceito de capital social, na década de 60.

Jane Jacobs (1993 [1961]) analisou a importância das redes nos bairros das cidades, referindo:

Estas redes são um insubstituível capital social das cidades e sempre que haja perda de capital, independentemente da causa, o proveito dele desaparece, nunca mais voltando, a menos que o novo capital seja acumulado devagar e de forma incerta [Jacobs, 1993 [1961], p. 138].

No mesmo período, o trabalho do antropólogo sueco Hannerz (1969) num bairro de Washington usou o termo capital social para se referir aos recursos manifestados em favores e amizade para sobreviver à pobreza.

A investigação pioneira de Granovetter (1973) sublinhou a importância da força das redes fracas (bridging), demonstrando que as redes fortes (bonding) tendiam a ser grupos em que os elementos se conheciam e a informação se tornava redundante e ineficiente. Também considerou que as redes fracas eram mais eficazes na medida em que a informação circulada entre os elementos seja entendida como novidade, devido ao seu baixo nível de conhecimento. A ligação entre conhecidos permitiu receber informações de outros contactos, o que facilitou o acesso a recursos como emprego ou a promoções de forma mais rápida. Apesar de não ter utilizado o conceito, este trabalho levou Granovetter a desenvolver uma teoria sobre o capital social a partir da perspetiva de análise de redes sociais (Borgatti et al., 2009).

No início dos anos 80, Bourdieu (1980) introduziu num artigo o conceito de capital social na sociologia, o que pode explicar o “silêncio” em torno do seu trabalho, quebrado apenas cinco anos mais tarde com a publicação do artigo em inglês e, de seguida, com o artigo de Coleman (1988) abrindo a discussão sociológica.

Robert Putnam tomou uma posição central nas discussões sobre o capital social. A sua ideia é baseada no princípio de que as redes sociais têm valor. No seu livro Bowling Alone, Putnam (2000) analisou o fenómeno do declínio do jogo de bowling e verificou que, apesar da crescente popularidade deste jogo americano, a sua prática tem diminuído. Isso reflete uma mudança no país, correspondendo à diminuição da vida comunitária e ao colapso das instituições civis. A pesquisa revelou a alteração desta situação e salientou a importância das virtudes do valor das redes sociais.

Apesar de a ideia sobre o declínio da comunidade americana ter sido o tema central da obra de Putnam, nem todos os investigadores concordaram com esta perspetiva. Paxton (1999) analisou as estatísticas sobre capital social nos Estados Unidos e concluiu que os resultados não suportam a tese desenvolvida por Putnam - o capital social não estava em declínio: nem nos indivíduos, nem nas instituições. Fischer (2005) também apontou razões para discordar de Putnam, em especial com a interpretação do conceito de capital social, argumentando que o declínio revelado não foi constante em todos os indicadores e que, embora muitos detalhes do envolvimento político tenham evidenciado declínio, os que se referiam à sociabilidade mostraram-se inconsistentes. Outro exemplo importante, analisado por Fischer, demonstra que entre 1967 e 1987 a percentagem de americanos que formaram um grupo para ajudar a resolver problemas locais aumentou de 14% para 17%. Putnam também ignorou a importância da internet e o seu impacto positivo nas redes sociais. O crime é outro exemplo: o aumento da taxa de criminalidade entre 1965 e 1990, referido por Putnam como sinal de maior desintegração social, é contrariado por Fischer, que argumentou haver no mesmo período uma diminuição no número de vítimas.

Apesar de ter sido muito divulgado, o conceito de capital social foi especialmente desenvolvido em termos teóricos, havendo falta de estudos empíricos, segundo Lin (2008). Uma das perspetivas relevantes, como temos vindo a analisar, foi desenvolvida através da análise de redes sociais (Wellman et al., 2001; Granovetter, 1973; Borgatti, 1998; Lin, 2001, 2008; Moody e Paxton, 2009). Neste contexto, o capital social é identificado como sendo os recursos incorporados nas redes sociais que podem ser fornecidos ou gerados através das ligações das redes (Lin, 2008).

Na perspetiva das redes sociais, Lin (2008) propõe dois objetivos diferentes para o capital social: o instrumental e o expressivo. O primeiro visa obter recursos novos ou adicionais (por exemplo, encontrar um emprego melhor, uma promoção, a construção de uma escola); o segundo visa manter e preservar os recursos existentes (por exemplo, para assegurar um casamento ou conservar um bairro seguro). O capital social é um recurso para os indivíduos e para as comunidades porque promove a cooperação entre pessoas e instituições (Putnam, 1995; Fukuyama, 1995; Portes, 1998; Briggs, 2003). No entanto, a avaliação do capital social é afetada pela complexidade da medição de redes sociais, complexidade que aumenta na dimensão das redes fracas, uma vez que engloba mais do que a soma de laços fracos, captados através das oportunidades para novas informações e outros ativos que incluem, por exemplo, perspetivas sociais mais amplas (Neves e Fonseca, 2015).

O bonding, ou laços emocionais, e o bridging, ou construção de pontes, tornaram-se conceitos muito importantes no capital social, variando as suas vantagens consoante a finalidade pretendida (Lin, 2008). O bonding aumenta a homogeneidade e é adequado para a solidariedade e reciprocidade, ou seja, permite a sobrevivência (Putnam, 2000; Briggs, 2003; Granovetter, 2004; Lin, 2008), enquanto o bridging possibilita a ponte que estende o capital social e faculta o acesso e disseminação da informação e inovação para o desenvolvimento. Os resultados das investigações em vários bairros de habitação pública têm mostrado, por exemplo, que as mulheres negras americanas que obtiveram empregos através de informações de vizinhos, portanto do bonding, obtinham salários mais baixos do que aquelas que conseguiram empregos através de informações fora do seu grupo de vizinhança, através de conhecidos, i. e., do bridging (Briggs, 2003).

Para que haja uma rede é necessário que haja reciprocidade e confiança (Putnam, 1995, 2000). A reciprocidade é a regra de ouro das redes sociais. Lin (2008) identificou três fontes de capital: (1) posição estrutural na rede, (2) localização e (3) objetivos da ação.

As redes sociais podem ser caracterizadas como: (1) sentimentos de partilha e de apoio mútuo, que acontece em redes densas e fortes, como aquelas que mantemos com os membros da nossa família, pessoas mais próximas e confidentes; (2) partilha de informação e recursos (onde nem todos os membros estão numa relação de reciprocidade, ou seja, há uma mistura de redes fortes e fracas; (3) interesses partilhados (onde as pessoas estão unidas num círculo com uma identidade social ou que sejam membros de uma comunidade, de uma igreja, de um clube, etc.). Estas redes fornecem aos seus membros um sentimento de pertença e uma estrutura de segurança e apoio, dentro da qual desenrolam o seu dia-a-dia.

O capital social depende da existência de redes sociais que forneçam as condições adequadas para o acesso aos recursos. Em geral, embora os atores de redes sociais possam ter acesso aos recursos de outros atores sociais com quem estão associados, tais como riqueza, poder, prestígio, etc., esses recursos podem gerar um retorno. Posto isto, depreende-se que o capital social desempenha um papel relevante nas comunidades, nos bairros, no desenvolvimento e manutenção dos espaços públicos e na coesão social (Forrest e Kearns, 2001; Middleton, Murie e Groves, 2005).

O LOCAL DE ESTUDO: BAIRRO DE ALVALADE

A investigação decorreu no bairro de Alvalade, que integrou até recentemente as freguesias de Alvalade, São João de Brito e Campo Grande, as quais correspondem atualmente à freguesia de Alvalade.

O bairro de Alvalade surgiu num período de forte crescimento urbano de Lisboa. O aumento da população acentuou o problema da falta de habitação e o governo procurou resolver esta situação criando uma política para a habitação. A expansão da cidade no início do século XX conduziu à expropriação de extensas zonas e à mudança de funções de muitas quintas e palácios. O Chafariz de Alvalade (fotografia 1), o Palácio dos Coruchéus ou a Quinta dos Lagares d’El Rei (fotografia 2) são alguns dos exemplos que ainda persistem desse período. Existia também neste território, à semelhança de outras zonas de Lisboa (Pereira, 1994), várias vilas e pátios. Embora alguns ainda existam, como é o caso da vila Afifense junto ao bairro das Estacas, outros foram recentemente demolidos, como é o caso dos que existiam na Travessa Henrique Cardoso.

 

 

 

O vasto território de Alvalade integrou, no início do século XX, novos objetivos de desenvolvimento urbanístico da cidade. Iniciou-se um processo de expropriação dos terrenos abrangidos pelo plano do arquiteto Faria da Costa. Inicialmente designado “Plano de Urbanização da Zona a Sul da Av. Alferes Malheiro” (atual Avenida do Brasil), alterou a designação para “Plano de Urbanização do Sítio de Alvalade”, em resultado da importância histórica do território, tal como referiu, numa das entrevistas realizadas na investigação, um dos arquitetos que participou na evolução deste projeto, Nuno Teotónio Pereira:

Na altura a designação de Plano de Urbanização da Zona a Sul da Av. Alferes Malheiro levantou grande discussão sobre o nome a atribuir, houve até artigos na imprensa. Até que alguém, penso que um historiador, sugeriu Alvalade, pelas razões históricas de ali se ter travado a batalha com a mesma designação, e assim ficou a designação de Plano de Alvalade.[1]

O Plano de Alvalade insere-se no âmbito do Plano Diretor de Urbanização de Gröer, da expansão da cidade, que foi muito marcado pelas suas ideias. Este bairro foi considerado exemplo do urbanismo português (Portas, 1973; Tostões, 1994; Janarra, 1994; Pereira, 1998; Alegre et al., 1999; Baptista, 1999; Costa, 2002; Coelho e Coelho, 2009).

Marcado por influências estrangeiras, o desenho de Alvalade teve igualmente a marca da ação dos jovens arquitetos modernistas que beneficiaram da expansão das obras públicas e do primeiro congresso de arquitetura em Portugal, em 1948.

O Plano integrou uma área de 230 hectares, limitada a Norte pela Av. do Brasil; a Nascente, pela Av. Gago Coutinho; a Sul, pela via-férrea; e a Poente, pela Rua de Entrecampos. O Plano continha oito células (unidades de vizinhança) e visava a construção em larga escala de casas de renda económica (Nunes, 2013) para fomentar a coexistência das diversas categorias sociais, segundo a tradição Lisboeta (Câmara Municipal de Lisboa, 1948). Os valores do Estado Novo evidenciavam-se no desenho urbano, na importância dada à habitação na unidade familiar e no relevo posto na “miscigenação de populações e hierarquização espacial” (Baptista, 1999, p. 167).

O Plano de Alvalade integrou também projetos de jovens arquitetos modernistas, como Formosinho Sanches e Ruy d’Athougia (1954), responsáveis pelo emblemático bairro das Estacas, galardoado com o prémio Valmor em 1954 e com o prémio de arquitetura na Bienal de S. Paulo. O bairro tinha uma extensa superfície verde, cuja conceção foi entregue ao arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles (1953).

Este território funciona como um ícone na cidade de Lisboa. Na sua génese era um bairro residencial de classe média baixa, pensado a partir do conceito de vizinhança; tem sido, desde o início, local de residência de grupos com diferentes classes sociais, sendo esta mistura uma das suas mais importantes características. Existem também novos residentes que remodelam as casas existentes ou que compram novas habitações a preços elevados. Apesar destas dinâmicas residenciais, Alvalade mantém a diversidade social que sempre caracterizou o bairro.

É um território associado, desde o seu início, à modernidade, e com referências quase icónicas para a cidade de Lisboa: edifícios e arquitetos, o filme Verdes Anos, o café Vá-Vá e as suas tertúlias, o espaço público, os largos passeios nalguns lugares, como o bairro de S. Miguel, o Mercado do Levante, ou algumas instituições como o Grupo Dramático “Ramiro José”.[2]

METODOLOGIA

Esta investigação sobre as redes de vizinhança no bairro de Alvalade foi desenvolvida através de um desenho transversal baseado numa estratégia de métodos mistos (Newman, 2003; Tashakkori e Teddlie, 1998; Clark e Creswell, 2010), segundo um plano sequencial. A estratégia integrou dados qualitativos, resultantes da etnografia urbana, e entrevistas, que foram fundamentais para o desenvolvimento do inquérito por questionário, o qual possibilitou a recolha de dados quantitativos. Seguiu-se a análise dos dados, a integração e a discussão dos resultados sobre o capital social.

A figura seguinte apresenta o desenho dos métodos mistos de investigação, segundo um plano sequencial, com a integração de dados qualitativos e quantitativos. A etnografia urbana e as entrevistas permitiram a recolha de dados qualitativos (QUAL), fundamentais para o desenvolvimento do inquérito por questionário (QUANT). Os dados qualitativos e quantitativos foram integrados na identificação das redes sociais e comunidades de vizinhança, desenvolvendo os três clusters que emergiram na investigação (Quadros 1 e 2).

 

 

 

A primeira fase do trabalho de campo caracterizou-se por etnografia urbana, que decorreu durante cerca de sete meses, e entrevistas. A etnografia urbana foi desenvolvida com base nos trabalhos de Herbert Gans (1962, 1967), Suttles (1968, 1972), Hannerz (1969), Anderson (1978, 1990, 1999) e Venkatesh (2008), e teve como objetivos: conhecer o contexto urbano de Alvalade, analisar a natureza das redes sociais de vizinhança e avaliar a existência ou ausência de vivência em comunidade na cidade. O trabalho de etnografia urbana desenvolvido em vários territórios nacionais contribuiu para desenvolver a metodologia e interpretar este contexto urbano (Pina-Cabral, 1983; Costa, 1999; Cordeiro, Baptista e Costa, 2003).

As entrevistas foram efetuadas no período de investigação que decorreu durante cerca de 6 meses. No total foram realizadas 17 entrevistas (n= 17); destas, 12 foram feitas a residentes do sexo masculino e feminino, com idades compreendidas entre os 16 e os 87 anos. Entre as pessoas com informação importante para o tema de investigação estavam: arquitetos e urbanistas, membros de instituições, como por exemplo o Grupo Dramático Ramiro José, o presidente da Junta de Freguesia de Alvalade e representantes dos residentes desta freguesia. Entre os arquitetos surgiram nomes fundamentais que estiveram no início da construção do bairro, como o caso de Nuno Teotónio Pereira.

Ao longo desta fase houve vivência na comunidade, nomeadamente no conhecimento dos atores sociais e das instituições. A informação foi registada num diário de campo e posteriormente codificada e analisada (Emerson, Fretz e Shaw, 1995).

As entrevistas iniciaram-se quase em simultâneo e a integração no quotidiano do território permitiu o contacto com os informantes. As entrevistas com arquitetos e urbanistas visaram compreender a importância da perspetiva de comunidade e redes vizinhança no desenho do Plano de Alvalade.

As entrevistas foram semi-directivas (Weiss, 1994; Newman, 2003; Schutt, 2004; Rubin e Rubin, 2005; Flick, 2009; Carmo e Ferreira, 2008; Bryman, 2008). As perguntas procuraram compreender a estrutura, dimensão e tipos de redes sociais de vizinhança, bem como analisar os tipos de apoio prestados entre vizinhos (apoio no dia-a-dia, na doença, financeiro, emocional ou outro) e a sua participação na comunidade (associações religiosas, recreativas, de moradores para resolver problemas da freguesia, etc.). O guião das entrevistas foi desenvolvido com a integração dos seguintes temas: opinião sobre o bairro; confiança nos vizinhos; análise da rede social de vizinhança; formas de capital social de vizinhança (tipos de apoio e frequência de apoio dos vizinhos); participação cívica no bairro e desenho urbano do bairro.

O desenvolvimento da etnografia urbana e as entrevistas antecederam a realização do inquérito por questionário, e foram estruturantes para o desenho do mesmo, uma vez que permitiram formular questões de investigação e compreender as redes de vizinhança (quais os tipos e as formas de recursos sociais partilhados entre vizinhos), bem como identificar os elementos estruturantes na vivência de uma comunidade urbana.

O inquérito por questionário foi realizado, na então designada freguesia de Alvalade (atualmente, esta corresponde a uma parte da atual freguesia com a mesma designação), numa amostra estratificada de 402 residentes (n= 402) maiores de 15 anos.

A análise de dados quantitativos pretendeu evidenciar a estrutura das respostas dos inquiridos sobre cada dimensão do capital social. Para o efeito, considerámos que a melhor maneira de descobrir essa estrutura latente consistiria em utilizar técnicas de clustering. Entre elas, optámos pela estimação de modelos de classes latentes, os quais apresentam diversas vantagens sobre os tradicionais modelos de agrupamento - Hierachical Cluster Analysis (Lazarsfeld e Henry, 1968; Fonseca, 2009; Fonseca, 2013a; Fonseca, 2013b; Fonseca e Cardoso, 2007; Fonseca e Xerez, 2013). Para o efeito, utilizámos o software Latent GOLD 5.0.

Os Modelos de Classes Latentes (MCL) são uma técnica de análise de agrupamento usada para encontrar as classes latentes (ou subtipos) de dados multivariados (Neves e Fonseca, 2015): identifica as classes latentes ou clusters necessários para explicar as associações entre um conjunto de variáveis ​​observadas e distribui as observações pelas classes (Fonseca, 2009). Para a seleção do melhor modelo, isto é, para a seleção do número de clusters, usámos o critério de informação AIC3, já que todos os indicadores usados são variáveis categorizadas (Fonseca e Cardoso, 2007).

ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A discussão dos resultados, nesta secção, refere-se particularmente à análise de clusters, desenvolvida a partir dos dados do inquérito por questionário. São discutidos os elementos do conceito de capital social, conforme analisado na revisão da literatura: (1) estrutura da rede de vizinhança; (2) confiança e reciprocidade; (3) recursos. Foi também introduzido um quarto elemento, o envolvimento na comunidade, e, também, a análise das covariáveis para a melhor compreensão dos residentes deste bairro. A análise dos dados tem em vista obter respostas para as cinco questões de investigação propostas.

QI1: qual é a estrutura da rede?

A estrutura da rede foi medida através dos seguintes indicadores: (1) número de pessoas que vive na mesma residência; (2) conhecimento dos vizinhos; (3) saber o nome dos vizinhos; e (4) local de residência dos membros da família, amigos e colegas de trabalho com quem mais se relaciona.

A aplicação dos Modelos de Classes Latentes permitiu descobrir uma estrutura de três classes; o quadro 1 apresenta as estimativas dos parâmetros do modelo (probabilidades), que devem ser interpretadas do seguinte modo: as probabilidades apresentadas na linha 1 deste quadro representam as probabilidades de pertença a cada classe, isto é, dos indivíduos inquiridos - de acordo com os indicadores usados, 53% foram considerados semelhantes e classificados na classe 1; 25% foram considerados semelhantes e classificados na classe 2; e 22% foram considerados semelhantes e classificados na classe 3.

As restantes probabilidades do quadro são condicionais e devem ser interpretadas como se segue: em relação à variável casa, 0.2652, 0.2837 e 0.7759 são as probabilidades dos inquiridos que responderam vivo sozinho/a, condicionadas por os inquiridos terem sido classificados nas classes 1, 2 e 3, respetivamente. Porque 0.7759 é a maior das três probabilidades, vivo sozinho/a constitui uma característica da classe 3 (conforme Quadro 2). Raciocinando desta maneira, surgem os perfis dos inquiridos, apresentados no quadro 2.

Assim, a rede do bairro de Alvalade está organizada em três tipos básicos de estrutura, respondendo desta maneira à QI1. O primeiro tipo corresponde ao cluster 1, caracterizado no quadro 2, representando uma rede densa, composta por famílias maiores, e que permanecem em contacto, especialmente no bairro. De um modo geral, este cluster é composto por famílias com quatro a sete pessoas que vivem na mesma casa, sendo este um indicador de famílias mais numerosas, podendo ser constituída pelo cônjuge e filhos. Estes inquiridos referiram conhecerem a maioria dos seus vizinhos e sabiam o nome de oito ou mais. A sua rede pessoal, ou seja, as pessoas com quem mais se relacionavam - família, amigos e colegas de trabalho -, normalmente viviam no bairro de Alvalade ou nas imediações. No caso dos membros da família, na generalidade residiam neste bairro ou num próximo (cerca de 20 minutos a pé), e noutros locais de Lisboa; os amigos também residiam nestes locais e os colegas de trabalho na mesma freguesia, em Lisboa e noutras partes do país. Esta rede apresenta uma escala local.

O segundo tipo, o cluster 2, inclui aqueles que vivem com menos pessoas na mesma casa, cerca de três a quatro. Neste caso, as famílias são menores, apenas com um ou dois filhos. A rede pessoal não se limita à freguesia de Alvalade ou à sua proximidade, sendo mais vasta e alargando-se ao domínio nacional (outras áreas do país), e até mesmo ao estrangeiro. Os membros da família com quem têm uma ligação mais próxima vivem noutras zonas do país ou no estrangeiro. Os amigos vivem mais distantes e na Área Metropolitana de Lisboa (AML), e alguns colegas também vivem no exterior.

O terceiro tipo, o cluster 3, é diferente e possui uma estrutura menos densa. É basicamente composto por pessoas que vivem sozinhas, conhecem muitos vizinhos, sabendo o nome de quatro a sete vizinhos. As pessoas com quem mais se envolvem são os membros da família que residem na AML, os amigos que vivem em Alvalade e colegas de trabalho que vivem em Alvalade e noutras partes de Lisboa.

QI2: qual é a confiança e a reciprocidade com os vizinhos?

A confiança é um elemento fundamental nas redes sociais, pois altos níveis de confiança facilitam a ligação entre as pessoas, aumentam os recursos das redes e promovem a reciprocidade. Esta questão analisa a segunda componente do capital social (ver Quadros 3 e 4), através dos seguintes indicadores: (1) confiança nos vizinhos; (2) nos últimos seis meses parou para conversar com um vizinho fora de sua casa; e (3) nos últimos seis meses fez ou recebeu o favor de um vizinho.

 

 

 

Os resultados mostram que grande parte dos inquiridos (53%), cluster 1, confia na maioria dos vizinhos e apresenta um elevado grau de confiança e reciprocidade - fez (recebeu) um favor a (de) um vizinho nos últimos seis meses.

Os inquiridos do cluster 2 (25%) dependem menos de vizinhos, mantêm elevados níveis de confiança, mas reciprocidade mais baixa - não conversam com os vizinhos, não fazem nem recebem favores com a mesma frequência.

Os inquiridos do cluster 3 (22%) mostram desconfiança dos vizinhos, não conversam com eles e não têm indicadores de reciprocidade, nem de favores. Há também heterogeneidade no que diz respeito à confiança e à reciprocidade com os vizinhos, documentada pela existência dos três clusters que acabámos de descrever.

QI3: quais são os recursos da rede?

A terceira componente do capital social - recursos das redes sociais - discute o valor das redes. Família, amigos, colegas de trabalho, conhecidos e até mesmo algumas instituições são uma fonte de capital social. Fornecem apoio financeiro e emocional, fazendo pequenos favores, como por exemplo, olhar pela casa dos vizinhos quando estão ausentes, acompanhar ou ser acompanhado numa ida ao médico, convidados para uma festa ou jantar com os vizinhos, etc.

As seguintes questões foram também consideradas nesta componente: (1) com quantas pessoas (marido, mulher, companheiro/a, familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e outros) discutem assuntos pessoais, pedem ajuda, aconselhamento ou apoio; (2) a que pessoas costumam recorrer em momentos de doença, dificuldades financeiras ou crise pessoal: cônjuges, colegas de trabalho, familiares, amigos, vizinhos, instituições de solidariedade ou preferem não pedir ajuda; (3) no último ano, olharam pela casa dos vizinhos, ajudaram ou tiveram ajuda destes numa ida ao médico, convidaram-nos ou foram convidados para uma festa ou jantar, deram ou receberam um presente, fizeram atividades de tempo livre juntos e perguntaram se precisavam de alguma coisa quando foram às compras, cumprimentaram-se e ajudaram-se.

O conhecimento e a ajuda entre vizinhos caracterizam as redes, o que na opinião dos moradores torna o local numa comunidade, conforme os dados recolhidos nalgumas entrevistas realizadas aos residentes:

Isto parece uma comunidade, as pessoas conhecem-se, cumprimentam-se e ajudam-se. Recentemente tive problemas com o gás e foi a vizinha do primeiro andar que me ajudou, mas também já tive alguns apoios dos vizinhos com a minha filha de seis anos. [Ana, 34 anos]

Estas redes sociais são importantes na vivência do espaço público e nas funções urbanas, tais como o comércio e a utilização de equipamentos coletivos. As redes de vizinhança no bairro de Alvalade são uma forte componente da vida da comunidade, para a qual também contribuiu o Plano de Alvalade - considerado um paradigma do urbanismo em Portugal, que incluiu a mistura social, a integração de diferentes tipologias habitacionais, amplos passeios, espaços verdes, parques e unidades de vizinhança (Xerez, 2015).

O que eu notei logo quando para cá vim foi a ideia de comunidade. O facto de haver um pequeno mercado (de rua junto ao bairro das Estacas) influencia essa comunidade, cria um certo núcleo de pessoas que vão ao mercado, e eu integrei-me facilmente como cliente habitué. Eu não gosto de comprar os frescos sem os tocar, sem os cheirar… vamos ao talho e estamos a recorrer às compras online e ao comércio tradicional. [Mariano, 32 anos]

A estrutura urbanística do bairro, desenhada nos anos 40, tem sido importante para a vivência de novas gerações que residem mais recentemente em Alvalade e que apreciam a convivência da comunidade. Além disto, podemos ainda encontrar outras práticas no cluster 2 (cidade), como pode ser analisado nas entrevistas (ver Quadros 2, 4 e 6).

 

 

 

Só conheço a vizinha da frente, tem a minha chave, quando preciso de alguma coisa, ela ajuda-me. A minha família está na Venezuela, vivo sozinho, tenho confiança nos vizinhos, mas na cidade as pessoas não se relacionam muito, não acha? [António, 46 anos]

A referência à vivência no bairro como uma espécie de aldeia foi mencionada em várias entrevistas:

Estou há mais de 40 anos a residir neste prédio, é uma pequena aldeia. Aquela vida de vizinhos que há na aldeia acaba por se transpor um pouco. Eu sei que na cidade é diferente, mas acaba por ser a mesma coisa porque nós cruzamo-nos nas escadas, no hall e falamos: o fulano de tal está doente… Este prédio tem 12 andares, é uma espécie de rua de aldeia que em vez de ser em largura é em altura, falamos à porta… [Luísa, 62 anos]

Os sentimentos de desconfiança caracterizam algumas das relações de vizinhança, conforme analisado nalgumas entrevistas.

Isto (Alvalade) às vezes parece uma aldeia. Nalgumas zonas mais populares, as pessoas sabem a vida umas das outras, são desconfiadas… não vai encontrar muita gente que se preocupa com os vizinhos. [Maria, 68 anos]

As duas últimas transcrições clarificam o parâmetro da confiança, associado à vivência na aldeia e identificado no cluster 3 (quadro 4). Nele, encontramos as pessoas que referem que “não confiam nas pessoas de Alvalade” e as que “confiam em poucas pessoas de Alvalade”. As entrevistas refletem esta situação: a primeira (Luísa) revela os sentimentos de confiança em poucas pessoas, enquanto a segunda (Maria) revela os sentimentos de desconfiança.

Interpretando os quadros 5 e 6, conclui-se que os membros da família, vizinhos, colegas de trabalho e conhecidos são uma importante fonte de apoio financeiro, económico e emocional. Mas para a maioria dos inquiridos, os vizinhos constituem uma rede de apoio disponível: ajudam nas compras ou na ida ao médico, em situações de crise pessoal, olham pela casa e são seus convidados, trocam pequenos presentes e fazem atividades de lazer em conjunto.

Este tipo de ligações e recursos é particularmente forte no cluster 1, que representa mais de metade dos inquiridos (53%). Revelou um forte dinamismo, onde a densidade da rede (número de pessoas a quem pede ajuda) é elevada, onde têm disponíveis mais de quatro pessoas a quem podem recorrer e pedir ajuda, em caso de necessidade, entre os elementos da família, amigos e colegas. Neste cluster, o apoio financeiro é efetuado por familiares próximos que vivem fora do lar, por uma instituição, ou então preferem não pedir ajuda.

O cluster 2, que representa 25% dos inquiridos, revelou a importância do apoio dos familiares e colegas, e menos dos vizinhos. A rede de apoio é menor, constituída por três pessoas ou menos, e os recursos provêm dos familiares e dos colegas. Neste caso, os vizinhos têm menos importância na rede pessoal e no capital social.

O cluster 3, que representa 22% dos inquiridos, evidenciou níveis de desconfiança mais elevados e maior isolamento, onde se recorre genericamente aos amigos, até três, quando precisam de discutir assuntos pessoais, pedir ajuda ou apoio. Em caso de doença, pedir dinheiro ou qualquer apoio, as situações variam: no caso de doença, têm apoio dos familiares (próximos e afastados), de vizinhos, de instituições, ou preferem não pedir ajuda. No que diz respeito ao apoio financeiro, os inquiridos afirmam nunca ter precisado de pedir ajuda. Os recursos da rede de vizinhança surgem, então, pontualmente.

QI4: qual é o envolvimento na comunidade?

A análise da quarta componente do capital social - o envolvimento na comunidade - foi baseada na participação e envolvimento cívico na comunidade: (1) assinar uma petição; (2) participar nas discussões dos problemas do bairro; (3) organizar ou participar em boicotes, marchas de protesto ou outros movimentos; (4) contacto de um político para resolver um problema local; (5) contacto de uma estação de rádio, canal de televisão ou jornal para resolver problemas locais; (6) estar envolvido com vizinhos para defesa de interesses do bairro; (7) e ainda outras iniciativas.

A análise dos dados revelou que os três grupos apresentam um conjunto de ações desenvolvidas com o objetivo de intervir na vivência do bairro e resolver problemas; o que os distingue é a maior ou menor associação com outros vizinhos, iniciativas de caráter mais individual, ou a opinião de que não há problemas. A maioria dos inquiridos (53%), cluster 1, foi a que esteve envolvida em mais ações, participou em atividades para discutir problemas do bairro, contatou um político para resolver um problema local (o contacto do presidente da Junta de Freguesia de Alvalade foi o exemplo mais referido) e esteve envolvida com os vizinhos para defesa de interesses da freguesia. O cluster 2 revelou menos formas de participação na comunidade, mas apontou colaboração nalgumas iniciativas, como por exemplo, assinatura de petições, boicotes, marchas de protesto ou outros movimentos. Estes inquiridos também consideram não haver problemas. O cluster 3 revelou um funcionamento de cariz mais individual, por exemplo, o de contactar uma estação de rádio, TV ou jornal e “outras iniciativas”.

QI5: quais são as características das pessoas que explicam a dinâmica das redes sociais no bairro de alvalade?

Para ajudar a caracterização dos inquiridos, foram analisadas várias covariáveis, também designadas de variáveis de caracterização. A análise destas variáveis permitiu qualificar os três clusters. O primeiro cluster é caracterizado maioritariamente por indivíduos casados, à procura do primeiro emprego, com religião ortodoxa ou judaica, com níveis mais elevados de educação (mestrado e doutoramento) e idades compreendidas entre os 40 e 49 anos. O segundo cluster é constituído principalmente por homens, solteiros, em união de facto ou separados, empregados, sem religião, níveis intermédios de educação (secundário, bacharelato ou licenciatura), com idades até aos 39 anos. O terceiro cluster é predominantemente constituído por mulheres, divorciadas ou viúvas, desempregadas ou reformadas, católicas, protestantes ou muçulmanas, níveis baixos de educação (até ao segundo ciclo) e mais idosas, com 50 ou mais anos.

Os resultados mostraram que os homens estão menos dependentes das redes e mais isolados, mas também são menos desconfiados (Quadro 9). As mulheres idosas revelaram-se mais isoladas (cluster 3), com redes mais fracas e também mais desconfiadas.

 

 

 

 

Os três clusters apresentam heterogeneidade entre eles e homogeneidade interna, uma característica dos Modelos de Classes Latentes, utilizados nesta investigação. Há heterogeneidade especialmente em relação à participação na comunidade, conhecimento dos vizinhos e importância das redes sociais na comunidade de vizinhança. O cluster 3 revelou maior desconfiança; apesar de conhecerem bem os vizinhos, os inquiridos denotaram redes de vizinhança mais fracas. Os níveis de confiança variam entre os três grupos, influenciando a estrutura da rede, os recursos, a reciprocidade e a participação na comunidade. A confiança é um elemento muito importante, e mais de dois terços apresentam elevados níveis da mesma: o cluster 1 é composto por residentes muito confiantes; o cluster 2 por residentes confiantes; e o cluster 3 por residentes mais desconfiados.

A implementação dos métodos mistos (explicada na Figura 1), através da integração dos dados qualitativos e quantitativos, permitiu-nos compreender e classificar os clusters identificados, resultado da análise de conteúdo das entrevistas, conforme previamente discutido. No primeiro cluster, a designação mais adequada foi comunidade, referida frequentemente nas entrevistas, conforme os excertos de vários residentes já analisados nas páginas anteriores, encontrada na composição da etnografia urbana e analisada nas características das redes sociais deste cluster. No segundo cluster, a designação sugerida foi cidade, devido às características que vulgarmente estão associadas ao modo de vida urbano. A vivência urbana destes residentes revelou maior anonimato e menores níveis de capital social. No terceiro caso, a designação sugerida foi aldeia - referência feita frequentemente nas entrevistas como forma de caracterizar algumas redes de vizinhança reveladoras de maior desconfiança, apesar do conhecimento generalizado dos vizinhos.

 

 

CONCLUSÃO

Neste artigo analisa-se, através de um estudo empírico, a importância do capital social e a construção de redes de vizinhança, em contexto urbano, expondo a dinâmica e os benefícios do capital social e das redes de vizinhança. Revela-se que a estrutura da rede de vizinhança, neste bairro, é maioritariamente composta por uma rede densa, apresentando um elevado grau de confiança e reciprocidade - fez (recebeu) um favor a (de) um vizinho nos últimos seis meses e partilham vários recursos que são um apoio na vida pessoal e na construção de comunidade. Estes resultados são reveladores de elevado capital social, que melhoram a vida do bairro e da cidade, podendo ser aplicados em diversas áreas. Os dados confirmam a importância da mistura social e valorização da vizinhança, inicialmente introduzidas neste projeto pioneiro de habitação.

Os resultados desta investigação mostram que a existência das unidades de vizinhança no Plano de Alvalade e a diversidade de residentes que estiveram na origem do bairro devem ser discutidas como elemento importante de paradigma do urbanismo, que não tem sido replicado. No entanto, os resultados encontrados através dos métodos mistos permitem avançar na discussão sobre a relevância destas redes - os recursos sociais encontrados nas redes de vizinhança são um apoio importante aos residentes, que deve ser apoiado e desenvolvido. Este artigo revela que a estrutura das redes sociais de vizinhança é heterogénea, conforme sugere a existência dos três clusters. O primeiro, que representa a maioria dos entrevistados (53%), tem redes fortes, é composto por pessoas muito qualificadas (homens e mulheres), entre os 40 e 50 anos, com famílias mais numerosas. Essas pessoas dependem mais dos vizinhos, têm pelo menos um vizinho a quem podem recorrer em situações de necessidade. Além dos vizinhos, os seus familiares, amigos e colegas compõem a rede pessoal com quem podem contar. O segundo grupo (25%) é constituído na maioria por homens, revelam elevados níveis de confiança nos vizinhos, mas têm redes mais fracas, conhecem menos pessoas e não têm tanto apoio dos vizinhos. O terceiro grupo é composto por mulheres mais velhas, com baixas qualificações, geralmente viúvas ou divorciadas. Conhecem bem os vizinhos, mas revelam maiores níveis de isolamento e desconfiança. Os três grupos apresentaram níveis significativos de participação na comunidade.

O presente estudo denota que as redes de vizinhança diferem de acordo com idade, sexo, educação e dimensão da família; indica, também, que as mulheres e homens com famílias maiores e de meia-idade são mais propensos a obter recursos sociais da vizinhança, enquanto as mulheres mais velhas, apesar de conhecerem bem os vizinhos, são mais desconfiadas e, por isso, estão mais isoladas.

Os resultados revelam a existência de fortes redes de vizinhança neste bairro, que são uma importante fonte de capital social e um recurso para as pessoas e para a comunidade. Os autores sugerem a importância da valorização destas redes de vizinhança e a sua dinamização nas cidades e comunidades. Os efeitos positivos do capital social têm sido fundamentais para este território, mas a sua manutenção deverá ser continuada através da adequação de políticas públicas que promovam estas redes.[3]

 

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Recebido a 13-09-2016.

Aceite para publicação a 04-01-2019.

 

[1] O arquiteto Nuno Teotónio Pereira fez parte das pessoas entrevistadas nesta investigação, foi um dos quatro arquitetos e urbanistas que integraram o conjunto das dezassete entrevistas realizadas, conforme iremos analisar na secção da metodologia.

[2] O Grupo Dramático Ramiro José é uma instituição desportiva e cultural sem fins lucrativos. Foi formalmente constituído em 1923, esteve sediado na Travessa Henrique Cardoso até 2008, num emblemático edifício, que foi demolido devido às obras de alargamento da linha de caminhos-de-ferro, tendo então passado para a Rua João Villaret, n.º 13. O capital social desta coletividade, suportado numa rede de vizinhança, explica a sua continuação e dinamização atual.

[3] Os autores agradecem os valiosos testemunhos de Nuno Teotónio Pereira sobre a construção do bairro de Alvalade; os contributos científicos de Hermano Carmo ao longo do desenvolvimento desta investigação, bem como as sugestões e os comentários de Mario Luis Small manifestados na apresentação de uma versão anterior deste artigo. Os autores também agradecem as sugestões de melhoria do artigo, sugeridas pelos dois revisores anónimos, bem como a revisão de Joana de Mesquita Lima.

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