INTRODUÇÃO
O crescente destaque do esporte paraolímpico brasileiro nos últimos Jogos Paralímpicos (Tuakli-Wosornu, Doolan, & Lexell, 2019) tem despertado a atenção de diversas áreas das ciências do esporte. Dentre todos os esportes, o atletismo se destaca por sua diversidade de gestos técnicos para cada prova. Além disso é uma modalidade que demanda de um alto predomínio tático e técnico para o desempenho esportivo (Melin, Heikura, Tenforde, & Mountjoy, 2019), exigindo do atleta elevada capacidade física e psicológica durante os treinos e competições (Etzel & Watson, 2007).
Percebendo especificamente a importância do fator psicológico desses sujeitos, é lógico dizer que o principal objetivo durante o tempo de preparação é manter-se intrinsecamente motivado, enfrentando as demandas estressantes e adversidades ao longo da temporada (Chan et al., 2015; Seron, Arruda, & Greguol, 2015). Neste sentido, destaca-se a necessidade de uma estimulação emocional como sendo um facilitador de um desenvolvimento atlético (Curran, Hill, & Niemiec, 2013; Chan et al., 2015; McLoughlin, Weisman Fecske, Castaneda, Gwin, & Graber, 2017). Surge então a utilidade de investigar a autodeterminação desses sujeitos.
A autodeterminação se refere à capacidade das pessoas de controlar e gerenciar suas próprias vidas (Ryan & Deci, 2019). Contudo, destaca-se que pesquisadores constantemente examinam a teoria da autodeterminação no âmbito esportivo (Deci, 2004; Deci & Ryan, 2012; Curran et al., 2013; Rigby & Ryan, 2018). Pesquisas recentes mostram que é desejável que os atletas sejam motivados de forma autônoma para o contexto esportivo, uma vez que essa regulação motivacional influencia positivamente na permanência, desempenho e desenvolvimento esportivo do atleta (Fiorese et al., 2017; Nascimento Junior et al., 2017).
Entretanto, só nos últimos 20 anos, começaram a enfatizar os valores externos ao esporte, como a autodeterminação para atletas com deficiência (Martin, 1999, 2005; Nascimento Junior et al., 2021). A autodeterminação pode ser particularmente importante para atletas de esportes com deficiência, porque os indivíduos com deficiência frequentemente relatam sentimento de impotência de engajamento (Martin, 2015). Sabendo disso, os paratletas comumente costumam atribuir a sua motivação a presença de outras pessoas e às oportunidades de socialização com outros paratletas (Page, O'Connor, & Peterson, 2001).
Por exemplo, no estudo de Banack et al. (2011) perceberam que os altetas paraolímpicos canadenses que viam seus treinadores apoiando sua autonomia também expressaram um forte senso de controle sobre seu envolvimento no esporte, tinham relacionamentos positivos com seus companheiros de equipe e tinham maior motivação intrínseca em relação aos atletas que jogavam por menos autonomia.
Como já colocado, observar a motivação no contexto esportivo paraolímpico é algo de extrema relevância, principalmente pelo fato de este indicador ser de grande importância para esta população específica. Desta forma, este estudo pretende explorar esse lapso de informações, fornecendo novas evidências correspondentes ao atletismo paralímpico. Corroborando a isto, até o presente momento, inexistem resultados e indicadores destes indivíduos que possam evidenciar um melhor controle de treinos e de desempenho esportivo na modalidade. Assim, o objetivo do presente estudo é comparar e correlacionar os motivos para adesão à prática do atletismo paralímpico em adultos com deficiência física.
MÉTODOS
A presente investigação é de natureza empírica, com objetivo exploratório, de abordagem quantitativa e delineamento transversal.
Participantes
A pesquisa foi realizada no departamento de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, a amostra foi composta por 27 adultos (34,93± 8,51) deficientes físicos (congênita, DC, N= 17; e adquirido, DA, N= 10.). Foram elegíveis para participar do estudo, os atletas que:
tivessem idade acima de 18 anos;
detêm algum tipo de deficiência física;
praticassem a modalidade de Atletismo Paralímpico a pelo menos três meses;
tivessem participação em eventos oficiais de nível regional, nacional ou internacional;
assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram excluídos os participantes que:
Aspectos éticos
Durante todas as etapas da pesquisa os riscos os quais os participantes poderiam estar expostos foram reduzidos ao máximo, buscando sempre uma maneira cautelosa de realizar as perguntas para evitar constrangimento ou desconforto no momento de obter a resposta dos voluntários, para isso todas as etapas foram conduzidas de forma correta sob supervisão de profissionais capacitados. O referido estudo caracteriza-se como quantitativo, o qual seguirá caráter exploratório e abordagem transversal realizando-se uma análise de caso. Aprovado pelo Comitê de Ética da respectiva Universidade (número de identificação: CAAE: 22876619.1.0000.9430). Todos os procedimentos foram desenvolvidos conforme as diretrizes estabelecidas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
Questionário de Motivação para o Exercício (EMI-2)
A versão utilizada do Questionário de Motivação para o Exercício (EMI-2), foi traduzido e adaptado por Alves e Lourenço (2003) citado por Martins (2014), e validado por Guedes, Legnani, & Legnani (2012b). Os resultados deste último estudo mostraram aceitáveis coeficientes alfa de Cronbach (entre 0.738 e 0.918) e 78,4% dos itens apresentaram substancial índice de concordância kappa (> 0.61%) em réplicas de aplicação do questionário. O questionário é constituído por 51 perguntas (Markland & Ingledew, 1997), que para a população brasileira estão distribuídas em 10 fatores de motivação (diversão e bem-estar, controle do estresse, reconhecimento social, afiliação, competição, reabilitação da saúde, prevenção de doenças, controle de peso corporal, aparência física e condição física). As médias dos escores foi considerada para cada subescala de motivação avaliada. Na amostra estudada, foi identificado um valor de consistência interna aceitável, variando entre 0.810 e 0.859.
Procedimentos
Inicialmente foi aplicado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados ocorreu no local de treinamento dos paratletas com uma duração de aproximadamente 60 minutos. Uma Anamnese para coletar dados como, tempo de lesão, idade, histórico de doenças, histórico de atividade física, entre outras informações, com o objetivo de conhecer um pouco sobre a população amostral e em seguida aplicado o Questionário EMI-2. Para cada paratleta os pesquisadores leram os itens e assinalaram as respostas nos questionários. A ordem dos questionários foi randomizada entre os participantes e a aplicação foi realizada individualmente pelos pesquisadores. É importante destacar que os participantes foram orientados a manter as atividades habituais durante a aplicabilidade dos questionários, que foram realizados nas mesmas condições. Para responderem ao referido questionário, foi utilizada uma sala climatizada, com mesas e cadeiras confortáveis, sendo os participantes orientados a responderem às questões com tranquilidade e individualmente. Um pesquisador esteve sempre presente para explicações adicionais ou dúvidas que pudessem surgir no momento dos preenchimentos. Todos os dados foram coletados em um período correspondente a uma semana. Todos os participantes foram orientados quanto aos procedimentos realizados.
Análise estatística
A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Os dados relacionados as características demográficas dos participantes foram representadas por médio± desvio-padrão. As informações de classificação funcional, tipo de deficiência, provas disputadas/praticadas e as subescalas de motivação foram apresentadas em frequência absoluta (número de ocorrências) e frequência relativa (percentual de ocorrência). Do ponto de vista inferencial, foi utilizada a correlação de Pearson no sentido de identificar associações entre características demográficas e a motivação para a prática do atletismo. Em seguida, no sentido de comparar as dimensões da motivação entre os tipos de deficiência foram considerados dois grupos de atletas, de acordo com a etiologia da deficiência (grupo deficiência congênita [N= 17] versus grupo deficiência adquirida [N= 10]). Optou-se por utilizar uma análise de covariância multivariada (MANCOVA), considerando os grupos de deficiência e as diversas dimensões de motivação avaliada. Os respectivos tamanhos dos efeitos relacionados a MANCOVA principal foram verificados por meio das variâncias, sendo representado pela N2 (êta parcial). Para todas as análises considerou-se um nível de significância de 5% (p< 0.05).
RESULTADOS
Na Tabela 1 são apresentados os dados demográficos de todos os sujeitos estudados.
Tipo de deficiência | Sexo | Idade (anos) | Tempo de deficiência (anos) | Tempo de prática (meses) | Treino semanal (dias) | Treinos por semana (horas) |
---|---|---|---|---|---|---|
Adquirida (10) | M (6) F (4) |
33,7± 6,9 | 12,4± 12,4 | 49,8± 26,8 | 5,0± 0,0 | 3,0± 0,0 |
Congênita (17) | M (8) F (9) |
35,6± 9,4 | 31,4± 11,4 | 133,5± 73,2 | 5,0± 0,0 | 3,0± 0,0 |
M: masculino; F: feminino.
Na Tabela 2 estão distribuídas as frequências relativas para cada característica da classificação funcional, do tipo de deficiência e das provas de cada atleta participante da pesquisa.
Distribuição dos participantes segundo frequência relativa e absoluta (N/%) | ||
---|---|---|
Classes funcionais | Tipo de deficiência (etiologia) | Provas praticadas |
T13 (1= 3,7%) | Má-formação congênita (5= 18,5%) | Campo (17= 62,9%) |
T36 - 37 (3= 11,1%) | Paralisia cerebral (10= 37%) | Pista (7= 25,9%) |
T42 - 45 (3= 11,1%) | Deficiência visual (1= 3,7%) | Mista (3= 11,1%) |
F55 - 57 (7= 25,9%) | Lesão medular (4= 14,8%) | |
F32 - 37 (6= 22,2%) | Amputação (3= 11,1%) | |
F44 (1= 3,7%) F63 (1= 3,7%) |
Outros (4= 14,8%) | |
F63 - 64 (2= 7,4%) | ||
F63 - T63 (1= 3,7%) | ||
F63 - T42 (1= 3,7%) | ||
F44 - T44 (1= 3,7%) |
T: track (pista); F: field (campo).
Os escores de motivação das subescalas encontram-se apresentados na Figura 1.
As correlações entre as características demográficas e as subescalas de motivação em todos os atletas estudados estão apresentadas na Tabela 3. Foram observadas correlações significativas entre a subescala de reconhecimento social e o tempo de deficiência (r= 0,406; p< 0,05), e entre a subescala de prevenção de doenças e a idade dos atletas (r= 0,403; p< 0,05).
Subescala | Tempo de deficiência (anos) | Tempo de prática (anos) | Idade (anos) |
---|---|---|---|
Correlação-r | Correlação-r | Correlação-r | |
Controle de estresse | 0,09832 | 0,1234 | 0,3182 |
Reabilitação | 0,3149 | 0,2039 | 0,2757 |
Satisfação | 0,1785 | 0,1433 | 0,1066 |
Desafio | 0,08377 | 0,08848 | 0,09489 |
Reconhecimento social | 0,4056* | 0,3230 | 0,09692 |
Afiliação/relações | 0,1623 | 0,1723 | -0,01184 |
Competição | 0,2254 | 0,2180 | 0,07173 |
Saúde | 0,02781 | 0,2245 | 0,3841* |
Prevenção a problemas da saúde | 0,2730 | 0,2200 | 0,2114 |
Saúde positiva | 0,1525 | 0,1290 | 0,3253 |
Controle do peso | 0,3023 | 0,2497 | 0,4026* |
Aparência | 0,1135 | 0,06732 | 0,06363 |
Força e resistência | 0,06375 | 0,01642 | 0,3133 |
Amabilidade | 0,003383 | -0,09990 | 0,01445 |
correlação-r (coeficiente de correlação de Pearson);
*p< 0.05.
Na Tabela 4 encontram-se apresentadas as comparações multivariadas de covariância nos escores das subescalas de motivação entre os grupos de deficiência dos atletas (deficiência adquirida x deficiência congênita), com inclusão das covariáveis “idade”, “tempo de prática” e “tempo de deficiência”. Foi observado que apenas as subescalas “controle do estresse” (F1, 10= 6,80876; p= 0,016) e “condição física” (F1, 10= 7,07814; p= 0,015) apresentaram diferenças significativas entre os grupos de comparação, após controle das análises proferida com inclusão da “idade” como covariável (F10, 14= 4,42277; p= 0,047). Por fim, ao analisarmos os valores relativos aos tamanhos do efeito nas análises principais, considerando a comparação entre os grupos DA e DC, observou-se coeficientes variando entre 0,66 e 1,29.
Subescalas de motivação | Covariáveis incluídas nas comparações (valor do teste F; valor de p) | ||
---|---|---|---|
Idade (anos) | Tempo de prática (meses) | Tempo de deficiência (meses) | |
Controle de estresse | (0,52920; 0,474) | (0,0137; 0,908) | (0,21557; 0,647) |
Reabilitação | (1,44296; 0,242) | (0,1464; 0,706) | (0,00830; 0,928) |
Satisfação | (0,00371; 0,952) | 0,8190; 0,375) | (0,39857; 0,534) |
Desafio | (0,32595; 0,574) | (1,6792; 0,208) | (0,20191; 0,657) |
Reconhecimento social | (1,10365; 0,304) | (3,7128; 0,067) | (3,09800; 0,092) |
Afiliação/relações | (0,23221; 0,634) | (0,0743; 0,788) | (0,05378; 0,819) |
Competição | (0,16008; 0,693) | (2,3989; 0,136) | (0,07352; 0,789) |
Saúde | (0,66653; 0,423) | (2,6884; 0,115) | (0,28130; 0,601) |
Prevenção a problemas da saúde | (2,03583; 0,167) | (0,5278; 0,475) | (0,18590; 0,670) |
Saúde positiva | (4,42277; 0,047)* | (3,5833; 0,072) | (0,65901; 0,425) |
Controle do peso | (1,40416; 0,248) | (1,8893; 0,183) | (0,70060; 0,411) |
Aparência | (2,33237; 0,140) | (1,0594; 0,315) | (0,32339; 0,575) |
Força e resistência | (1,56021; 0,224) | (2,4808; 0,130) | (0,15960; 0,693) |
Amabilidade | (3,44490; 0,076) | (0,5330; 0,473) | (1,31093; 0,264) |
*diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, após controle das comparações pelo fator “idade”.
DISCUSSÃO
Nosso objetivo foi analisar, correlacionar e comparar os motivos para à prática do atletismo paralímpico em adultos com deficiência física. O instrumento selecionado para investigam os motivos que estimularam os participantes a iniciarem a prática esportiva foi o EMI-2. As análises de correlação revelaram que a idade e o tempo de deficiência estiveram positivamente correlacionados às subescalas “prevenção de doenças” e “reconhecimento social”, respectivamente. De maneira complementar, ao serem comparadas as subescalas entre os grupos de deficiência analisados (DA versus DC), observou-se que apenas os motivos de “controle do estresse” e a “condição física”, apresentaram valores superiores para o grupo DC, após inclusão da covariável “idade”. Os parâmetros, a priori, são dados que os treinadores ou terapeutas consigam avaliar seus atletas e acompanhar a evolução dos estímulos realizados.
Ao analisar as subescalas de motivação de acordo com a etiologia da deficiência nos grupos de deficiência congênita (DC) e deficiência adquirida (DA), os motivos que mais se repetiram foram: força e resistência, competição, desafio, satisfação e controle de peso. Sendo observado que, nos motivos de satisfação, desafio, força e resistencia e controle de peso, o grupo de DC expressou valores relativamente maiores em relação ao grupo de DA e, apenas no motivo de competição o grupo de DA apresentou melhores resultados que o grupo de DC. Entre outros motivos que mais se destacaram, o grupo de DA também expressou com mais frequência o controle de estresse e afiliação/relações que o grupo de DC.
Estes resultados estão de acordo com investigações anteriores. Guedes, Legnani, & Legnani (2012a) estudou os motivos da prática de exercício físico em universitários com o inventário Exercise Motivations Inventory (EMI-2), observando que a prevenção de doenças (F= 8.250; p< 0.001) foi o principal fator de motivação para a prática de exercício físico apontado pelos universitários. Além da condição física (F= 6.846; p< 0.001), aparência física (F= 2.896; p< 0.046) e controle de estresse (F= 2.116; p< 0.001) que obtiveram um grau de importância na pesquisa. Essa diferença entre os resultados pode ser compreendida pela diferença entre a população amostral dos dois estudos.
Cumpre destacar que, um fator que dificulta a prática de atividades físicas para alguns indivíduos é a errônea crença de que a atividade física não traz benefício para saúde, fator esse já encontrado em alguns estudos (Rimmer, Rubin, & Braddock, 2000; Buffart, Westendorp, Van Den Berg-Emons, Stam, & Roebroeck, 2009; Kehn & Kroll, 2009). Concepção distinta encontramos em Seron et al. (2015), que em um estudo com indivíduos com deficiência motora, frequentadores de centro de reabilitação da cidade de Londrina/PR, 100% atribuíram muita ou total importância à prática de atividade física para a promoção da saúde, o que demonstra que essa amostra já está consciente de seus benefícios. Neste estudo, é possível visualizar que existe uma correlação entre a idade dos atletas e a preocupação com a saúde e o controle de peso.
Os resultados deste estudo, de certa forma, confrontam o estudo de Siqueira e Ticianelli (2014), que selecionou e analisou alguns dos estudos envolvendo o papel da motivação nas atividades físicas e nos esportes, com intuito de mostrar a importância das diferentes fontes motivacionais na indução de diversos benefícios cognitivos, comportamentais e afetivos fortalecendo a importância de se trabalhar tanto a motivação intrínseca quanto extrínseca. . Da mesma forma, conforme apresentado neste estudo, a idade parece influenciar na prática esportiva em pessoas com deficiência (Mumcu, Acet, Kusan, Zambak, & Koç, 2017; Szemes, Szájer, & Tóth, 2017). Explicando o fator idade como um possível determinante de uma motivação.
Determinadas razões podem ter colaborado para a elevada confiabilidade e veracidade dos resultados que foram observados nesta pesquisa. A princípio, destaca-se que os participantes foram orientados a manter as atividades habituais durante a aplicabilidade dos questionários, que foram realizados nas mesmas condições, e, sempre que possível pelo mesmo avaliador, para evitar qualquer tipo de influência no conforto dos atletas ao darem suas respostas. Portanto, a utilização do objetivo do protocolo, explicações, a posição e a atmosfera no decorrer das abordagens podem ter contribuído com a solidez dos resultados. Tais resultados são reforçados pela comparação entre a médias dos resultados na comparação dos escores entre atletas com DC e DA (Figura 1).
A concepção de instrumentos voltados para a avaliação dos elementos da psicologia esportiva, tem aparecido como um instrumento prático para a avaliação e domínio de variáveis em distintas populações. Contudo, parece existir uma carência de pesquisas que empregam estes resultados para as modalidades paralímpicas. Neste sentido, nossos resultados confirmam elevados valores de confiabilidade, com baixo erro, sugerindo que o teste pode ser utilizado como uma alternativa viável para ajustar e elementos para otimização de treinamentos.
É possível afirmar a partir dos resultados obtidos e dos estudos de Swanson, Colwell, e Zhao (2008); Gutiérrez, Caus, e Ruiz (2011); Bohnert (2016); Pryor (2019) que é fundamental o conhecimento dos motivos que impulsionam grupos específicos a praticarem exercício físico. Esse entendimento permite esclarecer características motivacionais de diferentes grupos, auxiliando treinadores e instrutores na programação de rotinas mais elaboradas conforme as expectativas dos praticantes. Para além dos aspetos motivacionais, pode-se perceber o modo como estes se relacionam com a percepção de bem-estar e de qualidade de vida para evitar situações de abandono precoce.
Adicionalmente, os resultados apontam para a idade e o tempo de deficiência como fatores que influenciam nos motivos de “reconhecimento social” e “prevenção de doenças”, além dos aspectos relativos a “controle do estresse” e de “competição”. Esses achados trazem uma implicação prática importante, no que concerne a iniciação esportiva e sua permanência. Ao que parece, nossos achados podem sugerir ajustes importantes na exposição a competição em idades menores, além da necessidade de incluir nas rotinas de treinamento estratégias que busquem a aquisição de saúde e bem-estar por parte dos atletas mais velhos, dando condições para que os mais experientes possam conquistar mais independência funcional e percepções de qualidade de vida que permitam sua permanência em ambientes de treinamento e competição do atletismo paralímpico.
Por fim, apesar das contribuições inéditas à literatura, algumas limitações devem ser destacadas. Em primeiro lugar, o tamanho da amostra e o recrutamento apenas de esportes individuais impedem a generalização dos resultados para todo o contexto paraolímpico. Além disto, o instrumento de coleta dos dados teve que ser adaptado para o público do atletismo paralímpico. Em conseguinte, o não controle do estudo em outras variáveis que influenciem a motivação dos atletas, como: estado de humor, percepção de saúde geral, qualidade de vida. Contudo, há que se reforçar a similaridade dos resultados encontrados com outros estudos na área.
CONCLUSÃO
De acordo com nossos achados, verificou-se que a idade e o tempo de deficiência estiveram correlacionados aos motivos de saúde, controle do peso e reconhecimento social, respectivamente. Em complemento, ao serem comparadas as subescalas entre os grupos de deficiência analisados (DA versus DC), observou-se que apenas os motivos de reconhecimento social e competição, apresentou valores superiores para o grupo DC, após inclusão da covariável idade. Para tanto, é importante destacar a necessidade da validação de instrumentos para este público a fim de subsidiar avaliações e monitoramentos, privilegiando o desempenho esportivo.