SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.18 número2Monitoramento do treinamento no basquetebol feminino juvenil: comparação da carga planejada pelo treinador com a carga percebida pelas atletasO método de treinamento com restrição de fluxo sanguíneo: percepção e análise crítica do processo metodológico e de sua utilização índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Motricidade

versão impressa ISSN 1646-107Xversão On-line ISSN 2182-2972

Motri. vol.18 no.2 Ribeira de Pena dez. 2022  Epub 28-Nov-2022

https://doi.org/10.6063/motricidade.27715 

ARTIGO ORIGINAL

Prática lúdica como ferramenta auxiliadora de ensino de jiu-jitsu em ambiente militar

Playful method as a helping tool for teaching jiu-jitsu in a military environment

Bruno Cezar Barbosa Silva1  * 
http://orcid.org/0000-0001-9814-3584

Jiddu Bastos Lemos1 
http://orcid.org/0000-0002-8883-926X

Adenilson Targino de Araújo Júnior2 
http://orcid.org/0000-0002-3857-681X

Francisco José Felix Saavedra1  3 
http://orcid.org/0000-0002-0439-5420

1Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Vila Real, Portugal.

2Instituto Federal da Paraíba – Campina Grande (PB), Brasil.

3Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano – Vila Real, Portugal.


RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo investigar se a prática lúdica é uma ferramenta auxiliadora no ensino de jiu-jitsu em ambiente militar. É um estudo qualitativo de caso, pois segue o modelo de pesquisa ação. Foram entrevistados 13 professores de Jiu-Jitsu com experiência de no mínimo 5 anos em docência de Jiu-Jitsu em ambiente militar. Após a aplicação de um questionário semiestruturado, o qual foi analisado de acordo com a técnica de análise do discurso, é possível concluir que a prática lúdica é uma ferramenta auxiliadora no ensino de jiu-jitsu, em ambiente militar, pois promove um ambiente de bem-estar positivo e integrador, estabelece uma comunicação mais direta e próxima entre o professor e o aluno, durante a aula.

PALAVRAS-CHAVE: jiu-jitsu; dinâmicas; lúdico; militar

ABSTRACT

The present work aimed to investigate whether the playful practice is an auxiliary tool in teaching jiu-jitsu in a military environment. It was a qualitative case study, as it followed the action research model. Thirteen Jiu-Jitsu teachers with at least five years of experience teaching Jiu-Jitsu in military environments were interviewed. After applying a semi-structured questionnaire, which was analysed according to the technique of content analysis, it was possible to conclude that playful practice is a helpful tool in teaching jiu-jitsu in a military environment, as it promotes an environment of positive and integrative well-being, establishing a more direct and closer communication between teacher and student during class.

KEYWORDS: jiu-jitsu; dynamics; playful; military

INTRODUÇÃO

No ambiente militar o ensino das lutas faz parte do contexto das forças armadas desde tempos remotos, a própria origem de algumas artes marciais está diretamente relacionada à situações, cenários, e condições de guerras, como por exemplo o Jiu-Jitsu, notório por sua eficiência no combate corporal (Gracie, 2010). Ou seja, é fato que as artes marciais são um dos componentes da preparação do soldado, e, não obstante, pouco se sabe a respeito dos sobre os modelos de didática e treinamento específico para ambiente militar.

Nesta linha, dentre as artes marciais utilizadas pelos militares pode-se destacar o Jiu-Jitsu. Uma ferramenta reconhecidamente útil para as forças de segurança pública e está sendo cada vez mais utilizado na formação e treinamento continuo dos efetivos de segurança no mundo inteiro. Como é o caso do Emirados Árabes Unidos, que inseriu oficialmente o Jiu-Jitsu no seu programa de treinamento em 2011, no Emirado de Abu Dhabi, e em 2015 expandiu o projeto do Jiu-Jitsu em bases militares para o país inteiro.

O Jiu-Jitsu é a forma de luta útil em situação de segurança pública, pois o agente de segurança ou policial consegue estabelecer controle do infrator por meio de alavancas e distribuição de peso, sem a necessidade de golpes traumáticos. Além de desenvolver a autoconfiança e a performance física específicas para controle de conflitos, o treinamento de Jiu-Jitsu também desenvolve aspectos sociais e de bem-estar subjetivo em resposta ao treinamento de Jiu-Jitsu (Carneiro & Santos, 2019).

Com o crescente interesse dos sectores de segurança pública, pelo mundo inteiro, em ter o ensino do Jiu-Jitsu como parte da formação e treinamento do seu efetivo, não só pela forma eficiente e humana em que o Jiu-Jitsu consegue estabelecer o controle em uma situação de conflito, mas também pelos possíveis benefícios para o bem-estar subjetivo do praticante de Jiu-Jitsu. Faz-se necessária a pesquisa de metodologias para o ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar.

Lemos, Paz, Araújo Júnior e Aranha (2018) afirmam que o uso de dinâmicas lúdicas para o ensino de Jiu-Jitsu em ambiente escolar é uma excelente ferramenta de ensino da arte marcial, pois um desperta um maior nível de interesse e por conseguinte aprendizado, além de possibilitar, uma avaliação mais direta e dinâmica do aprendizado.

A interação espontânea com os métodos e dinâmicas lúdicas faz o aluno vivenciar o que está aprendendo, por meio do jogo simbólico a ação educativa proporciona brinquedos para simular situações do cotidiano, como uma atividade de relaxamento psicológico, onde o individuo solta as emoções guardadas e até traumáticas do seu contexto, comprovando que as brincadeiras reproduzem aquilo que já foi vivenciado (Nascimento & Coutinho, 2020). Kishimoto (2013) declara que, ministrar as aulas por meio de métodos lúdicos, favorece para o desenvolvimento do individuo, aos quais tem a possibilidade de expandir as relações sociais e inter-relacionar com outras atividades do dia-a-dia.

Desta maneira, o desenvolvimento de uma investigação com a utilização do método lúdico para aulas do Jiu-Jitsu com o público de militares acrescenta novas informações para os profissionais que ensinam as lutas, no sentido de saber se o método lúdico é de fato uma ferramenta auxiliadora do processo de aprendizagem do Jiu-Jitsu. Neste raciocínio, a hipótese é de que o ensino desta arte marcial tendo o lúdico como um instrumento pedagógico contribui de forma positiva com a aprendizagem. Assim, esta pesquisa tem o objetivo de investigar se a prática lúdica é uma ferramenta auxiliadora no ensino de jiu-jitsu em ambiente militar.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de caso, qualitativo do tipo descritivo.

Participantes

O campo de estudo é representado por 13 professores de Jiu-Jitsu com faixa etária entre 31 a 43 anos de idade, com experiência de no mínimo 5 anos lecionando Jiu-Jitsu em ambiente militar.

Instrumentos e procedimentos

Foi utilizado um questionário semiestruturado com 12 questões, as quais foram respondidas pelos professores de Jiu-Jitsu de forma discursiva que foi analisada no intuito de entender se os professores utilizam dinâmicas lúdicas nas suas aulas e se essas dinâmicas lúdicas auxiliam o ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar.

O questionário utilizado foi idealizado fundamentando-se nos critérios de Lakatos & Marconi (1991), o qual entende que “por meio de conversação realizada face a face, metodicamente, proporciona ao entrevistado, verbalmente, a informação necessária”.

Tratamento dos dados

O discurso dos professores, sobre a aplicação do método lúdico nas aulas de Jiu-Jitsu em ambiente militar, foi analisado tendo como objetivo investigar sua importância e aplicabilidade. A metodologia utilizada para análise de conteúdo foi a técnica de análise de dados (Bardin, 2006). Segundo Chizzotti (2006), a finalidade da análise de conteúdo é entender o significado das comunicações, decodificando o conteúdo manifesto e compreendendo o latente, suas significações ocultas e explicitas.

RESULTADOS

Por meio da observação dos discursos na íntegra dos professores de Jiu-Jitsu que lecionam em ambiente militar, categorizados por tema, poderemos então entender como as dinâmicas lúdicas podem ser utilizadas como uma ferramenta auxiliadora de ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar.

Obstáculos para o ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar

Nesta categoria examinamos quais são os obstáculos que os professores enfrentam no ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar.

A obrigatoriedade de treinar já faz com que o aluno venha para aula com os dois pés atrás, e por mais que a gente goste do Jiu-Jitsu, ver o aluno com aquele ar de que quer terminar logo a aula, pode fazer com que o professor se desmotive um pouco também (professor F).

Olha, é um pouco desafiador sim, principalmente quando o aluno já vem cansado de alguma atividade física anterior ou está vivenciando alguma etapa de treinamento militar e ainda tem que treinar o Jiu-Jitsu. O aluno pode ter até boa vontade, ser esforçado e tal, mas se a gente não der aquela atenção extra, corrigindo e motivando quando ele ta assim, o aluno acaba absorvendo muito pouco ou perdendo o tempo dele e as vezes até influenciando negativamente outros que estão na aula de Jiu-Jitsu também (Professor P1).

Se o aluno for uma pessoa mais fechada, o Jiu-Jitsu a primeira vista pode parecer uma coisas muito estranha, porque além de ter uma interação contato corporal, é uma luta agarrada, né? Além de tudo isso o aluno ainda tem que aprender novas formas de se movimentar muitas vezes deitado, de barriga pra baixo, com alguém amassando ele ali, muitas vezes mais pesado, mais forte ou mais atlético, é importante o professor saber o limite de ir expondo seu aluno pra esse contato todo. E tem aquela coisa, o Jiu-Jitsu é feio olhando de fora, pra quem não entende ver duas pessoas se agarrando e se embolando no chão, de cara não deve ser muito atrativo mesmo não (Professor D1).

Jiu-Jitsu em ambiente militar versus academia

Nesta categoria analisamos os discursos dos professores sobre a importância do lúdico em ambiente militar e em academias particulares.

O aluno que vai pra uma academia ele já tem uma aptidão física ou psicológica, ele já quer treinar, se sente entusiasmo com aquele ambiente e qualquer aprendizado já é uma vitória pra ele, já uma motivação, o aluno que vem por obrigação muitas vezes deixa bem claro que quer só atingir o objetivo dele para parar de treinar, então mais do que ensinar a técnica ou aprimorar a aptidão física do aluno nós temos que plantar aquela sementinha do Jiu-Jitsu nele…Desde o momento em q se cumprimenta, tem que ser sempre com um sorriso no rosto, querendo saber como ele está, fazendo ele se sentir a vontade e ir ganhando a confiança dele. Eu acredito que muito dessa sementinha nasce da relação pessoal que cria entre o aluno e o professor, se o aluno gostar do professor já é um grande passo pra ele gostar do que o professor está ensinando (Professor A).

É claro que na academia é muito mais fácil, além de ele querer estar ali, ele vai à aquela academia por algum motivo de vida, ou porque mora ali perto ou porque trabalha ou tem qualquer compromisso que o obriga estar por ali perto, na grande maioria é assim. Já no militar é trabalho e muitas vezes o militar fica um tempo numa base, depois vai pra outra, vai pra outra ou viaja e assim vai, não estabelece um vinculo com o professor, mas mesmo naquele tempinho que ele está ali com você, você tem que ter a certeza que ele está levando pelo menos uma boa sensação de estar ali no tatame e que aprendeu alguma coisa útil (Professor E).

São perfis diferentes com coisas positivas e negativas nas duas situações, enquanto que na academia o aluno tem mais motivação de treinar ele muitas vezes não vai por não ser obrigado, já no militar ele tem que estar ali, mesmo que seja contra vontade… Vai do professor saber identificar um ponto de contato com esse aluno pra cativa-lo (Professor B1).

Uma academia de arte marcial é um ambiente que de cara espanta, intimida mesmo, seja na academia ou no meio militar, é fundamental compreender que o aluno precisa ser bem recebido e tratado bem pra ele se sentir bem e querer pelo menos estar ali, esse é o principal (Professor H).

Na sua academia você naturalmente trata o aluno bem mesmo, porque no fim das contas ele é seu cliente, ele está te pagando por aquele serviço. Saber fazer um clima bom na academia é muito importante. No militar eu vejo que alguns professores perderam um pouco esse carisma, talvez até um pouco influenciados pela rigidez militar, mas é fundamental manter esse carisma e esse clima bom… Se você pensar bem isso é ludicidade também (Professor M).

Como o professor compreende o lúdico

Nessa categoria observamos como os professores compreendem o método lúdico no ensino Jiu-Jitsu, em ambiente militar.

Durante essa conversa que eu me dei conta que os treinos parciais acabam que tem muito de ludicidade, você tem que fantasiar uma situação e trabalhar dentro dela etc. O Jiu-Jitsu é um jogo e tudo acaba sendo lúdico mesmo naquela brincadeira de ganhar ou perder (Professor G).

As vezes queremos fazer uma aula mais relaxada, descontrair a galera ou atrair a atenção de todo mundo, sem dúvida jogos e brincadeiras ajudam muito nesse sentido. É uma técnica que ajuda muito o professor (Professor D1).

Muita gente não gosta não, mas eu mesmo sempre usei jogo ou nesse termo que estamos falando agora, lúdico, né? … É uma forma de fazer o aluno executar o que você pede, aí ele vai aprendendo sem perceber e de uma forma divertida, muitas vezes o aluno nem sabe que aprendeu determinada técnica, aí um dia falamos pra ele, é aquilo lá que você já sabe fazer, muitas vezes ele se surpreende com a própria consciência, que foi aprendida na brincadeira , no lúdico (Professor M).

Criar um ambiente agradável é também ludicidade se você parar pra pensar, aquelas brincadeiras que a gente faz pra descontrair, ou as vezes umas rivalidade de brincadeira para apimentar um pouco o treino, durante a explicação da técnica, fazendo o aluno visualizar a situação, é tudo trabalhado no imaginário do aluno pra ele compreender da melhor forma, é uma forma de comunicação bem direta entre o professor e aluno, e cria aquele ambiente agradável que falamos (Professor S).

O lúdico, como técnica avaliadora de aprendizado

Nesta categoria veremos como os professores utilizam o lúdico como ferramenta avaliadora de aprendizado no ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar.

Talvez seja uma das melhores formas de ensinar e avaliar, porque naquele clima descontraído existe até uma cooperação entre parceiros de treino mostrando onde o outro errou no joguinho que foi criado, e percebemos o nível de consciência que cada um tem, e muitas vezes nos surpreendemos (Professor C2).

A técnica sendo colocada em pratica através de uma disputa, num contexto de jogo é a melhor forma de você perceber se aluno entendeu qual é o objetivo de determinada situação e quais os passos pra execução. É importante ter um critério de sucesso mediano nesses jogos porque se for muito fácil, fica sem graça, e se for muito difícil de executar ou complicado de entender desmotiva a maioria, aí o grupo da aula pode se dispersar. Geralmente a gente sabe quais jogos que eles mais gostam e quais os parceiros de treino que já tem uma rivalidade nessas disputas. Quanto mais dentro daquela realidade do jogo os alunos da aula estiverem, mais divertido e mais eles aprendem (Professor P).

Quando o objetivo do treino é mais inclusivo, eu acho que a única forma de avaliar com alguma clareza se seu aluno realmente está aprendendo, é por meio de jogos e brincadeiras, porque é muito comum o aluno que é muito cobrado abandonar o treino ou ir treinar em outro lugar, mesmo aqueles que aprendem rápido, a grande maioria está ali porque é obrigado e se não for minimamente divertido é muito fácil ele abandonar (Professor H1).

Na brincadeira o aluno se solta mesmo, conseguimos ver muito claramente se ele assimilou mesmo o que a gente passou, percebemos também o nível de talento que ele tem pro negocio, porque ali na brincadeira o aluno ta entregue complemente, é o instinto dele em ação (Professor R).

Tem tipos de aulas que existem modelos fechados e temos que seguir, por exemplo pra um determinado grupo de militares, mesmo nesse modelo específico de aulas onde as técnicas são passadas por treinamento de repetições divididas em etapas e com todos os alunos fazendo os mesmos movimentos, existe espaço para lúdico, porque vai ter um momento em que o professor vai estar com um grupo num treino de disputa e ali dependendo do jogo de cintura do professor ele faz aquilo ficar mais leve, e muitas vezes é com brincadeiras e jogos, o Jiu-Jitsu é um xadrez humano, é um jogo (Professor M1).

DISCUSSÃO

A presente pesquisa teve como objetivo investigar se a prática lúdica é uma ferramenta auxiliadora no ensino de jiu-jitsu em ambiente militar, e diante dos resultados apresentados acima pode-se acatar a hipótese inicial de que o ensino do Jiu-Jitsu com utilização do método lúdico como um instrumento pedagógico contribui e auxilia de forma positiva com o processo de ensino a aprendizagem desta arte marcial por militares.

Obstáculos para o ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar

Ao analisarmos os discursos dos professores F, P1 e D1, podemos identificar diferentes obstáculos para o ensino de Jiu-Jitsu em ambiente militar, esses obstáculos podem ser de cunho intrapessoal, quando por exemplo o aluno por ter um perfil mais reservado ou tímido, pode se sentir desconfortável ao começar a treinar o Jiu-Jitsu, ou quando o aluno já vem desmotivado por fatores físicos ou mentais. Conforme Lemos et al. (2018) e Nascimento e Coutinho (2020), o desenvolvimento do aspecto lúdico promove maior engajamento e participação do aluno, pois cultivando a criatividade, sensibilidade e afetividade o professor cria um estado interior fértil, potencializando os processos de expressão, comunicação, socialização e construção do conhecimento.

Jiu-Jitsu em ambiente militar versus academia

De acordo com os discursos dos professores A, E, B1, M e H, fica evidente que o fator motivação é um diferencial para o aluno entre os ambientes de academias particulares onde se ensinam Jiu-Jitsu e no ensino de Jiu-jitsu em ambiente militar, e a ludicidade é um fator determinante não só durante as aulas, mas também da forma como o professor interage com o aluno. Fazer o aluno se sentir acolhido, estabelecer um contato mais próximo com o aluno entendendo-o, é um fator de motivação para o aluno e ajuda ao professor entender ainda mais como motiva-lo. Esses discursos vão ao encontro com o que diz (Almeida, 2007), que ensinar brincando não é brincar de ensinar, pois apesar de ludicidade ter uma raiz etimológica vinda do latim clássico onde Ludus, significa jogos, principalmente jogos com bola, o nosso termo ludicidade teve uma evolução semântica, acompanhando as pesquisas de psicomotricidade, a ludicidade é reconhecida como uma característica fundamental do comportamento humano caracterizando-se como uma dinâmica essencial para o bem estar subjetivo.

Como o professor compreende o lúdico

Conforme podemos perceber nos discursos dos professores, o uso do lúdico nas aulas de Jiu-Jitsu é compreendido como uma ferramenta muito proveitosa e amplamente utilizado informalmente e por vezes até inconscientemente, pois além de atrair e prender a atenção do aluno, cria um ambiente de comunicação mais direta entre o professor e os alunos. É interessante salientar como veio a consciência de alguns professores que eles já utilizavam o lúdico nas suas aulas apesar de não perceber.

A ludicidade proporciona a construção do conhecimento de uma forma interessante e agradável, assegurando aos indivíduos a motivação intrínseca necessária para uma boa aprendizagem, trazendo com eles autoconfiança e criatividade, mesmo para aqueles que manifestam alguma dificuldade na sua aprendizagem ou na aquisição do conhecimento (Lemos et al., 2018).

O lúdico, como técnica avaliadora de aprendizado

Podemos perceber por meio dos discursos dos professores que o lúdico auxilia não só no processo de ensino aprendizagem do Jiu-Jitsu em ambiente militar, mas também como ferramenta de avaliação, pois pelo fato de no momento de ludicidade o aluno agir espontaneamente refletindo aquilo que ele assimilou e reproduziu de forma até instintiva. Demo (2009), corrobora com a ideia da espontaneidade auxiliar o processo de avaliação num modelo de ludicidade.

CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo procurar perceber como os treinadores de Jiu-Jitsu, com experiencia de docência em ambiente militar, veem o lúdico como ferramenta auxiliadora no ensino desta modalidade desportiva. Relativamente aos professores e como eles compreendem o método lúdico, ficou evidente que este é uma ferramenta auxiliadora muito utilizada nas aulas, pelo facto do lúdico trazer o aluno para o presente e extrair dele uma necessidade de atenção, promovendo uma espontaneidade, que muitas vezes está diretamente ligada a sensação de prazer. Contribuindo bastante para os níveis positivos de bem-estar subjetivo e interação, entre os alunos e também, com o professor.

Financiamento: nada a declarar.

REFERÊNCIAS

Almeida, P. N. (2007). Língua portuguesa e ludicidade: ensinar brincando não é brincar de ensinar. São Paulo: PUC-SP. [ Links ]

Bardin, H. (2006). Análise de conteúdo (3a ed.). Lisboa: Edições 70. [ Links ]

Carneiro, L. A., & Santos, L. C. (2019). Jiu-Jítsu: Bem-estar emocional e físico dos militares praticantes um estudo no 1° Batalhão de Polícia Militar do Tocantins. Revista Humanidades e Inovação, 6(2), 235-243. [ Links ]

Chizzotti, A. (2006). Pesquisa em ciências humanas e sociais (8a ed.). São Paulo: Cortez. [ Links ]

Demo, P. (2009). Ser professor é cuidar que o aluno aprenda (6a ed.). Porto Alegre: Medição. [ Links ]

Gracie, H. (2010). Gracie Jiu-Jitsu (2a ed.). São Paulo: Saraiva. [ Links ]

Kishimoto, T. M. (2013). Brincar, letramento e infância. In T. M. Kishimoto & J. Oliveira Formosinho (Eds.). Em busca da pedagogia da infância: pertencer e participar (pp. 21-45). Porto Alegre: Penso. [ Links ]

Lakatos, E. M., & Marconi, M. A. (1991). Fundamentos da metodologia ciência. São Paulo: Atlas. [ Links ]

Lemos, J. B., Paz, C. R., Araújo Júnior, A. T., Aranha, A. C. (2018). Jiu-jitsu escolar: motivos para utilização de dinâmicas lúdicas. Motricidade, 14(1S), 183-191. [ Links ]

Nascimento, K. A. L. S., & Coutinho, D. J. G. (2020). A importância do lúdico no processo ensino-aprendizagem. Brazilian Journal of Development, 6(1), 5056-5065. https://doi.org/10.34117/bjdv6n1-364 [ Links ]

Recebido: 07 de Julho de 2021; Aceito: 02 de Outubro de 2021

*Autor correspondente: Al Reef Villas, edíficio 43, apartamento 508 – Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. E-mail: brunocezar7@icloud.com

Conflito de interesses: nada a declarar.

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License