INTRODUÇÃO
O maracujazeiro é uma planta tropical nativa da América do Sul, mais especificamente do Brasil, Argentina e Paraguai, da família Passifloraceae, que possui 16 gêneros e cerca de 700 espécies, das quais 144 são do Brasil, destacando-se como o principal produtor e exportador de frutos de maracujá (Figueiredo et al., 2016). A produção nacional em 2018 foi de 602.651 toneladas, sendo a região Nordeste responsável por 62,3% dessa produção, destacando-se o estado da Bahia, seguido do Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pernambuco e Paraíba com uma área colhida de 29.953 ha e produção 375.541 toneladas (IBGE, 2019).
Dentre os maracujazeiros cultivados no Brasil, destaca-se o maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis Sims) com produção voltada para exportação, principalmente nos países da Europa e Estados Unidos, onde os consumidores apreciam frutos menores e menos ácidos, despertando interesse dos produtores, a partir de seleções que possuam as características comerciais desejáveis (Meletti, 2005; Pacheco et al., 2014). A cultivar BRS Rubi do Cerrado se destaca com produtividade média de 50 t/ha no primeiro ano de produção e resistência a algumas doenças (EMBRAPA, 2014).
No Nordeste as principais regiões produtoras estão localizadas na região semiárida onde as águas utilizadas na irrigação normalmente possuem elevadas concentrações de sais, podendo limitar o crescimento e a produção das culturas, devido à redução do potencial osmótico na solução do solo, a toxicidade iônica, os desequilíbrios nutricionais ou ambos, em razão da acumulação excessiva de íons nos tecidos vegetais, especialmente cloro e sódio (Gadelha et al., 2017; Wani et al., 2019).
Na literatura são incipientes os estudos que têm sido realizados buscando avaliar a tolerância do maracujazeiro-azedo às condições de salinidade da água e/ou do solo; em geral, entre seus efeitos, a salinidade retarda e reduz a emergência, inibe o crescimento; compromete, ainda, a qualidade de mudas, quando as plantas são irrigadas com águas de elevada salinidade (Montaña et al., 2014; Freire e Nascimento, 2018). Entretanto, os efeitos do estresse salino sobre as plantas pode variar em função da cultivar, espécie, condições climáticas, manejo de irrigação e/ou adubação e da fase de desenvolvimento das plantas (Shrivastava e Kumar, 2015).
Uma das alternativas que podem minimizar os efeitos deletérios do estresse salino sobre as plantas é a adubação nitrogenada, pois existem correlações positivas entre a capacidade fotossintética das folhas e seu conteúdo de N, utilizado na síntese de componentes de aparato fotossintético e síntese de enzimas relacionadas à fotossíntese; podendo também reduzir os danos da salinidade (Xiong et al., 2013; Ibrahim et al., 2018). Abdelgadir et al. (2010) relataram que o N aplicado alivia parcialmente os efeitos adversos da salinidade na fotossíntese, respiração, fixação de N e metabolismo de carboidratos por meio do aumento na área foliar superficial, ajudando a melhorar a tolerância das plantas a salinidade.
Diante da evidente necessidade do uso de águas com elevadas condutividades elétricas e da carência de informações sobre a relação entre a salinidade e fertilização nitrogenada sobre o maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerro sob condições semiáridas, objetivou-se, com este trabalho, avaliar o acúmulo de fitomassas e a qualidade das mudas de maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerrado em função da irrigação com águas salinas e doses de nitrogênio durante a fase de formação de mudas.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no período de dezembro de 2019 a março de 2020 em casa de vegetação, na área experimental do Centro de Ciências Tecnologia Agroalimentar - CCTA da Universidade Federal de Campina Grande- UFCG, localizada no município de Pombal, Paraíba, nas coordenadas geográficas 06°46’20” S 37°48’01” O e altitude de 1194 m.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com os tratamentos dispostos em esquema fatorial 5 × 4, correspondendo a cinco níveis de condutividade elétrica da água de irrigação - CEa (0,3; 1,1; 1,9; 2,7 e 3,5 dS m-1) e quatro doses de nitrogênio - DN [50, 75, 100 e 125 mg de N kg-1 de solo conforme dose recomendada (100 mg N kg-1 de solo) para ensaios em vasos por Novais et al. (1991)], com quatro repetições e três plantas por parcela, totalizando 240 plantas. A dose de N referente a 100% da recomendação correspondeu a 100 mg de N kg-1 de solo.
Nesta pesquisa, utilizaram-se sementes do maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerrado. É uma cultivar que possui frutos de casca vermelha ou arroxeada com peso de 120 a 300 gramas (média de 170 g), com teor de sólidos solúveis de 13 a 15 °Brix (média de 14 °Brix) e rendimento de suco em torno de 35%. Além disso, possui resistência às principais doenças da cultura (virose, bacteriose, antracnose e verrugose) e elevada produtividade (EMBRAPA, 2014).
Para obtenção das mudas, foram semeadas duas sementes por sacola de polietileno com capacidade para 1,5 dm3, preenchidas com substrato como uma mistura de Neossolo Regolítico (Entisol) de textura arenosa, com proporção de 75% de solo, 25% de areia e 25% de composto orgânico (esterco bovino) na proporção de 2:1:1 (em base de volume), cujas características químicas e físicas (Quadro 1) foram obtidas conforme metodologia de Teixeira et al. (2017). Sendo realizado o desbaste aos 10 dias após a semeadura (DAS), selecionando apenas uma planta por sacola. Com as sacolas disposta sobre bancada metálica na altura de 0,8 m do solo.
Características químicas | ||||||||
pH H2O) | MO | P | K+ | Na+ | Ca2+ | Mg2+ | Al3+ | H+ |
(1:2,5) | g kg-1 | (mg kg-1) | cmolc kg-1 | |||||
5,58 | 2,93 | 39,2 | 0,23 | 1,64 | 9,07 | 2,78 | 0,0 | 8,61 |
Características químicas | Características físicas | |||||||
CEes | CTC | RAS | PST | Fração granulométrica (g kg-1) | Umidade (dag kg-1) | |||
(dS m-1) | cmolc kg-1 | (mmol L-1) | % | Areia | Silte | Argila | 33,42 | 1519,5 |
kPa | ||||||||
2,15 | 22,33 | 0,67 | 7,34 | 572,7 | 100,7 | 326,6 | 25,91 | 12,96 |
pH - Potencial hidrogeniônico, MO - Matéria orgânica: Digestão Úmida Walkley-Black; Ca2+ e Mg2+ extraídos com KCl 1 M pH 7,0; Na+ e K+ extraídos utilizando-se NH4OAc 1 M pH 7,0; Al3++H+ extraídos utilizando-se CaOAc 0,5 M pH 7,0; CEes - Condutividade elétrica do extrato de saturação; CTC - Capacidade de troca catiônica; RAS - Relação de adsorção de sódio do extrato de saturação; PST - Percentagem de sódio trocável; 1,2 referindo à capacidade de campo e ponto de murchamento permanente.
A água de menor condutividade elétrica (0,3 dS m-1) foi proveniente do sistema de abastecimento local, já os demais níveis de condutividade elétrica da água de irrigação (1,1; 1,9; 2,7 e 3,5 dS m-1), foram preparados a partir da dissolução do cloreto de sódio (NaCl) na água de abastecimento, considerando-se a relação entre CEa e concentração de sais (Richards, 1954), conforme a Eq. 1:
Em que: C = Concentração de sais a ser adicionada (mmolc L-1) e CEa = Condutividade elétrica da água (dS m-1)
Após preparação, as águas foram armazenadas em recipientes plásticos de 200 L, um para cada nível de CEa estudado, devidamente protegidos, evitando-se a evaporação, a entrada de água de chuva e a contaminação com materiais que pudessem comprometer sua qualidade.
Por ocasião da semeadura, elevou o teor de umidade do solo ao nível correspondente a capacidade máxima de retenção de água. Aos 30 dias após a semeadura (DAS) foi iniciada a irrigação conforme os distintos níveis salinos, quando surgiu a primeira folha verdadeira, sendo a quantidade aplicada de acordo com a necessidade hídrica das plantas, determinada pelo balanço hídrico, obtendo como base os seguintes termos, volume consumido (vc), considerando o volume de água aplicado as plantas (va) no dia anterior; e o volume drenado (vd), quantificado na manhã do dia seguinte, para fração de lixiviação (FL) de 20% a cada 15 dias, cujo volume de água a ser aplicado nas plantas foi determinado pela Eq. 2:
As doses de nitrogênio foram fornecidas utilizando-se ureia (45% d-e N), conforme recomendação de Novais et al. (1991), sendo aplicado 0,015, 0,0234, 0,0315, 0,0391 g de ureia por planta para as doses de 50, 75, 100, 125 mg de N kg-1 de solo, respectivamente, com início aos 30 dias após a semeadura, divididas em quatro aplicações realizadas semanalmente. As adubações com fósforo e potássio foram realizadas segundo a recomendação de adubação para ensaios em vasos, contida em Novais et al. (1991), colocando-se as quantidades de 300 e 150 mg de P2O5 e K2O kg-1 de solo, nas formas de fosfato monoamônico - MAP (52% de P2O5) e cloreto de potássio (60% K2O); divididos em quatro aplicações em cobertura, via água de irrigação, aos 30, 40, 50 e 60 dias após a semeadura.
Ressalta-se que o nitrogênio fornecido pelo MAP foi descontado em todas as doses de N estudadas, além disso, nas aplicações dos nutrientes era utilizada água de baixa condutividade elétrica (0,3 dS m-1). Para melhorar a nutrição das plantas e suprir possíveis deficiências de micronutrientes foi realizada adubação foliar aos 45 DAS com um produto comercial contendo: Mg - 1,2%; B - 0,85%; Zn - 4,2%; Fe - 3,4%; Mn - 3,2%; Cu - 0,5% e Mo -0,06%.
Avaliaram-se aos 70 dias após a semeadura (DAS), a fitomassa seca de folhas (FSF), fitomassa seca do caule (FSC), fitomassa seca de raízes (FSR), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), fitomassa seca total (FST), relação raiz/parte aérea (R/PA), déficit de saturação hídrica (DSH), suculência foliar (SUC) e índice de qualidade de Dickson (IQD). Para a determinação das fitomassas as plantas foram separadas em folha, caule e raiz e em seguida acondicionadas em saco de papel, e posteriormente, submetidas à secagem em estufa de circulação forçada a temperatura de 65o C. Após a secagem, as amostras foram pesadas, sendo determinado a fitomassa seca das folhas (FSF), caule (FSC), cujo somatório resultou na fitomassa da parte aérea (FSPA); e fitomassa seca da raiz (FSR), sendo mensurada a fitomassa seca total (FST) pelo somatório da FSPA e FSR.
Para analisar o déficit de saturação hídrica (DSH) do maracujazeiro-azedo foram coletadas de três folhas, totalmente expandida, imediatamente após a coleta das folhas, foram perfurados discos foliares (113 mm2) sendo pesados em balança analítica, para obtenção da massa fresca (Mf); em seguida, as amostras foram imersas em água destilada, colocadas em sacos plásticos, e acondicionadas por 90 minutos, obtendo-se a fitomassa túrgida (MT); posteriormente, as amostras foram levadas à estufa com circulação de ar a temperatura de 65 ºC para obtenção da fitomassa seca (MS) durante 24 horas, utilizando-se a metodologia de Lima et al. (2015), conforme Eq. 3:
Em que: DSH = déficit de saturação hídrica (%); MF= fitomassa fresca de folhas (g); MT= fitomassa túrgida (g) e MS = fitomassa seca (g)
A suculência foliar (SUC) foi determinada de acordo com a metodologia de Mantovani (1999), conforme Eq. 4:
Em que: AF é a área foliar total (cm2); MSF é a massa seca das folhas (g) e MFF é a massa fresca das folhas (g).
A qualidade das mudas de maracujazeiro-azedo foi avaliada através do índice de qualidade de Dickson (IQD), considerando-se a altura de plants (AP), o diâmetro do caule (DC), a fitomassa seca total (FST), a fitomassa seca da parte aérea (FSPA) e a fitomassa seca de raízes (FSR), conforme Dickson et al. (1960) e calculado por meio da Eq. 5:
Os dados obtidos foram avaliados mediante análise de variância pelo teste F ao nível de 0,05 e 0,01 de probabilidade e nos casos de significância realizou-se análise de regressão polinomial linear e quadrática para os fatores níveis de salinidade da água e doses de nitrogênio utilizando o software estatístico SISVAR (Ferreira, 2019).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo da interação entre os fatores (NS × DN) sobre as variáveis fitomassas seca de folhas (FSF), fitomassa seca de raiz (FSR), fitomassa seca parte aérea (FSPA), fitomassa seca total (FST), relação raiz/parte aérea (R/PA) (Quadro 2). De forma isolada, as doses de nitrogênio não exerceram influência significativa no acúmulo de fitomassas do maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do cerrado. Os níveis de salinidade da água de irrigação proporcionaram efeito significativo sobre o acúmulo de fitomassas, conforme observado por Moura et al. (2017), avaliando os efeitos da salinidade da água no crescimento e formação de mudas de três espécies do gênero Passiflora.
Fonte de variação | GL | Quadrado Médio | |||||
FSF | FSC1 | FSR | FSPA | FST | R/PA1 | ||
Níveis salinos (NS) | 4 | 2,3420** | 1,3947* | 2,6093** | 7,2176** | 17,3744** | 0,0751** |
Reg. Linear | 1 | 5,4908** | 4,6751** | 7,6082** | 20,3490** | 52,8195** | 0,1995** |
Reg. Quadrática | 1 | 0,6798ns | 0,1147ns | 2,6906** | 1,3547ns | 7,8338** | 0,0868** |
Doses de N (DN) | 3 | 0,3750 ns | 0,0154 ns | 0,6122** | 0,3241ns | 1,7172ns | 0,0352ns |
Reg. Linear | 1 | 0,6699ns | 0,0064ns | 1,0909** | 0,5490ns | 3,1743* | 0,0492** |
Reg. Quadrática | 1 | 0,1353ns | 0,0174ns | 0,0086ns | 0,2486ns | 0,3551ns | 0,0008ns |
Interação (NS × DN) | 12 | 0,7901* | 0,2208 ns | 0,3005** | 1,5263** | 2,0531* | 0,0222* |
Blocos | 3 | 1,1914 ns | 0,0294ns | 0,0143ns | 1,5509ns | 1,4077ns | 0,0114ns |
Resíduo | 57 | 0,2071 | 0,2227 | 0,0398 | 0,5586 | 0,5523 | 0,0056 |
CV (%) | 19,15 | 15,26 | 22,14 | 18,68 | 15,16 | 15,91 | |
Média geral | 2,3763 | 1,6252 | 0,9013 | 4,0015 | 4,9026 | 0,4621 |
ns, **, *, não significativo, significativo a p < 0,01 e p < 0,05, respectivamente. 1para dados transformados em √x
A fitomassa seca de folhas (FSF) das plantas de maracujazeiro-azedo, cujos dados apresentaram melhor ajuste as equações quadráticas (Figura 1A), verifica-se que as plantas que receberam as doses de N de 75, 100 e 125 mg de N kg-1 de solo e estavam sob irrigação com água de CEa de 2,0; 1,3 e 1,5 dS m-1 propiciaram os maiores valores de FSF com 2,87; 2,74 e 2,87 g planta-1 respectivamente. Não houve ajuste significativo dos níveis salinos para fitomassa seca de folhas das plantas submetidas à dose de nitrogênio de 50 mg de N kg-1 de solo, sendo a média de 2,51 g planta-1. Quando a concentração de sais aumenta ocorre redução no potencial osmótico da solução do solo, comprometendo a absorção de água, interferindo nas relações hídricas das plantas e no balanço de nutrientes (Lima et al., 2020). Além disso, o excesso de íons também ocasiona danos nas folhas, reduzindo o crescimento das plantas e, consequentemente, a distribuição de biomassa (Lima Neto et al., 2016). Por outro lado, o incremento das doses de N estimulou a taxa fotossintética e a produção de biomassa foliar, exercendo um efeito positivo no crescimento e na qualidade de suas mudas (Freitas et al., 2012).
A fitomassa seca do caule do maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerrado foi reduzida significativamente com o aumento dos níveis de salinidade (Figura 1B), à medida que os níveis de salinidade da água aumentaram, a FSC diminuiu linearmente, com uma redução de 10,48% por aumento unitário da CEa, ou seja, plantas de maracujazeiro-azedo cultivadas sob irrigação com água com CEa de 3,5 dS m-1 tiveram uma diminuição 34,67% na FSC, em comparação com aquelas irrigadas com CEa de 0,3 dS m-1. Essa redução na FSC pode estar relacionada com os componentes iônico e osmótico do estresse salino, sendo que a baixa disponibilidade de água provoca o fechamento dos estômatos e, reduz a assimilação do CO2, afetando diretamente a produção de fitomassa das plantas (Shankar et al., 2016). Andrade et al. (2018) avaliando a emergência, fisiologia e o crescimento de mudas de duas variedades de maracujazeiro sob irrigação com águas salinas (CEa: 0,2; 2,2; 4,2 e 6,2 dS m-1), observaram redução de 61% na fitomassa seca do caule das plantas submetidas à irrigação com o aumento da condutividade elétrica de 0,2 dS m-1 para 6,2 dS m-1.
A fitomassa seca de raízes do maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerrado decresceu de forma quadrática (Figura 2A) nas plantas submetidas às doses de 50, 75, 100 e 125 mg de N kg-1 de solo, cujo, obtendo-se os maiores valores estimados de 1,80; 1,68; 1,50 e 1,22 g planta-1 quando as plantas foram irrigadas com condutividade elétrica de 0,3 dS m-1, a partir desse nível ocorreram reduções na FSR em todas as doses de nitrogênio estudadas. Deste modo, fica evidenciado que o efeito do estresse salino sobre a FSR do maracujazeiro-azedo foi intensificado à medida que se elevaram os níveis salinos da água de irrigação e doses de nitrogênio. Tal situação pode ser atribuída ao fato de que altos teores de sais na água de irrigação podem causar desequilíbrio hormonal nas plantas, bem como, aumentar a produção de espécies reativas de oxigênio que afetam a expansão e divisão celular e, consequentemente, comprometer o crescimento e desenvolvimento das plantas (Oliveira et al., 2015). Em trabalho sobre o crescimento inicial de genótipos de maracujazeiro amarelo irrigados com águas salinas (CEa variando de 0,3 a 8,0 dS m-1), Bezerra et al. (2014), também observaram redução no acúmulo de fitomassa das raízes de 30,6% e 20,5% na condutividade elétrica da água de 8,0 dS m-1, para o cv. BRS Sol do Cerrado’ e cv. Redondo Amarelo’, respectivamente.
A fitomassa seca da parte aérea do maracujazeiro-azedo (Figura 2B) decresceu de forma linear quando adubado com 100 mg de N kg-1 de solo, cuja diminuição foi de 13,52% por aumento unitário da CEa, ou seja, declínio de 45,10% na fitomassa seca da parte aérea das plantas submetidas à CEa de 3,5 dS m-1 em relação às irrigadas com CEa de 0,3 dS m-1. Quanto às doses de 50, 75 e 125 mg de N kg-1 de solo e estavam sob irrigação com água de CEa de 0,3; 0,3 e 1,1 dS m-1 propiciaram os maiores valores de FSPA (4,88; 5,08 e 4,54 g planta-1) respectivamente. O maior nível salino tolerado pelo maracujazeiro-azedo quando submetido à dose de 125 mg de N kg-1 de solo reflete uma possível resposta aclimatativa das plantas de maracujazeiro-azedo em resposta ao efeito mitigador do nitrogênio. Nesse contexto, a adubação nitrogenada foi uma importante estratégia, capaz de favorecer a aquisição de nutrientes pelas plantas em condições salinas (Dias et al., 2020), devido ao nitrogênio ter estrutural e fazer parte de diversos compostos orgânicos vitais para as plantas, como aminoácidos, proteínas e prolina, entre outros, aumentando a capacidade de ajuste osmótico das plantas à salinidade e consequentemente a tolerância da cultura ao estresse salino (Masouleh et al., 2019).
De acordo com Del Amor et al. (2000) há evidências de competição na absorção de nitrato e cloreto, de modo que um aumento na concentração de nitrato na zona radicular pode diminuir a absorção de cloreto pela planta. Nesse contexto, vários estudos com maracujazeiro indicam um efeito positivo da interação entre salinidade da água e adubação nitrogenada (Mesquita et al., 2012; Bezerra et al., 2014, 2019).
A fitomassa seca total das plantas de maracujazeiro-azedo adubadas com 50, 75 e 100 mg de N kg-1 de solo, obtiveram os maiores valores estimados em 6,66; 6,80 e 6,41 g planta-1 quando irrigadas com condutividade elétrica de 0,3 dS m-1, a partir desse nível ocorreram reduções acentuadas na FST. A redução no acúmulo de fitomassa seca total também foi relatado por Soares et al. (2013) na cultura da mamoneira e por Mesquita et al. (2019) e Bezerra et al. (2016), também estudando genótipos de maracujazeiro sob irrigação com água salina, o que pode estar relacionada com os componentes iônico e/ou osmótico do estresse salino, sendo que a baixa disponibilidade de água provoca o fechamento dos estômatos e altera a assimilação do CO2, afetando diretamente a produção de fitomassa das plantas.
A adubação nitrogenada na dose de 75 mg de N kg-1 de solo promoveu efeito quadrático sobre a relação raiz/parte aérea (R/PA) do maracujazeiro-azedo, obtendo-se a maior relação (0,33 g g-1) no nível de CEa de 0,7 dS m-1 (Figura 3B). As plantas adubadas com 50 e 125 mg de N kg-1 de solo reduziram de forma linear a relação raiz/parte aérea com o aumento da CEa, com decréscimos de 67,90 e 44,95% nas plantas que receberam a maior CEa (3,5 dS m-1) em comparação com que receberam a menor condutividade elétrica da água (0,3 dS m-1), respectivamente. Porém, não houve ajuste significativo dos níveis salinos para R/PA das plantas submetidas à dose de nitrogênio de 100 mg de N kg-1 de solo, com R/PA média de 0,15 g g-1 (Figura 3B). De modo geral, constata-se que a relação raiz parte aérea decresceu com o incremento dos níveis salinos e doses de nitrogênio, fato de suma importância para a obtenção de mudas mais vigorosas em condições de estresse salino, pois a relação raiz/parte aérea indica o nível de contribuição das reservas armazenadas no sistema radicular, contribuindo assim no crescimento e consequentemente na produção de fitomassa (Soares et al., 2013).
Verifica-se efeito significativo dos níveis de salinidade da água de irrigação (Quadro 3), sobre o índice de qualidade de Dickson (IQD), o déficit de saturação hídrica (DSH) e a suculência foliar (SUC). As doses de nitrogênio não influenciaram de forma significativa nenhuma das variáveis analisadas. Houve efeito significativo da interação entre os fatores (NS × DN) para o déficit de saturação hídrica das plantas de maracujazeiro-azedo, aos 70 DAS.
Fontes de variação | GL | Quadrados Médios | ||
DSH | SUC1 | IQD1 | ||
Níveis salinos (NS) | 4 | 265,4171** | 0,0001** | 41,9904** |
Reg. Linear | 1 | 905,9232** | 0,0006** | 54,1027** |
Reg. Quadrática | 1 | 30,6212ns | 0,00002ns | 109,0890** |
Doses de N (DN) | 3 | 5,7513ns | 0,00005ns | 28,9542ns |
Reg. Linear | 1 | 0,0057ns | 0,00002ns | 18,5761ns |
Reg. Quadrática | 1 | 0,0092ns | 0,0002ns | 5,4810ns |
Interação (NS × DN) | 12 | 77,2421** | 0,00007ns | 16,6428ns |
Blocos | 3 | 38,5410ns | 0,00001ns | 8,5309ns |
Resíduo | 57 | 8,4277 | 0,00003 | 5,9976 |
CV (%) | 12,78 | 19,71 | 18,14 | |
Média geral | 22,7147 | 0,0165 | 5,7610 |
ns, **, *, não significativo, significativo a p < 0,01 e p < 0,05, respectivamente.
A interação entre os fatores (NS × DN) também promoveu efeito significativo sobre o déficit de saturação hídrica (DSH) do maracujazeiro-azedo (Figura 4A). As plantas submetidas às doses de 50, 120 e 125 mg de N kg-1 de solo apresentaram os maiores valores de DSH (35,30%, 26,82% e 27,48%) sob irrigação com CEa de 0,3 dS m-1, respectivamente. De forma geral, constata-se que o aumento dos níveis salinos ocasionou decréscimos na saturação do déficit hídrico independente do incremento das doses de nitrogênio. Os baixos níveis de DSH podem refletir em maior teor relativo de água sendo determinante para as atividades metabólicas e tolerância ao estresse salino (Hassani et al., 2019). Tais fatos são confirmados pelas correlações negativas significativas observadas na fitomassa seca total e no déficit de saturação hídrica provocadas pelo estresse salino e doses de nitrogênio.
O estresse salino induziu um declínio no grau de suculência das folhas do maracujazeiro-azedo (Figura 4B), com decréscimo linear de 12,85% por aumento unitário da CEa, ou seja, as plantas quando irrigadas com CEa de 3,5 dS m-1, tiveram diminuição de 42,79% em comparação com as plantas irrigadas com CEa de 0,3 dS m-1. Essa diminuição na suculência foliar pode ser reflexo dos efeitos tóxicos dos sais absorvidos pelas plantas, principalmente Na e Cl nas células e a redução do potencial total da água provocado pelo aumento da concentração salina, agravando déficit de saturação de água (Figura 4A), causando menor suculência foliar nas plantas, estando associada à sensibilidade do maracujazeiro-azedo ao estresse salino (Aldesuquy et al., 2012). Diferentemente, Lima et al. (2019) constataram que houve acréscimos na suculência foliar das plantas de algodoeiro cultivadas sob estresse salino (CEa: 1; 6,1; 7,1; 8,1 e 9,1 dS m-1), relacionando tal aumento na SUC do algodoeiro ao ajustamento osmótico das plantas.
Para o índice de qualidade de Dickson em função dos níveis de salinidade da água de irrigação verifica-se comportamento quadrático (Figura 5), sendo o maior valor de IQD (7,28) obtido nas plantas sob o nível de CEa de 2,2 dS m-1. As plantas que receberam CEa 3,5 dS m-1 alcançaram um IQD médio de 5,53. Assim, mesmo com a diminuição no acúmulo de fitomassas, as mudas de maracujazeiro possuíam qualidade do ponto de vista agronômico para estabelecimento no campo, mesmo cultivadas sob condições de elevada salinidade da água, com IQD superior a 0,2. De acordo com Oliveira et al. (2013), mudas são consideradas de boa qualidade e aptas para o campo quando apresentam seu IQD igual ou superior a 0,2. Bezerra et al. (2019), avaliando o nitrogênio como mitigador do estresse salino em mudas de maracujazeiro amarelo, observaram redução na qualidade das mudas com o aumento da salinidade da água de irrigação.
CONCLUSÕES
A condutividade elétrica da água a partir de 0,3 dS m-1 promove diminuição na fitomassa seca do caule e a suculência foliar do maracujazeiro-azedo, aos 70 dias após a semeadura; Doses crescentes de nitrogênio atenuaram o efeito da salinidade da água de irrigação, até o nível de 1,5 dS m-1 sobre a fitomassa seca de folhas do maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerrado’; As doses de nitrogênio intensificaram os efeitos deletérios do estresse salino sobre acumulo de fitomassa, relação raiz/parte aérea e o déficit de saturação hídrica das plantas de maracujazeiro-azedo; Do ponto de vista agronômico, as mudas de maracujazeiro-azedo cv. BRS Rubi do Cerrado são consideradas de qualidade quando irrigadas com condutividade elétrica da água até 3,5 dS m-1.