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Psicologia, Saúde & Doenças
versão impressa ISSN 1645-0086
Psic., Saúde & Doenças v.11 n.2 Lisboa 2010
Editorial
Bárbara Figueiredo
Os autores deste número temático da Psicologia, Saúde & Doenças que agora apresentamos, a quem vivamente agradecemos a valiosa contribuição, perspectivaram Gravidez e Parentalidade a partir de diferentes quadrantes da Psicologia da Saúde.
A compreensão dos efeitos da doença no bem-estar e experiência psicológica foi perspectivada. Bem-estar e experiência psicológica em situações de adversidade física em que patologias físicas emergem, dificultam ou impedem a gravidez e parentalidade foram abordados.
Marco Pereira e Cristina Canavarro (pp. 179195) mostraram que as grávidas infectadas pelo VIH reportavam mais stress, sintomatologia psicopatológica e reactividade emocional, e menor qualidade de vida do que grávidas sem risco médico associado. A presença de emoções de valência oposta caracterizou a vivência psicológica das grávidas infectadas pelo VIH, pautada pela ambivalência emocional relacionada com a problemática vida vs morte que a gravidez e doença respectivamente implicam. Bem-estar e experiência psicológica em outras situações de adversidade física relacionada com a gravidez e parentalidade foram igualmente estudados. Ana Carolina Dias Vila, Luc Vandenberghe, e Nusa de Almeida Silveira (pp. 219226) observaram sentimentos negativos de insegurança e ansiedade na vivência do diagnóstico de infertilidade e endometriose. A vivência do tratamento, por sua vez, foi pautada por sentimentos negativos, mas também positivos, como bem-estar. Para uma vivência mais adaptada o apoio do parceiro mostrou ser importante. Mariana Moura-Ramos, Sofia Gameiro, Isabel Soares, Teresa Almeida Santos e Maria Cristina Canavarro (pp. 297317), verificaram que casais, e principalmente mulheres, em tratamento de reprodução medicamente assistida, apresentavam mais dificuldades de ajustamento emocional, nomeadamente mais sintomas de ansiedade e depressão e menor qualidade de vida, quando comparados com casais presumivelmente férteis. No entanto, os casais em tratamento providenciaram uma percepção mais favorável do seu ajustamento matrimonial.
O bem-estar e experiência psicológica foram ainda explorados a quando da interrupção de gravidez. A recordação de experiências de rejeição e sobre protecção por parte da mãe durante a infância, a vulnerabilidade ao stress, e o recurso a estratégias de coping religioso, ventilação emocional e negação, mostraram-se associados com mais dificuldades na mulher, quer durante o período de decisão quer após a interrupção da gravidez no estudo de Maryse Guedes, Sofia Gameiro, e Maria Cristina Canavarro (pp. 199215). Também Lucília Sousa e Graça Pereira (pp. 229240) observaram consequências emocionais intensas, choque e surpresa, seguidas de tristeza, assim como incerteza e ansiedade perante a possibilidade de erro diagnóstico ou decisão precipitada, características da experiência psicológica da mulher, mas agora a quando da interrupção terapêutica por mal formação congénita. Mais uma vez, o apoio social eficaz mostrou-se importante para o bem-estar e experiência psicológica menos adversa.
Mas também a adversidade psicológica particularmente problemas conjugais, implica dificuldades na vivência da gravidez e parentalidade. Bárbara Figueiredo, Tiffany Field, Miguel Diego, Maria Hernandez-Reif, Osvelia Deeds, e Angela Ascencio (pp. 243247) mostraram que a qualidade do relacionamento e a presença de ansiedade e depressão se determinam mutuamente em ambos os membros do casal. Tal como no estudo anterior, Liliana Sousa Ferreira, Isabel Leal, e João Maroco (pp. 249267) testemunharam o crescente interesse pela experiência psicológica do pai. Sintomas físicos e psicológicos em pais-expectantes, embora não relacionados com o envolvimento parental, como dor de cabeça, nervosismo, dores musculares, irritabilidade, aumentaram de forma crescente ao longo da gravidez. Este estudo alerta para a presença de sintomas físicos e afectivos nos pais. Rita Simões, Isabel Leal e João Maroco (339354) notaram ainda que embora menos do que as mães, os pais estavam envolvidos nos cuidados à criança com entre 5 e 9 anos de idade. Os pais estavam tanto mais envolvidos e disponíveis para os cuidados à criança quanto menor o stress parental e maior o ajustamento matrimonial.
Por último as formas melhorar a saúde e bem-estar psicológico dos pais foi um outro quadrante perspectivado pelos autores deste número temático. Três dos artigos seguiram esta orientação e colocaram questões da prática em Psicologia da Saúde ou em contextos de saúde. Ir ao encontro das necessidades psicológicas das populações é talvez o ponto de encontro entre os autores dos estudos. Sónia Bárcia e Manuela Veríssimo (pp. 271279) mostraram que as mães que participaram em sessões de massagem para bebés apresentavam atitudes mais positivas face à maternidade, tais como, maiores níveis de confiança para desempenhar o seu papel enquanto mãe, e envolviam mais os pais nos cuidados ao bebé. A partilha de experiências decorrente de as sessões operarem em grupo e a melhoria da interacção mãe-bebé facilitada pela prática da massagem, são alguns dos processos que podem ajudar a explicar tais resultados favoráveis. Evidenciando os benefícios da intervenção preventiva na área da gravidez e parentalidade. Ana Fonseca, e Maria Cristina Canavarro (pp. 283295), baseadas numa extensa revisão da literatura a respeito das reacções parentais ao diagnóstico de malformação congénita do bebé, delineavam implicações para a intervenção em Psicologia da Saúde. A coordenada prestação de cuidados entre os diferentes profissionais de saúde, o reconhecimento de que, independentemente do momento em que o diagnóstico ocorre, as reacções iniciais são de choque e emocionalidade negativa, o que torna difícil o processamento da informação relativa ao diagnóstico, e a compreensão que as dinâmicas envolvidas implicam a perda do bebé saudável, mas também a perda do papel parental obrigam a cuidados especiais por parte dos técnicos. Ana Rita Goes, Maria Cortes, e Luísa Barros (pp. 329336) debruçam-se sobre a prestação de serviços no contexto da vigilância da saúde infantil. Serviços orientados para a responder aos problemas de desenvolvimento e comportamento das crianças, promover o bem-estar das crianças e famílias e reduzir o impacto negativo das perturbações do desenvolvimento e comportamento, devem ter em conta as necessidades dos pais. Neste contexto, foram analisadas as inquietações dos pais, os quais expressaram preocupações sobre o comportamento da criança, particularmente sobre disciplina.
Áreas de interesse actuais e promissoras em Psicologia da Saúde, no que se refere à sua dimensão quer empírica quer prática, reflexo do crescente interesse pela Gravidez e Parentalidade, constituem as contribuições deste número temático.