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Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia
versão impressa ISSN 0430-5027
Finisterra no.100 Lisboa dez. 2015
https://doi.org/10.18055/Finis7858
ARTIGO
Finisterra. Biografia de uma revista de geografia (1966-2015)
Finisterra. The biography of a geographical journal (1966-2015).
Maria João Alcoforado1 Maria Fernanda Alegria2Margarida Queirós2 Ricardo A. C. Garcia 2 Paulo Morgado2 Rute Vieira3
1 Directora da Finisterra e investigadora do Centro de estudos Geogr áficos (CEG), Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), Universidade de Lisboa. E-mail: mjalcoforado@campus.ul.pt
2 Membros da Comissão executiva da finisterra e investigadores do CEG/IGOT/ULisboa. E-mail: mfalegria@netcabo.pt; margaridav@campus.ul.pt ; rgarcia@campus.ul.pt; paulo@campus.ul.pt
3 Secretária da Finisterra e bolseira do CEG/IGOT/ULisboa. E-mail: rutevieira@campus.ul.pt
O mundo está agora enleado nas malhas dum equipamento técnico sem precedentes na história. Os benefícios que isto traz para o próprio conhecimento do Globo s ão cada vez mais evidentes e a Geografia deles largamente está aproveitando. [..]Cada vez é mais necessário que a gente de reflex ão se aplique com argúcia em alcançar uma perspectiva de compreensão, de tolerância e de equidade, de que, no meio de perigosas incertezas e de terríveis antinomias, o nosso tempo tanto carece.
(Orlando Ribeiro, Orientação, Finisterra, 1, 1966, p. 9)
RESUMO
Com a publicação do número 100, celebram-se os 50 anos de Finisterra. Revista Portuguesa de Geografia (1966-2015). Neste texto biográfico, depois de um breve enquadramento, que situa o nascimento da revista, reconstitui-se o percurso das suas estruturas organizativas desde o primeiro número, analisam-se os tipos de textos publicados ao longo do tempo e faz-se uma análise minuciosa e ilustrada dos artigos durante os 50 anos de existência (autores, espaços e temas tratados, idiomas, ilustrações). As principais fases do percurso da revista replicam de algum modo aspectos evolutivos da Geografia. A fase de lançamento (1966-1975) da Finisterra, concebida desde início como uma publicação internacional, acompanhou o aumento do número de geógrafos, bem como o confronto de ideias e de correntes de pensamento contemporâneo. No período seguinte, de consolidação (1976-1994), iniciaram-se alterações nas estruturas organizativas e no aspecto gráfico, ao mesmo tempo que se divulgavam novos temas de investigação geográfica. No período de alterações estruturais (1995-1999) criaram-se outros órgãos consultivos externos, novas normas de publicação e diferentes formas de apresentação dos textos. Pode dizer-se que se lançaram as bases para a fase seguinte, estandardização de procedimentos, internacionalização e difusão em acesso aberto (2000-2015). Nestes anos mantiveram-se as preocupações com o controlo de qualidade dos textos e o aumento da difusão da revista, agora facilitada pela era digital. Em todas as fases, foi determinante o papel dos revisores científicos, cujo empenho silencioso, anónimo e gracioso nos apraz destacar nesta celebração dos 100 números da Finisterra. Parafraseando Ruben A. “o geógrafo não cansa, avança”: são estas as perspectivas para a nova fase, que se iniciará em 2016.
Palavras-chave: Finisterra, CEG, Geografia, revista, divulgação, Portugal.
ABSTRACT
With the publication of the 100 th issue, Finisterra - the Portuguese Journal of Geography celebrates its 50th anniversary (1966-2015). In this memoir, after a brief historical overview that begins with the creation of the journal, the organisational structures from the first issue onwards are reconstituted before moving on to conduct a thorough and illustrative analysis of the articles published over the 50 year existence of Finisterra. The main stages of the journal’s journey somehow replicate the evolutionary aspects of Geography. The launch phase (1966-1975) of Finisterra, conceived from the beginning as an international publication, accompanied the increase in the number of geographers, and the confrontation of contemporary ideas and trends. The next period of consolidation (1976-1994), initiated with changes in structure and graphic layout, while simultaneously publishing new geographic research topics. In the period of structural change (1995-1999) other external advisory bodies, new standards of publishing and different ways of presenting texts were established. It can be said that these changes laid the foundation for the next phase, internationalisation and open access (2000-2015). In these years concerns remained with controlling the quality of texts and increasing the journal’s dissemination, now facilitated by the digital age. At every stage, the role of scientific referees has been crucial, whose quiet, anonymous and gracious commitment we would like to highlight in this celebratory 100th issue of Finisterra. Paraphrasing Ruben A. “The geographer does not give up, but moves forward”: these are the prospects for the new phase, which will begin in 2016.
Keywords: Finisterra, CEG, Geography, journal, dissemination, Portugal.
I. ENQUADRAMENTO
Em 1966 sai o primeiro n úmero de Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia, que mantém edição regular e ininterrupta desde então. Muito antes desse ano já Orlando Ribeiro pensava em criar uma revista do Centro de estudos Geográficos (CEG), fundado por ele em Lisboa em 1943. Dessa ideia antiga dão testemunho alguns dos seus contemporâneos, bem como correspondência dirigida a amigos, de que é exemplo uma missiva para Jean Gottmann, de 5 de Setembro de 1943. “L’ année prochaine le Centre lancera une revue, qui serait très heureuse d’avoir votre collaboration. Nous publierons des articles sur la Géographie du Portugal et des colonies mais aussi sur des questions générales. Une revue des tendances de la géographie économique à l’heure actuelle serait du plus haut intérêt.”
Em 1949, terminado o Congresso da União Geográfica internacional, realizado em Lisboa por iniciativa de Orlando Ribeiro, e quando ainda não tinha sido possível lançar a revista, confessava em carta de 20 de Outubro de 1949 ao amigo Mariano feio, futuro colaborador: “se quisermos ultrapassar o quadro da investigação regional [entenda-se nacional], falta-nos bibliografia. A revista seria excelente meio de permuta que faz falta no nosso meio”.
A publicação da revista iniciou-se em 1966. O nome “finisterra” terá surgido a Orlando Ribeiro num passeio pela Galiza, já que a palavra sugere a extremidade ocidental do velho continentei, “onde a terra acaba e o mar come ça”, no dizer de Camõesii.
A vida do CEG e a da Finisterra são, desde o início, indissociá veis do percurso da licenciatura em Geografia da Universidade de Lisboa. Quando o CEG e a Finisterra foram criados, o ensino universitário de Geografia só existia em Lisboa e em Coimbra, com um número de alunos muito reduzido.
As revistas científicas com edi ção ininterrupta são raras em Portugal e no estrangeiroiii. A receptividade a diversas formas de pensar, interagir e trabalhar estava longe de ser regra em Portugal, mesmo no meio universitário. A criação de uma revista científica constituía um acto de coragem. Só uma pessoa decidida e com amplos horizontes se poderia abalançar a semelhante iniciativa. Abrir a ciência e os cientistas ao mundo, não se fechar sobre o País, era uma ideia cara a Orlando Ribeiro e aos outros dois fundadores da Finisterra. Suzanne Daveau tinha trabalhado e leccionado em frança e em vários países africanos, e tinha um espírito livre e aberto a diferentes correntes de pensamento. Ilídio do Amaral, de origem angolana, estudou na Alemanha e tinha convívio frequente com geógrafos de outros países em diversas reuniões científicas internacionais. Assim, a Finisterra afirmar-se-ia, desde o primeiro número, como uma revista internacional, com a colaboração de franceses, italianos, espanhóis, alemães e brasileiros.
Mais tarde, quando a revista j á era conhecida e prestigiada, discutiu-se, numa reunião dos investigadores do CEG, realizada pouco depois do 25 de Abril de 1974, se a Finisterra se deveria desdobrar em duas revistas especializadas tematicamente, separando a Geografia humana da física. Havia então quem defendesse a especialização geográfica, considerando ultrapassada a Geografia até então praticada. Essa separa ção constituía, para alguns, um sinal de mudança e de modernidade. Acabou por prevalecer a opinião de dar continuidade à revista que, no decurso dos 50 anos de existência assinalou publicamente vários aniversários (10, 30, 35 e, agora, 50 anos).
Os primeiros 35 anos da Finisterra estão minuciosamente documentados por Ilídio do Amaral, no número temático sobre a “Paisagem”, destinado a assinalar aquele aniversário (Amaral, 2001)iv. Dar-se-ão aqui mais pormenores sobre os ú ltimos 15 anos e tentar-se-á fazer um balanço global, que possa ser útil aos futuros colaboradores nos vários órgãos da revista.
II. ESTRUTURA ORGANIZATIVA E DIFUSãO
1. Direcção e secretariadoA publica ção de uma revista exige recursos vários e de natureza diversa que, no caso da Finisterra, revista não profissionalizada, se foram improvisando. Não é apenas a vontade de um cientista decidido e prestigiado como Orlando Ribeiro, que lhe consegue dar corpo. é grande a diversidade de tarefas e de funções para se manter a regular publicação de uma revista científica de qualidade. Para apoiar a Direcção foram sendo criadas outras estruturas, à medida das possibilidades do CEG e, também, da imagina ção dos responsáveis mais directos da revista.
Quando a Finisterra nasceu, em 1966, havia apenas a Direcção, constituída por Orlando Ribeiro, Suzanne Daveau e Ilídio do Amaral, e como secretários Carlos Alberto Medeiros e posteriormente Carminda Cavaco. A fundação Calouste Gulbenkian, assegurou o apoio financeiro, que se manteve até 1980. Ilídio do Amaral e António Machado Guerreiro, responsável pela secretaria do CEG e licenciado em românicas (1969) partilharam “as responsabilidades das ac ções práticas e burocráticas para a concretização do projecto” [a edição dos primeiros nú meros da Finisterra] (Amaral, 2001: 15iv). A partir de 1968, a preparação da revista foi, em grande parte, assegurada por Suzanne Daveau, sempre com a colaboração de Machado Guerreiro.
Os três fundadores asseguraram a Direcção de 1966 a 1975 (quadro I, 10 anos, 20 números) e, ainda, de 1976 a 1994, agora apoiados por Carlos Alberto Medeiros e Jorge Gaspar (mais 18 anos e 36 nú meros). Em 1995 iniciou-se uma nova etapa, com um único Director, Carlos Alberto Medeiros, coadjuvado por uma Comissão de redacção (1995-1999, 5 anos, 10 números). A partir de 2000 a direcção ficou a cargo de Maria João alcoforado (2000 – 2015, 16 anos, 32 números).
Para apoiar a Direcção houve desde o início um ou mais “secretários” (1966-1994). O secretariado foi substituído pela “Comissão de redacção” (1995-2009) e, mais tarde, pela “Comiss ão executiva” (desde 2010). Os membros do secretariado, com as suas várias designações posteriores, foram no geral bastante empenhados. Tinham interesses variados dentro do campo da Geografia e contribuíram, ao longo dos anos, com sugestões diversas para o desenvolvimento, a inovação e a difusão da revista.
O quadro I mostra que, ao longo dos anos, muitos investigadores do CEG tiveram funções executivas na publicação da Finisterra. A Direcção tinha a seu cargo a orientação cient ífica da revista, pugnando pela qualidade dos textos, pela sua divulgação no país e no estrangeiro e, em certas alturas, pela obten ção de financiamento. As tarefas de base de secretários/Comissão de redacção/Comissão executiva (conforme as diversas denominações) foram sendo ampliadas com o tempo, incluindo agora também a selecção e contactos com os revisores independentes, edição gráfica, gestão de plataformas digitais e a difusão da Finisterra.
2. Estruturas de apoio à ediçãoA partir de 1986 a Direcção da Finisterra foi apoiada por outras estruturas (quadros quadro II e III). O Conselho de redacção começou por incluir apenas 6 investigadores mas, a partir de 1995, quando Carlos Alberto Medeiros passou a dirigir a revista, a Comissão editorial (que substituiu o Conselho de redacção) passou a agregar, de forma automática, todos os investigadores do CEG com doutoramento (quadro II). Com o tempo verificou-se que esta estrutura, criada com a intenção de implicar mais os investigadores do CEG na edição da revista, não era muito eficaz, acabando por manter-se apenas por inércia. Em 2010, após o reconhecimento formal de 10 “núcleos de investigação” pela fundação para a Ciência e tecnologia (FCT) decidiu-se que o coordenador de cada um deles passava a integrar os “editores de secção”, designação que a partir desse ano substituiu a Comissão editorial. A partir de 2014, os agora designados “Grupos de investigação” reduziram-se para 7, continuando os coordenadores a fazer parte dos “editores de secção”.
Quadro II
Com a direcção de Carlos Alberto Medeiros (1995), foi criada uma primeira “Comissão editorial externa” que incluía investigadores que não pertenciam ao CEG, cujos membros eram consultados sobre a qualidade dos textos, de acordo com o tema e a língua do artigo. A responsabilidade de publicação recaía fortemente sobre o Director e a Comissão de redacção. Na década de 2000, foi iniciado o processo de revisão sistemático por pares e criada a figura de “editor responsável” por cada artigo.ix
Em 2010, os “Consultores” passaram a constituir a “Comissã o editorial externa”, que foi alargada (quadro II), passando a integrar maior número de investigadores estrangeiros. A decisão sobre a escolha dos seus membros foi tomada após consulta aos membros do CEG, que também foram envolvidos na decisão final, a qual foi aprovada pela Comissão Científica desta instituição. Sempre que o tema ou a língua do artigo assim o obrigaram, passaram a ser enviados artigos para revisão também a especialistas nacionais e estrangeiros, que não faziam parte destas comissões. A partir de 2010, a Finisterra passou a contar com uma secretária.x
No que toca ao financiamento houve também altera ções no decurso da vida da revista. Quando, em 1980, a fundação Calouste Gulbenkian deixou de financiar a Finisterra, a sua sobrevivência foi complicada por mais 10 anos, tendo a situação melhorado em 1991-92, com o apoio da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (quadro III). Entre 1993 e 1995, a Finisterra foi financiada pela Junta Nacional de Investigação Científica (JNICT) e a funda ção da Universidade de Lisboa, mas a revista ficou novamente sem apoio entre 1996 e 2000. A Biblioteca nacional também apoiou pontualmente a Finisterra (quadro III). A partir de 2000, o financiamento do CEG passou a ser assegurado pela fundação para a Ciência e tecnologia, sendo votada anualmente, em Comissão Científica do CEG, uma verba para publicações, nas quais se inclui a Finisterra, que também dispõe de receitas próprias (assinaturas e vendas). Embora grande parte do trabalho para a edição da Finisterra seja feita a título gracioso por investigadores do CEG (principalmente os da Direcção e Comissão executiva da Finisterra) e pelos revisores (internos e externos), a Finisterra necessita de verba para despesas de edição, revisão profissional de textos em vários idiomas e ainda despesas de correio.
3. Impressão e distribuição
No decurso da sua já longa existência foram várias as tipografias onde a Finisterra foi impressaxii. Cumprindo uma das suas primeiras premissas, são feitas permutas com diversas revistas, além de ofertas a cientistas e instituições. Há também assinantes, quer a título particular, quer institucional. A situação em 2015 está registada no quadro IV. Embora a principal divulgação da revista impressa seja feita em Portugal, existem permutas e assinaturas de bibliotecas estrangeiras, nomeadamente de Espanha, frança e Alemanha, que mantêm interesse em completar a colecção dos 100 números em papel, embora todos eles estejam disponíveis online desde 2010.
A distribuição foi assegurada pela “Livraria Portugal” entre 1966-1988 (n.º1-45) e pela “Livraria arco íris” entre 1988 e 1994 (46- 58)xiii. A partir de 1995 (59/60), a distribuição passou a ser feita directamente pelo CEG. Antes da vulgarização da internet, a visibilidade cient ífica da Geografia era às vezes assegurada pelos media, por questões de moda ou por acontecimentos ocasionais. é oportuno lembrar quanto a divulgação dos primeiros números da Finisterra deve ao escritor Rúben Andresen Leitão, mais conhecido por Ruben A., que fez sucessivas recensões aos primeiros números (1-10), entre 1966 e 1971 na rubrica “Livros escolhidos” do Diário Popular. A 15 de Setembro de 1966, a propósito do lançamento do 1º número da revista, Ruben A. Escreveu: “a cultura portuguesa contemporânea não pode ficar indiferente ao aparecimento de uma revista deste calibre – facto que tem de ser devidamente assinalado, tanto no aspecto científico, como também nas múltiplas potencialidades que oferece ao leitor comum.” Mais à frente acrescentava: “Há uma investigação feita no espaço e no tempo, regional e global e (…) que evoca tanto a posição europeia e mediterrânea de Portugal, como a sua posição no Globo.” nos anos seguintes, que antecederam o seu desaparecimento prematuro, Ruben A. Vai dando conta do conteúdo dos diversos números da Finisterra, analisando em profundidade os artigos, sobretudo os mais orientados para a Geografia humana, deixando transparecer o seu entusiasmo por certas obras ou novas teorias.
4. Difusão online
A mais ampla difusão registou-se devido à indexação em diversas plataformas, portais de informa ção, bases de dados e índices: Directory of Open Access Journals (DOAJ); SciELO, Dialnet, Latindex, EBSCO – Academic Search Complete, WebQualis (CAPES-A2). Em 2013, a revista passou a fazer parte da base de dados bibliográfica SCOPUS, privilegiada pela fundação para a Ciência e tecnologia (FCT), permitindo que os resumos, citações e artigos publicados sejam automaticamente agregados aos identificadores pessoais dos seus autores, em bases de dados internacionais. A importância destas bases de indexa ção no meio académico contribuiu para atrair mais autores, tendo aumentado o número de textos submetidos para publica ção e o número de leitores. Em 2010, a Finisterra passou também a integrar as plataformas académicas, tal como a Academia.edu e a Researchgate e redes sociais como o Facebook.
Em 2011, completou-se o processo de digitalização da revista, desde o seu primeiro número, com disponibilização em acesso livre, na página electrónica do CEG. Em 2012, a Finisterra foi uma das 10 revistas portuguesas escolhidas para integrar o repositório Científico de acesso aberto de Portugal (RCAAP), uma plataforma electrónica para gestão online dos artigos desde o processo de submissão até à publicação; está em funcionamento desde 2013 e constitui também um excelente motor de busca.
A partir de 2015, os artigos da Finisterra passaram a ter DOI (Digital Object Identifier), atribuído através da agência Cross-Referencexiv e obteve-se a integração da Finisterra na Scielo Citation Index na Web of Science (Thomson Reuters).
III. OS TEXTOS
Analisa-se seguidamente a forma de apresentação dos textos, a evolução do número de páginas e o âmbito espacial e temático dos textos submetidos à Finisterra.
1. Estrutura de apresentação e periodicidade
Desde o primeiro número que a apresentação dos textos na revista é feita em várias secções, mas o seu tipo e número (artigos, notas, recensões, etc.) foi sendo modificada. A organização foi a mesma até 1994 (n.⁰ 58), alterando-se um pouco a partir de então (quadro V). Os artigos continuaram a figurar como primeira rubrica, mas as recensões ficaram separadas das notas a partir desse anoxv, subdividindo-se as recensões em sínteses bibliográficas e actualizações bibliogr áficas. Desapareceram os elementos estatísticos e os documentos para o ensino, que até 1994 alternavam entre si, sendo substituídos por notícias.
A decisão de que as “notícias” passassem a substituir os “elementos estatí sticos” e os “documentos para o ensino” teve a ver com a diminuição de submissões de textos dessa índole, talvez pelo facto do instituto nacional de estatística ter passado a publicar os seus relatórios e por terem surgido revistas específicas para o ensino básico e secundário, nomeadamente a Apogeo, editada pela associação de Professores de Geografia. Por outro lado, o n úmero de reuniões científicas com participação de geógrafos do CEG aumentou de forma tão significativa, que se considerou útil criar uma secção específica para dar conta desses eventos.
O design da capa da Finisterra variou ao longo do tempo (quando V), mantendo sempre, no entanto, a esfera armilar. Inicialmente, esta destacava-se a preto, em fundo cinzento, num papel que deixou de se encontrar no mercado. Em 1995, foi composta nova capa por a. Lopes, então membro da Comissão de redacção, utilizando o tema de um painel de azulejos do Palácio da Pena, conservando a esfera armilar. No decorrer do colóquio “Paisagem”, em 2002, Pedro Calapez fez uma oferta inestimável à Finisterra e ao CEG: várias pinturas de sua autoria, a partir das quais se seleccionou uma para compor a capa que vigora desde 2003 (quadro V). Neste 100º número da Finisterra, foi escolhida outra imagem das 7 anteriormente oferecidas. Toda a colecção será brevemente exposta nas novas instalações do CEG e do instituto de Geografia e Ordenamento do território (IGOT) xvi, em funcionamento desde o início do ano lectivo de 2015-16.
Ao longo do tempo, também se verificaram outras alterações. Os resumos foram localizados no início dos textos (1995), e passaram a apresentar-se títulos de figuras e de quadros na língua em que o texto era escrito e também em inglês (1995). A indicação das ligações institucionais dos autores passou para a página de rosto de cada artigo, com o respectivo endereço electrónico (1992). A periodicidade definida desde o início (um volume por ano, em dois números) tem sido cumprida. De 1966 a 1997 a numeração das páginas dos dois volumes do ano era seguida mas, a partir de 1998, os dois números do ano passaram a ter paginação independente. Foram editados 3 índices decenais (1966-1975), (1976-1985) e (1986-1995), com registo de todos os autores e classificação do conteúdo dos textos por autor, regiões e temas e, em 2002, foi divulgado um CD-Rom com índices por autor (1966-2000), no âmbito do Colóquio “Paisagem”. Hoje em dia essa informação encontra-se disponível na página da revista no RCAAP.
2. Número de páginas
O total de páginas de cada número da revista e das dedicadas a artigos, tem oscilado bastante, embora se note que os primeiros números tinham dimensão menor e mais regular: entre cerca de 150 a 200 páginas, até ao início da dé cada de 1980 (quadro VI). A partir de então os exemplares ultrapassam as 200 páginas, ou mesmo as 250 xix. As páginas dedicadas a artigos aumentaram nas duas últimas décadas, embora tenha diminuído o número de páginas por artigo (de cerca de 30 para uma média de 17), seguindo a tendência generalizada de apresentar artigos mais curtos (quadro VI).
IV. ARTIGOS
Constituindo os artigos a secção principal da Finisterra, segue-se a sua análise sob diversos aspectos: controle de qualidade, autores, idiomas, resumos e tipo de ilustrações. Para não alongar demasiadamente o texto, as “notas”, apesar de frequentemente encerrarem temas de interesse, não foram comtempladas.
1. Controle de qualidade dos artigos
Assegurar a qualidade dos textos publicados foi sempre um imperativo do qual a Finisterra nunca abdicou, mas a maneira de atingir esse propósito foi-se alterando. Até 1996 era principalmente a Direcção (com algum apoio da Comissão de redacção com as suas diversas designações), que garantia a relevância dos manuscritos publicados. Posteriormente a qualidade dos textos passou a ser coadjuvada por “revisores científicos ”, ou seja, investigadores independentes considerados peritos no assunto, escolhidos em reunião da Direcção com a Comissão de redacção (depois Comissão executiva). A Direcção segue todo o processo de supervisão e responsabiliza-se pela decis ão final (publicação ou recusa) e pela revisão das provas em colaboração com os autores. O elevado número de textos submetidos, bem como o tempo que decorre habitualmente entre a submissão e a publicação (ou recusa de edição) levou em 2014 a iniciar o processo por uma triagem prévia dos textos, a cargo da Direcção e da Comissão executiva, com o apoio de um investigador do CEG perito na matéria, para decidir com maior rapidez os que se adaptam aos propósitos da revista e têm qualidade para serem enviados aos revisores científicos. No caso de não-aceitação dos artigos para revisão, os autores são assim rapidamente notificados, por carta da Direcção ou do editor responsável, com a justificação da decisão tomada.
Os textos aprovados para revisão são enviados a dois revisores externos, tendo sido criadas fichas de avaliação para uma aprecia ção escrita e anónima, onde nem revisores nem autores têm conhecimento recíproco (double-blinded). Havendo pareceres contraditórios ou avaliações insuficientemente justificadas, os textos são enviados pela Comissão executiva a um terceiro revisor. Desde 2013 é o “editor responsável” de cada artigo, no âmbito da Comissão executiva, que se encarrega de seguir todo o processo desde a submissão à publicação.
O contributo dos revisores científicos é valiosíssimo para manter a qualidade. Dadas as inúmeras tarefas dos docentes universitários e especialistas a quem recorreremos, o trabalho de revisão é merecedor de grande gratidão por parte dos responsáveis da revista. Recebemos revisões muito pormenorizadas sobre aspectos de conteúdo, organização e forma dos artigos, que são de grande utilidade para a remodelação dos textos, e valiosas para os autores, mesmo que o artigo não seja aceite. Respeitando o anonimato, os nomes dos revisores científicos são publicados em conjunto, apenas de dois em dois anos.
A manutenção da qualidade científica e formal da revista implicou ainda outras iniciativas: a especificação de “normas de publicação”, em português e inglês, com a normalização da dimens ão e da apresentação dos textos e da bibliografia, a obrigatoriedade de figurarem resumos em vários idiomas, a inclusão de t ítulos de figuras e de quadros em inglês, etc. No número 81 (2006) foram efectuados alguns ajustes às nomas de publica ção, que se mantiveram até 2013, data em que a Finisterra foi integrada no RCAAP. A plataforma permite gerir de uma forma mais eficaz o processo de avaliação, agilizando as tarefas da Comissão executiva e dos editores responsáveis, assim como o contacto com os autores.
2. Âmbito espacial dos artigos
Numa revista de Geografia tem interesse perceber quais as áreas geográ ficas a que é dada mais ou menos atenção e verificar se houve alterações no decurso do tempo. Para se analisar o â mbito espacial dos artigos partiu-se dos “ índices regionais” que figuram nos 3 índices decenais publicados: 1966-1975, 1976-1985 e 1986-1995. Para os anos posteriores a 1995 mantiveram-se as mesmas divisões geográficas, com o objectivo de verificar a evolução. Mas tem de se reconhecer que não é fácil identificar os espaços geográficos aos quais a Finisterra tem dado mais ou menos atenção, por várias razões: há textos que não se referem a um espaço geográfico especí fico, como é o caso dos de índole teórica, dos de forte pendor metodológico, ou dos dedicados a pessoas ou instituiçõ es. Há também outros que se referem a espaços sem limites definidos.
Numa análise por país estudado, Portugal (não representado no mapa seguinte) ocupa o 1º lugar. Vêm depois a Espanha, o Brasil, angola e Moçambique (fig. 1a). No fundo, regista-se a orientação que Orlando Ribeiro pretendia: que a revista se consagrasse a temas portugueses, devendo ser também “uma janela aberta para o mundo” (Ribeiro, 1966).
De notar que a situação se alterou ao longo dos anos. Os artigos sobre Portugal ultrapassaram sempre 30 por década, atingindo valores mais elevados entre 19962005. Na última década aumentaram muito os trabalhos sobre vários aspectos da Geografia de Espanha (7 artigos entre 1996/2005 e 25 entre 2006-2015) e do Brasil (3 na primeira década, 9 na última, fig. 1b). Angola, inicialmente objecto de muitos trabalhos, sobretudo por parte de investigadores do CEG, que aí investigaram e leccionaram, deixou praticamente de estar representada a partir de 1985 (só um artigo na década 2006-2015). Pelo contrário, depois de um interregno, Moçambique foi representado com 5 artigos entre 2006 e 2015, frança e Cabo Verde foram sendo esporadicamente contemplados.
Numa apreciação de base espacial mais ampla a ásia ocupa sempre o último lugar a América o penúltimo. As posições relativas da áfrica, europa e Península ibérica alteraram-se no decurso do tempo: áfrica estava à frente da europa e da Península ibérica, tanto entre 1966/1975 como entre 1976/1985, mas a partir de 1986 as posições relativas passam a ser europa, seguida da Península ibérica e da áfrica. Para esta evolução terá pesado a descolonização por um lado, a integração de Portugal na União europeia por outro e, ainda, a crescente globalizaçãoxx.
3. TemasOs temas dos artigos foram analisados com base na classificação usada nos índices referidos anteriormente, que foi adaptada e reorganizada para tornar possível a comparação das diversas décadas. Vários items foram subdivididos para melhor espelhar a evolução (fig. 2). Note-se que as percentagens dos vários grupos temáticos são aproximadas, pois nunca se consegue eliminar completamente a subjectividade da classificação.
Nas 5 décadas em an álise, os temas mais tratados foram de Geografia social e cultural com 72 artigos, seguidos de Geografia urbana, Climatologia e Geomorfologia com perto de 50. Foram publicados 30 artigos sobre Planeamento e desenvolvimento regional, 25 sobre Cartografia e sistemas de informação Geográfica e perto de 20 sobre Biogeografia e Conservação da natureza, Geografia rural e Geografia regional.
Será, no entanto, mais interessante, analisar-se a evolução por década da frequência dos vários temas tratados. No âmbito da Geografia f ísica o número de artigos de Geomorfologia decresceu bastante. A sua importância nos primeiros números da revista estará relacionada com a longa tradição de estudos de Geomorfologia em Portugal (15 artigos na 1ª década); se bem que a sua prática continue a ser relevante no CEG ela já não está tão presente nos artigos submetidos à revista (5 na última dé cada), o que se pode dever à selecção de outras revistas para publicação. Pelo contrário, a Climatologia, com presen ça modesta na altura do aparecimento da revista (5 artigos na primeira década), já que então era pouco praticada no CEG, foi adquirindo peso ao longo das décadas (18 na última). Biogeografia e Conservação da natureza adquiriram mais relevância a partir de 1986, enquanto a Hidrogeografia, mais recente no CEG como tema independente da Geomorfologia, se desenvolveu nas duas últimas décadas.
No caso da Geografia humana, nas primeiras décadas sobressaem os estudos de Geografia urbana e Geografia social e cultural e, com menos artigos, Geografia económica, industrial e de comércio e serviços. Os artigos sobre Geografia da população são mais frequentes na década 1996-2005, diminuindo depois. Vão sempre surgindo artigos sobre temas que são novidade no meio geográfico portuguê s, como a Geografia política e investigações de natureza teórico-metodológica. Nos anos mais recentes, observa-se um grande aumento de artigos de Geografia social e cultural, de Geografia urbana, Planeamento e desenvolvimento regional e sobre a História da Geografia, onde se incluem textos sobre o pensamento geográfico.
Alguns temas começaram por ter grande expressão na revista, mas desapareceram quase completamente nos anos mais recentes (passaram de 10 para 1 artigo por década): Geografia rural e Geografia regional. A diminuição dos estudos de Geografia rural terá relação estreita com o recuo do peso da agricultura na economia portuguesa. A Geografia regional, ligada a uma suposta Geografia clássica da “escola regional francesa”, foi durante décadas encarada como uma corrente ultrapassada por muitos investigadores do CEG. Ela foi substituída por uma Geografia mais moderna e aplicada, que teria expressão no grupo Planeamento e desenvolvimento regional. Quanto à Geografia política, os seus tempos áureos tiveram relação estreita com o período pós 25 de Abril de 1974, quando se começou a reflectir sobre as mudanças políticas e socias desencadeadas por esta revolução.
Os artigos de Cartografia, Detecção remota e sistemas de informação Geográfica (SIG) aumentaram em número até à década 1996-2005, coincidindo com progresso no desenvolvimento dos de Cartografia e SIG, o que terá também relação com os dois números temáticos da Finisterra em 2003 (quadro VII). A Detecção remota era praticada no CEG desde a dé cada 1980, o que se traduziu na publicação de alguns artigos (e também de notas, que não foram contempladas nesta estatí stica). O eclectismo da revista revela-se nos temas das colunas finais, pois no número temático sobre “Paisagem” e no presente sobre o “espaço” (entre outros artigos mais “heterodoxos” que foram aceites devido ao seu interesse), foram publicadas contribui ções que não se enquadram em qualquer das tipologias anteriores, mas que foram consideradas uma mais-valia. Por outro lado, houve nú meros da revista, integral e intencionalmente dedicados a certos temas, ou a certas personalidades (quadro VII), que têm reflexos na distribui ção dos temas tratados.
Nota-se que os números temáticos têm tido forte crescimento. Até 2000 (35 anos) publicaram-se apenas 8, dos quais 2 dedicados a fundadores da revista e 1 a Emmanuel de Martonne; depois desse ano (ou seja em 15 anos) houve 13 números temáticos, 4 dos quais com homenagens a 4 investigadores do CEG.
Os temas tratados na Finisterra revelam assim influê ncias diferenciadas: i) o aparecimento de novas tecnologias que originam abordagens distintas (mudanças técnicas mas também conceptuais ou de especialização temática); ii) o aparecimento de revistas internacionais de temáticas específicas e alteraçõ es no paradigma de avaliação científica; e iii) a importância dos números temáticos, muitos deles resultado de projectos de investigação, revelam a evolução temática da ciência geográfica a nível nacional e internacional.
4. Os autoresEnquanto nos primeiros anos da Finisterra, a Direcção precisava de procurar quem nela publicasse, vive-se agora a situação oposta, com grande afluxo de textos, sendo maior a dificuldade de contar com revisores cientí ficos de qualidade e com disponibilidade. Como se referiu, tem havido grande afluxo de submissões por autores estrangeiros. Salientem-se os casos de Espanha, frança e Brasil. No entanto, a nacionalidade dos autores variou muito ao longo dos anos. Por exemplo, como se observa na figura 3, a participa ção de autores franceses sempre ocorreu, sendo máxima (18%) na década 1996-2005 e decrecendo para 4% na década mais recente. No período inicial tinha atingido 10%. Pelo contrário, a presença de autores espanhóis aumentou regularmente ao longo do tempo, at é alcançar 42% entre 2006 e 2015. Isso é apenas parcialmente devido a um número temático (nº90, quadro VII). Nota-se também um aumento progressivo de autores brasileiros na Finisterra (14% na última década). Os autores publicados de outras nacionalidades decresceram na última década.
5. Idiomas de publicação
Como se referiu, a Finisterra recebeu, desde o início, a colaboração de investigadores estrangeiros. A língua estrangeira dominante foi indiscutivelmente o francês até aos meados da década de 1990, tornando-se depois mais esporádico (fig. 4). O inglês passou ent ão a ser a língua estrangeira dominante. Apesar disso são poucos os ingleses, ou outros anglo-saxónicos, a submeter artigos (fig. 3), à excepção de alguns números temáticos. Publicam em inglês tanto alemães, como nórdicos, asiá ticos e, desde há alguns anos, também portugueses e espanhóis. Isso significa que não se pode estabelecer ligação directa entre nacionalidade dos autores e língua de edição. Esta situação prender-se-á com o facto de actualmente a ci ência de vanguarda e referenciada nos índices internacionais mais conceituados, se exprimir maioritariamente em inglês. Assim, apesar de o português ser a língua dominante, nas últimas duas décadas tem evidenciado uma diminuição em prol do inglês (fig. 4). O espanhol tem estado representado com percentagens bastante irregulares. Nos anos mais recentes ele iguala, ou supera mesmo, o inglês em certos anos (por exemplo, 2010), enquanto o italiano tem presença residual (um artigo em 1977 e outro em 1989).
6. Resumos
Nos primeiros números da revista, os resumos não eram obrigatórios, embora fossem frequentes. Não havia resumos na l íngua do próprio texto, fosse ele português ou francês (as duas línguas então dominantes), já que o francê s era conhecido e praticado por todos portugueses instruídos e tinha forte presença na europa. Ou seja, até à década de 1970, na Finisterra só apareciam resumos em francês, para os textos escritos em português (a maioria) ou noutra língua. O primeiro resumo em inglês apareceu no n.⁰ 9 (1970) num texto de Mariano feio. A primeira excepção à regra de um só resumo acontece com o artigo de Orlando Ribeiro sobre Emmanuel de Martonne, escrito em francês, com resumo nesta língua e em inglês no n. ⁰ 16 (1973). Talvez a intenção de dar a conhecer a um largo público a obra do seu mestre e amigo tivesse pesado na decisão. Embora desde 1970 começasse a ser frequente a presença de resumos duplos, em francês e em inglês, só em 1974 o uso das duas l ínguas passa a ser regra. Resumos em português só esporadicamente figuraram antes do n.⁰ 35 (1983) e resumos sistemáticos na l íngua em que o texto é publicado só ocorrem a partir de 1991. O número de resumos em línguas diferentes cresce muito a partir de 1996. As línguas sistemáticas e obrigatórias são o português, o francês e o inglês. A língua espanhola marca presença crescente nos últimos anos e, nos últimos números da revista, surgiram resumos em árabe e em chin ês, fruto da crescente procura de artigos publicados na Finisterra, por falantes destas línguas.
7. Ilustrações
Ao longo dos seus 50 anos de existência, a Finisterra registou mudanças assinaláveis no modo como a expressão gr áfica se tem efectuado. A figura 5 parece desmentir a tendência actual de valorização da imagem.
Na Finisterra, o n úmero de figuras (mapas e gráficos) variou pouco ao longo do tempo (cerca de 50% da infografia, fig. 5), tendo, no entanto, sofrido uma recess ão na última década (desceu para 40%). A evolução registada tem naturalmente relações estreitas com as mudan ças na maneira de elaborar mapas e gráficos e o fim da secção de desenho do CEG. Apesar do actual uso generalizado de software de desenho, o número de figuras não terá aumentado por várias razões: as exigências de qualidade e rigor da Finisterra em relação às peças gráficas leva a que muitos autores tomem outras opções (por exemplo, apresentação de quadros); a Finisterra, no seu formato analógico, só publica a preto e branco, tornando ilegíveis algumas das figuras enviadas e, embora a versão online possa ter ilustração a cores, isso exige um aumento do consumo de tempo dos autores na execução gráfica e o domínio de softwares avançados. Na Finisterra procura-se, em concordâ ncia com os autores, que os mapas e outras figuras que ilustram os textos submetidos, apresentem melhor qualidade gráfica e cartográfica poss ível. Os quadros têm vindo a crescer: de 10 para 30%, com um aumento maior nas três primeiras décadas. Descida mais precoce e acentuada ocorreu no que diz respeito às fotografias, cuja presença, nos primeiros anos da revista era constante, forte e de qualidade, provavelmente sob o incentivo de Orlando Ribeiro, grande fotógrafo, e dos colegas da sua geração. O fulgor da imagem nos mais diversos campos e a facilidade da sua aquisição talvez tenha levado os investigadores a voltar a utilizá-la como ferramenta geográfica (as fotografias passaram de 5% na década de 1986-95 para quase 30% entre 2006 e 2015).
V. BALANÇO E PERSPECTIVAS
Neste já longo percurso da Finisterra é possível distinguir períodos com características diferentes.
Entre 1966-1975, a fase de lançamento foi marcada pela decisão de criar uma revista de Geografia portuguesa. Poucos investigadores do CEG tinham experiência em colaborar com revistas, e os geógrafos universitários eram muito poucos. Acresce que, nesse período, a Geografia viveu uma fase de mudança de paradigma, de que o aspecto mais saliente foi, porventura, a tentativa de afirmação da chamada nova Geografia, opondo-se à chamada escola regional francesa. No entanto, todos os investigadores do CEG colaboravam na revista, qualquer que fosse a sua perspectiva face à Geografia. O confronto de ideias e a liberdade de as manifestar estão patentes nos artigos publicados. Os textos da revista foram neste período dominados pela Geomorfologia, que os três directores praticavam, e também pela Geografia regional e rural. Portugal era então um país muito marcado pela ruralidade e a escola regional francesa, bem como a bibliografia em francês, dominavam em Portugal.
Seguiram-se duas décadas (1976-1994) de consolidação. Em 1986 cria-se a Comissão de redacção, órg ão consultivo com 6 doutores, todos investigadores do CEG. O conteúdo da revista também sofre alterações, por exemplo nas l ínguas estrangeiras de consulta bibliográfica e nas línguas dos resumos. O francês, dominante até então, primeiro coexiste com o inglês, mas depois cede a primazia. Os temas dominantes nos artigos também se alteram: diminui a presença da Geografia rural e da regional. Os estudos climáticos sobressaem, mantendo a Geomorfologia lugar de destaque. Os artigos mais ligados aos aspectos humanos da Geografia cobrem áreas extremamente variadas. Sobressai o grande conjunto Geografia urbana, Geografia económica, Geografia do comércio e servi ços, Geografia industrial e aparecem temas que são novidade no meio geográfico português, como a Geografia política e investigações de natureza teórico-metodológica. Certos aspectos de natureza gráfica começam a mudar na revista: ainda que a capa continue praticamente inalterada, mudam os tipos de ilustrações: as fotografias diminuem fortemente e a presença de mapas e de gráficos torna-se bastante flutuante.
O período entre 1995-1999 foi de numerosas alterações estruturais. Em 1995, foi criado o primeiro órgão consultivo externo, com 13 investigadores que não eram membros do CEG, 6 dos quais estrangeiros. No mesmo ano muda a estrutura de apresentação dos textos, com o desaparecimento dos “elementos estatísticos”, que alternavam com a rubrica “Documentos para o ensino”, e a sua substituição pela secção “notícias”. Também as “ notas” foram autonomizadas das “recensões”. As “normas de Publicação”, que existiam desde 1992 em portugu ês, passaram em 1998 a figurar também em inglês. Todos os títulos de figuras e de quadros passam a ser traduzidos para inglês em 1995, qualquer que fosse a língua de publicação. Deu-se também início a novo processo de apreciação da qualidade de textos, que seria aprofundado e melhorado nos anos seguintes. De facto, a Comissão editorial criada em 1995, em substituição do Conselho de redacção, tinha passado a incluir, de forma automática, todos os investigadores que concluíssem o doutoramento. O elevado número de membros deste órgão, bem como o aumento do número de textos submetidos, obrigariam a breve trecho a profundas alterações, para que a qualidade científica da revista pudesse ser mantida.
Observa-se um grande aumento de artigos de Geografia social e cultural e toma preponderância a História da Geografia, onde se incluem textos sobre o pensamento geográfico. Entre 2000 e 2015, aposta-se na estandardização de procedimentos e na difusão em acesso aberto. As grandes mudanças num mundo que se diz globalizado tiveram repercussões na Finisterra. A colocação de todos dos artigos online, desde o primeiro número da revista xxii, para consulta sem qualquer reserva, levou naturalmente à sua ampla divulgação. A ubiquidade da internet veio permitir uma maior visibilidade. O empenho colocado na integração da revista no maior número possível de listas de indexa ção – presentemente a Scielo Citation Index, Scopus, WebQualis – (Capes A2), DOAJ, Dialnet, Ebsco, e Latindex –, é uma exigência do meio académico, que é tão imperiosa quanto vantajosa acatar. Na revista publicam não só membros do CEG, mas também investigadores nacionais e estrangeiros de outros institutos e Universidades, muitos deles em inglês, língua que passou também a ser escolha frequente dos autores de diversas nacionalidades. Nesta última década nota-se grande incremento de artigos de Geografia social e cultural (30), mas também de Planeamento e desenvolvimento regional, Geografia urbana e de Climatologia.
A preservação da qualidade científica tem sido uma preocupação constante. Do elevado número de textos submetidos, nos últimos 10 anos foram aceites cerca de 60%, alguns dos quais após modifica ções “substanciais” solicitadas aos autores. O período de tempo que decorre entre a chegada de um texto e a sua aceita ção final (de conteúdo e formal) depende de muitos factores, mas o objectivo dos actuais órgãos executivos é diminuir cada vez mais este lapso de tempo. Não é demais salientar o trabalho dos revisores científicos que, contribuem para a qualidade dos textos publicados. Na tentativa de modernização dos processos de edição da revista, aliás à semelhança de outras revistas internacionais, utiliza-se a plataforma (RCAAPxxii) para submissão dos artigos e diálogo com autores e revisores.
As páginas da Finisterra ficaram desde o início “abertas a todos os que, entre nós, cultivem estudos geográficos ou mat érias afins, na margem necessariamente imprecisa, em que as Ciências se tocam, se recobrem e se confundem” (Ribeiro, 1966: 5). Foi a vontade, o empenho e a dedicação das sucessivas direcções, de todos os colaboradores e de todos os que nela publicaram ao longo dos seus 50 anos de existência, que permitiu não apenas a existência mas sobretudo a evolução e modernização da Finisterra, que procura manter o interesse, o rigor científico e a inovação nos textos publicados. Passados 51 anos após a sua fundação, inicia-se uma nova etapa da vida da Finisterra. Parafraseando novamente Rúben A. Podemos afirmar com convic ção “o geógrafo não cansa, avança” (Diário Popular, 20-2-1969).
BIBLIOGRAFIA
Amaral, I. do (2001) - Finisterra. Uma revista com 35 anos de prestígio. Finisterra-Revista Portuguesa de Geografia, XXXVI (72), 11-25. [ Links ]
Ribeiro, O. (1966), Orientação. Finisterra-Revista Portuguesa de Geografia, I (1), 9. [ Links ]
NOTAS
iO ponto mais ocidental da europa chegou a ser considerado o Cabo finisterra na Galiza (42° 55° 28° n, 9° 17 ° 29° W, ou em coordenadas decimais lat. 42.883333; long. -9.26666), mas na realidade é o Cabo da roca em Portugal, cerca de 16,5 km mais a oeste (38° 47° 0° n, 9° 30° 0° W, ou lat. 38.783333; long. -9.5).
iiVeio a descobrir-se que, em 1989, fora criada outra revista chamada Finisterra. Uma revista de reflexão e crítica. Como a Finisterra geográfica nunca se tinha preocupado com o registo do título e o promotor da revista literária, Eduardo Lourenço, desconhecia a existência de outra Finisterra, esse nome foi por ele escolhido e formalmente registado. Só em 1991 a Finisterra. Revista Portuguesa de Geografia conseguiria registar este título, felizmente sem ter de o alterar, por se ter atendido ao subtítulo.
iiiUma das mais antigas é o Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, com início em 1876. O Boletim do Centro de Estudos Geográficos de Coimbra foi publicado entre 1950 e 1967, substituído só em 1983 pelos Cadernos de Geografia. Outras revistas científicas com publica ção regular são a Biblos da Universidade de Coimbra, desde 1927, e a Análise Social do instituto de Ciê ncias sociais, a partir de 1963. Os serviços Geológicos divulgam o Boletim da Sociedade Geológica de Portugal desde 1941, e as Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal desde 1947, edições que deveram muito à iniciativa de Carlos Teixeira, contemporâneo e amigo de Orlando Ribeiro. A revista Garcia da Orta, publicada pela Junta das Missões Geográficas e de investigações do Ultramar (depois Instituto de Investigação Científica Tropical), teve início em 1953. De entre as revistas de Geografia estrangeiras mais antigas, contam-se Die Erde, editada na Alemanha desde 1853, a Geographical Review, publicada nos estados Unidos desde há precisamente um século (substituindo o Bulletin of the American Geographical Society, fundado em 1859) e as Annales de Géographie, difundidos em Paris desde 1891.
ivAmaral, I. Do (2001) – Finisterra. Uma revista com 35 anos de prestígio. Finisterra-Revista Portuguesa de Geografia, XXXVI(72):11-25.
v Entre 1992 e 1994 (nú meros 53/54 a 58) a coordenadora, Maria João alcoforado, foi designada “secretária”; as outras pessoas que com ela colaboravam eram membros do “secretariado”.
viA lista com todos os nomes está registada no n.º 59/60 de 1995.
viiSubstituído por Herculano Cachinho no n.º 92 (2011).
viiiSubstituído por Isabel Margarida André no n.º 91 (2011).
ixOs 2 investigadores obrigatoriamente consultados para fazerem a avalia ção podem pertencer ou não à “Comissão editorial externa”. A decisão depende da disponibilidade dos investigadores consultados (que por vezes recusam ou, o que é pior, não respondem) e da tentativa de se escolher o melhor especialista familiarizado com o tema e a língua em que o texto é submetido. Este modo de proceder segue de perto o processo adoptado por grande parte das revistas científicas que integram as mais prestigiadas listas de indexação, em muitas das quais a Finisterra passou a figurar, como se regista na contracapa.
x Rute Vieira, licenciada em Geografia pela faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e bolseira da FCT trabalha a tempo parcial para a finisterra. O tempo de que dispõe é escasso para as tarefas que lhe competem. Esta sobrecarga tem vindo a aumentar com o incremento acentuado de textos submetidos e com a integração da revista em várias indexações internacionais.
xiAs instituições que deram apoio financeiro estão indicadas na contra-capa.
xiiAlcobacense (1966-1991); Colibri (1992-1998); Barbosa e Xavier (1999-2005); Textype (2006-2010); Europress (2011-2015).
xiiiExclui-se o número 53/54 (1992) onde não figura a distribuidora.
xivO DOI é o identificador de documentos disponíveis online, que surge com a necessidade de segurança dos objectos, especialmente publica ções em revistas e obras protegidas por copyright, muitas das quais localizadas em bibliotecas virtuais. A grande vantagem deste identificador prende-se com o facto de os objectos digitais se tornarem únicos e acessíveis, independentemente das configurações de rede, mudanças no nome do servidor ou até a sua extinção. Adicionalmente, o “registo” de propriedade é imediatamente atribuído não estando sujeito a atrasos ou problemas de publicação na edição em formato analó gico.
xv A partir de 2012 desaparece a rubrica “notas”, mantendo-se no restante a organização de 2011.
xviInstituto de Geografia e Ordenamento do Território, Edifício IGOT - Rua Branca Edmée Marques 1600-276 Lisboa, Portugal.
xviiA esfera armilar da capa da finisterra é a do frontispício do chamado Guia náutico de é vora (c. 1516). O desenho foi usado sobre fundo cinzento de 1966 a 1994, (n.º 1-52) e sobre fundo azul (capa de Pedro Calapez) a partir de 2003 (n.º 75) até ao presente. Entre 1995-2002 (n.º 53/54-74), o desenho da esfera ficou diluído num painel de azulejos existente no Palácio da Pena, em Sintra. (capa de A. Lopes).
xviiiO n.º 77 (2004) apresenta o seguinte sumário: “articles, notes, Book reviews, news”.
xixO que se deve, em parte, a ter-se passado a usar o mesmo tipo de letra em todo o número, quando até então os artigos tinham corpo maior do que as restantes rubricas.
xxCom a colaboração de Paulo Morgado, João Vasconcelos, Jorge Trindade e Ricardo Garcia, além do apoio da Biblioteca Nacional de Portugal, Fundação da Universidade Lisboa e Faculdade Letras da Universidade de Lisboa.
xxiTendo-se começado por disponibilizar os números mais recentes, foi-se progressivamente recuando e, em finais de 2011, todos os artigos estavam on-line com acesso aberto a toda a comunidade.
xxiiA Finisterra foi uma das 10 revistas portuguesas seleccionadas para fazer parte do “RCAAP” (repositório Científico de acesso aberto de Portugal), promovido pela UMIC – agência para a sociedade do Conhecimento e operacionalizado pela funda ção para a Computação Científica nacional (FCCN) (http://projecto.RCAAP.pt/index.php/lang-pt/sobre-o-rcaap/enquadramento) com o apoio da Universidade do Minho. http://revistas.RCAAP.pt/finisterra/